25 de março de 2007

Saudoso, Guinga saúda Villa e (seu) Rio antigo

Resenha de CD
Título: Casa de Villa
Artista: Guinga
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Guinga certamente aprendeu muito com Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro. Pois os versos de Maviosa - que marcam sua estréia como letrista neste sétimo álbum - estão à altura da escrita fina dos dois parceiros mais presentes em sua obra. Maviosa versa majestosamente sobre a saudade de um Rio antigo e mais pacífico. A nostalgia que dá o tom de Casa de Villa, cujo engenhoso título já aglutina referências ao subúrbio carioca e ao compositor Villa-Lobos, influência marcante na obra de Guinga, explicitada no CD na faixa-título e em um (sublime) tema instrumental, Villalobiana.

Casa de Villa é também o disco em que Guinga se assume de vez como cantor (nos seus álbuns anteriores, a maioria instrumental, ele soltava a voz eventualmente ou então convidava intérpretes como Leila Pinheiro). E Guinga canta com a propriedade de quem conhece bem os caminhos tortuosos de suas melodias rebuscadas. Várias delas reafirmam em Casa de Villa o seu talento incomum de autor. Melodias que servem de morada para os versos de novos parceiros como Simone Guimarães (a letrista do choro Capital), o violonista Edu Kneip (lírico na linda Mar de Maracanã e em Via-Crúcis, faixa que abriga a voz de Paula Santoro), Thiago Amud (em Contenda, tema que tem seu suingue nordestino valorizado pela flauta de Carlos Malta) e Mauro Aguiar (a sintética música-título).

A salutar abertura do leque de parceiros não exclui do disco quem esteve ao lado de Guinga quando ele firmou sua obra no mercado fonográfico em 1991 (no disco Simples e Absurdo). A maestria de Aldir Blanc se reafirma na canção Tudo Fora de Lugar. E Paulo César Pinheiro - com quem Guinga ainda anda estremecido - dá o ar da graça na emocional Porto de Araújo, música antiga, gravada por Miúcha em LP feito em 1988 para a Continental (reeditado em CD em 1994, mas já fora de catálogo). Merecia mesmo regravação.

O violão de Guinga que mora em Casa de Villa tem um contorno bem menos erudito do que o ouvido em álbuns como Noturno Copacabana (2003). Mas brilha soberano na valsa Comendador Albuquerque - que encerra o disco em sensível tributo a Paulinho Albuquerque, saudoso produtor que lançou o artista na indústria fonográfica - e se intera harmonicamente com sopros de virtuoses como o trompetista Jessé Sadock em Bigshot, xote meio jazzístico, um daqueles temas instrumentais cheio de quebras típicas da obra do autor. E que, letras e parceiros à parte, valorizam este disco em que Guinga louva referências suburbanas à moda de Villa-Lobos.

11 Comments:

Anonymous Anônimo said...

os criticos babam por esse cara, fico impressionado.

25 de março de 2007 às 09:53  
Anonymous Anônimo said...

Existe um hiato de um século entre a música popular e a música erudita.

Enquanto esta já passou pelo impressionismo de Debussy, pelo modernismo de Bartók, pelo serialismo de Schoenberg, a música popular continua, em boa medida, parada no sistema tonal que vigeu nos séculos XVII, XVIII e XIX.

Tom Jobim avançou ao trazer as harmonias difusas de Debussy e Ravel para a música popular brasileira. Felizmente isso já foi assimilado.

Guinga está dando um passo adiante e, embora influenciado por Jobim (em cuja homenagem compôs a jóia 'Pra Quem Quiser me Visitar'), começa a flertar levemente com o atonalismo em suas composições mais recentes.

É possível que isso não lhe traga novos admiradores e até lhe subtraia empatia junto a uma parte do público. Se não tiver reconhecimento hoje, certamente terá amanhã, como aquele compositor que, quase cem anos depois do 'Pierrot Lunaire' de Schoenberg, finalmente começou a trazer novos elementos à MPB.

É fácil ser vanguarda na atitude externa, nos figurinos, nas declarações bombásticas, no bafafá.

Guinga é a vanguarda discreta, aquela que revoluciona o próprio fazer musical.

25 de março de 2007 às 12:44  
Anonymous Anônimo said...

Luc viajou legal. que passo a frente de Jobim que Guinga deu? o cara é fera e gosto dele na voz de Leila Pinheiro, mas passo a frente não deu não.

25 de março de 2007 às 16:33  
Anonymous Anônimo said...

Eu concordo com meu xará José, é uma babação unânime com o Guinga.
Coisa de critico cara, deve ser porque ele vende bem pouquinho.
Se ele vendesse muito não prestaria mais.

Jose Henrique

25 de março de 2007 às 17:08  
Anonymous Anônimo said...

Não gosto da música do Guinga!É desprovida de movimento,insossa e cansativa.

26 de março de 2007 às 07:27  
Anonymous Anônimo said...

Este vou comprar. O cara é fera e há tempos espero ouvir suas músicas em sua voz. Leila se saiu bem no Catavento e Girassol mas considero a música de Guinga tão pessoal e peculiar que imagino seja ele mesmo seu melhor intérprete.

26 de março de 2007 às 11:33  
Anonymous Anônimo said...

Assistir um show do Guinga é um momento raro, além da maestria, Guinga é dotado de fino humor.Um dos momentos sublimes foi vê-lo uma vez cantar Senhorinha, música que ele disse ter feito para sua filha.

26 de março de 2007 às 13:44  
Anonymous Anônimo said...

Eu também prefiro o próprio Guinga interpretando suas músicas.

Tive o prazer de ouvi-lo cantar em um show a música "Saci", dele e do Paulo César Pinheiro, e foi emocionante. E olha que é uma das músicas mais difíceis de cantar que eu já conheci.

Luc, muito legal seu comentário. Assino embaixo.

José Henrique, permita-me sugerir que você ouça o Guinga com mais atenção. Creio que você vai ver que ele é um gênio (pelo menos na minha opinião).

abração,
Denilson

26 de março de 2007 às 22:31  
Anonymous Anônimo said...

Denilson, você tocou num ponto importante. As músicas do Guinga são difíceis para a maioria dos cantores.

Elas pedem intérpretes familiarizados com seqüências harmônicas do jazz moderno e com ouvido apurado para cantar melodias cujos intervalos e cromatismos podem derrubar muita gente boa.

Para os ouvintes, a música do Guinga pode causar estranhamento na primeira audição. Acredito que basta ouvir 2 ou 3 vezes para começar a curtir.

27 de março de 2007 às 10:42  
Anonymous Anônimo said...

Luc,

Você disse tudo. Eu baixei um CD antigo da Fátima Guedes chamado "Para Bom Entendedor" em que ela canta algumas músicas do Guinga com o Aldir Blanc que são uma loucura.

Principalmente a música "Vô Alfredo". Clique aqui para ouvir um pedacinho http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/artistas.asp?Status=DISCO&Nu_Disco=1654

Isso para não falar das que a Leila Pinheiro gravou (Canibaile, Chá de Panela, Prá Quem Quiser Me Visitar - lindíssima - entre outras...)

Tem que ter um ouvido muito musical para cantar as músicas do Guinga.

abração,
Denilson

27 de março de 2007 às 12:49  
Anonymous Anônimo said...

OK, vou ouvir. Obrigado Denilson.

27 de março de 2007 às 18:18  

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