9 de outubro de 2008

'Sessão' é musical pueril como a Jovem Guarda

Resenha de musical
Título: Sessão da Tarde
Direção e roteiro: Flávio Marinho
Produção: Marcelo Sebá
Elenco: Flávia Rinaldi, Giselle Lima, Haline de Oliveira,
Karen Keldani, Kiko do Valle, Maurício Baduh, Pablo
Ascoli, Ricardo Nunes e Victor Maia
Local: Teatro Vannucci, Shopping da Gávea (RJ)
Cotação: * *
Em cartaz no Rio de Janeiro, de quinta-feira a sábado, de 9 de
outubro a 20 de dezembro de 2008 (Qui, 21h30m. Sex e sáb, 19h)

Embora tenha importado do exterior tanto o modelo de rebeldia juvenil como a estética roqueira que explodiu no mundo em 1964, no rastro da beatlemania, a Jovem Guarda construiu paradoxal identidade brasileira por ter incorporado em seu cancioneiro um sentimentalismo e uma certa ingenuidade de caráter nitidamente nacional. Sessão da Tarde - o musical de Flávio Marinho que estréia no Rio de Janeiro nesta quinta-feira, 9 de outubro de 2008, depois de ter tido sessão restrita a convidados na semana passada - evoca todo esse sentimento pueril que faz com que o repertório simples e melódico daquelas velhas tardes de domingo atravesse gerações e ressurja nas paradas a cada nova regravação.

Não há texto. A costura da narrativa é feita através das canções, que sugerem, comentam e (até) desenvolvem a ação, seguindo o modelo lançado no Brasil pela dupla Charles Möeller & Cláudio Botelho no recente musical Beatles num Céu de Diamantes. E, a propósito, na boa estrutura do roteiro reside a maior força do espetáculo. Através de personagens que representam arquétipos comportamentais dos anos 60 (o mocinho, o bad boy, a melhor amiga, o bamba etc.), o diretor conta sua história romântica através de canções imortalizadas nas vozes de Roberto Carlos, Wanderléa, Golden Boys, Wanderley Cardoso, Erasmo Carlos e Cia.

Se não há texto, tampouco há grandes vozes no elenco. Contudo, como o cancioneiro da Jovem Guarda não pede arroubos vocais, há cenas de alguma sedução, como o momento em que o mocinho se encanta com a mocinha ao som de Foi Assim. Ainda que os arranjos batam na tecla da padronização, a força de músicas como Esqueça, Sentado à Beira do Caminho (retrato da desorientação momentânea de um Erasmo pós-Jovem Guarda, usado no roteiro para ilustrar a desilusão do mocinho) e Devolva-me prendem o interesse do espectador. E justamente pelo fato de tal repertório estar entronizado há décadas na memória popular afetiva do brasileiro, a inversão de gênero de uma ou outra letra - como a de Namoradinha de um Amigo Meu, apresentada no musical sob ponto de vista feminino - soa bem estranha porque leva a uma prejudicial mutilação da rima de alguns versos. Outra licença poética do diretor foi a inclusão de algumas músicas lançadas fora do universo da Jovem Guarda - casos de Sou Rebelde (sucesso de Lilian do fim dos anos 70) e Rua Ramalhete (música de Tavito que expressa a nostalgia da juventude). No todo, quando sai de cena ao som da interpretação coletiva de É Preciso Saber Viver (o hino positivista composto por Roberto e Erasmo carlos, lançado pela dupla Os Vips em 1968 e regravado pelo Rei em 1974), Sessão da Tarde deixa - como tantos filmes que passam nas tardes globais - agradável impressão, sem nunca arrebatar, de fato, o espectador.

