7 de outubro de 2008

Discos certos com erradas músicas de trabalho

Não fique com uma má impressão do recém-lançado disco de inéditas de Zeca Pagodinho (foto), Uma Prova de Amor, caso não tenha gostado da faixa-título, equivocadamente escolhida pela gravadora Universal Music para iniciar a promoção do CD nas rádios e nas televisões. O álbum apresenta sambas (bem) mais interessantes do que Uma Prova de Amor, que fica muito na cola de Verdade, grande hit de Zeca nos anos 90, mas sem o mesmo apelo. Trata-se de uma escolha errada que vem se tornando freqüente nos últimos tempos, justamente quando as gravadoras - muito acuadas pela progressiva queda nas vendas - não deveriam se permitir tais erros. Até porque, como as verbas de marketing atualmente estão bem reduzidas por conta da dura realidade do mercado fonográfico, é preciso acertar de cara no primeiro single, pois uma segunda música de trabalho dificilmente vai ser lançada com o mesmo gás da primeira. Sobretudo nesta volátil era virtual.
O crasso erro perceptível na promoção do novo trabalho de Zeca Pagodinho tem se tornado praxe infeliz em lançamentos recentes. O azeitado álbum que o Skank lançou no começo deste mês de outubro, Estandarte, também corre risco de ser ignorado de cara porque a Sony BMG titubeou na escolha do primeiro single. Embora embalada em moldura pop radiofônica, a canção Ainda Gosto Dela nem roça a força de outras duas faixas: a balada Sutilmente (provável único hit do CD nas paradas populares) e Escravo, petardo certeiro nas pistas. A mesma Sony BMG viu as 30 mil cópias da tiragem inicial do oitavo álbum de Adriana Calcanhotto, Maré, saírem das prateleiras de forma bem mais lenta do que imaginado inicialmente pela companhia. Embora propagada na trilha sonora da novela A Favorita, a ótima regravação de Mulher sem Razão não tem o apelo popular da faixa Um Dia Desses, que somente agora vai começar a ser trabalhada pela gravadora. Contudo, no caso de Calcanhotto, é preciso ressaltar que não houve equívoco na percepção, mas uma escolha conceitual. Música de textura ruralista, Um Dia Desses tem clima lúdico que remete ao disco infantil Adriana Partimpim (2004) e, caso fosse eleita a primeira música de trabalho de Maré, daria a falsa impressão de que Calcanhotto lançava disco de tom similar.
Os recém-lançados discos de Margareth Menezes e de Pedro Luís e a Parede também estão sendo promovidos com faixas erradas. No caso do CD de MPB da cantora baiana, Naturalmente, a faixa Febre - parceria de Zeca Baleiro com Lúcia Santos - parece ter mais chance de pegar nas rádios do que a releitura de Os Cegos do Castelo, sucesso do grupo Os Titãs. Já o vigoroso CD da Parede, Ponto Enredo, apresenta músicas mais palatáveis do que Santo Samba. Parceria de Pedro Luís com Lenine, 4 Horizontes é uma delas. Enfim, a escolha acertada da música de trabalho continua fundamental para o êxito de um disco. Mesmo nos tempos das vendas fartas, grandes álbuns já afundaram nas paradas porque foram promovidos com a música equivocada. Como as vendas já despencam e não há verbas para alongar os planos de marketing dos discos, qualquer erro na eleição do single é quase irreversível.

