Viagem sem loucura ao redor do mundo de Raul
Resenha de Show
Título: Viagens - Raul Seixas - O Início, o Fim, o Meio
Artista: Elza Soares, Marcelo Nova, Pélico e Rebeca
Matta
Local: Sesc Pompéia (SP)
Data: 16 de novembro de 2008
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * * 1/2
Mosca que pousou no sopão da MPB dos anos 70, Raul Seixas (1945 - 1989) ganhou aura mítica desde sua morte. Contudo, a obra é ainda maior do que o mito por conta das altas doses de irreverência e mordacidade. Uma viagem ao redor desse universo lúcido do Maluco Beleza reuniu no palco do teatro do Sesc Pompéia, em São Paulo (SP), os cantores Marcelo Nova, Elza Soares, Rebeca Matta e Pélico para três apresentações de show idealizado dentro do projeto Viagens, do Sesc Pompéia. A viagem transcorreu sem turbulências, com brilho porque o baioque de Raulzito é de primeira, mas sem a transgressão que pautou - em maior ou menor grau - o original cancioneiro do roqueiro baiano.
A tripulação foi comandada sob a direção musical do pianista Daniel Ganjaman, piloto da banda que, em números como Rockixe, evidenciou o trombone de Maurício Zacharias e o trompete de Guilherme Guizado Mendonça. Rockixe foi ouvido na voz de Pélico, novato cantor paulistano, que abriu o show com interpretação de Gitã em arranjo que evocou a gravação original da música lançada por Raul em 1974. Em Eu Também Vou Reclamar, Pélico procurou realçar o tom crítico dos versos - repletos de referências a cantores e a sucessos das paradas populares dos anos 70 - e, em Como Vovó Já Dizia, ele ensaiou passos amalucados pelo palco sem, no entanto, esboçar uma assinatura própria em suas interpretações como conseguiu Rebeca Matta ao reviver Medo da Chuva, Maluco Beleza (número em que desceu do palco posicionado em forma de arena para circular pela platéia dividida ao meio) e Metamorfose Ambulante, o maior destaque do bloco da artista baiana, de presença elétrica.
A energia que abundou na apresentação de Rebeca Matta se diluiu no bloco de Elza Soares. Normalmente assanhada, a mulata ficou aprisionada no centro do palco porque precisou ler as letras de músicas como A Maçã (flerte brega-chique de Raul com a canção mais sentimental) e O Homem, parceria pouco conhecida do compositor com Paulo Coelho, uma das poucas surpresas de roteiro centrado em sucessos. Mesmo sem a habitual vivacidade, Elza ofereceu boas interpretações do cancioneiro de Raul e brilhou especialmente em Tente Outra Vez, cuja letra parece ter sido feita para a valente cantora, mestra em superar adversidades.
Depois que o público engoliu Caroço de Manga no registro bem desafinado de Daniel Ganjaman (em contrapartida, ótimo ao piano), Marcelo Nova entrou em cena com a autoridade de ter sido parceiro e cúmplice das loucuras de Raul Seixas, com quem gravou em 1989 o álbum A Panela do Diabo, de cujo repertório reviveu O Carpinteiro do Universo e Pastor João e a Igreja Invisível. "O verdadeiro padre Marcelo sou eu", bradou em cena, após travar duelo de guitarras com André Caccia Brava, integrante da banda. Após espezinhar a Bossa Nova e ironizar discurso do presidente Lula, Nova encerrou seu bloco individual com o rock Aluga-se, destaque da obra irregular de Raul na década de 80. Ao fim, todos se reuniram para propagar a ideologia libertária da Sociedade Alternativa - com Nova na percussão - e, já no bis, mandar improvisado registro de Como Vovó Já Dizia. No todo, a viagem transcorreu agradável porque Raul Seixas deixou como legado obra interessante que vai sobreviver ao mito.
