22 de novembro de 2008

No palco, 'grooves' harmonizam faces do Skank

Resenha de Show
Título: Estandarte
Artista: Skank
Local: Canecão (RJ)
Data: 21 de novembro de 2008
Cotação: * * * *
Foto: Mauro Ferreira
Em cartaz até 23 de novembro

Por mais que o Skank tenha exibido várias faces ao longo de 18 anos de carreira fonográfica, todas se harmonizam nos shows do quarteto. Em Estandarte, show que estreou em Belo Horizonte (MG) em 12 de outubro de 2008 e chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de sexta-feira, 21 de novembro, o roteiro de 26 músicas (incluídas as três escolhidas pela platéia para o bis por meio de votos enviados via celular) concilia todas as fases do grupo num tom uniforme, dado pelos azeitados grooves tirados pela banda e pelo trio de metais que, no fim, ganha a adesão do saxofone de Chico Amaral, o parceiro do vocalista Samuel Rosa na composição do repertório do quarteto. Quase todos os hits estão lá. Mas quase nenhum é tocado da forma como foi para o disco, em mais um atestado da habilidade do Skank de se renovar sem perder a identidade. E a capacidade de permanecer popular em todas as classes sociais - como está provando o estouro radiofônico de Ainda Gosto Dela, a canção escolhida para iniciar os trabalhos promocionais de Estandarte, CD que marcou o reencontro do quarteto com Dudu Marote, o produtor de Calango e Samba Poconé - os milionários álbuns gravados pelo grupo nos anos 90.
Convidada do registro de estúdio de Ainda Gosto Dela, Negra Li foi recrutada pela banda para participar das apresentações de Estandarte no Rio e em São Paulo. Na estréia carioca, a cantora não disse a que veio na sua primeira entrada em cena, mas, no bis, se soltou e deu tempero especial ao tema. Contudo, a participação episódica de Li não altera o status de show vigoroso. A interação entre os músicos é perceptível desde que - após a execução em off de música de filme de faroeste - a banda entra em cena para abrir o roteiro com Pára-Raio, com seus eletrizantes metais à moda da fase soul de Roberto Carlos. Emoldurado por belíssimo cenário, urdido com tiras elásticas que dão colorido ao palco à medida em que são iluminadas, o Skank embala com mix de levadas de funk, reggae e rock um repertório que agrega músicas do novo álbum (Chão se mostrou firme e Escravo confirmou sua vocação para servir às paradas), hits tão inevitáveis quanto irresistíveis (Três Lados, Vou Deixar, É Proibido Fumar e Garota Nacional - emendados em bloco naturalmente explosivo), um ou outro lado B (Ali, música do álbum Maquinarama, obra-prima do Skank) e algumas canções de atmosfera BritPop que merecem mais atenção - caso de Um Mais Um, uma das músicas inéditas lançadas em 2004 na coletânea Radiola que acabou ofuscada na época da edição da compilação pelo estouro da abordagem roqueira do reggae Vamos Fugir, de Gilberto Gil. A propósito, Beleza Pura - a música de Caetano Veloso regravada pelo Skank para a trilha sonora da novela homônima exibida pela Rede Globo neste ano de 2008 - comprovou no show a habilidade do quarteto para trazer músicas alheias para seu universo rítmico sem descaracterizá-las.
Como de hábito, as baladas do Skank fazem o contraponto para músicas arranjadas com grooves mais ou menos pesados. A ensolarada Uma Canção É pra Isso esteve em sintonia com Acima do Sol - número em que o cenário obviamente é iluminado com tons amarelos - e com a Balada do Amor Inabalável, composta cheia de bossa, com um ar carioca. Aliás, a balada serviu de pretexto para o vocalista Samuel Rosa (alternando-se elétrico entre o violão e a guitarra ao longo do show) afagar o ego do público carioca na estréia de Estandarte no Canecão. Enfim, trata-se de mais um grande show do Skank. Igual aos outros na essência, mas, ao mesmo tempo, diferente porque o balanço é outro. Assim como são outras as levadas de Estandarte, disco que não é tão próximo assim de Calango e de Samba Poconé, como a presença de Dudu Marote na produção induz a pensar apressadamente. Uma banda pop, afinal, é para isso: satisfazer sua platéia com hits e mudanças sutis que a fazem progredir sem perder o link com sua trajetória. Quando tocou Tanto no bis, acatando o resultado da votação popular, o Skank que estava em cena, antenado, soou bem diferente daquele que gravou a versão da música de Bob Dylan em 1992. Mas não a ponto de se tornar irreconhecível para seu público. Parece fácil, mas é (muito) difícil.

Edição de luxo de 'Frank' exuma restos de Amy

Resenha de CD
Título: Frank
(Deluxe Edition)
Artista: Amy Winehouse
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * 1/2

Embora Amy Winehouse já esteja em (aparente) processo de recuperação e já tenha até mostrado à gravadora Universal Music o embrião do repertório de seu terceiro álbum, paira no ar a dúvida se a cantora vai de fato sobreviver ao vício das drogas para poder dar continuidade à sua obra fonográfica. Diante desse quadro de incerteza, a ordem mundial na companhia é explorar ao máximo o legado da artista. Isso inclui produzir edições estendidas de seus dois únicos álbuns. Como a de Back to Black (2007) se mostrou lucrativa, a de Frank - o primeiro álbum de Amy, editado em 2003 com um tom jazzístico que se dissipou em Back to Black - foi fabricada na seqüência neste ano de 2008. É este CD duplo que acaba de chegar ao mercado brasileiro com texto assinado por Paul Flynn. Entre registros ao vivo, remixes e demos bem-acabadas de músicas como Take the Box e I Heard Love Is Blind, a edição luxuosa de Frank fica realmente especial quando apresenta (re)leituras vigorosas da intérprete para clássicos como Someone to Watch Over me, 'Round Midnight (o standard associado ao pianista Thelonious Monk) e Teach me Tonight (captada ao vivo em gravação feita com big-band). No todo, as 17 faixas do CD-bônus são interessantes. Contudo, por melhor que sejam os 70 minutos de material extra, fica a má impressão de que se trata de produto criado para exumar os restos da obra imortal de Amy Winehouse.