15 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Não fique com uma má impressão do recém-lançado disco de inéditas de Zeca Pagodinho (foto), Uma Prova de Amor, caso não tenha gostado da faixa-título, equivocadamente escolhida pela gravadora Universal Music para iniciar a promoção do CD nas rádios e nas televisões. O álbum apresenta sambas (bem) mais interessantes do que Uma Prova de Amor, que fica muito na cola de Verdade, grande hit de Zeca nos anos 90, mas sem o mesmo apelo. Trata-se de uma escolha errada que vem se tornando freqüente nos últimos tempos, justamente quando as gravadoras - acuadas pela progressiva crise nas vendas - não deveriam se permitir tais erros. Até porque, como as verbas de marketing atualmente estão bem reduzidas por conta da dura realidade do mercado fonográfico, é preciso acertar de cara no primeiro single, pois uma segunda música de trabalho dificilmente vai ser lançada com o mesmo gás da primeira. Sobretudo nesta volátil era virtual.
O crasso erro perceptível na promoção do (ótimo) disco de Zeca Pagodinho tem se tornado praxe em lançamentos recentes. O azeitado álbum que o Skank lançou no início deste mês de outubro, Estandarte, também corre risco de ser rejeitado de cara porque a Sony BMG errou feio na escolha do primeiro single. Embora embalada em moldura pop radiofônica, a canção Ainda Gosto Dela nem roça a força de outras duas faixas, a balada Sutilmente (provável único hit do CD nas paradas populares) e Escravo, petardo certeiro nas pistas. A mesma Sony BMG viu as 30 mil cópias da tiragem inicial do oitavo CD de Adriana Calcanhotto, Maré, saírem das prateleiras de forma bem mais lenta do que imaginado inicialmente pela companhia. Embora propagada na trilha sonora da novela A Favorita, a boa regravação de Mulher sem Razão não tem o apelo popular da faixa Um Dia Desses, que somente agora vai começar a ser trabalhada pela gravadora. Contudo, no caso de Calcanhotto, é preciso ressaltar que não houve equívoco na percepção, mas uma escolha conceitual. Música de textura ruralista, Um Dia Desses tem clima lúdico que remete ao disco infantil Adriana Partimpim (2004) e, caso fosse eleita a primeira música de trabalho de Maré, daria a falsa impressão de que Calcanhotto lançava disco de tom similar.
Os recém-lançados discos de Margareth Menezes e de Pedro Luís e a Parede também estão sendo promovidos com faixas erradas. No caso do CD de MPB da cantora baiana, Naturalmente, a faixa Febre - parceria de Zeca Baleiro com Lúcia Santos - parece ter mais chance de pegar nas rádios do que a releitura de Os Cegos do Castelo, sucesso do grupo Os Titãs. Já o ótimo CD da Parede, Ponto Enredo, apresenta músicas mais palatáveis do que Santo Samba. Parceria de Pedro Luís com Lenine, 4 Horizontes é uma delas. Enfim, a escolha acertada da música de trabalho continua fundamental para o êxito de um disco. Mesmo nos tempos das vendas fartas, grandes álbuns já afundaram nas paradas porque foram promovidos com a música equivocada. Como as vendas já despencam e não há verbas para alongar os planos de marketing dos discos, qualquer erro na eleição do single é quase irreversível.

7 de outubro de 2008 às 14:02  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, hit certo ou errado eh questao de gosto. Voce não pode impor o seu gosto como o 'certo'.

7 de outubro de 2008 às 14:12  
Blogger Blog Blogspot said...

Não conheço as músicas citadas, mas quem tem experiência no ramo da música (como é o caso do Mauro), geralmente desenvolve um feeling prá reconhecer aquelas músicas que, sendo tocadas, cairão rápido no gosto popular.

De vez em quando surgem artistas que fazem um disco tão bom, que as músicas com "cheiro de sucesso" (sucesso significa reconhecimento) são 4 ou 5, como foi o caso do grupo MOINHO. Pro meu gosto pessoal, o disco todo é excelente, sem desperdício de faixa, mas que o povão iria gamar por umas 4, não tenho dúvidas. A música ESNOBA é literalmente uma "introdução" ao MOINHO.
Gosto é gosto, mas a vivência no meio aguça o faro de quem entende do traçado.

7 de outubro de 2008 às 14:35  
Blogger Flávia C. said...

Realmente, Bernardo, ninguém pode impor seu gosto como "certo", porém acho deve haver algum parâmetro, algum dado técnico, algum indício que determine (ou costumava determinar) a escolha da música de trabalho, algo além da simples preferência dos manda-chuvas das gravadoras (ou de quem quer que tenha a última palavra nessa escolha).

Deve haver ou devia haver, pois, se esses "erros" têm se tornado freqüentes agora, é porque alguma coisa desandou (mesmo que seja a percepção musical do público, ou a sintonia das gravadoras com o que pode realmente interessar a esse público...).

Acho interessante essa questão ser levantada, pensada e discutida, ainda que de maneira informal aqui no blog. Prefiro isso a pensar que a música brasileira está menos interessante, até porque, mesmo sabendo que isso não é verdade, é o que tem parecido.

7 de outubro de 2008 às 14:38  
Anonymous Anônimo said...

Desculpe, mas dizer que as faixas "Uma Prova de Amor" e "Ainda Gosto Dela" não vão cair no gosto do público e não servem para carro-chefe são as coisas mais equivocadas que eu ouvi nos últimos meses. Ligue o rádio e perceba que falar de música não é simplesmente encontrar alguma coisa para criticar.

7 de outubro de 2008 às 14:58  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, muito bem, taí voce botando o dedo na ferida. Crise no mercado de discos, dinheiro pouco pro jabá... ou acerta na primeira ou não tem segunda.

7 de outubro de 2008 às 15:01  
Anonymous Anônimo said...

O futuro das gravadoras está no telefone celular, dizem.

7 de outubro de 2008 às 16:35  
Anonymous Anônimo said...

Tirando SKANK e ZECA, os outros não vivem de " paradas de sucessos " !

7 de outubro de 2008 às 16:50  
Anonymous Anônimo said...

