22 de novembro de 2008

No palco, 'grooves' harmonizam faces do Skank

Resenha de Show
Título: Estandarte
Artista: Skank
Local: Canecão (RJ)
Data: 21 de novembro de 2008
Cotação: * * * *
Foto: Mauro Ferreira
Em cartaz até 23 de novembro

Por mais que o Skank tenha exibido várias faces ao longo de 18 anos de carreira fonográfica, todas se harmonizam nos shows do quarteto. Em Estandarte, show que estreou em Belo Horizonte (MG) em 12 de outubro de 2008 e chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de sexta-feira, 21 de novembro, o roteiro de 26 músicas (incluídas as três escolhidas pela platéia para o bis por meio de votos enviados via celular) concilia todas as fases do grupo num tom uniforme, dado pelos azeitados grooves tirados pela banda e pelo trio de metais que, no fim, ganha a adesão do saxofone de Chico Amaral, o parceiro do vocalista Samuel Rosa na composição do repertório do quarteto. Quase todos os hits estão lá. Mas quase nenhum é tocado da forma como foi para o disco, em mais um atestado da habilidade do Skank de se renovar sem perder a identidade. E a capacidade de permanecer popular em todas as classes sociais - como está provando o estouro radiofônico de Ainda Gosto Dela, a canção escolhida para iniciar os trabalhos promocionais de Estandarte, CD que marcou o reencontro do quarteto com Dudu Marote, o produtor de Calango e Samba Poconé - os milionários álbuns gravados pelo grupo nos anos 90.
Convidada do registro de estúdio de Ainda Gosto Dela, Negra Li foi recrutada pela banda para participar das apresentações de Estandarte no Rio e em São Paulo. Na estréia carioca, a cantora não disse a que veio na sua primeira entrada em cena, mas, no bis, se soltou e deu tempero especial ao tema. Contudo, a participação episódica de Li não altera o status de show vigoroso. A interação entre os músicos é perceptível desde que - após a execução em off de música de filme de faroeste - a banda entra em cena para abrir o roteiro com Pára-Raio, com seus eletrizantes metais à moda da fase soul de Roberto Carlos. Emoldurado por belíssimo cenário, urdido com tiras elásticas que dão colorido ao palco à medida em que são iluminadas, o Skank embala com mix de levadas de funk, reggae e rock um repertório que agrega músicas do novo álbum (Chão se mostrou firme e Escravo confirmou sua vocação para servir às paradas), hits tão inevitáveis quanto irresistíveis (Três Lados, Vou Deixar, É Proibido Fumar e Garota Nacional - emendados em bloco naturalmente explosivo), um ou outro lado B (Ali, música do álbum Maquinarama, obra-prima do Skank) e algumas canções de atmosfera BritPop que merecem mais atenção - caso de Um Mais Um, uma das músicas inéditas lançadas em 2004 na coletânea Radiola que acabou ofuscada na época da edição da compilação pelo estouro da abordagem roqueira do reggae Vamos Fugir, de Gilberto Gil. A propósito, Beleza Pura - a música de Caetano Veloso regravada pelo Skank para a trilha sonora da novela homônima exibida pela Rede Globo neste ano de 2008 - comprovou no show a habilidade do quarteto para trazer músicas alheias para seu universo rítmico sem descaracterizá-las.
Como de hábito, as baladas do Skank fazem o contraponto para músicas arranjadas com grooves mais ou menos pesados. A ensolarada Uma Canção É pra Isso esteve em sintonia com Acima do Sol - número em que o cenário obviamente é iluminado com tons amarelos - e com a Balada do Amor Inabalável, composta cheia de bossa, com um ar carioca. Aliás, a balada serviu de pretexto para o vocalista Samuel Rosa (alternando-se elétrico entre o violão e a guitarra ao longo do show) afagar o ego do público carioca na estréia de Estandarte no Canecão. Enfim, trata-se de mais um grande show do Skank. Igual aos outros na essência, mas, ao mesmo tempo, diferente porque o balanço é outro. Assim como são outras as levadas de Estandarte, disco que não é tão próximo assim de Calango e de Samba Poconé, como a presença de Dudu Marote na produção induz a pensar apressadamente. Uma banda pop, afinal, é para isso: satisfazer sua platéia com hits e mudanças sutis que a fazem progredir sem perder o link com sua trajetória. Quando tocou Tanto no bis, acatando o resultado da votação popular, o Skank que estava em cena, antenado, soou bem diferente daquele que gravou a versão da música de Bob Dylan em 1992. Mas não a ponto de se tornar irreconhecível para seu público. Parece fácil, mas é (muito) difícil.