CD triplo revive início do reinado de Jackson (5)

Resenha de CD
Título: The Motown Years
Artista: Michael Jack5on
& Jackson 5
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * * 1/2

Se Michael Jackson hoje gera notícia por conta de seu gênio excêntrico (a propósito, o jornal inglês The Sun afirmou esta semana que o artista teria se convertido ao islamismo...), houve tempo em que o cantor reinava na mídia apenas por causa de sua música quase sempre genial. A coletânea tripla The Motown Years mapeia o início desse reinado através de 50 gravações feitas por Michael com o grupo Jackson 5 - formado por ele e seus irmãos nos anos 60, sob as vistas gananciosas do pai - e na paralela carreira solo que desenvolveu antes de ingressar na fase adulta com o álbum Off the Wall. Viesse com texto inédito que explicasse às novas gerações a importância do som negro do Jackson 5 gro na cena pop dos anos 60 e 70, a compilação tripla embalada em formato digipack seria perfeita. Ainda assim, é mais do que indicada para quem não conhece os primeiros passos do menino prodígio Michael Jackson antes de ele ser aclamado como rei do pop a partir do álbum Thriller, de 1982. Os dois primeiros discos rebobinam 34 gravações do Jackson 5, grupo que liderou as paradas em 1969 com os hits ABC e I Want You Back, ambos estrategicamente posicionados, aliás, nas aberturas dos CDs 1 e 2, respectivamente. Escorado no carisma e na voz aguda do precoce Michael, o Jackson 5 transitou por baladas de espírito soul (Never Can Say Goodbye) e por funk (Get It Together), antecipando algo da atmosfera da disco music em gravações como Dancing Machine e The Life of the Party. No CD 3, dezesseis fonogramas da primeira fase da carreira solo de Michael Jackson mostram que, já adolescente, ele tinha a rara capacidade de deglutir todos os ingredientes da música e da cultura negras em um coquetel de delicioso sabor pop. Basta relacionar alguns sucessos reunidos neste disco - My Girl, One Day in Your Life, Got to Be There, Ben, Music and Me e I Wanna Be Where You Are, entre outras menos cotadas - para atestar o seu talento (e a seleção ainda deixou Happy de fora). Enfim, The Motown Years é o melhor produto fabricado pela indústria fonográfica para celebrar os 50 anos de Michael Jackson. Hoje genioso, ele já foi genial, desde muito cedo.

Coletânea reúne, de fato, o melhor de 'Pantanal'

Resenha de CD
Título: O Melhor do
Pantanal
Artista: Vários
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * * 1/2

Além de ter dado novos ares à teledramaturgia em 1990 com narrativa mais lenta, pontuada por imagens da natureza captadas com beleza plástica pelo diretor Jayme Monjardim, a novela Pantanal também fugiu dos clichês ao apresentar trilha sonora criada fora dos padrões industriais que já regiam o gênero na época. Uma trilha marcante que gerou dois álbuns já fora de catálogo, mas compilados neste ano de 2008 por conta do sucesso da reprise da trama de Benedito Ruy Barbosa no SBT. A coletânea O Melhor do Pantanal faz jus ao título. A seleção inclui todos os temas que deram (e ainda dão, passados 18 anos) caráter antológico à épica trilha, nascida da inspiração de Marcus Viana, versátil músico mineiro, hábil na inserção de sons progressivos em atmosfera próxima da new age. Acima de rótulos, a música de Viana é bela e conseguiu traduzir o clima pantaneiro sem clichês. Na coletânea ora editada pela Universal Music, o talento de Viana pode ser apreciado em temas como Espírito da Terra, Reino das Águas, Noite e Pantanal (este em registro assinado pelo Sagrado Coração da Terra, o grupo de música progressiva formado por Viana nos anos 80). Sem falar em Amor Selvagem, a sublime canção romântica que sublinhava o amor puro de Juma (Cristiana Oliveira) por Jovi (Marcos Winter). Contudo, o êxito da trilha de Pantanal não pode ser atribuído somente a Marcus Viana. Gravações de Almir Sater (Chalana e Um Violeiro Toca, lindas), Sérgio Reis (Comitiva Esperança e Peão de Boiadeiro), Maria Bethânia (Tocando em Frente, a toada de Almir Sater e Renato Teixeira gravada pela cantora em 1990 para o álbum comemorativo de seus 25 anos de carreira) e da dupla Sá & Guarabyra (Estrela Natureza) ajudaram a tornar histórica a trilha sonora de uma das melhores novelas. E a música - justiça seja feita - tem papel determinante no fascínio que Pantanal ainda exerce sobre o telespectador. Vale a pena ouvir tal trilha sonora de novo.

21 de novembro de 2008

Bruce mostra 'Working in a Dream' em janeiro

Working in a Dream é o título do CD que Bruce Springsteen vai lançar em 27 de janeiro de 2009 via Columbia / Sony BMG. Assim como o anterior Magic (2007), um álbum esplêndido que marcou o reencontro do Chefe com a azeitada E-Street Band, Working in a Dream foi produzido por Brendan O'Brien e feito por Bruce com a fiel banda. Além de apresentar 12 inéditas no repertório, o CD vai trazer duas faixas-bônus. Trata-se de The Wrestler - a música-título do filme estrelado pelo ator Mickey Rourke - e de A Night with the Jersey Devil, um tema já lançado na internet. Eis as músicas do CD Working in a Dream:

1. Outlaw Pete
2. My Lucky Day
3. Working in a Dream
4. Queen of the Supermarket
5. What Love Can Do
6. This Life
7. Good Eye
8. Tomorrow Never Knows
9. Life Itself
10. Kingdom of Days
11. Surprise, Surprise
12. The Last Carnival
Faixas-bônus:
* The Wrestler
* A Night with the Jersey Devil

Compilação reúne 18 baladas na voz de Mariah

Como seu título já explicita, o disco Mariah The Ballads - nas lojas em dezembro pela Som Livre - compila baladas gravadas por Mariah Carey na década de 90, na fase em que ela era do elenco da gravadora hoje denominada Sony BMG. Hero, My All, Against All Odds (o sucesso de Phil Collins que a cantora regravou em parceria com a boyband Westlife) e Without You (hit de Harry Nilson) estão entre os 18 fonogramas selecionados para a boa compilação.