MAURO:
VC FOI MUITO FELIZ NO SEU COMENTÁRIO!!!
EM TEMPOS BICUDOS DE CRISE,AS GRAVADORAS NÃO PODEM SE DAR AO LUXO DE ERRAR COMO NO CASO DO ZECA (CONCORDO PLENAMENTE DEPOIS DE OUVIR O DISCO) E MAIS BERRANTE AINDA NO CASO DO SKANK...
O PROBLEMA É QUE NAS GRAVADORAS SEMPRE TEM OS "GENIOZINHOS" DE PLANTÃO,CAPAZES DE FAZER VERDADEIRAS PRESEPADAS....COMO NO CASO DO SKANK,AO DESPRESAREM AS MATADORAS "ESCRAVO" E PRINCIPALMENTE "SUTILMENTE"...
CONCORDO COM O COMENTÁRIO ANTERIOR,QUE GOSTO NÃO SE IMPÕEM...
O PROBLEMA É QUE NÓS QUE TRABALHAMOS COM MÚSICA E PRINCIPALMENTE NOS BASTIDORES SABEMOS QUE EXISTEM CERTAS REGRAS QUE NÃO PODEM NUNCA SEREM IGNORADAS... MESMO QUE ISTO NOS CUSTE ENFRENTAR OS COMENTÁRIOS DE QUE "ESAMOS ACOMODADOS"... "É MAIS DO MESMO..."...
O PIOR É QUE MUITAS VEZES,ESCOLHAS EQUIVOCADAS DE SINGLES,ACONTECEM POR CONTA DE EGO DE ALGUÉM DA EQUIPE DA GRAVADORA QUE "BANCA" A ESCOLHA APENAS PARA MOSTRAR "PODER"...
PARABÉNS AO "GENIOZINHO" DA SONY/BMG E DA UNIVERSAL PELAS EQUIVOCADAS ESCOLHAS...
SÃO PROFISSIONAS ASSIM,QUE FAZEM A ALEGRIA DO MERCADO PIRATA...
ALIÁS AQUI VAI UMA SUGESTÃO PARA OS HOMENS DE GRAVADORA:
QUER TESTAR MESMO O PODER DE FOGO DE UM SINGLE???
LEVE O DISCO CHEIO PARA UM CAMELÔ OUVIR ANTES DE SER LANÇADO E PERGUNTE A ELE QUE MÚSICA O POVO IRÁ GOSTAR MAIS...
CARA FUNCIONA....

VALEU MAURO...

itamardias@gmail.com

7 de outubro de 2008 às 17:48  
Anonymous Anônimo said...

Que pretensão esse lance de determinar qual é a música de trabalho! Vai da opinião do artista, não de crítico. Seu papel não é esse!

7 de outubro de 2008 às 20:19  
Blogger .Leo. said...

"Tirando SKANK e ZECA, os outros não vivem de " paradas de sucessos " !"

De fato, não vivem...
Mas a análise foi bem legal, Mauro, de qualquer forma, acertou de primeira, rs...

7 de outubro de 2008 às 20:48  
Anonymous Anônimo said...

Mauro,
Ficaria muito feliz se você pudesse me responder com toda a sua experiência, sensibilidade e sobretudo "feeling", se existe de fato, uma regra para definir músicas "populares" isto é, que caiam no gosto popular. E uma segunda pergunta: Você acha um disco de estréia de um artista começando, será reconhecido pelo seu repertório? Você acha que só grandes produtores e gravadoras podem ter essa capacidade de definir e dizer quais músicas são as populares e funcionam?
Obrigada.
Júlia
jualvaresbraga@live.com

8 de outubro de 2008 às 02:42  
Anonymous Anônimo said...

Falou e disse, Mauro.

De mais a mais, não acho que o Mauro esteja querendo impor a opinião dele, de modo arbitrário. É uma observação dele (diga-se de passagem, corretíssima).

Porque crítica musical é isso aí: tem um embasamento teórico, mas é mais uma opinião, como a de qualquer ouvinte comum.

Se ouvintes, fãs e artistas pensassem assim, não se melindrariam tanto...

Felipe dos Santos Souza

8 de outubro de 2008 às 08:27  
Anonymous Anônimo said...

Gênios existem em todas as áreas...rs
Creio que falta aprofundar mais na escolha ouvindo "programadores e coordenadores de programaçao de rádios do segmento pop e principalmente das populares das principais capitais . A verdade no caso do Skank é que ele tem dificuldade pra "vingar" até em Belô .
Insights de genios nao vao superar a pesquisa nunca....

8 de outubro de 2008 às 12:00  
Anonymous Anônimo said...

Acho que Mulher sem razão é a melhor coisa e mais popular do disco da Adriana Calcanhotto, que é muito chato por sinal.

8 de outubro de 2008 às 14:49  

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