11 de outubro de 2008
Show de Roberto com Caetano vira CD e DVD
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Trilha do filme 'Desafinados' exibe bossa de Tiso
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Título: Os Desafinados
Artista: Wagner Tiso
Gravadora: Dubas
Cotação: * * * 1/2
Badalada na mídia por conter bissexto solo vocal de Rodrigo Santoro, que defende tímido a canção Miranda, uma parceria de Wagner Tiso com Ronaldo Bastos, a trilha sonora do filme Os Desafinados está sendo editada em CD pela gravadora Dubas Música no embalo da passagem do sensível longa-metragem de Walter Lima Jr. pelos cinemas. A bossa maior é de Tiso, autor da música original do filme (Quebra, Parceria e Jazz in New York, entre outros temas) e dos arranjos que embalam com elegância clássicos como Eu Preciso de Você (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), Meditação (Tom Jobim e Newton Mendonça - com a voz apenas correta de Branca Lima, convocada para dublar as performances vocais da atriz Cláudia Abreu) e Copacabana (Braguinha e Alberto Ribeiro, em belo registro pautado pelo lirismo). Quanto ao grupo Os Desafinados (formado pelos atores André Moraes, Angelo Paes Leme e Rodrigo Santoro com o cantor Jair Oliveira), o quarteto acerta o tom bossa-novista em Quero Você - rara composição individual de Newton Mendonça (1927 - 1960) - e em Desafinado. Em disco, tudo isso é muito natural - exceto o samba composto e solado por Jair Oliveira, Eu Também Tive um Sonho, cujo espírito soul destoa do clima da trilha, que honra o filme e a própria bossa.
Disco registra dois choros inéditos de Nazareth
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10 de outubro de 2008
Força de 'Maga' emerge naturalmente no palco
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Título: Naturalmente
Artista: Margareth Menezes
Local: Mistura Fina (RJ)
Data: 9 de outubro de 2008
Cotação: * * * *
Em cartaz às quintas-feiras do mês de outubro de 2008
"Onde queres Quaresma, fevereiro", já parece avisar Margareth Menezes em verso de O Quereres, a música de Caetano Veloso que integra em registro heavy o roteiro do novo show da cantora, Naturalmente, inspirado no recém-lançado CD homônimo em que Maga abre o leque estético e se distancia momentaneamente do afro-pop-brasileiro que caracteriza sua obra fonográfica. Se no disco a produção de Marco Mazzola dilui a força e o calor do canto de Margareth, no show a artista recupera essa força que parece vir da natureza - como bem assinala Zeca Baleiro em depoimento sobre o disco. Força que emerge naturalmente no palco desde que ela aparece em cena para cantar Gente, a festiva inédita de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes que era para ter entrado como faixa-bônus no seu projeto fonográfico anterior, Brasileira ao Vivo - Uma Homenagem ao Samba Reggae, mas foi limada pela EMI Music (por redução de custos) e acabou sendo lançada no disco que marca a estréia de Margareth na MZA Music.
Por mais que os arranjos sigam a linha do disco, os teclados de Ricardo Leão soam menos imperativos no show, dividindo espaço com a percussão e a guitarra (ainda assim, eles soam excessivos e inadequados em números como o samba Abuso de Poder). Mas o grande salto do show em relação ao CD reside na temperatura do canto de Margareth. Em tom sempre caloroso, a artista faz crescer no palco, com desenvoltura, todas as 11 músicas do álbum. Ao vivo, sua leitura de Os Cegos do Castelo - o hit dos Titãs que puxa o disco - fica tão envolvente que a platéia embarca entusiasmada. Assim como reage bem a Matanza (o galope ecológico de Jatobá).
Cheia de charme, já perceptível no figurino pop, Margareth insere citação de Garota de Ipanema na autoral Lua no Mar - o número mais fraco do roteiro, apesar da boa bossa - e mostra grande habilidade vocal e senso rítmico quando abre o coco-de-embolada Bate o Mancá, do compositor pernambucano Jacinto Silva, sem engolir um verso que seja da quilométrica letra quebra-língua. Em momentos inusitados, Maga mergulhou no Lindo Lago do Amor - música de Gonzaguinha (1945 - 1991), turbinada com molho percussivo - e reviveu, com intimismo emocionado, Eu Não Existo sem Você, a canção de Tom Jobim (1927 - 1994) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980) lançada por Elizeth Cardoso (1920 - 1990) há 50 anos no histórico álbum Canção do Amor Demais (1958). Mas a maior surpresa foi quando a cantora sintonizou a FM Rebeldia - através da qual o compositor Alceu Valença dá voz aos anseios populares captados nos morros cariocas - e, num link antenado, inseriu na programação o rap Qual É?, obra-prima de Marcelo D2. Sim, cheia de atitude, Margareth Menezes canta rap no show. E o tal rap naturalmente se adequa à força de sua voz, definitivamente mais talhada para o palco do que para o estúdio...