Duboc celebra Gismonti com densidade linear

Resenha de CD
Título: Canção da Espera
Artista: Jane Duboc
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Apresentada por Luiz Eça (1936 - 1992) a Egberto Gismonti, em 1971, Jane Duboc de imediato despertou o interesse do compositor e pianista por sua rara musicalidade. Tanto que Gismonti logo a convidou para participar do show Água e Vinho. Segundo álbum de Duboc editado pela Biscoito Fino, Canção da Espera celebra a obra pouco explorada do compositor, de quem a cantora selecionou 12 músicas da lista de 60 que recebeu de Gismonti. O resultado é um disco denso que chega a pecar pela linearidade, sobretudo na primeira parte. As melodias rebuscadas de Gismonti receberam tratamento à altura de seu refinamento. Contudo, tal sofisticação não impede que, mais uma vez, Jane Duboc apresente um disco que não faça (de todo) jus à sua voz de técnica irretocável. Entre os melhores momentos, há Auto-Retrato (com arranjo de envolvente leveza) e o xote Sanfona, no qual Duboc recebe Olivia Byington (intérprete original da música) para harmonioso dueto. Há alguns elementos que dão ao álbum algum colorido, como o coral infantil que entoa Memória e Fado (faixa urdida também com as cordas do Quarteto Bessler) e o piano de tonalidades jazzísticas de Fernando Merlino, ouvido em Janela de Ouro (A Traição das Esmeraldas), faixa gravada com a voz já cansada de Pery Ribeiro. Outro convidado, Jay Vaquer, realça em dueto afetivo com a mãe toda a poesia contida em Ano Zero, outro destaque do CD. A propósito, dez das 12 composições ostentam belos versos do poeta Geraldo Carneiro (Paulo César Pinheiro é letrista afiado de Saudações e João Carlos Pádua é o parceiro de Gismonti em Mais do que a Paixão). Enfim, é um álbum que, a julgar por sua ficha técnica, tinha tudo para ser grandioso. Não é. É, claro, um inevitável bom disco porque Duboc é ótima cantora e porque a qualidade do repertório é alta. Só que fica a impressão de que ainda é preciso esperar por um disco em que ouvir o canto de Duboc gere sensação de (real) encantamento.

Toca tudo no bailão pobre de Menotti e Fabiano

Resenha de CD / DVD
Título: César Menotti
& Fabiano ao Vivo
- Voz do Coração
Artista: César Menotti
& Fabiano
Gravadora: Universal
Music
Cotação: *

Enquanto Zezé Di Camargo & Luciano disputam com Victor & Leo as atenções da Sony BMG, César Menotti & Fabiano reinam no segmento caipira da Universal Music. Voz do Coração é mais um registro de show dessa dupla que está em ascensão no mercado sertanejo de todo o Brasil. CD e DVD foram gravados ao vivo em 20 e 21 de agosto de 2008 em duas apresentações feitas pelos irmãos no Espaço Lagoa, na Pampulha, em Belo Horizonte (MG), cidade onde Menotti & Fabiano começaram sua escalada de sucesso comercial. É por isso que a dupla afaga o ego dos mineiros com a inclusão de músicas como Minas Não Tem Mar e com a regravação de Natural, hit do grupo 14 Bis que tem sua beleza diluída no tom uniforme da dupla. Aliás, toca tudo no bailão populista do duo. De sucesso infantis dos anos 80 (Superfantástico, unido em medley com Lindo Balão Azul) a temas de tom forrozeiro (Pára de Chorar), passando por um clássico do estilo dor-de-corno lançado por Tim Maia (Me Dê Motivo), uma saudação aos caminhoneiros (Rédeas do Possante) e até por um hino religioso do cancioneiro católico (Segura na Mão de Deus, com um coro que tenta imitar os vocais da música gospel norte-americana). Tem quem goste. Dentro do tal gênero rotulado de sertanejo universitário, César Menotti & Fabiano são reis, pois suas vozes falam ao coração do público menos exigente.

Zé muda versão de 'Knockin' on Heaven's Door'

Nas lojas nos primeiros dias de dezembro, via EMI Music, o CD/DVD em que Zé Ramalho canta versões em português de músicas de Bob Dylan, Tá Tudo Mudando, apresenta uma nova letra para a versão de Knockin' on Heaven's Door, feita por Ramalho nos anos 90 e intitulada Batendo na Porta do Céu. O disco foi produzido por Robertinho de Recife ao lado de Otto Guerra e do próprio Zé Ramalho. A seleção prioriza os clássicos do compositor norte-americano - alguns vertidos com um toque bem brasileiro. Mr. Tambourine Man, por exemplo, se tornou Mr. do Pandeiro na letra de Bráulio Tavares. Eis as faixas do CD (veja a capa acima) e do DVD Tá Tudo Mudando - Zé Ramalho Canta Bob Dylan:

1. Wigwam / Para Dylan
2. O Homem Deu Nome a Todos Animais
3. Tá Tudo Mudando
4. Como uma Pedra a Rolar
5. Negro Amor
6. Não Pense Duas Vezes, Tá Tudo Bem
7. Rock Feelingood
8. O Vento Vai Responder
9. Mr. do Pandeiro
10. O Amanhã É Distante
11. If Not for You
12. Batendo na Porta do Céu - Versão II

20 de novembro de 2008

Nem vulgar nem sublime, Lôbo parece diferente

Resenha de CD
Título: Vulgar & Sublime
Artista: Armando Lôbo
Gravadora: Delira Música
Cotação: * * * 1/2

Armando Lôbo é um cantor e compositor de Pernambuco que vem procurando explorar os limites estéticos da MPB e do gênero rotulado de Mangue Beat. A confluência de estilos está sintetizada na recriação, em ritmo de maracatu, de O Quereres, a música de Caetano Veloso lançada pelo autor num de seus álbuns de maior ambiência roqueira, Velô (1984). A releitura faz parte do segundo álbum de Lôbo, Vulgar & Sublime. Inquieto, o artista apresenta música construída na forma de palíndromo - S.O.S. Reversos, em que os versos da letra, assim como o título, podem ser lidos de trás para frente sem alteração do significado - e traz tema do roqueiro australiano Nick Cave (As I Sat Sadly by her Side) para o universo musical pernambucano, mote também de faixas como Ciranda Lounge e Maculelé, um original maracatu de tonalidades jazzísticas. Lôbo busca a todo momento expandir os limites formais da música, sem fronteiras. Canto Malê combina três tempos diferentes de compasso ao fundir MPB, afoxé e música islâmica. Contudo, Lôbo não se perde em mero exotismo. Seu CD não é vulgar e tampouco sublime. Soa diferente. E isso já é muito...

