16 de dezembro de 2006

Entrevistas expõem a ideologia de Renato Russo

Resenha de DVD
Título:
Entrevistas MTV
Artista:
Renato Russo
Gravadora:
Deckdisc
Cotação:
* * *


"Rock é marketing", define um sincero Renato Russo (1960 - 1996) na melhor das três entrevistas deste DVD, a rigor um produto de marketing criado para faturar com o resistente culto à memória do líder da Legião Urbana, morto há dez anos. "Eu não faço as coisas por dinheiro, mas o dinheiro é a motivação principal. Sou capitalista", dispara o cantor no mesmo longo papo sem querer ser ou parecer idealista.

O pensamento eloquaz do artista atenua o caráter oportunista do DVD, que reúne 142 minutos de três entrevistas concedidas por Renato à MTV. A mais consistente - Passado, Presente e Futuro, feita em maio de 1994 no apartamento do cantor, em Ipanema (RJ) - é exibida em sua forma bruta, sem edição. O líder da Legião Urbana historia a gênese da banda com detalhes e disserta sobre cada álbum do grupo. É interessante vê-lo defender muito bem o argumento de que o melancólico CD V (1990) era, na realidade, menos depressivo e pesado do que o incensado disco As Quatro Estações (1989), tido como um trabalho mais alegre, embora V tenha sido um produto da desilusão do artista com a era de Collor.

Das duas entrevistas menores oferecidas como bônus, a realizada por Zeca Camargo em maio de 1993, também no apartamento do astro, é a mais interessante. Aparentando estar mais fragilizado e menos equilibrado emocionalmente, Renato Russo se queixa da imprensa e expõe a sua descrença na idéia de romantismo. Mais protocolar, o programa MTV no Ar usou a gravação do primeiro disco solo do cantor como pretexto para entrevistá-lo em 30 de março de 1994, no estúdio carioca Discover. Pouco acrescenta...

Reunidas neste DVD, cujo menu e créditos são sonorizados com versão instrumental de Monte Castelo, arranjada com cordas e flauta pelo maestro Jota Moraes, as três entrevistas montam bom painel do pensamento lúcido e articulado de Renato Russo, sem desfazer a aura mitológica alimentada em torno do (genial) artista.

Foo Fighters mantém pegada em eletroacústico

Resenha de CD / DVD
Título: Skin and Bones

Artista: Foo Fighters
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * 1/2

Skin and Bones é o acústico gravado pelo Foo Fighters sem o (irrelevante) aval da MTV. A rigor, é registro eletroacústico que chega agora ao Brasil nos formatos de CD e de DVD com o show captado em agosto em três apresentações do grupo no The Pantages Theatre, em Los Angeles (EUA). Com a embalagem padrão dos projetos do gênero (piano, violino, órgão etc), Dave Grohl e Cia. rebobinam o repertório da banda sem perda da pegada já exposta em discos como In your Honor (2005) e com alta voltagem emocional que até valoriza músicas como Another Round e My Hero. A curiosidade do bom repertório é Marigold, lado B da obra do Nirvana, o já lendário grupo que projetou Grohl na virada dos anos 80 para os 90. O (primoroso!!!) áudio do DVD está à altura do som do Foo Fighters.

Waldick Soriano deverá se tornar 'cult' em 2007

Cantor popular em evidência nos anos 70, mas ainda com público fiel no Nordeste, Waldick Soriano (foto) deverá se tornar cult ao longo de 2007. Além de ser tema de documentário dirigido pela atriz Patrícia Pillar, o artista vai lançar CD e DVD gravados ao vivo em show no Ceará, com produção de José Milton e banda que inclui os metais de Spok Frevo Orchestra e músicos como o pianista Jota Moraes.

Cartola chega ao DVD ao lado de Leci Brandão

Chega às lojas na próxima semana, pela Trama, um dos DVDs mais importantes da série que perpetua as gravações do longevo programa Ensaio, comandado por Fernando Faro na TV Cultura. MPB Especial - 1974 (foto) flagra Cartola (1908 - 1980) no ano em que o genial compositor da Mangueira lançou seu primeiro LP. Além de reviver pioneiro samba (Fita meus Olhos) da agremiação que ajudou a fundar, o autor apresenta obras-primas de lavra autoral como Acontece e Tive Sim, entre declarações econômicas sobre samba-enredo e sua verde-e-rosa. Leci Brandão - então jovem e em início de carreira, pois lançou o primeiro compacto também em 1974 - participa do programa e, mais articulada do que Cartola, situa a importância na Mangueira do compositor Geraldo Pereira, de quem recorda Domingo Infeliz.