Título: Viagens - Raul Seixas - O Início, o Fim, o Meio
Artista: Elza Soares, Marcelo Nova, Pélico e Rebeca
Matta
Local: Sesc Pompéia (SP)
Data: 16 de novembro de 2008
Foto: Mauro Ferreira
Cotação: * * * 1/2
Mosca que pousou no sopão da MPB dos anos 70, Raul Seixas (1945 - 1989) ganhou aura mítica desde sua morte. Contudo, a obra é ainda maior do que o mito por conta das altas doses de irreverência e mordacidade. Uma viagem ao redor desse universo lúcido do Maluco Beleza reuniu no palco do teatro do Sesc Pompéia, em São Paulo (SP), os cantores Marcelo Nova, Elza Soares, Rebeca Matta e Pélico para três apresentações de show idealizado dentro do projeto Viagens, do Sesc Pompéia. A viagem transcorreu sem turbulências, com brilho porque o baioque de Raulzito é de primeira, mas sem a transgressão que pautou - em maior ou menor grau - o original cancioneiro do roqueiro baiano.
A tripulação foi comandada sob a direção musical do pianista Daniel Ganjaman, piloto da banda que, em números como Rockixe, evidenciou o trombone de Maurício Zacharias e o trompete de Guilherme Guizado Mendonça. Rockixe foi ouvido na voz de Pélico, novato cantor paulistano, que abriu o show com interpretação de Gitã em arranjo que evocou a gravação original da música lançada por Raul em 1974. Em Eu Também Vou Reclamar, Pélico procurou realçar o tom crítico dos versos - repletos de referências a cantores e a sucessos das paradas populares dos anos 70 - e, em Como Vovó Já Dizia, ele ensaiou passos amalucados pelo palco sem, no entanto, esboçar uma assinatura própria em suas interpretações como conseguiu Rebeca Matta ao reviver Medo da Chuva, Maluco Beleza (número em que desceu do palco posicionado em forma de arena para circular pela platéia dividida ao meio) e Metamorfose Ambulante, o maior destaque do bloco da artista baiana, de presença elétrica.
A energia que abundou na apresentação de Rebeca Matta se diluiu no bloco de Elza Soares. Normalmente assanhada, a mulata ficou aprisionada no centro do palco porque precisou ler as letras de músicas como A Maçã (flerte brega-chique de Raul com a canção mais sentimental) e O Homem, parceria pouco conhecida do compositor com Paulo Coelho, uma das poucas surpresas de roteiro centrado em sucessos. Mesmo sem a habitual vivacidade, Elza ofereceu boas interpretações do cancioneiro de Raul e brilhou especialmente em Tente Outra Vez, cuja letra parece ter sido feita para a valente cantora, mestra em superar adversidades.
Depois que o público engoliu Caroço de Manga no registro bem desafinado de Daniel Ganjaman (em contrapartida, ótimo ao piano), Marcelo Nova entrou em cena com a autoridade de ter sido parceiro e cúmplice das loucuras de Raul Seixas, com quem gravou em 1989 o álbum A Panela do Diabo, de cujo repertório reviveu O Carpinteiro do Universo e Pastor João e a Igreja Invisível. "O verdadeiro padre Marcelo sou eu", bradou em cena, após travar duelo de guitarras com André Caccia Brava, integrante da banda. Após espezinhar a Bossa Nova e ironizar discurso do presidente Lula, Nova encerrou seu bloco individual com o rock Aluga-se, destaque da obra irregular de Raul na década de 80. Ao fim, todos se reuniram para propagar a ideologia libertária da Sociedade Alternativa - com Nova na percussão - e, já no bis, mandar improvisado registro de Como Vovó Já Dizia. No todo, a viagem transcorreu agradável porque Raul Seixas deixou como legado obra interessante que vai sobreviver ao mito.