A bonita abordagem da MPB por Marcia Lopes

Resenha de CD
Título: Bonita
Artista: Marcia Lopes
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *

Pela generosa acolhida que tem dado à música brasileira nos últimos 30 anos, o Japão tem sido um mercado (geralmente) receptivo para bons intérpretes e músicos sem projeção no Brasil. É o caso da cantora paulistana Marcia Lopes, cujo segundo álbum, Bonita, desde 2005 nas lojas japonesas, ganha edição nacional via Lua Music. Desde a primeira faixa, o samba E o Mundo Não se Acabou (Assis Valente), salta aos ouvidos o elegante fraseado suave da voz de Lopes. E o disco sustenta o interesse do ouvinte à medida que vai avançando. O diferencial reside nos arranjos do violonista Swami Jr. e de Mário Manga (hábil no cello). Sem afetações, Swami e Manga adornam com beleza um repertório que prioriza Chico Buarque - Joana Francesa, Sabiá (de Chico com Tom Jobim), Lábia (inexplorada parceria com Edu Lobo) e o samba Quem te Viu, Quem te Vê (revivido no tempo da delicadeza) - e avança também por música dos Beatles (She's Leaving Home) e por um standard da canção norte-americana (Moon River). A exemplo da faixa-título, Bonita, a abordagem de Marcia Lopes desagua vez por outra no mar plácido da Bossa Nova - paixão maior dos japoneses quando o assunto é a música brasileira. Contudo, quase nada soa trivial. O único registro mais banal do disco acaba sendo o de Sábado em Copacabana, samba-canção de Dorival Caymmi (1914 - 2008) com Carlos Guinle. No todo, a sonoridade leve de Bonita faz jus ao título do CD de Marcia Lopes - bem-vindo no país das cantoras.

Caldi e Luna estreitam laços entre forró e choro

Com a autoridade de quem iria ser coroado Rei do Baião, Luiz Gonzaga (1913 - 1989) volta e meia incluía um choro em seu repertório no começo de sua (vasta) trajetória fonográfica. Editado pela gravadora Delira Música, o álbum instrumental Forró & Choro Vol. 1 busca a bissexta interação entre os dois gêneros que lhe dão título. Quem ergue a ponte Rio-Nordeste são os músicos Marcelo Caldi (sanfona e teclados) - um dos cinco integrantes da formação atual do grupo vocal Garganta Profunda - e Fábio Luna (flauta e percussão), com as adesões do violonista Nando Duarte e dos percussionistas Bernardo Aguiar e Chris Mourão. No repertório, a dupla entrelaça temas próprios com composições de chorões mais tradicionais como Radamés Gnatalli (Remexendo), Jacob do Bandolim (Migalhas de Amor), Ernesto Nazareth (Batuque) e Paulinho da Viola (Sarau para Radamés). O CD inclui Espere por mim, Morena, de Gonzaguinha (1945 - 1991).

Jay Vaquer reúne quatro CDs no primeiro DVD

Cantor que já conta em seus shows com público fiel, conquistado por conta do sucesso de seus vídeos da MTV, Jay Vaquer sobe ao palco da casa carioca Vivo Rio às 21h desta quinta-feira, 20 de novembro de 2008, para gravar seu primeiro DVD. O registro ao vivo vai condensar no repertório músicas dos quatro CDs de Vaquer, Nem Tão São (de 2000), Vendo a mim Mesmo (de 2003), Você Não me Conhece (de 2005) e Formidável Mundo Cão, editado em outubro de 2007 No roteiro, há A Falta que a Falta Faz, Quando Fui Fred Astaire, Cotidiano de um Casal Feliz, Abismo, Nera e A Miragem.

Zezé & Luciano seguem rota-clichê do sertanejo

Resenha de CD
Título: Zezé Di Camargo
& Luciano
Artista: Zezé Di Camargo
& Luciano
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * 1/2

É fato que Zezé Di Camargo & Luciano já começam a perder a coroa do reino sertanejo - por eles tomada de Chitãozinho & Xororó ao longo dos anos 90 - para duplas como Victor & Leo. Contudo, os dois filhos de Francisco ainda não são carta fora do baralho caipira. Tanto que seu 19º álbum, Zezé Di Camargo & Luciano, chega às lojas via Sony BMG com as mesmas 150 mil cópias iniciais do novo CD de Victor & Leo. Neste disco, aberto com texto confessional em que Zezé expõe a crise vivida nos últimos anos, quando enfrentou sérios problemas vocais, a dupla segue a rota-clichê da música rotulada sertaneja. Tem baladas (Não Quero te Perder, forrada com a cama do Roupa Nova), forró (Nóis Namora), músicas mais animadas para bailões e arrasta-pés interioranos (Vida Boa), um ou outro tema que evoca de longe a raiz da música caipira (Estrada do Amor) e até um reggae de sotaque praieiro no estilo de Armandinho (Valeu Demais). A boa surpresa é a regravação de A Distância, uma das grandes canções de Roberto e Erasmo Carlos, lançada pelo Rei em seu álbum de 1972. O registro da dupla é sóbrio. A propósito, o maestro de Roberto Carlos, Eduardo Lages, assina o arranjo da faixa Amor Correspondido. E, falando em Rei, é pouco provável que o disco devolva o trono sertanejo a Zezé Di Camargo & Luciano - ainda que uma ou outra música, em especial O Que Vai Ser de Nós, tenha todo jeito de emplacar no amplo que mercado que consegue os sons ditos sertanejos. Dentro do que se espera do gênero, Zezé Di Camargo & Luciano, o CD, reitera a fórmula de uma dupla que fez história, mas já começa a sentir o gosto amargo da decadência.

19 de novembro de 2008

Beatles documentam o circo em torno de 'Love'

A fértil indústria da Beatlemania fabrica mais um produto. Trata-se do DVD All Together Now, que documenta todo o circo armado em torno da criação e das apresentações de Love, o espetáculo que uniu em 2006 a música imortal dos Fab Four (reorganizada e remixada pelo produtor George Martin ao lado de seu filho, Giles Martin) ao aparato visual do Cirque Du Soleil. Gestado a partir da real amizade de George Harrison (1943 - 2001) com o fundador do Cirque Du Soleil, Guy Laliberte, Love teve seu processo de criação documentado desde o início pelo diretor do filme, Adrian Wills. As cenas de bastidores são entremeadas com os depoimentos protocolares dos dois Beatles remanescentes, Paul McCartney e Ringo Starr, e das viúvas de Harrison e John Lennon (1940 - 1980). Nos extras do DVD All Together Now, há um outro minidocumentário, Changing the Music. Neste feature de 22 minutos, George Martin e o engenheiro de som Paul Hicks detalham a aventura de remexer nas gravações originais dos Beatles para dar mais um sentido à música do grupo.