14 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Embora tenha importado do exterior tanto o modelo de rebeldia juvenil como a estética roqueira que explodiu no mundo em 1964, no rastro da beatlemania, a Jovem Guarda construiu paradoxal identidade brasileira por ter incorporado em seu cancioneiro um sentimentalismo e uma ingenuidade de caráter nitidamente nacional. Sessão da Tarde - o musical de Flávio Marinho que estréia no Rio de Janeiro nesta quinta-feira, 9 de outubro de 2008, depois de ter tido sessão restrita a convidados na semana passada - evoca todo esse sentimento pueril que faz com que o repertório simples e melódico daquelas velhas tardes de domingo atravessem gerações e ressurjam nas paradas a cada regravação.

Não há texto. A costura da narrativa é feita através das canções, que sugerem, comentam e (até) desenvolvem a ação, seguindo o modelo lançado no Brasil pela dupla Charles Möeller & Cláudio Botelho no recente musical Beatles num Céu de Diamantes. E, a propósito, na boa estrutura do roteiro reside a maior força do espetáculo. Através de personagens que representam arquétipos comportamentais dos anos 60 (o mocinho, o bad boy, a melhor amiga, o bamba etc.), o diretor conta sua história romântica através de canções imortalizadas nas vozes de Roberto Carlos, Wanderléa, Golden Boys, Wanderley Cardoso, Erasmo Carlos e Cia.

Se não há texto, tampouco há grandes vozes no elenco. Contudo, como o cancioneiro da Jovem Guarda não pede arroubos vocais, há cenas de alguma sedução, como o momento em que o mocinho se encanta com a mocinha ao som de Foi Assim. Ainda que os arranjos batam na tecla da padronização, a força de músicas como Esqueça, Sentado à Beira do Caminho (retrato da desorientação momentânea de um Erasmo pós-Jovem Guarda, usado no roteiro para ilustrar a desilusão do mocinho) e Devolva-me prendem o interesse do espectador. E justamente pelo fato de tal repertório estar entronizado há décadas na memória popular afetiva do brasileiro, a inversão de gênero de uma ou outra letra - como a de Namoradinha de um Amigo Meu, apresentada no musical sob ponto de vista feminino - soa bem estranha porque leva a uma prejudicial mutilação da rima de alguns versos. Outra licença poética do diretor foi a inclusão de algumas músicas lançadas fora do universo da Jovem Guarda - casos de Sou Rebelde (sucesso de Lilian do fim dos anos 70), Rua Ramalhete (música de Tavito que expressa a nostalgia da juventude) e de É Preciso Saber Viver (o hino positivista lançado por Roberto Carlos em 1974). No todo, Sessão da Tarde deixa - como os filmes que passam nas tardes globais - agradável impressão, sem de fato arrebatar o espectador.

9 de outubro de 2008 às 19:44  
Anonymous Anônimo said...

Tomara que este espetáculo venha a Minas. As músicas permanecem por que são lindas. [É só isso, não temque ficar criando teoria em cima. o que é belo fica.

9 de outubro de 2008 às 19:53  
Anonymous Anônimo said...

se as músicas da jovem guarda fossem tão bobinhas assim, não seriam cantadas até hoje. todo mundo regrava.

10 de outubro de 2008 às 09:48  
Anonymous Anônimo said...

100 anos de Cartola bombando, muito eventos e o Mauro prefere ficar escrevendo sobre esses assuntos de menor importância.

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

10 de outubro de 2008 às 10:11  
Anonymous Anônimo said...

retificando: muitoS eventos

Marcelo

10 de outubro de 2008 às 10:25  
Anonymous Anônimo said...

Sem contar, claro, que é MUITO mais importante do que alguns que são exaltados aqui.NÃO CHEGAM NEM A CUTÍCULA DA UNHA DE UM CARTOLA.

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

10 de outubro de 2008 às 11:03  
Blogger Pedro Progresso said...

Não mexo com Malhação.

10 de outubro de 2008 às 11:24  
Anonymous Anônimo said...