Retrô 2006 - Adeus Sivuca, Duprat, Dino, Jair...

A morte do paraibano Severino Dias de Oliveira - o compositor, sanfoneiro e maestro Sivuca (foto), vítima de câncer na garganta aos 76 anos, no fim da noite de quinta feira, 14 de dezembro - foi mais uma nota triste de um 2006 que levou outros talentos da música brasileira. Saíram de cena Jair do Cavaquinho (em 6 de abril, aos 85 anos), Guilherme de Brito (em 26 de abril, aos 84 anos), Dino Sete Cordas (em 27 de maio, aos 88 anos), Moacir Santos (em 6 de agosto, aos 80 anos) e Rogério Duprat (em 26 de outubro aos 74 anos). Na ala estrangeira, a música perdeu nomes como Wilson Pickett (em 19 de janeiro, aos 64 anos) e Syd Barrett (em 7 de julho, aos 60 anos). Barrett integrou o grupo Pink Floyd.

Foram-se os homens, mas ficaram seus legados em forma de Arte. No caso de Sivuca, sua sanfona virtuosa extrapolou fronteiras e rótulos, tendo sido tocada tanto em forrós como em festivais de jazz - com a mesma habilidade que fez o artista transpor a música nordestina até para o universo da música clássica. Um mestre, de fato. Inclusive na arte da composição, seara em que deixa obras-primas como Feira de Mangaio (sucesso na voz de Clara Nunes em 1979) e a valsa João e Maria (única parceria com Chico Buarque).

15 de dezembro de 2006

EMI agenda para janeiro caixa de DVDs de Elis

Resolvidas as questões legais relativas a autorizações de uso de imagem, a EMI Music programou para janeiro o lançamento da caixa de DVDs de Elis Regina (foto) montados com números de especiais feitos pela cantora para a TV Bandeirantes nos anos 70, com direção de Roberto de Oliveira. Idealizada pela gravadora nos moldes dos boxes que reuniram em 12 DVDs os programas da série de TV Chico Buarque, produzida pelo mesmo Roberto de Oliveira para o canal DirecTV, a caixa de Elis traz documentários intitulados Na Batucada da Vida, Falso Brilhante (baseado no show homônimo que ficou em cartaz de 1975 a 1977) e Doce de Pimenta. A idéia da EMI é pegar carona nas reportagens que certamente serão feitas para lembrar os 25 anos de morte de Elis Regina, que saiu precocemente de cena em 19 de janeiro de 1982.

Zizi planeja seu primeiro disco na área erudita

Depois do CD e do DVD Pra Inglês Ver e Ouvir, em que cantava apenas músicas em inglês, Zizi Possi (em foto de Mila Maluhy) planeja um primeiro álbum no segmento erudito. A (boa) idéia da artista é interpretar árias, cantatas e canções de peças clássicas. Zizi procurou captar patrocínio para o projeto ao longo de 2006 para viabilizar a gravação do disco em 2007. Não há - por ora - nenhuma gravadora envolvida com a edição do CD.

Zé Ramalho grava com Pitty em CD de inéditas

Já radicada em São Paulo (SP), a roqueira baiana Pitty veio ao Rio na noite de quarta-feira, 13 de dezembro, para gravar sua participação no disco de inéditas que Zé Ramalho (foto) está fazendo para a gravadora Sony BMG, sob a produção de Robertinho de Recife. Pitty já uniu sua voz à do cantor em A Nave Interior, parceria de Ramalho com Chico César. O lançamento está previsto para março ou abril.

Yamandú vai dividir disco com Dominguinhos

Depois de dividir um belo disco com o clarinetista Paulo Moura, o violonista Yamandú Costa (foto) vai entrar em estúdio no início de 2007 para fazer CD com o sanfoneiro Dominguinhos. A idéia foi do produtor José Milton, que vai bancar a gravação do álbum para depois negociar o lançamento com alguma companhia, que - muito provavelmente - será a Biscoito Fino.