Keane volta mais jovial e pop no terceiro álbum

Resenha de CD
Título: Perfect
Symmetry

Artista: Keane
Gravadora: Arsenal Music
/ Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Tudo indica que o Keane se cansou de ser encarado como um Coldplay de segunda. Em seu terceiro álbum, o grupo inglês se distancia do colega e da melancolia que deu o tom de seu álbum anterior, Under the Iron Sea (2006). Perfect Symmetry flagra o Keane em momento mais pop. Faixas joviais como Spirralling e The Lovers Are Losing - repletas de referências retrôs ao som dos anos 80 - sinalizam a intenção de soar menos denso. O álbum soa bem mais positivo, no todo. E o outro fator que contribui muito para tirar o Keane da sombra do Coldplay é a valorização das guitarras e de outros eventuais instrumentos como o saxofone (na faixa Pretend That You're Alone). Em bom português, os teclados de Tim Rice-Oxley já não reinam soberanos. O Keane está mais ensolarado - o que, claro, não necessariamente representa atestado de evolução.

Obra do Creedence é reeditada com bônus farto

Com seu rock embebebido em country e em soul, o Creedence Clearwater Revival marcou bela presença na cena pop entre 1968 e 1972. Por conta do 40º aniversário da edição do primeiro álbum do grupo de John Fogerty, a Universal Music está pondo no mercado reedições dos seis primeiros (e melhores) álbuns do quarteto que emplacou hits como Green River, Have You Ever Seen the Rain? e Proud Mary. Detalhe: os seis títulos foram lançados originalmente de 1968 a 1970, sendo que três vieram ao mundo no mesmo ano de 1969. Voltam às lojas - turbinados com faixas-bônus, fotos raras e textos fartos - os discos Creedence Clearwater Revival (1968), Bayou Country (1969), Green River (1969), Willy and the Poor Boys (1969), Cosmo's Factory (1970) e Pendulum (1970). As atuais reedições são extremamente bem-cuidadas e trazem significativas faixas-bônus - a exemplo de demos de músicas inacabadas como Glory Be (extra de Green River), de registros ao vivo de hits como Proud Mary (inseridos em Bayou Country) e da jam com a banda de soul Booker T. & the M.G.'s que turbina Cosmo's Factory. Mimos que incentivam fãs novos e antigos a apreciar a discografia áurea de um grupo que conseguiu se impor em pleno reinado dos Beatles, como ressaltam os bons textos escritos para as reedições.

Fênix roda irregular na ciranda do (seu) mundo

Resenha de Show - Gravação de DVD
Título: Ciranda do Mundo
Artista: Fênix
Local: Sala Baden Powell (RJ)
Data: 18 de novembro de 2008
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * 1/2

Cantor pernambucano radicado no Rio de Janeiro (RJ) desde que ganhou alguma projeção ao se destacar no elenco do musical As Quatro Carreirinhas, encenado por Wolf Maya nos anos 90, Fênix descende da linhagem andrógina de Ney Matogrosso. Inclusive pelo uso recorrente do timbre feminino de sua voz de tons variados e boa extensão. Após dois álbuns de estúdio (Eu, Causa e Efeito e Marfim), o intérprete subiu ao palco da Sala Baden Powell (RJ) na noite de terça-feira, 18 de novembro de 2008, para gravar seu primeiro DVD em show dirigido por Jean Wyllys. Intitulado Ciranda do Mundo, nome da composição de Edu Krieger incluída no roteiro em registro insosso, o show foi apresentado com louvável apuro técnico e visual. Contudo, como intérprete de músicas próprias e alheias, Fênix rodou irregular na ciranda de seu mundo. O vôo mais alto foi feito em dueto com Zé Ramalho em Avohai, música de forte espiritualidade (já gravada por Fênix no CD Eu, Causa e Efeito) que soou renovada pelo belo arranjo do violonista João Gaspar que alterou andamentos num mix de sons acústicos e eletrônicos. Ramalho entrou na onda.

A entrada teatral de Fênix, cantando Vaca Profana de costas para a platéia, fez supor um show vibrante que, no entanto, nem sempre manteve o pique ao longo dos 19 números do roteiro. Ao buscar registros vocais mais intensos, Fênix pecou por não explorar todas as nuances de sua voz. Não foi por acaso que sua interpretação mais suave, acompanhando-se ao violão na autoral canção Um Segundo (com direito à citação de Olhos nos Olhos), se impôs como um dos melhores momentos do show. A presença de Silvia Machete em cena para cantar É Luxo Só também se revelou graciosa. Ao rodopiar com seu bambolê, enquanto Fênix cantava os versos do samba de Ary Barroso (1903 - 1964), a cantora entrou em sintonia com o gingado do tema e arrancou merecidos aplausos pelas habilidades circenses. O requebrado foi diferente...

A origem nordestina do artista foi evocada na inclusão de duas músicas do pernambucano Lula Queiroga, Forró dos Infernos S.A. (precedida por texto de tom artificial) e Essa Alegria (gravada por Elba Ramalho nos anos 80). Mas ambas não surtiram o efeito que poderiam pela vivacidade rítmica. Da mesma forma que Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio) saiu sem a habitual empolgação. Contudo, houve também acertos. Regravar a brega-chique Sonho de Ícaro - parceria de Piska e Cláudio Rabello, propagada na voz de Biafra nos anos 80 - foi um deles. Apesar da letra pretensamente poética, a música é bonita e paira acima da produção habitual do cancioneiro populista. Sem firulas, Fênix soube valorizar tal beleza melódica. A roupagem roqueira posta em Feira Moderna (Beto Guedes) também resultou interessante. Bem mais do que o figurino (mais talhado para uma cantora de flamenco) usado pelo cantor no bom número. Em contrapartida, Meninos e Meninas soou esquisita com arranjo de batida forte tirando o foco dos versos confessionais de Renato Russo (1960 - 1996). Da mesma forma que Carnavália ganharia mais se tivesse sido apresentada em tempo de maior delicadeza. Entre vôos baixos e altos, com direito a algumas desafinadas quando abusava da voz, Fênix se reafirmou intérprete de personalidade forte que, a julgar por shows anteriores, pode render mais se entender que menos, às vezes, é mais no caso de vozes (naturalmente) potentes.