Killers bisam parceria com Price em 'Day & Age'
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Pop de Katy Perry faz muito barulho por nada...
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Título: One of the Boys
Artista: Katy Perry
Gravadora: Capitol
Records / EMI Music
Cotação: * * 1/2
É fato que Katy Perry tem feito bastante barulho na cena pop adolescente com seus versos desbocadas. Muito por conta do moralismo norte-americano, Perry tem ganhado destaque na mídia por conta de seu hit I Kissed a Girl, em cuja letra afirma ter beijado uma garota e... gostado. Em outra música em evidência do repertório da artista, Ur So Gay, ela alfineta com senso de humor as manias sensíveis do namorado, que não é gay. Tudo isso ainda causa furor porque ouvido na voz de uma garota da Califórnia (EUA), filha de pastores evangélicos. Em 2001, Perry chegou a gravar um álbum de gospel. Contudo, One of the Boys, recém-editado no Brasil pela EMI Music, pode ser considerado sua verdadeira estréia fonográfica. E a audição do álbum sugere que, por trás da retrô pose de pin-up feita por Perry na boa capa, se esconde uma garota comum, inofensiva, com os típicos anseios adolescentes, expostos de forma explícita nos versos de músicas como Lost. A rigor, Perry tem feito muito barulho por nada. Ou quase nada. Seu pop, que adquire textura roqueira em Waking Up in Vegas, é convencional e, a rigor, não tem a fúria adolescente que fez a fama de Alanis Morrissette em 1995, ano do álbum Jagged Little Pill, ou mesmo a força de Avril Lavigne. A menos que cresça e (re)apareça com mais consistência na cena pop, Katy Perry logo vai sumir na poeira da estrada. Tem atitude. Mas é só...
Biógrafa analisa com acerto a obra de Madonna
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Título: Madonna
50 Anos
Autora: Lucy O' Brien
Editora: Nova
Fronteira
Cotação: * * * 1/2
Lançado na carona dos 50 anos da senhora Madonna, completados em agosto e abordados pela mídia com pompa pela simbologia da data, o bom livro de Lucy O' Brien é alardeado como uma biografia da cantora. Não deixa de ser, pois O' Brien - fã de Madonna desde 1984, ano do estouro de Like a Virgin - reconstitui os principais passos da vida pessoal e profissional da estrela, tendo entrevistado amigos, colegas e profissionais que já trabalharam com a artista. Entretanto, Madonna 50 Anos oferece, mais do que um simples relato biográfico, uma análise contundente da obra da diva que vem ao Brasil em dezembro com sua turnê Stick & Sweet Tour, que terá dois shows no Rio de Janeiro e três em São Paulo. Sem deixar que sua paixão de fã cegue sua visão a respeito da música de Madonna, Brien explica com embasamento a trajetória fonográfica da artista e detalha a estética de cada um dos espetáculos de Madonna. Enfatizando a repercussão na obra de acontecimentos emblemáticos na vida pessoal da artista, como a morte precoce da mãe e o estupro sofrido em Nova York (EUA) quando ela ainda batalhava por seu lugar ao sol, a biógrafa mostra como a cantora foi corajosa ao romper com a fórmula dance de seu primeiro bem-sucedido álbum (Madonna, 1983) já ao gravar o segundo disco, Like a Virgin (1984), turbinado com então pioneiros sons eletrônicos. Se True Blue (1986) adocicou a fórmula pop, com repertório melódico vocacionado para as paradas, Like a Prayer (1989) sinalizou expressiva maturidade artística e I'm Breathless (1990) foi relaxante mergulho na era do suingue jazzístico, dado para promover a trilha sonora do filme Dick Tracy. Também acertadamente, a autora recorda que Erotica (1992) foi gravado sob efeito devastador do livro Sex (1991) e coerentemente pautado por som cru, quase sombrio, e que Bedtime Stories (1994) - álbum mais baladeiro e mais soul - foi um ponto morno na discografia de Madonna. Na seqüência, o eletrônico Ray of Light (1998) sinalizou outro pico de maturidade artística - embebido na busca espiritual que começava a nortear as ações de Madonna - e que Music (2001) celebrou o som das pistas, mas sem a reverência à era da disco music que moldou Confessions on a Dance Floor (2005), um oportuno antídoto festivo para o baixo astral politizado que marca o fracassado American Life (2003). Infelizmente, o livro não chega a detalhar o processo criativo de Hard Candy (2008), o álbum que desloca Madonna do eixo europeu e a redireciona para as pistas dos Estados Unidos, onde, afinal, começou a saga desta artista que sabe se reinventar. Interessante, inclusive por esmiuçar a estética de cada turnê da estrela, o livro é bom aperitivo para os que esperam, ansiosos, pelos shows da Stick & Sweet Tour. Aos 50 anos, entronizada na preferência popular nos quatro cantos do Mundo, Madonna ainda dá as cartas no reino pop. Com olhar crítico, Lucy O'Brien ajuda a entender a longevidade desse reinado com texto analítico.
