Resenha de showTítulo: Sarau du Brown - com participações de ArnaldoAntunes, Marisa Monte, Margareth Menezes, Marienede Castro, Dadi, ArmandinhoArtista: Carlinhos Brown (em foto de Osmar Gamma)Local: Museu du Ritmo (Salvador, Bahia)Data: 20 de janeiro de 2008Cotação: * * *Descontada a insatisfação popular com a curta duração da formal participação do grupo Tribalistas no
Sarau du Brown, é fato que o evento reafirma o caráter plural, político e miscigenado da arte de Carlinhos Brown. Ao entrar no palco caracterizado como o gorila
Timball King, o artista já deu a pista de que sua apresentação seria original. E foi.
Carnavália, a música dos Tribalistas, tocado com a força da percussão afro-baiana, foi um dos belos números da parte inicial do show de Brown - um artista performático e elétrico que sabe entreter o seu público, embaralhando o sagrado e o profano.
Não faltou empolgação - no palco e na platéia - quando o tribalista tocou músicas como
Uma Brasileira (grande hit dos Paralamas do Sucesso em 1995) e
Cachaça (Chupito). É, em essência, o baticum afro-baiano, mas com tom miscigenado no qual cabe até a textura eletrônica de
Maria Caipirinha. E, como o palco estava localizado no centro da arena, Brown não perdeu a oportunidade de fazer o público
dar a volta no ritmo em números mais elétricos, criando efeito contagiante (o público corre em círculo em volta do palco).
Alegria Original - a versão com letra, em ritmo de axé, do clássico frevo
Vassourinhas - foi desses números que, ao vivo,
dão a volta no axé-lixo das rádios e atestam a efervescência da música baiana.
Mais do que show, o
Sarau du Brown funciona como manifesto da ideologia do artista. Que pôs em cena o Rei Momo Clarindo Silva - cuja eleição está sendo contestada na Justiça da Bahia pelo fato de ele ser magro (pesa
58kg) - e louvou seu sincretismo religioso em cena. Se o batuque dos timbaus evocam a africanidade reinante na Bahia, a imagem sagrada do Senhor do Bonfim que saiu do palco e atravessou a platéia simboliza a fé que move o povo de Salvador.
Estranhos nesse ninho baiano, Arnaldo Antunes e Marisa Monte parecem não ter entendido os códigos que regem o
sarau. Foram formais demais - quando se esperava a informalidade... A mesma que fez Mariene de Castro ser convidada por Brown para cantar da sacada do camarote em que ela assistia ao evento. Pois Mariene, grávida de cinco meses, aceitou o convite e puxou sambas como
Ilha de Maré,
Sonho Meu e
Orgulho Negro para deleite da platéia.
Margareth Menezes sabe como funciona a política musical baiana. Mesmo cansada, ela participou do show com um
set explosivo que incluiu irresistíveis sambas-reggaes como
Faraó,
Elegibô e
Nossa Gente (Avisa Lá) - além de seus hits
Dandalunda (pretexto para convocar o público para dar outra empolgante
volta no ritmo) e
Toté de Maianga. A intérprete saiu consagrada de noite especial marcada, inclusive, pela vaia inédita na carreira de Marisa Monte.