18 de novembro de 2008

Cure oscila entre euforia e tristeza em CD fraco

Resenha de CD
Título: 4:13 Dream
Artista: The Cure
Gravadora: Universal
Cotação: * *

Em 1978, Robert Smith aboliu o 'Easy' do nome da banda, Easy Cure, que havia fundado dois anos antes, em 1976, na Inglaterra. Incansável, Smith tem prolongado a história do The Cure com várias formações ao longo desses 30 anos. 4:13 Dream é o 13º álbum de estúdio do grupo. E também um de seus mais fracos trabalhos, por mais que uma ou outra faixa, em especial Freakshow, evoque os tempos áureos da banda. Ou seja, os anos 80 - década em que The Cure inscreveu seu nome na história do rock por conta de álbuns como Pornography (1982), de textura gótica. Na nova e irregular safra de 13 inéditas, o grupo oscila entre a euforia (The Only One) e a melancolia (Underneath the Stars) sem reeditar o brilho do passado. Alguma coisa já soa fora da ordem. Muita coisa, aliás. 4:13 Dream é CD indicado somente para fãs (bem) benovolentes.

P!nk expia dor de amor no enérgico 'Funhouse'

Resenha de CD
Título: Funhouse
Artista: P!nk
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * 1/2

Alecia Moore, a P!nk, nunca resiste à tentação de forjar imagem excêntrica pautada por doses bem calculadas de alegria, rebeldia e bizarrices. Funhouse já é o quinto álbum dessa cantora que faz sucesso no exterior desde o primeiro, Can't Take me Home (2000). No texto que apresenta o CD, P!nk caracteriza Funhouse como seu disco mais vulnerável. A razão é sua separação, no início deste ano de 2008, de Carey Hart, piloto de motocross. Com letras que oscilam entre a energia e a depressão, a artista expia sua dor de amor e manda recados irados para Hart através do repertório, em especial no pop rock So What (aliás, uma de suas músicas mais contagiantes) e em I Don't Believe You, balada que mostra que, por trás de tanta excentricidade, se esconde uma voz forte. Já a faixa-título, Funhouse, ostenta a batida funkeada que dava o tom da música de P!nk antes da guinada roqueira evidenciada no álbum anterior, I'm Not Dead (2006), o do hit Stupid Girls. Entre tema bluesy que retrata errática viagem de ácido (One Foot Wrong) e rock que reforça o caráter rebelde da moça (Bad Influence), Funhouse se impõe como (mais um) bom CD de P!nk.

Coletânea rebobina os mesmos clássicos de Cole

A EMI Music já despejou nas lojas do Brasil três coletâneas de Nat King Cole (1919 - 1965) somente nos últimos cinco anos. Por isso mesmo, a atual compilação editada pela Som Livre na popular série Classic é indicada somente para quem não foi seduzido por Love Songs (2003), The World of Nat King Cole (2005) e Nat King Cole e seus Grandes Sucessos no Brasil (2005). De interesse restrito a fãs de última hora, a seleção rebobina os mesmos registros antológicos feitos por Cole nos anos 50 e 60 na Capitol Records. Entre os 14 sucessos do CD Nat King Cole Classic, há Unforgettable, Smile, Mona Lisa, Nature Boy, When I Fall in Love, Too Young, Stardust e You'll Never Know. Clássicos.

Victor & Leo voam menos baixo com Borboletas

Resenha de CD
Título: Borboletas
Artista: Victor & Leo
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

A propagação diária da canção Tem que Ser Você na primeira fase da novela A Favorita amplificou o sucesso de Victor & Leo, dupla mineira que já lidera as vendas do atual mercado sertanejo. Borboletas, quinto álbum da dupla, acaba de chegar às lojas com expressiva tiragem inicial de 150 mil cópias. É o terceiro CD dos irmãos nascidos em Ponte Nova (MG) que ganha edição da Sony BMG, gravadora que já volta todas suas maiores atenções para Victor e Leo Chaves mesmo já tendo em seu elenco duplas como Bruno & Marrone e Zezé Di Camargo & Luciano. E o fato que, se desviar da lacrimosa rota sertaneja, a dupla alça em Borboletas vôo menos baixo do que os de colegas do gênero. Há leveza e até (alguma) elegância em seu som. A superioridade está, sobretudo, nos arranjos mais acústicos - estruturados no violão de Victor - que tornam menos pasteurizada a música da dupla, mesmo quando ela acena para os mercados dos arrasta-pés (como em Timidez, balada que ganha tom forrozeiro por conta do acordeom de Luciano Passos) e dos rodeios (Luz, Paixão, Rodeio, faixa de textura country). Outro fator que põe Victor & Leo (um pouco) acima de outras duplas é a qualidade melódica dos temas compostos por Victor, autor das 12 faixas do CD, sendo quatro em parceria com o irmão. Tanta Solidão, Nada Normal, Lado Errado e a faixa-título, Borboletas, são boas composições dentro dos cânones rasteiros da canção popular e, se soam banais, é por causa das letras que desfiam clichês do chororô sentimental que dá o tom da repetitiva música romântica que se acredita sertaneja.

Baltar já canta repertório de seu segundo álbum

Cantora que estreou em 2006 no mercado fonográfico, com o belo CD Uma Dama Também Quer se Divertir, Mariana Baltar já está mostrando em shows o repertório de seu segundo álbum, previsto para 2009. Sonâmbulo (Edu Kneip e Thiago Amud), Pipa (Raphael Gemal) e Pra Você Gostar de mim (Joyce e Zé Renato) estão entre as músicas já reunidas por Baltar (à esquerda em foto de Karla Pê) para o disco. A idéia é priorizar músicas inéditas.

17 de novembro de 2008

Viagem sem loucura ao redor do mundo de Raul

Resenha de Show
Título: Viagens - Raul Seixas - O Início, o Fim, o Meio
Artista: Elza Soares, Marcelo Nova, Pélico e Rebeca
Matta
Local: Sesc Pompéia (SP)
Data: 16 de novembro de 2008
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * * 1/2

Mosca que pousou no sopão da MPB dos anos 70, Raul Seixas (1945 - 1989) ganhou aura mítica desde sua morte. Contudo, a obra é ainda maior do que o mito por conta das altas doses de irreverência e mordacidade. Uma viagem ao redor desse universo lúcido do Maluco Beleza reuniu no palco do teatro do Sesc Pompéia, em São Paulo (SP), os cantores Marcelo Nova, Elza Soares, Rebeca Matta e Pélico para três apresentações de show idealizado dentro do projeto Viagens, do Sesc Pompéia. A viagem transcorreu sem turbulências, com brilho porque o baioque de Raulzito é de primeira, mas sem a transgressão que pautou - em maior ou menor grau - o original cancioneiro do roqueiro baiano.