9 de outubro de 2008
'Sessão' é musical pueril como a Jovem Guarda
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Título: Sessão da Tarde
Direção e roteiro: Flávio Marinho
Produção: Marcelo Sebá
Elenco: Flávia Rinaldi, Giselle Lima, Haline de Oliveira,
Karen Keldani, Kiko do Valle, Maurício Baduh, Pablo
Ascoli, Ricardo Nunes e Victor Maia
Local: Teatro Vannucci, Shopping da Gávea (RJ)
Cotação: * *
Em cartaz no Rio de Janeiro, de quinta-feira a sábado, de 9 de
outubro a 20 de dezembro de 2008 (Qui, 21h30m. Sex e sáb, 19h)
Embora tenha importado do exterior tanto o modelo de rebeldia juvenil como a estética roqueira que explodiu no mundo em 1964, no rastro da beatlemania, a Jovem Guarda construiu paradoxal identidade brasileira por ter incorporado em seu cancioneiro um sentimentalismo e uma certa ingenuidade de caráter nitidamente nacional. Sessão da Tarde - o musical de Flávio Marinho que estréia no Rio de Janeiro nesta quinta-feira, 9 de outubro de 2008, depois de ter tido sessão restrita a convidados na semana passada - evoca todo esse sentimento pueril que faz com que o repertório simples e melódico daquelas velhas tardes de domingo atravesse gerações e ressurja nas paradas a cada nova regravação.
Não há texto. A costura da narrativa é feita através das canções, que sugerem, comentam e (até) desenvolvem a ação, seguindo o modelo lançado no Brasil pela dupla Charles Möeller & Cláudio Botelho no recente musical Beatles num Céu de Diamantes. E, a propósito, na boa estrutura do roteiro reside a maior força do espetáculo. Através de personagens que representam arquétipos comportamentais dos anos 60 (o mocinho, o bad boy, a melhor amiga, o bamba etc.), o diretor conta sua história romântica através de canções imortalizadas nas vozes de Roberto Carlos, Wanderléa, Golden Boys, Wanderley Cardoso, Erasmo Carlos e Cia.
Se não há texto, tampouco há grandes vozes no elenco. Contudo, como o cancioneiro da Jovem Guarda não pede arroubos vocais, há cenas de alguma sedução, como o momento em que o mocinho se encanta com a mocinha ao som de Foi Assim. Ainda que os arranjos batam na tecla da padronização, a força de músicas como Esqueça, Sentado à Beira do Caminho (retrato da desorientação momentânea de um Erasmo pós-Jovem Guarda, usado no roteiro para ilustrar a desilusão do mocinho) e Devolva-me prendem o interesse do espectador. E justamente pelo fato de tal repertório estar entronizado há décadas na memória popular afetiva do brasileiro, a inversão de gênero de uma ou outra letra - como a de Namoradinha de um Amigo Meu, apresentada no musical sob ponto de vista feminino - soa bem estranha porque leva a uma prejudicial mutilação da rima de alguns versos. Outra licença poética do diretor foi a inclusão de algumas músicas lançadas fora do universo da Jovem Guarda - casos de Sou Rebelde (sucesso de Lilian do fim dos anos 70) e Rua Ramalhete (música de Tavito que expressa a nostalgia da juventude). No todo, quando sai de cena ao som da interpretação coletiva de É Preciso Saber Viver (o hino positivista composto por Roberto e Erasmo carlos, lançado pela dupla Os Vips em 1968 e regravado pelo Rei em 1974), Sessão da Tarde deixa - como tantos filmes que passam nas tardes globais - agradável impressão, sem nunca arrebatar, de fato, o espectador.
Wanderléa grava Jackson e Alf na volta ao disco
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Na foto acima, de João Dias, Wanderléa posa no estúdio com Moisés Santana durante a gravação de sua participação no novo álbum do cantor e compositor. No seu CD, Moisés recebe também Virgínia Rosa, regrava O Mistério do Samba - parceria de Fred 04 e Marcelo Pianinho, lançada pelo grupo Mundo Livre S/A - e apresenta inéditas autorais como Alegria Insiste, Chega de Realidade e Lágrima É Poesia. O disco também sai via Lua Music.