Retrô 2006 - Clipe coroa o bom ano do Skank

Feita em São Paulo, na quarta-feira, 13 de dezembro, a gravação do clipe da canção Mil Acasos - faixa eleita o segundo single do CD Carrossel - coroou mais um bom ano para o Skank (em foto de Weber Pádua). É fato que o grupo mineiro não emplacou hits tão matadores quanto Vamos Fugir e Vou Deixar - líderes das paradas radiofônicas em 2005 - mas Uma Canção É pra Isso, a primeira música de trabalho de Carrossel, foi bem aceita. O álbum já contabiliza respeitáveis 58 mil cópias vendidas, número que deverá aumentar a partir desta semana por conta da chegada às rádios de Mil Acasos, boa parceria de Samuel Rosa e Chico Amaral, de pegada pegajosa, talhada para o sucesso.

Acima de hits e números, Carrossel mostrou mais uma vez que o Skank sabe conciliar requinte e popularidade. Aos 15 anos, idade em que muitas bandas já sinalizam cansaço e repetição, o grupo soou jovial como na sua formação, em 1991, em Belo Horizonte (MG). Em 15 inéditas, baladas em maioria, Carrossel confirmou o acerto do quarteto ao mudar, antes do desgaste, a receita de seu som - hoje já distante da festividade rítmica dos primeiros discos, voltados para o reggae. A mudança deu fôlego para mais 15 anos...

Em giro por sonoridades de folk e do rock dos anos 60 e 70, com referências que foram dos Beatles ao lendário Clube da Esquina, Carrossel rodou bem longe da banalidade imperante nas rádios, roçou o pop perfeito na ensolarada Uma Canção É pra Isso e, no todo, seduziu com músicas como Balada para João e Joana, de refrão envolvente. A evolução harmônica do som do quarteto foi sedimentada com o uso de instrumentos como banjo e trompa. Arranjos de cordas e sopros - a cargo de Artur Andrés - refinaram a camada pop das músicas sem dar ao CD tom camerístico pouco condizente com o espírito jovem das músicas. O resultado foi dez.

Carrossel girou com sutilezas como a alteração do andamento de Notícia, parceria de Samuel Rosa com Humberto Effe cujo arranjo conjuga elementos de rock, folk e country. Ou o tom garageiro de Até o Amor Virar Poeira. Ou ainda os versos de Arnaldo Antunes para Trancoso, balada litorânea com letra que mais parece poesia. Espécie de quinto Skank, Chico Amaral escreveu os versos de oito das 15 inéditas, com destaque para O Som da sua Voz. Entretanto, o melodista Samuel Rosa soube abrir o leque de parceiros. Líder do extinto grupo mineiro Virna Lisi, César Maurício colaborou na balada psicodélica Lugar, em Um Homem Solitário e na canção Seus Passos, que seguiu o plácido curso melódico de Dois Rios, o hit do quarteto em 2003. O supra-citado Humberto Effe assinou ainda a letra de Cara Nua. E Nando Reis voltou a dar o ar da graça em disco do Skank com Eu e a Felicidade, pop rock urdido com violões que tem mais a cara de Nando do que a de Samuel. E, na relação dos autores, houve ainda a boa surpresa da presença do baixista do quarteto, Lelo Zaneti, co-autor de Garrafas, melodia de estranha beleza e sensualidade. E que venham outras de Lelo...

No todo, apesar de sutilezas próprias, Carrossel seguiu a trilha dos antecessores Maquinarama (2000) e Cosmotron (2003) ao unir psicodelia, folk, Beatles, BritPop e Clube da Esquina em coquetel de sabor pop. Uma banda, afinal, é para isso: ser pop. E o Skank atravessou 2006 sem medo de ser (pop)ular e de ser feliz...

14 de dezembro de 2006

EMI encaixota os 12 DVDs de série sobre Chico

Enquanto a Universal Music aposenta a caixa Construção e lança em edições avulsas os 17 discos gravados por Chico Buarque na companhia entre 1970 e 1986, com direito à nova e primorosa remasterização feita por Luigi Hoffer, a EMI Music encaixota os 12 DVDs com programas da série Chico Buarque, produzida pelo diretor Roberto de Oliveira para o canal DirecTV. Para fisgar novos consumidores, uma vez que os DVDs já foram editados em quatro caixas menores ao longo de 2005 e 2006, a caixa Chico - A Série (foto) inclui libreto e um DVD-bônus - Palavra-Chave - com montagem de clipes temáticos.