A tripulação foi comandada sob a direção musical do pianista Daniel Ganjaman, piloto da banda que, em números como Rockixe, evidenciou o trombone de Maurício Zacharias e o trompete de Guilherme Guizado Mendonça. Rockixe foi ouvido na voz de Pélico, novato cantor paulistano, que abriu o show com interpretação de Gitã em arranjo que evocou a gravação original da música lançada por Raul em 1974. Em Eu Também Vou Reclamar, Pélico procurou realçar o tom crítico dos versos - repletos de referências a cantores e a sucessos das paradas populares dos anos 70 - e, em Como Vovó Já Dizia, ele ensaiou passos amalucados pelo palco sem, no entanto, esboçar uma assinatura própria em suas interpretações como conseguiu Rebeca Matta ao reviver Medo da Chuva, Maluco Beleza (número em que desceu do palco posicionado em forma de arena para circular pela platéia dividida ao meio) e Metamorfose Ambulante, o maior destaque do bloco da artista baiana, de presença elétrica.

A energia que abundou na apresentação de Rebeca Matta se diluiu no bloco de Elza Soares. Normalmente assanhada, a mulata ficou aprisionada no centro do palco porque precisou ler as letras de músicas como A Maçã (flerte brega-chique de Raul com a canção mais sentimental) e O Homem, parceria pouco conhecida do compositor com Paulo Coelho, uma das poucas surpresas de roteiro centrado em sucessos. Mesmo sem a habitual vivacidade, Elza ofereceu boas interpretações do cancioneiro de Raul e brilhou especialmente em Tente Outra Vez, cuja letra parece ter sido feita para a valente cantora, mestra em superar adversidades.

Depois que o público engoliu Caroço de Manga no registro bem desafinado de Daniel Ganjaman (em contrapartida, ótimo ao piano), Marcelo Nova entrou em cena com a autoridade de ter sido parceiro e cúmplice das loucuras de Raul Seixas, com quem gravou em 1989 o álbum A Panela do Diabo, de cujo repertório reviveu O Carpinteiro do Universo e Pastor João e a Igreja Invisível. "O verdadeiro padre Marcelo sou eu", bradou em cena, após travar duelo de guitarras com André Caccia Brava, integrante da banda. Após espezinhar a Bossa Nova e ironizar discurso do presidente Lula, Nova encerrou seu bloco individual com o rock Aluga-se, destaque da obra irregular de Raul na década de 80. Ao fim, todos se reuniram para propagar a ideologia libertária da Sociedade Alternativa - com Nova na percussão - e, já no bis, mandar improvisado registro de Como Vovó Já Dizia. No todo, a viagem transcorreu agradável porque Raul Seixas deixou como legado obra interessante que vai sobreviver ao mito.

Inédita folia psicodélica dos Beatles vem à tona

Mais uma gravação inédita vai ser extraída do inesgotável arquivo dos Beatles. Em entrevista a programa da rádio BBC, de Londres, Paul McCartney revelou que acredita ter chegado a hora de mostrar Carnival of Light, registro psicodélico gravado pelos Fab Four em 1967 nos estúdios Abbey Road, na Inglaterra. Feita com a liberdade do improsivo, tal gravação acabou limada da seleção final de material inédito editado, nos anos 90, na série Anthology.

Sussekind produz as dez inéditas de Vander Lee

Sob a batuta do produtor Marcelo Sussekind, nome mais associado ao rock, Vander Lee grava CD de inéditas pela Deckdisc. Por ora, o repertório já abrange dez novas músicas do cantor e compositor mineiro. Entre as quais, Baile dos Anjos, Desejo de Flor e Eu e Ela. Uma faixa não autoral é Ninguém Vai Tirar Você de mim, parceria de Edson Ribeiro com Hélio Justo, lançada por Roberto Carlos em 1968 no álbum O Inimitável (aliás, um dos melhores discos do Rei e certamente o que tem o repertório mais regravado dentre a vasta obra fonográfica de Roberto). O lançamento do sexto álbum de Lee está previsto pela Deckdisc para março de 2009. É sua estréia na gravadora carioca.

'Maga' põe inéditas no aquecido circuito do axé

Com a proximidade do verão e do Carnaval, época em que a indústria da axé music trabalha a todo vapor, os cantores baianos já começam a promover músicas para a folia de 2009. Atenta ao tradicional aquecimento desse mercado que a sustenta já há 20 anos, Margareth Menezes tem incluído duas inéditas, RagaMaga e Fique à Vontade, nos shows que tem feito pelo Nordeste ao mesmo tempo em que badala, sobretudo no eixo Rio-SP, o CD Naturalmente, em que se afasta da rota do axé. Das inéditas, RagaMaga é a aposta mais alta da artista para bombar no circuito afro-pop-baiano em 2009.

16 de novembro de 2008

La Plata preserva valores do show do Jota Quest

Resenha de Show
Título: La Plata
Artista: Jota Quest
Local: HSBC Brasil (SP)
Data: 15 de novembro de 2008
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * * 1/2