Djangos regravam Gonzaga com Amora e Yuka
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Pinheiro sopra 'Brisa' de Alf em dueto com Nilze
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8 de outubro de 2008
Key cai no brega em álbum de tom adolescente
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Título: Kelly Key
Artista: Kelly Key
Gravadora: Som Livre
Cotação: * *
O quinto álbum de inéditas de Kelly Key não mira o público infantil como a gravadora Som Livre propagou ao anunciar a contratação da artista, autora de boa parte do repertório. Contudo, o pop dance de Key nunca soou tão adolescente. A expressiva carga erótica perceptível em CDs anteriores da cantora se dissipa em Kelly Key entre letras ingênuas que roçam o universo teen. Para quem curte o estilo da intérprete de Baba, o disco está repleto de músicas com refrão grudento. Em especial, Larguei e Tô Fora - esta já devidamente incluída pela Som Livre na atual trilha sonora do seriado juvenil Malhação. Entre os beats acelerados de Parou pra Nós Dois (versão de hit do trio alemão Monrose) e a tentativa de esboçar uma nova bossa na regravação de Você pra mim (canção de Fernanda Abreu, lançada pela autora em 1990, em seu primeiro disco solo), Key escorrega no terreno brega na balada O Tempo Vai Passar e flerta com o rap em Mexe com a ajuda do parceiro Jojo. No meio, sua voz miada ainda engata versão de sucesso de Britney Spears, Sometimes, que virou Indecisão. Enfim, é outro disco típico de Kelly Key. Nem melhor nem pior do que os quatro anteriores. Apenas (um pouco) diferente. E vai tocar nas baladas.
Warner perde Céu, mas mira irmão da cantora
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Gilmour documenta a ida à Polônia com Wright
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Jammil tira onda com Caetano e axé industrial
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Título: Três
Artista: Jammil
Gravadora: Som Livre
Cotação: * 1/2
Embora mais aquecida no verão, a indústria do axé funciona bem nas quatro estações com grupos que vivem de fabricar hits e animação para micaretas, luaus e carnavais fora de época. Na lucrativa onda, o Jammil é um dos mais bem-sucedidos com seu axé pop, de clima praieiro. Não por acaso, doze dos 19 números exibidos neste terceiro DVD do trio (daí o título óbvio, Três) foram captados no Luau do Jammil, em Porto Seguro (BA), em março de 2008. Entre estas músicas, há seis inéditas. A melhor delas é Papapaia, tema que conta com o vocal iluminado de Larissa Luz, a nova cantora do Araketu, outro grupo que diluiu seu som na produção em escala industrial deste axé mais padronizado. As outras novas músicas tocadas pelo Jammil no luau - Saudade Dói, Eu te Amo, Surpresa Boa, Quer Saber (de Adelmo Casé e Saul Barbosa, com a intervenção vocal de Casé) e Tchau, I Have to Go Now - foram compostas pelo guitarrista Manno Góes (autor de quase todo o repertório do trio) como se fizessem parte de uma linha de montagem. Impressão realçada pelos arranjos padronizados. São músicas produzidas para um público habituado a se esbaldar ao som de hits como Praieiro, revivido no bloco filmado no último Carnaval de Salvador (BA). Contudo, as maiores novidades do DVD residem na seção de clipes. Admirador confesso do axé, Caetano Veloso se junta ao Jammil na recriação de sua música Tempo de Estio, que, justiça seja feita, caiu muito bem no cancioneiro do Jammil por ter o clima de verão alto astral que caracteriza o som do trio. O vídeo projeta cartões postais da cidade do Rio de Janeiro. Já Amar É, de pegajosa pegada pop, é cantada com adesão do Biquini Cavadão em vídeo que insere imagens reais dos músicos dos dois grupos em desenhos que evocam a estética dos quadrinhos. A inusitada participação do Biquini se dá pelo fato de seu guitarrista Carlos Coelho ser parceiro de Manno Goés no tema. Contando com os três clipes (há também o de Tchau, I Have to Go Now), o DVD totaliza 22 faixas contra 17 do CD. E, para os fãs praieiros, há ainda um making of apresentado com o status de documentário. Enfim, é axé diluído e fabricado numa escala industrial para o verão que logo vai chegar.
7 de outubro de 2008
Discos certos com erradas músicas de trabalho
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O crasso erro perceptível na promoção do novo trabalho de Zeca Pagodinho tem se tornado praxe infeliz em lançamentos recentes. O azeitado álbum que o Skank lançou no começo deste mês de outubro, Estandarte, também corre risco de ser ignorado de cara porque a Sony BMG titubeou na escolha do primeiro single. Embora embalada em moldura pop radiofônica, a canção Ainda Gosto Dela nem roça a força de outras duas faixas: a balada Sutilmente (provável único hit do CD nas paradas populares) e Escravo, petardo certeiro nas pistas. A mesma Sony BMG viu as 30 mil cópias da tiragem inicial do oitavo álbum de Adriana Calcanhotto, Maré, saírem das prateleiras de forma bem mais lenta do que imaginado inicialmente pela companhia. Embora propagada na trilha sonora da novela A Favorita, a ótima regravação de Mulher sem Razão não tem o apelo popular da faixa Um Dia Desses, que somente agora vai começar a ser trabalhada pela gravadora. Contudo, no caso de Calcanhotto, é preciso ressaltar que não houve equívoco na percepção, mas uma escolha conceitual. Música de textura ruralista, Um Dia Desses tem clima lúdico que remete ao disco infantil Adriana Partimpim (2004) e, caso fosse eleita a primeira música de trabalho de Maré, daria a falsa impressão de que Calcanhotto lançava disco de tom similar.