Não aceito a inclusão de Rua Ramalhete no roteiro desse musical. O Clube da Esquina, que tem origem geográfica diferente, mas origem social semelhante à do ieieiê, e que também bebeu no rock, foi capaz de criar uma obra permanente e original. Ali tinha talento, tinha músico de verdade.

A Jovem Guarda é o ponto mais baixo a que chegou a música brasileira. Imitação mal feita e sentimentalismo bisonho. Devia ser esquecida.

10 de outubro de 2008 às 11:57  
Anonymous Anônimo said...

O curioso é que quem crítica a JG e se acha protetor do samba esquece que Beth Carvalho foi escoltada no inicio de sua carreira pelos Golden Boys e Clarinha nunes comecou cantando musica "brega".E isso nao diminuiu em nada a obra delas

10 de outubro de 2008 às 13:18  
Anonymous Anônimo said...

Pois é! Mas ao menos elas tiveram salvação e não ficaram no ostracismo. Foram cantar o que gostavam. Até mesmo a GRANDE Clara Nunes, já falecida há exatos 25 anos, tem muito mais destaque atualmente do que esses aí. Fazer o quê? Cada um canta o que bem entende.
E quem "se acha" são algumas "moçoilas" que não tem nem coragem para assinar as asneiras que escreve.

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

10 de outubro de 2008 às 13:36  
Anonymous Anônimo said...

luc,

Estou entendendo que você gosta da música "Rua Ramalhete". Legal. Eu amo essa música. O Tavito é um compositor de mão cheia e muito gente boa. Ele vai lançar um cd novo por esses meses.

Entra no myspace dele. http://www.myspace.com/tavitominas

abração,
Denilson

10 de outubro de 2008 às 14:44  
Anonymous Anônimo said...

Marcelo,

Mas eu reconheço que a JG foi um movimento artístico representativo de uma época da música brasileira.

E que, queira-se ou não, marcou a vida de muita gente, artistas e público.

Acho que sob esse aspecto merece ter seu espaço.

Hoje é o aniversário de 100 anos do Cartola, não é? Vai ter um show em homenagem a ele hoje, feito por jovens artistas, a que eu vou assistir.

O grupo curitibano Tao do Trio lançou um cd bacana em homenagem ao Cartola. Dá uma conferida no www.myspace.com/otaodotrio

abração,
Denilson

10 de outubro de 2008 às 14:49  
Anonymous Anônimo said...

Oi Mauro, ainda que tenha feito enorme sucesso com Roberto Carlos ao gravada em 1974, "É Preciso Saber Viver" efetivamente faz parte do universo da Jovem Guarda porque foi gravada primeiramente pela dupla Os Vip's em 1968. A música foi mais um presente de Roberto & Erasmo para a dupla, que gravou algumas canções com exclusividade nos anos 60. A base da gravação dos Vip's depois foi utilizada por Roberto, Erasmo e Wanderléa em 1969, quando gravaram uma versão conjunta para servir de fechamento para o filme "O Diamante Cor de Rosa" (lançado em 1970). A gravação não foi lançada comercialmente em disco na época, mas acabou saindo em VHS e em DVD quando o filme foi relançado.
Assim sendo, não só tem tudo a ver com o espírito da Jovem Guarda, como embala a sequência final do filme que fecha um ciclo para os três principais artistas daquele movimento.

10 de outubro de 2008 às 17:31  
Anonymous Anônimo said...

Não desmereço o movimento não meu caro Denilson. O problema é dar espaço a peças de teatro enquanto rolava o show de Cazuza com Cartola e outro amanhã (dia do centenário, 11/10/2008) somente de Cartola.
Sou fã do Roberto! E não desmereço...a bronca foi por conta da peça mesmo e o recado malcriado foi para o cidadão acima que acha que eu me acho. Coitada! Abração Denilson.

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

Muito obrigado pela dica! Eu escutarei com prazer até porque adoro Cartola.

10 de outubro de 2008 às 19:41  

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