Reedição de 'Elis', de 1980, é realmente especial

Resenha de CD / DVD
Título:
Elis - Edição

Especial 2006
Artista: Elis Regina
Gravadora:
Trama
Cotação:
* * * *

Somente as arrepiantes versões a capella de O Trem Azul e Se Eu Quiser Falar com Deus - que reafirmam a categoria ímpar do canto de Elis Regina Carvalho Costa (1945 - 1982) - já seriam suficientes para tornar realmente especial esta reedição de Elis, álbum de 1980, o derradeiro da cantora. Mas há todo um cuidado na embalagem (em formato de DVD, com bonito encarte com fotos e letras) que faz com que a presente reedição da Trama supere, e muito, a produzida pela EMI em 2002, apesar das faixas-bônus que a EMI inseriu no CD com registros de gravações da Pimentinha em álbuns de colegas. Vale (até!) comprar de novo.

Elis foi o trabalho mais pop da cantora e, talvez por isso, resista bem ao tempo, ainda que seu repertório não seja tão irretocável quanto o de outros discos da artista. Elis estava cantando como nunca. Mais solta, menos carregada. Mais livre, menos presa aos cânones da MPB tradicional. Houve discos melhores e muito mais importantes nos anos 70, mas vale a pena reouvir Elis e constatar a grandeza da cantora. Seu mergulho pop pede uma reavaliação...

Às nove faixas originais, a Trama acrescentou Se Eu Quiser Falar com Deus (gravada para o álbum, mas excluída na última hora porque o autor Gilberto Gil ia registrar a música em seu próximo disco), os já citados registros a capella e versões instrumentais de Vento de Maio, Calcanhar de Aquiles e Só Deus É Quem Sabe (a canção de Guilherme Arantes que Mart'nália reviveu em seu disco Menino do Rio). As faixas instrumentais evidenciam os arranjos.

Outro bônus valoriza ainda mais a luxuosa reedição. Trata-se de de DVD com a entrevista concedida pela cantora em janeiro de 1982, dias antes de morrer, ao programa Jogo da Verdade, da TV Cultura. "A gente faz parte de um grande teatro", avisou Elis no início do papo mediado por Salomão Ésper com intervenções dos jornalistas Maurício Krubusly e Zuza Homem de Mello. Nem por isso, a ardida Pimenta deixou de expor as suas verdades em cena.

O alvo principal foi a indústria fonográfica. Na época, a cantora vivia entrando e saindo de gravadora. Fez dois discos na Warner entre 1979 e 1980, ano em que assinou com a EMI para gravar Elis. E planejava lançar pela Som Livre o LP que não teve tempo de fazer. "Hoje ficou mais difícil fazer um disco. A prepotência ganhou o nome de marketing. Não existe preocupação com a criatividade. A verdadeira mercadoria da gravadora é o artista, mas parece que há uma certa relutância em aceitar isso", disparou.

Contratidória, a Pimentinha incluiu o próprio nome no seleto time que gozava de alguma autonomia artística no mercado fonográfico da época para logo em seguida lamentar o limite dessa autonomia. "A gente já não tem a liberdade que tinha antes", reclamou. Entre elogios a Arrigo Barnabé (a grande novidade da música brasileira antes da explosão do rock), à geração de cantores e compositores dos anos 60 ("Tem muito pastel e feira, mas feijoada mesmo fomos nós que fizemos") e reclamações contra o alto preço do disco (mil cruzeiros, na ocasião), Elis Regina solta o verbo com a sinceridade e a intensa paixão que caracterizaram uma obra exemplar. É dez!!

'Vinicius em Portugal' voltará avulso em janeiro

Um dos títulos mais obscuros da discografia de Vinicius de Moraes, o álbum Vinicius em Portugal será relançado em janeiro, com distribuição da Tratore. Reeditado em CD somente dentro da boa caixa Como Dizia o Poeta, que agrupou a obra fonográfica do artista em 2001, o disco saiu originalmente em 1969 pelo selo Festa, de Irineu Garcia. Foi resultado de show ao vivo feito por Vinicius em Portugal para badalar a edição de um compacto de poesias. Na gravação, o poeta recita Sob o Trópico de Câncer, A Volta da Mulher Morena, Cântico e outros textos de sua lavra.

Ivete Sangalo grava Tim Maia com Samuel Rosa

Funk de Tim Maia, lançado por Roberto Carlos em seu belo álbum de 1969, Não Vou Ficar é a música que Ivete Sangalo (foto) vai cantar com Samuel Rosa (o vocalista e guitarrista do Skank) em seu CD e DVD Multishow ao Vivo - Ivete Sangalo no Maracanã. A gravação do projeto acontece neste sábado, 16 de dezembro, em megaespetáculo que vai contar também com as participações de Alejandro Sanz (em Corazón Partío, hit de Sanz em 1997), Buchecha, Durval Lelys (Asa de Águia) e Saulo Fernandes (Banda Eva). O roteiro de 36 músicas inclui lambadas como Preta - hit de Beto Barbosa nos anos 90 - e Chorando se Foi.