Os recém-lançados discos de Margareth Menezes e de Pedro Luís e a Parede também estão sendo promovidos com faixas erradas. No caso do CD de MPB da cantora baiana, Naturalmente, a faixa Febre - parceria de Zeca Baleiro com Lúcia Santos - parece ter mais chance de pegar nas rádios do que a releitura de Os Cegos do Castelo, sucesso do grupo Os Titãs. Já o vigoroso CD da Parede, Ponto Enredo, apresenta músicas mais palatáveis do que Santo Samba. Parceria de Pedro Luís com Lenine, 4 Horizontes é uma delas. Enfim, a escolha acertada da música de trabalho continua fundamental para o êxito de um disco. Mesmo nos tempos das vendas fartas, grandes álbuns já afundaram nas paradas porque foram promovidos com a música equivocada. Como as vendas já despencam e não há verbas para alongar os planos de marketing dos discos, qualquer erro na eleição do single é quase irreversível.
Wilson ainda se queima ao sol pop da Califórnia
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Título: That Lucky
Old Sun
Artista: Brian Wilson
Gravadora: Capitol
Records / EMI Music
Cotação: * * * 1/2
Aos 66 anos, Brian Wilson parece ter estacionado na juventude e em algum ponto da Califórnia dos anos 60. That Lucky Old Sun - o primeiro álbum de inéditas do eterno Beach Boy desde Smile, o disco inacabado daqueles tempos praieiros, enfim apresentado em 2004 - é mais uma boa viagem do compositor ao pop ensolarado do Sul californiano. Trabalho de cunho autobiográfico, o CD até inventaria as perdas e danos de Wilson em faixas como Oxygen to the Brain. Contudo, qualquer eventual melancolia é dissipada pelo calor das harmonias vocais do compositor e, no quesito, ele permanece um mestre. Pelo título de algumas músicas, como Forever She'll Be my Surfer Girl e a deliciosa Good Kind of Love, já dá para perceber a atmosfera nostálgica que permeia o disco. Embora o repertório não seja tão coeso quanto o de Smile, há alguns momentos realmente ensolarados como a faixa-título, cover de um sucesso de Frankie Laine em 1949. Até Mexican Girl - que incorpora ao pop de Wilson a batida kitsch da música dos mariachis - desce bem nesta viagem íntima e pessoa de um artista fiel à sua onda inicial. E o fato é que o sol ainda brilha para Wilson.
Filme retrata a paixão implícita que move Glass
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Título: Philip Glass
- Um Retrato em
Doze Partes
(Glass - A Portrait of
Philip em Twelve Parts.
Austrália, 2007)
Direção: Scott Hicks
Cotação: * * * 1/2
Em exibição no Festival
do Rio 2008
* 8 de outubro (Palácio 2,
às 16h e às 20h)
Na penúltima das 12 partes deste documentário sobre Philip Glass, a ex-mulher do compositor, Holly Glass, afirma que a música é a paixão implícita que move todas as ações do artista. "A música é sua linguagem, sua terapia, seu diálogo, sua comunicação mais refinada", lista Holly. Foi na tentativa de expor no cinema o mecanismo desse motor que impulsiona a vida de Glass que o diretor Scott Hicks filmou o cotidiano do compositor durante 19 meses, a partir de julho de 2005, para retratar em roteiro estruturado em 12 partes, ou movimentos, a dinâmica de trabalho deste artista apaixonado cuja música provoca sentimentos passionais de amor e ódio (o trecho em que Glass lê crítica demolidoras é hilário). Não espere sair do cinema com informações substanciais sobre a trajetória profissional deste compositor que compõe trilhas para filmes e óperas com rara devoção. Philip Glass - Um Retrato em Doze Partes subverte o formato tradicional de documentário, embora tenha depoimentos de nomes como o cineasta Woody Allen a respeito da natureza do trabalho de Philip Glass. "É um processo enervante", confidencia Allen para as câmeras, numa referência à tensão que rege toda criação de trilhas sonoras de filmes com compositores renomados. "Você descobre logo que o cineasta sempre vence (as discussões)", devolve Glass - em fala reveladora.
Mais do que documentar a obra do compositor, o filme propicia um mergulho na mente e num processo de trabalho tão solitário que leva Glass a habitar um universo todo particular cujos códigos somente ele decifra. Por isso mesmo, é sintomática a cena de abertura do documentário, em que Holy Glass apresenta o caótico escritório do artista. Para mergulhar no mundo íntimo de Glass, o espectador precisa ter paciência para saborear a longa seqüência em que ele prepara pizzas para a família enquanto conversa com o diretor. Ou as cenas filmadas no Oriente, aonde Glass aproveitou viagens feitas a trabalho para embarcar numa personalíssima jornada espiritual. Ao mostrar como a música é o combustível que mantém vivo o espírito de Philip Glass, o sagaz diretor Scott Hicks esboça retrato sensível do homem. No caso, o homem é sua obra.