8 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Por mais que o Skank tenha exibido várias faces ao longo de 18 anos de carreira fonográfica, todas se harmonizam nos shows do quarteto. Em Estandarte, show que estreou em Belo Horizonte (MG) em 12 de outubro de 2008 e chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de sexta-feira, 21 de novembro, o roteiro de 26 músicas (incluídas as três escolhidas pela platéia para o bis por meio de votos enviados via celular) concilia todas as fases do grupo num tom uniforme, dado pelos azeitados grooves tirados pela banda e pelo trio de metais que, no fim, ganha a adesão do saxofone de Chico Amaral, o parceiro do vocalista Samuel Rosa na composição do repertório do quarteto. Quase todos os hits estão lá. Mas quase nenhum é tocado da forma como foi para o disco, em mais um atestado da habilidade do Skank de se renovar sem perder a identidade e a capacidade de permanecer popular em todas as classes sociais - como está provando o estouro radiofônico de Ainda Gosto Dela, a canção escolhida para iniciar os trabalhos promocionais de Estandarte, CD que marcou o reencontro do quarteto com Dudu Marote, o produtor de Calango e Samba Poconé - os milionários álbuns gravados pelo grupo nos anos 90.
Convidada do registro de estúdio de Ainda Gosto Dela, Negra Li foi recrutada pela banda para participar das apresentações de Estandarte no Rio e em São Paulo. Na estréia carioca, a cantora não disse a que veio na sua primeira entrada em cena, mas, no bis, se soltou e deu tempero especial ao tema. Contudo, a participação episódica de Li não altera o status de show vigoroso. A interação entre os músicos é perceptível desde que - após a execução em off de música de filme de faroeste - a banda entra em cena para abrir o roteiro com Pára-Raio, com seus eletrizantes metais à moda da fase soul de Roberto Carlos. Emoldurado por belíssimo cenário, urdido com tiras elásticas que dão colorido ao palco à medida em que são iluminadas, o Skank embala com mix de levadas de funk, reggae e rock um repertório que agrega músicas do novo álbum (Chão se mostrou firme e Escravo confirmou sua vocação para servir às paradas), hits tão inevitáveis quanto irresistíveis (Três Lados, Vou Deixar, É Proibido Fumar e Garota Nacional - emendados em bloco naturalmente explosivo), um ou outro lado B (Ali, música do álbum Maquinarama, obra-prima do Skank) e algumas canções de atmosfera BritPop que merecem mais atenção - caso de Um Mais Um, uma das músicas inéditas lançadas em 2004 na coletânea Radiola que acabou ofuscada na época da edição da compilação pelo estouro da abordagem roqueira do reggae Vamos Fugir, de Gilberto Gil. A propósito, Beleza Pura - a música de Caetano Veloso regravada pelo Skank para a trilha sonora da novela homônima exibida pela Rede Globo neste ano de 2008 - comprovou no show a habilidade do quarteto para trazer músicas alheias para seu universo rítmico sem descaracterizá-las.
Como de hábito, as baladas do Skank fazem o contraponto para músicas arranjadas com grooves mais ou menos pesados. A ensolarada Uma Canção É pra Isso esteve em sintonia com Acima do Sol - número em que o cenário obviamente é iluminado com tons amarelos - e com a Balada do Amor Inabalável, composta cheia de bossa, com um ar carioca. Aliás, a balada serviu de pretexto para o vocalista Samuel Rosa (alternando-se elétrico entre o violão e a guitarra ao longo do show) afagar o ego do público carioca na estréia de Estandarte no Canecão. Enfim, trata-se de mais um grande show do Skank. Igual aos outros na essência, mas, ao mesmo tempo, diferente porque o balanço é outro. Assim como são outras as levadas de Estandarte, disco que não é tão próximo assim de Calango e de Samba Poconé, como a presença de Dudu Marote na produção induz a pensar apressadamente. Uma banda pop, afinal, é para isso: satisfazer sua platéia com hits e mudanças sutis que a fazem progredir sem perder o link com sua trajetória. Quando tocou Tanto no bis, acatando o resultado da votação popular, o Skank que estava em cena, antenado, soou bem diferente daquele que gravou a versão da música de Bob Dylan em 1990. Mas não a ponto de se tornar irreconhecível para seu público. Parece fácil, mas é (muito) difícil.