Retrô 2006 - You're Beautiful pôs Blunt no topo

Foi difícil não ouvir You're Beautiful no Brasil e no mundo em 2006. Gravada em 2004 para o álbum Back to Bedlam, lançado no início de 2005, a bela canção projetou o cantor e compositor britânico James Blunt (foto) em escala planetária, chegando ao topo da parada dos Estados Unidos. O sucesso começou quando o disco chegou ao mercado norte-americano, em outubro de 2005, e se estendeu ao longo deste ano - a ponto de Blunt ter faturado indicações para o Grammy 2007 por conta da música. No Brasil, You're Beautiful caiu nas graças do público quando entrou na trilha internacional da novela Belíssima e, na seqüência, pulou para as rádios. A Warner Music bem que tentou emplacar outra faixa do álbum, mas a sofrida Goodbye my Lover sequer roçou o êxito de You're Beautiful. Fechando o ano consagrador de Blunt, a gravadora lançou esta semana no Brasil uma versão estendida de Back to Bedlam. Ao disco original, foi adicionado um CD-bônus Live in Ireland com as versões ao vivo do repertório do álbum.

13 de dezembro de 2006

Coletânea fatura com o estouro de Mary J. Blige

Não por acaso a campeã de indicações ao Grammy 2007, Mary J. Blige recuperou em 2006 a coroa de rainha do soul e do r & b. Lançado em dezembro de 2005, seu álbum The Breakthrough bombou nas paradas graças, sobretudo, ao hit Be Without You. Também não por acaso, chegou às lojas esta semana nos Estados Unidos a coletânea Reflections - A Retrospective (foto), com quatro novas gravações. Entre elas, Reflections ( I Remember), a música que inspirou o título desta compilação idealizada para faturar com o estouro da cantora. O esquecimento de hits como Love no Limit - de What's the 411?, o primeiro e retumbante álbum de Mary Blige - sinaliza que Reflections não é a ultimate collection desta ótima artista que conseguiu dar a volta por cima.

Bethânia regrava Caymmi para novela da Globo

Além de ter o sucesso Cheiro de Amor revivido na trilha sonora da novela Pé na Jaca, Maria Bethânia foi convidada para regravar o belo samba-canção Sábado em Copacabana - uma parceria de Dorival Caymmi com Carlos Guinle, lançada em 1952 - para a abertura da próxima novela da Rede Globo, Paraíso Tropical, que tem estréia agendada para 5 de março, no horário das 21h. Bethânia (em foto de Beti Niemeyer no show Dentro do Mar Tem Rio) já tinha gravado o samba-canção em seu CD e DVD Maricotinha ao Vivo, editado em 2002, mas aceitou o convite.

Primeiro álbum de Simone chega, enfim, ao CD

Um dos títulos mais raros da irregular discografia de Simone, o primeiro LP da Cigarra chega, enfim, ao formato de CD. Produzido por Milton Miranda sob a batuta do maestro Gaya, o álbum Simone (foto) foi gravado em 1972, lançado no começo de 1973 e depois reeditado ainda em LP uma única vez, em 1983, com outra capa. A reedição em CD (da EMI) recupera a capa original, feita em preto-e-branco.

No repertório, Simone interpreta músicas de Dalto (Caminho do Sol, Morena e Charada), Joyce (Encontro Marcado), Ivan Lins (Chegou a Hora), Taiguara (Momento do Amor) e Lô Borges (Tudo que Você Podia Ser, parceria com Márcio Borges). A curiosidade é a regravação da marcha-rancho Bandeira Branca, último sucesso de Dalva de Oliveira (1917 - 1972). Outra música é Assim Não Dá.

No embalo, a EMI ainda lança outro raro título da discografia de Simone - também inédito em CD. Expo Som 1973 - Ao Vivo registra show dividido pela cantora com Leny Andrade, Márcia e Ari Vilela. Simone interpreta duas músicas de Dorival Caymmi. Nem Eu, Coqueiro de Itapoã e João Valentão foram as escolhidas.