Queen constrange quando persegue o passado
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Título: The Cosmo Rocks
Artista: Queen +
Paul Rodgers
Gravadora: EMI Music
Cotação: * *
Este primeiro disco de estúdio do Queen em 13 anos é muito decepcionante e chega quase a constranger. O que acontece quando a banda tenta imitar - com o vocalista Paul Rodgers - a grandiloqüência que identificava a presença de Freddie Mercury (1946 - 1991) no grupo. Contudo, justiça seja feita, são poucas as faixas - como We Believe - em que o Queen persegue o seu passado em The Cosmo Rocks, o álbum de inéditas que dá seqüência à turne que ressuscitou o grupo em 2005 e se estendeu por 2006. Na realidade, trata-se quase de uma outra banda. Que se utiliza do nome Queen porque, afinal, o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor a integram. Rodgers é cantor competente e põe sua marca em músicas como Time to Shine - aliás, uma das melhores do irregular repertório - mas não supre a falta de Mercury. Mesmo May e Taylor dão a impressão de que já são outros, tocando sem a tal velha chama. Enfim, como já sinalizara C-lebrity, faixa eleita o primeiro single, The Cosmo Rocks é correto álbum de rock, com algumas até músicas razoáveis (Small e Warboys, entre elas), mas que nunca seduz de fato. É difícil ouvir o Queen sem Mercury.
6 de outubro de 2008
Krall vai gravar DVD no Rio em turnê brasileira
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Álbum do Jota traz Ashley Slater em três faixas
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Smith se retrata no cinema com poesia e estilo
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Título: Patti Smith
- Sonho de Vida
(Patti Smith -
Dream of Life
EUA, 2008)
Direção: Steven
Sebring
Cotação: * * * *
Em exibição no Festival
do Rio 2008
* 6 de outubro, (Estação
Barra Point 1, às 22h)
"Todos nós temos voz e todos nós temos o dever de exercitá-la, de usá-la", sentencia Patti Smith no trecho final deste filme em que a roqueira de aura punk se retrata na tela com poesia, estilo e alta dose de espiritualidade. Em exibição no Festival do Rio 2008, Patti Smith - Sonho de Vida não é documentário convencional sobre a vida e obra da artista que se impôs na seminal cena punk nova-iorquina de 1975 com o álbum Horses. Ao longo de 11 anos, o diretor Steven Sebring captou imagens de Smith, no palco e nos bastidores, para esboçar um retrato de uma artista até certo ponto enigmática. Mas é a própria Smith que narra o filme e parece deter o real controle da direção deste filme que exibe a maioria de suas imagens em preto e branco. E, logo na primeira seqüência, ela salpica dados biográficos sobre sua vida que vão servir de base para o entendimento das exposições poéticas e filosóficas que pontuam a narrativa. Se Smith usa a voz também para fins explicitamente políticos (e as cenas finais em que ela protesta de forma inflamada contra o presidente George W. Bush e a Guerra do Iraque expõem com total clareza a ideologia humanitária que envolve a vida e a obra da artista), a mente exercita o uso da poesia para driblar a dor pela morte do marido, Fred Sonic Smith, produtor do álbum de 1988 do qual o filme pega emprestado o título Dream of Life. Dor que permeia a narrativa.
"Desde que eu me dou por gente, eu procuro ser livre", ressalta Smith em fala do filme. Entre versos de poetas como Arthur Rimbaud (1854 - 1891) e William Burroughs (1914 - 1997), o documentário dá sinais de que foi através da poesia e do inesperado rock que Smith conseguiu se libertar de um cotidiano que tinha tudo para ser comum. "Na infância, sonhei ser cantora lírica como Maria Callas e cantar com a mesma energia de Billie Holiday. Nunca sonhei cantar numa banda de rock", revela Smith, cujo currículo abrange passagem por uma fábrica, como operária.
Sem lançar mão de entrevistas confessionais, o filme vai esboçando através dos takes feitos por Sebring o retrato sensível de uma artista normalmente reservada. A economia de diálogos - ou mesmo o eventual silêncio - da cena em que Smith visita os pais, já bastante idosos, revela mais do que muitas falas do filme. A própria Patti Smith não parece ser de muitas palavras. É através da poesia alheia e das letras de suas músicas que ela se expõe mais. Daí o valor deste filme estiloso que revela sua personagem através dos sonhos e - também - das frustrações. Merece ser visto.