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Mosca que pousou no sopão da MPB dos anos 70, Raul Seixas (1945 - 1989) ganhou aura mítica desde sua morte. Contudo, a obra é ainda maior do que o mito por conta das altas doses de irreverência e mordacidade. Uma viagem ao redor desse universo lúcido do Maluco Beleza reuniu no palco do teatro do Sesc Pompéia, em São Paulo (SP), os cantores Marcelo Nova, Elza Soares, Rebeca Matta e Pélico para três apresentações de show idealizado dentro do projeto Viagens, do Sesc Pompéia. A viagem transcorreu sem turbulências, com brilho porque o baioque de Raulzito é de primeira, mas sem a transgressão que pautou - em maior ou menor grau - o original cancioneiro do roqueiro baiano.
A tripulação foi comandada sob a direção musical do pianista Daniel Ganjaman, piloto da banda que, em números como Rockixe, evidenciou o trombone de Maurício Zacharias e o trompete de Guilherme Guizado Mendonça. Rockixe foi ouvido na voz de Pélico, novato cantor paulistano, que abriu o show com interpretação de Gitã em arranjo que evocou a gravação original da música lançada por Raul em 1974. Em Eu Também Vou Reclamar, Pélico procurou realçar o tom crítico dos versos - repletos de referências a cantores e a sucessos das paradas populares dos anos 70 - e, em Como Vovó Já Dizia, ele ensaiou passos amalucados pelo palco sem, no entanto, esboçar uma assinatura própria em suas interpretações como conseguiu Rebeca Matta ao reviver Medo da Chuva, Maluco Beleza (número em que desceu do palco posicionado em forma de arena para circular pela platéia dividida ao meio) e Metamorfose Ambulante, o maior destaque do bloco da artista baiana, de presença elétrica.
A energia que abundou na apresentação de Rebeca Matta se diluiu no bloco de Elza Soares. Normalmente assanhada, a mulata ficou aprisionada no centro do palco porque precisou ler as letras de músicas como A Maça (flerte brega-chique de Raul com a canção sentimental) e O Homem, parceria pouco conhecida do compositor com Paulo Coelho, uma das poucas surpresas de roteiro centrado em sucessos. Mesmo sem a habitual vivacidade, Elza ofereceu boas interpretações do cancioneiro de Raul e brilhou especialmente em Tente Outra Vez, cuja letra parece ter sido feita para a valente cantora, mestra em superar adversidades.
Depois que o público engoliu Caroço de Manga no registro bem desafinado de Daniel Ganjaman (em contrapartida, ótimo ao piano), Marcelo Nova entrou em cena com a autoridade de ter sido parceiro e cúmplice das loucuras de Raul Seixas, com quem gravou em 1989 o álbum A Panela do Diabo, de cujo repertório reviveu O Carpinteiro do Universo e Pastor João e a Igreja Invisível. "O verdadeiro padre Marcelo sou eu", bradou em cena, após travar duelo de guitarras com André Caccia Brava, integrante da banda. Após espizinhar a Bossa Nova e ironizar discurso do presidente Lula, Nova encerrou seu bloco individual com o rock Aluga-se, destaque da obra irregular de Raul na década de 80. Ao fim, todos se reuniram para propagar a ideologia libertária da Sociedade Alternativa - com Nova na percussão - e, já no bis, mandar improvisado registro de Como Vovó Já Dizia. No todo, a viagem transcorreu agradável porque Raul Seixas deixou como legado obra interessante que vai sobreviver ao mito.
Só para corrigir, Mauro: faltou um til em "A Maça", para ser o "A Maçã", nome correto; e é espezinhar, não "espizinhar".
Feitas as retificações, eu digo: deve ter sido bacaninha esse show.
As ironias de Marceleza são sempre mais do que bem-vindas. Não há homenagem a Raul que possa ser digna do nome sem ele.
E não sei porque Rebeca Matta ainda não ganhou a respeitabilidade que, para usar outra soteropolitana roqueira
como termo de comparação, Pitty ganhou. "Garotas Boas vão para o Céu, Garotas Más vão pra Qualquer Lugar" é discaço.
Felipe dos Santos Souza
Rebecca Matta é grandiosa, ousada e artista que precisa ter mais reconhecimento.
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