6 de outubro de 2008

Na tela, a cantora de jazz que improvisa na vida

Resenha de filme
Título: Anita O'Day - A
Vida de uma Cantora
de Jazz (Anita O'Day
- The Life of a Jazz
Singer. Eua, 2007)
Direção: Robbie
Cavolina e
Ian McCrudden
Cotação: * * * *
Em exibição no Festival
do Rio 2008
* 9 de outubro (Caixa
Cultural 2, às 17h15m)

Morta em 23 de novembro de 2006, aos 87 anos, Anita Belle Conton, a Anita O'Day (1919 - 2006), é considerada por muitos músicos norte-americanos de jazz uma cantora do mesmo naipe de Billie Holiday (1915 - 1959), Ella Fitzgerald (1917 - 1996) ou Sarah Vaughan (1924 - 1990). Ora em exibição no Brasil dentro da programação do Festival do Rio 2008, o documentário Anita O' Day - A Vida de uma Cantora de Jazz mostra que - assim como Billie, Ella e Sarah - Anita teve que saber improvisar na vida como no jazz para continuar em cena. Abortos, estupro (apenas mencionado no filme sem maiores detalhes) e, sobretudo, o vício em heroína pontuaram a vida atribulada desta intérprete que começou a cantar aos 12 anos e teve sua grande chance em 1940, quando passou a atuar com o maestro Gene Krupa. Como vocalista da orquestra de Krupa, O'Day se impôs na era do swing das big-bands. Com aguçado senso rítmico, O'Day burilou seu fraseado excepcional e desafiou os preconceitos raciais da época ao duetar com o trompetista negro Roy Edlridge em emblemático registro de Let me off Uptown. Outra inovação da cantora foi se vestir com o uniforme usado pelos músicos da big-band de Stan Kenton, com quem ela fez mais de 40 gravações somente em 1944.

Com narrativa objetiva, estruturada de forma cronológica, o documentário entremeia trechos de entrevistas da cantora em épocas distintas com números musicais emblemáticos em sua trajetória - casos do take de Love for Sale no Japão, em 1963, e de sua magistral interpretação de Sweet Georgia Brown, captada à luz do dia pelas câmeras conduzidas pelo diretor do filme Jazz on a Summer Day. O vício em heroína - droga apresentada a Anita pelo baterista John Pooler (1915 - 1999) - ocupa justificamente boa parte da narrativa, já que ocupou boa parte da vida da artista, mais precisamente o turbulento período que vai de 1954 a 1969. Sem qualquer julgamento moral, o documentário mostra como a dependência levou O'Day à prisão e a uma overdose quase fatal, mas também a uma maior liberdade no canto - o que permitiu sua fundamental adaptação à era do Bebop. E a pôs no cast da Verve.

Na fase final, o filme retrata o inverno do tempo de Anita O'Day. Por causa de um braço quebrado, alvo de sucessivos erros médicos, a cantora quase perdeu a voz e a vida. Mas perserverou e - já octagenária - voltou aos palcos e ainda gravou o álbum Indestructible!, de título sintomático. Nem a heroína destruiu o canto de Anita O'Day e o ótimo filme constrói a tese (através de depoimentos de músicos e de críticos de jazz) de que a resistente cantora merecia ter obtido reconhecimento muito maior em vida.

3 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Morta em 23 de novembro de 2006, aos 87 anos, Anita Belle Conton, a Anita O'Day (1919 - 2006), é considerada por muitos músicos norte-americanos de jazz uma cantora do mesmo naipe de Billie Holiday (1915 - 1959), Ella Fitzgerald (1917 - 1996) ou Sarah Vaughan (1924 - 1990). Ora em exibição no Brasil dentro da programação do Festival do Rio 2008, o documentário Anita O' Day - A Vida de uma Cantora de Jazz mostra que - assim como Billie, Ella e Sarah - Anita teve que saber improvisar na vida como no jazz para continuar em cena. Abortos, estupro (apenas mencionado no filme sem maiores detalhes) e, sobretudo, o vício em heroína pontuaram a vida atribulada desta intérprete que começou a cantar aos 12 anos e teve sua grande chance em 1940, quando passou a atuar com o maestro Gene Krupa. Como vocalista da orquestra de Krupa, O'Day se impôs na era do swing das big-bands. Com aguçado senso rítmico, O'Day burilou seu fraseado excepcional e desafiou os preconceitos raciais da época ao duetar com o trompetista negro Roy Edlridge em emblemático registro de Let me off Uptown. Outra inovação da cantora foi se vestir com o uniforme usado pelos músicos da big-band de Stan Kenton, com quem ela fez mais de 40 gravações somente em 1944.

Com narrativa objetiva, estruturada de forma cronológica, o documentário entremeia trechos de entrevistas da cantora em épocas distintas com números musicais emblemáticos em sua trajetória - casos do take de Love for Sale no Japão, em 1963, e de sua magistral interpretação de Sweet Georgia Brown, captada à luz do dia pelas câmeras conduzidas pelo diretor do filme Jazz on a Summer Day. O vício em heroína - droga apresentada a Anita pelo baterista John Pooler (1915 - 1999) - ocupa justificamente boa parte da narrativa, já que ocupou boa parte da vida da artista, mais precisamente o turbulento período que vai de 1954 a 1969. Sem qualquer julgamento moral, o documentário mostra como a dependência levou O'Day à prisão e a uma overdose quase fatal, mas também a uma maior liberdade no canto - o que permitiu sua fundamental adaptação à era do Bebop. E a pôs no cast da Verve.

Na fase final, o filme retrata o inverno do tempo de Anita O'Day. Por causa de um braço quebrado, alvo de sucessivos erros médicos, a cantora quase perdeu a voz e a vida. Mas perserverou e - já octagenária - voltou aos palcos e ainda gravou o álbum Indestructible!, de título sintomático. Nem a heroína destruiu o canto de Anita O'Day e o ótimo filme constrói a tese (através de depoimentos de músicos e de críticos de jazz) de que a resistente cantora merecia ter obtido reconhecimento muito maior em vida.

6 de outubro de 2008 às 11:13  
Anonymous Anônimo said...

Praticamente não se tem mais cantoras do naipe de Ella, Billie, Sarah e Anita, ou com o charme cool de Julie London. Tempo difíceis para o jazz, o 'tudo' virou o nada(free-jazz).

6 de outubro de 2008 às 14:22  
Anonymous Anônimo said...

Minha musa...
Salve Mauro,quem tecla é Luanda Cozetti,cantora,nóa fomos apresentados no século passado pelo Carlos Amorim,amigo querido de quem não tenho mais o contato...buáá!

Estou vivendo em Portugal ,e daqui de minha salinha lusa,leio com prazer o seu blog!
Adoro!
Um beijo carinhoso,
Luanda!

7 de outubro de 2008 às 13:36  

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