Na tela, a cantora de jazz que improvisa na vida
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Título: Anita O'Day - A
Vida de uma Cantora
de Jazz (Anita O'Day
- The Life of a Jazz
Singer. Eua, 2007)
Direção: Robbie
Cavolina e
Ian McCrudden
Cotação: * * * *
Em exibição no Festival
do Rio 2008
* 9 de outubro (Caixa
Cultural 2, às 17h15m)
Morta em 23 de novembro de 2006, aos 87 anos, Anita Belle Conton, a Anita O'Day (1919 - 2006), é considerada por muitos músicos norte-americanos de jazz uma cantora do mesmo naipe de Billie Holiday (1915 - 1959), Ella Fitzgerald (1917 - 1996) ou Sarah Vaughan (1924 - 1990). Ora em exibição no Brasil dentro da programação do Festival do Rio 2008, o documentário Anita O' Day - A Vida de uma Cantora de Jazz mostra que - assim como Billie, Ella e Sarah - Anita teve que saber improvisar na vida como no jazz para continuar em cena. Abortos, estupro (apenas mencionado no filme sem maiores detalhes) e, sobretudo, o vício em heroína pontuaram a vida atribulada desta intérprete que começou a cantar aos 12 anos e teve sua grande chance em 1940, quando passou a atuar com o maestro Gene Krupa. Como vocalista da orquestra de Krupa, O'Day se impôs na era do swing das big-bands. Com aguçado senso rítmico, O'Day burilou seu fraseado excepcional e desafiou os preconceitos raciais da época ao duetar com o trompetista negro Roy Edlridge em emblemático registro de Let me off Uptown. Outra inovação da cantora foi se vestir com o uniforme usado pelos músicos da big-band de Stan Kenton, com quem ela fez mais de 40 gravações somente em 1944.
Com narrativa objetiva, estruturada de forma cronológica, o documentário entremeia trechos de entrevistas da cantora em épocas distintas com números musicais emblemáticos em sua trajetória - casos do take de Love for Sale no Japão, em 1963, e de sua magistral interpretação de Sweet Georgia Brown, captada à luz do dia pelas câmeras conduzidas pelo diretor do filme Jazz on a Summer Day. O vício em heroína - droga apresentada a Anita pelo baterista John Pooler (1915 - 1999) - ocupa justificamente boa parte da narrativa, já que ocupou boa parte da vida da artista, mais precisamente o turbulento período que vai de 1954 a 1969. Sem qualquer julgamento moral, o documentário mostra como a dependência levou O'Day à prisão e a uma overdose quase fatal, mas também a uma maior liberdade no canto - o que permitiu sua fundamental adaptação à era do Bebop. E a pôs no cast da Verve.
Na fase final, o filme retrata o inverno do tempo de Anita O'Day. Por causa de um braço quebrado, alvo de sucessivos erros médicos, a cantora quase perdeu a voz e a vida. Mas perserverou e - já octagenária - voltou aos palcos e ainda gravou o álbum Indestructible!, de título sintomático. Nem a heroína destruiu o canto de Anita O'Day e o ótimo filme constrói a tese (através de depoimentos de músicos e de críticos de jazz) de que a resistente cantora merecia ter obtido reconhecimento muito maior em vida.
5 de outubro de 2008
Reverências à bossa e ao jazz no último de Henri
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Título: Révérence
Artista: Henri Salvador
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * 1/2
Morto em fevereiro de 2008, aos 90 anos, vítima de um aneurisma, Henri Salvador (1917 - 2008) sempre foi visto como discípulo da Bossa Nova. Révérence - último álbum do artista, lançado em 2006 e somente agora editado no Brasil - explicita as fortes influências bossa-novistas do cantor nascido na Guiana Francesa. A voz já não exibe o brilho dos áureos tempos, mas Henri soa elegante ao reverenciar a velha bossa e o Brasil neste álbum que teve oito de suas 13 faixas gravadas no Rio de Janeiro (RJ) com arranjos de Jacques Morelenbaum. Percebe-se claramente a influência do maestro brasileiro nas enfáticas cordas orquestradas por Morelenbaum para músicas como Mourir à Honfleur e Dans Mon Île, o clássico do repertório de Salvador, lançado em 1957 e regravado em Révérence em tom mais abolerado. Em contrapartida, a latinidade do piano de João Donato pouco sobressai nos arranjos. Reforçando os laços do artista com o Brasil, há duetos com Caetano Veloso e Gilberto Gil. Com vocais macios, Caetano acarinha a melodia de Cherche la Rose. Já Gil valoriza Tu Sais Je Vais T'Aimer, versão em francês de Eu Sei que Vou te Amar. Um terceiro dueto com artista brasileiro - no caso, com Rosa Passos, num registro sofisticado de Que Reste-T-Il de Nos Amours? - aparece em uma das três faixas-bônus da edição nacional de Révérence, álbum que, além da velha bossa, também louva o estilo jazzístico das big-bands em faixas como L'Amour se Trouve Au Coin de la Rue, com os arranjos a cargo de Michel Coeuriot. Entre o jazz e a bossa à francesa, Henri Salvador deixa legado digno e original que extrapola este derradeiro álbum.