"Quanto vale o show?", questiona o grupo Jota Quest em verso de La Plata, a música que batiza o melhor álbum de estúdio do grupo e que dá nome ao show que estreou neste fim de semana em São Paulo (SP), dando a partida em turnê nacional que vai passar ainda este ano por Rio de Janeiro (dia 28 de novembro, na Fundição Progresso) e segue por todo o Brasil ao longo de 2009. Bem, para o quinteto mineiro, o show sempre teve valor bastante alto. Independentemente de discos mais ou menos inspirados, de maior ou menor repercussão comercial, o Jota Quest sempre investiu pesado em seus espetáculos. E não é diferente com La Plata, show que conta com telão de última geração e jogo de luzes que produz belos efeitos cênicos nas seis torres posicionadas no palco. O aparato técnico é posto a serviço de um repertório que ganhou upgrade conceitual com o recém-lançado álbum de estúdio, sexto de trajetória iniciada há 15 anos em Belo Horizonte.
Um registro orquestral de Besame Mucho à moda de Ray Conniff (1916 - 2002) prepara a entrada da banda em cena. E o que se vê e ouve em seguida é um show feito com adrenalina em alta. Das músicas do álbum La Plata, as que têm grooves mais pulsantes - casos de So Special e da sinuosa Ladeira - se adequam com mais propriedade à temperatura quente do espetáculo. Os temas mais calmos, como Paralelepípedo e Seis e Trinta, ainda precisam de ajustes para que soem no palco tão sedutores quanto no disco. Talvez seja apenas uma questão de tempo para que fiquem mais conhecidos pelo público do quinteto e possam produzir na platéia o efeito catártico provocado por baladas como Dias Melhores, entoada pelo elétrico vocalista Rogério Flausino ao violão. Sim, porque a participação calorosa dos alegres fãs do Jota Quest faz a diferença nos shows do grupo. O espontâneo coro popular em números como Mais Uma Vez e Encontrar Alguém irmanam um repertório que está em evolução, mas, a rigor, ainda soa irregular.
Sem se afastar da rota habitual, o quinteto reapresenta o cover roqueiro de Além do Horizonte - o derradeiro suspiro soul do cancioneiro de Roberto Carlos - e dá tom heavy a hits próprios como Na Moral, número que conta com solo do guitarrista Marco Túlio e transita em pólo oposto ao de baladas como Só Hoje, que resulta melodiosa no roteiro. Acima da qualidade oscilante do repertório, paira a interação entre os cinco músicos da banda. Flausino e Túlio ficam mais à frente, mas é justo registrar as atuações de Márcio Buzelin (nos teclados e nas programações que garantem a textura eletrônica de músicas como Laptop), Paulinho Fonseca (na bateria) e PJ (no baixo). Mesmo se portando com discrição, os três moldam a sonoridade azeitada que embala números como O Sol (bela música da banda mineira Tianastácia projetada no registro feito pelo Jota Quest no álbum Até Onde Vai) e Do seu Lado (um dos hits do milionário MTV ao Vivo do quinteto). No bis, o grupo abre espaço para que entre em cena o trombonista Ashley Slater, convidado do CD La Plata. O músico se junta ao Jota para cantar e tocar em músicas como Hot to Go, apresentada na seqüência de Can You Feel It? - tema da banda de Slater, Freak Power. Enfim, é um show do Jota Quest - banda alvo de amores e ódios passionais, tanto do público quanto da crítica (e do próprio meio musical) por conta de seu diluído mix de soul, funk, pop e rock que caiu no gosto popular. O show La Plata não chegar a renovar a imagem da banda como o disco que o inspirou, mas ostenta a marca da competência técnica do grupo e sinaliza que, sim, o Jota Quest está em (nítida) evolução e merece crédito.

Clara inspira curta que une o sacro e o profano

A devoção à figura de Clara Nunes (1942 - 1983) - acima em foto de Wilton Montenegro - inspirou o cineasta Marcelo Caetano a roteirizar e a dirigir o curta-metragem A Tal Guerreira, em exibição em São Paulo (SP), dentro do programa I da Mostra Competitiva Brasil da 16ª edição do Mix Brasil, o festival de cinema da diversidade sexual. Em 14 minutos, Marcelo Caetano mistura signos fracos e profanos ao enfocar tanto o travesti Michelly - que encarna a cantora em show feito em boate gay - como os seguidores do templo Clara Nunes, que acreditam que a artista se transformou num orixá Iansã no momento de sua morte.

Ney intensifica sua bissexta atuação no cinema

Com exibição em São Paulo-SP a partir deste domingo, 16 de novembro de 2008, dentro do programa de curtas da Mostra Competitiva Brasil IV da 16ª edição do festival de cinema Mix Brasil, Depois de Tudo traz o cantor Ney Matogrosso no elenco. No curta-metragem roteirizado e dirigido por Rafael Saar, o artista encarna um gay enrustido que tem um caso de amor com a personagem vivida pelo ator Nildo Parente. Ney não é estreante em cinema, já tendo atuado em filmes como Sonho de Valsa (Ana Carolina, 1987) e Diário de um Novo Mundo (Paulo Nascimento, 2006), mas vem intensificando neste ano de 2008 sua bissexta carreira de ator na Sétima Arte. Além de ter filmado o curta Depois de Tudo, o intérprete participa do próximo longa de Ana Carolina (inspirado no quadro A Primeira Missa no Brasil, do pintor Victor Meirelles) e começa a rodar em fevereiro de 2009 o filme Luz nas Trevas - A Revolta de Luz Vermelha, em que vai reviver o mítico Bandido da Luz Vermelha. O longa-metragem, a ser dirigido pela atriz Helena Ignez, tem roteiro de Rogério Sganzerla (1946 - 2004), diretor de O Bandido da Luz Vermelha (1967).

Band tenta explicar prêmio errado no Grammy

No sábado, 15 de novembro de 2008, a assessoria da Band - a rede de TV que transmitiu na noite de quinta-feira o show realizado no Auditório Ibirapuera (SP) para comemorar a entrega dos prêmios brasileiros da 9ª edição do Grammy Latino - enviou comunicado à imprensa para (tentar) esclarecer o triste erro no anúncio do vencedor da categoria Melhor Álbum de Samba/Pagode. Afinal, a emissora anunciou o nome de Beth Carvalho pelo álbum Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia - Ao Vivo quando, na verdade, de acordo com o site oficial do Grammy, o vencedor foi Paulinho da Viola por seu CD Acústico MTV. A Band se exime do erro e alega na nota que recebeu os envelopes lacrados de um representante do Grammy Latino presente na cerimônia brasileira. De acordo com o comunicado, teria havido uma troca de envelopes. A rigor, a emissora não pode mesmo ser responsabilizada porque cabe à produção do Grammy a entrega dos envelopes lacrados com os nomes dos vencedores. Contudo, a justificativa da troca soa bem estranha porque Beth Carvalho não venceu em qualquer outra categoria. Logo, seu nome não poderia constar em nenhum envelope. Enfim, foi um erro grande e lamentável que sinaliza indesculpável amadorismo num evento que envolve o nome do Grammy, uma das marcas mais fortes da indústria fonográfica mundial. Eis os nove (reais) vencedores das categorias exclusivamente brasileiras da edição de 2008 do Grammy Latino:
* Melhor Álbum Pop Contemporâneo: Sim (Vanessa da Mata)
* Melhor Álbum de Rock: Cidade Cinza (CPM 22)
* Melhor Canção Brasileira:
Som da Chuva (Marco Moraes e Soraya Moraes)
* Melhor Álbum de MPB: América Brasil o Disco
* Melhor Álbum de Música Romântica:
Com Você (César Menotti & Fabiano)
* Melhor Álbum de Música Contemporânea Regional ou de Raízes
Brasileiras:
Qual o Assunto que Mais lhe Interessa? (Elba Ramalho)
* Melhor Álbum de Música Tradicional Regional ou de Raízes
Brasileiras:
Grandes Clássicos Sertanejos Acústico I (Chitãozinho & Xororó)
* Melhor Álbum de Samba: Acústico MTV (Paulinho da Viola)