22 de novembro de 2008 às 14:58  
Anonymous Anônimo said...

floripa tá no roteiro da turnê?

22 de novembro de 2008 às 16:39  
Anonymous Anônimo said...

vi o show em São Paulo e curti porque eles tocam suas melhores músicas, esse disco novo Estandarte pra mim não é tão bom como os outros

22 de novembro de 2008 às 20:29  
Anonymous Anônimo said...

Só uma correção, Mauro: a gravação original da versão de "Tanto" data de 1993, não de 1990.

No mais, é isso mesmo que você falou.

Vou até além: no tocante a shows, acho que o Skank está, para as bandas de sua geração, assim como os Paralamas estão, para as bandas surgidas nos 80. Ou seja, as apresentações são sempre festeiras e satisfatórias e pouca gente sai com a sensação de ter perdido tempo.

Enfim, o Skank sempre fez um show legal. Desde os tempos em que engatavam o hilário "Calanguinho" (algum fã mais ardoroso lembra?), no meio de "O homem que sabia demais", antes ainda de estourarem.

Felipe dos Santos Souza

22 de novembro de 2008 às 20:32  
Anonymous Anônimo said...

Não querendo corrigir nada: viva Minas! (sou Carioca, logo, não sou suspeito).
A MPB deve muito a Milton e seu Clube da Esquina, bem como outros "gênios" pouco divulgados e reconhecidos para além das montanhas: PAULINHO PEDRA AZUL, TADEU FRANCO e TAVITO por exemplo.
Agora Minas é a salvação do POP/ROCK desta geração: SKANK e JOTA QUEST... ô terrinha abençoada.

24 de novembro de 2008 às 18:59  
Anonymous Anônimo said...

Skank é mara!

27 de novembro de 2008 às 12:39  
Anonymous Anônimo said...

André 2,

Sou mineiro, mas nem por isso sou suspeito, pois o que falo é a (minha)verdade.

Concordo com tudo o que você falou, e como eu mesmo já havia dito uma vez nesse blog:

"Mesmo em silêncio Minas retumba o seu som de liberdade. O Brasil fala o que o silêncio de Minas dita."


Welerson André.

27 de novembro de 2008 às 12:43  
Anonymous Anônimo said...

Mineiro só não é suspeito de uma coisa: produzir 99% de boa música.
Foi nas abençoadas rodinhas de violão nas esquinas do Sul de Minas que, aos 16 anos, começei a entender o que era MÚSICA - mineira ou não. E foi nestas esquinas que descobri os talentos ocultos citados que sinto não serem apreciados a nível nacional.
PAULINHO PEDRA AZUL É UM GÊNIO E MERECIA SER OUVIDO EM TODO O PLANETA! DUVIDAM ? PERGUNTEM PARA O SKANK OU O JOTA QUEST POR EXEMPLO... e olha que a música deles é "outra praia".

27 de novembro de 2008 às 19:34  

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