'Loki' expõe lucidez insana da mente de Arnaldo
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Título: Loki
- Arnaldo Baptista
Direção: Paulo
Henrique Fontenelle
Cotação: * * * * *
Em exibição no Festival
do Rio 2008
* 5 de outubro (Odeon,
às 15h45m)
* 6 de outubro
(Estação Vivo Gávea 3,
às 13h e 20h)
"Minha alegria são as etapas vencidas", admite Arnaldo Dias Baptista, eterno mutante, logo num dos takes iniciais de Loki, arrebatador documentário produzido pelo Canal Brasil sobre uma vida que, como ressalta Lobão, foi sublimada na forma de Arte. Ao costurar depoimentos com fartas e raras imagens de arquivo, o diretor Paulo Henrique Fontenelle expõe a lucidez insana da mente de Arnaldo, merecidamente saudado no filme como o artista que deu identidade brasileira ao rock através do conjunto Os Mutantes, ápice de trajetória musical que, de forma simbólica, começa na infância, quando, no alto de uma roda-gigante, Arnaldo ouviu Elvis Presley (1935 - 1977). "Eu me senti vivo", recorda. Na roda-viva do mundo adulto, Arnaldo, adolescente, formaria o grupo The Thunders, que desembocaria no conjunto O' Seis (já com Rita Lee), que, por sua vez, seria o embrião dos revolucionários Mutantes. "A cabeça dos Mutantes era a de Arnaldo Baptista", sentencia o maestro tropicalista Rogério Duprat (1932 - 2006), acrescentando que o trio paulista foi o elemento mais importante da geléia geral brasileira arquitetada por Caetano Veloso e Gilberto Gil em 1967. Loki, a propósito, reproduz trechos da histórica apresentação de Domingo no Parque no III Festival de Música Popular da Brasileira, exibido pela TV Record em 1967. Foi quando Gilberto Gil se aliou ao trio para derrubar o muro que separava o rock da música brasileira. Ao imediato estouro dos Mutantes, vieram, na seqüência, as viagens alucinógenas a bordo de LSD. "As drogas somente atrapalharam. Foi o começo do fim", interpreta o produtor Liminha, na época baixista dos Mutantes. Sem fazer julgamento moral, o filme enfatiza através dos depoimentos o prejuízo que as drogas causaram na mente de Arnaldo. Sobretudo depois que Rita Lee, o primeiro idealizado amor do artista, saltou fora dos Mutantes e da vida de Arnaldo. Não necessariamente nessa ordem. Loki, aliás, acerta ao não tomar posição em relação à ainda controvertida saída de Rita da banda. Se a Ovelha Negra (que se recusou a falar sobre o assunto para o filme) sustenta em entrevistas que foi expulsa por Arnaldo e Sérgio Dias Baptista, então decididos a guiar os Mutantes por trilhas mais progressivas, Liminha e o baterista Dinho Leme afirmam lembrar do momento em que a cantora comunicou aos colegas que estava saindo do grupo. Já Sérgio Dias dá a entender que a versão da expulsão é mais uma das fantasias da teatral Rita.
Espontânea ou não, a saída de Rita Lee do grupo ajudou a desintegrar a mente de Arnaldo Baptista. Tanto que o artista, depressivo, logo sairia dos Mutantes e gravaria um estupendo primeiro disco solo, Loki (1974), em cujas desiludidas letras expôs sua fratura emocional. A crise se agravaria a ponto de Arnaldo não fazer seu agendado show no Festival de Águas Claras, em 1975. Contudo, da efêmera união do artista com a atriz Martha Mellinger, nasceria em abril de 1977 Daniel, único filho de Arnaldo e, naquele momento, único ponto de equilíbrio na confusão de sua vida. Nem a formação de uma nova banda, a Patrulha do Espaço, deu novo prumo à carreira de Arnaldo, que, em 31 de dezembro de 1981, dia do aniversário de Rita Lee, tentou o suicídio ao se atirar do quarto andar de um hospital psiquiátrico. "Eu me joguei da janela", assume Arnaldo. Contudo, o jogo da vida ainda não estava perdido para o mutante. No longo período de convalescença, entrou em cena Lucinha Barbosa, fã que viria a se tornar a dedicada mulher do artista. Em seu refúgio em Juiz de Fora (MG), amparado por Lucinha, "sem ligação com o passado", como ela enfatiza em seu depoimento, Arnaldo foi reorganizando sua mente num universo todo particular, com o auxílio da pintura. Até a volta consagradora em 2006 com a reunião dos Mutantes para show em Londres, idealizado dentro de evento em homenagem à Tropicália. A volta se estendeu ao Brasil e, em janeiro de 2007, um show ao ar livre reuniu 80 mil pessoas em São Paulo (SP) em torno dos Mutantes. Foi, no entender apropriado de Tom Zé, o fecho de um ciclo na carreira de Arnaldo.
Ao fim do filme, de todo comovente pela história naturalmente interessante do artista, Zélia Duncan - mutante temporária, recrutada para assumir no show de 2006 o posto de vocalista recusado por Rita Lee - sintetiza muito do visto e ouvido em duas horas de narrativa ao dizer que o legado de Arnaldo Baptista é a liberdade. Loki seduz ao expor sem firula a saga de um artista que venceu etapas e - hoje já alegre - celebra a eterna mutação da vida.
Elba reúne xotes românticos no CD dos 30 anos
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Trilha de 'Orfeu Negro' chega, na íntegra, ao CD
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