Série compila sambas-enredos de 20 carnavais

A capa à direita é a do CD Os Sambas da Unidos da Tijuca, um dos 11 títulos da boa série de compilações Os Sambas de... - 20 Anos de Carnaval, nas lojas a partir desta semana. Editada pela Universal Music, a coleção dá prosseguimento à parceria firmada pela major com a Gravadora Escola de Samba em meados do ano e iniciada concretamente em novembro com o lançamento do disco com os sambas-enredos do Carnaval 2007.

Com bonita arte gráfica, a série reúne sambas-enredos gravados pelas principais agremiações do Carnaval do Rio de Janeiro entre 1986 e 2006. Há coletâneas dedicadas às escolas Acadêmicos do Grande Rio, Imperatriz Leopoldinense, Império Serrano, Portela, Beija-Flor, Mangueira, Mocidade Independente de Padre Miguel, Salgueiro, Unidos da Tijuca, Unidos do Viradouro e Unidos de Vila Isabel. Algumas - como a Unidos do Viradouro e a Acadêmicos do Grande Rio - nunca tinham tido seus sambas compilados em disco.

Retrô 2006 - A ressurreição de Barry Manilow

Depois de Rod Stewart, outro cantor famoso nos anos 70 renasceu das cinzas com óbvia série de discos de covers idealizada por Clive Davis, produtor que fez fama e fortuna no comando da gravadora Arista. Trata-se do meloso Barry Manilow (foto) - artista, aliás, já projetado por Davis em 1975 com a gravação da balada Mandy. Lançado em fevereiro, o CD The Greatest Songs of the Fifties foi direto para o topo da parada da revista americana Billboard, tendo vendido 156 mil cópias em sua primeira semana nas lojas dos Estados Unidos. Manilow não realizava tal proeza nas paradas desde a década de 70, época em que reinou na indústria do disco com hits como Ready to Take a Chance Again, a canção de 1978.

Entusiasmados com a acolhida do CD, editado no exterior também no formato de dualdisc, Manilow e Davis já fizeram logo o segundo volume da série - desta vez com regravações de canções dos anos 60. E não será surpresa se a coleção se estender até a década de 90... Afinal, o songbook da canção americana idealizado por Davis para Rod Stewart rendeu quatro volumes e ainda inspirou CD com regravações de clássicos do rock, editado no fim do ano. A rápida escalada do disco de Manilow nas paradas mostrou que a fórmula de covers ainda tem (algum) fôlego no mercado norte-americano.

12 de dezembro de 2006

Roberto Carlos reafirma convicções em duetos

Resenha de CD / DVD
Título: Duetos
Artista: Roberto Carlos
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * *

A rigor uma coletânea de gravações antigas, todas extraídas dos encontros promovidos por Roberto Carlos com astros da MPB em programas natalinos, Duetos remonta o painel conservador da obra do artista em colagem que soa estranha até pelas diferenças técnicas entre registros recentes (como o emotivo duo feito com Ivete Sangalo em 2004 na canção Se Eu Não te Amasse Tanto Assim) e antigos, caso do pot-pourri de hits de Elvis Presley gravado com o amigo Erasmo Carlos em 1977 (com direito a figurinos espalhafatosos!!).

Há encontros que mereciam de fato um registro duradouro em DVD. O dueto de 1978 com Tom Jobim em Lígia - em que Roberto se surpreende quando o maestro e compositor entoa versos da letra menos conhecida da canção - é um deles. Em contrapartida, a seleção do dueto de Maria Bethânia - Amiga, de 1982 - foi infeliz. Bethânia já tinha participado dos especiais do cantor com músicas bem mais interessantes, como Fera Ferida, revivida em 1993, ano em que dedicou um disco às canções de Roberto e Erasmo Carlos. Seja como for, o clipe (kitsch) de Amiga entrou somente no DVD.

Roberto Carlos sempre convidou para seus programas artistas que estavam em especial evidência no ano da gravação. É por isso que Caetano Veloso recordou sua Alegria, Alegria em 1992, o ano da minissérie Anos Rebeldes, cuja abertura era apresentada ao som do tema do compositor baiano. Do mesmo jeito, o hino Coração de Estudante foi interpretado por Roberto no especial de 1985 - com os auxílios luxuosos dos vocais de Milton Nascimento (então em boa forma) e do piano de Wagner Tiso - no rastro da comoção popular causada pela eleição, agonia e morte de Tancredo Neves.

Infelizmente, os arranjos padronizados dos especiais do Rei são capazes de descaracterizar músicas como Mucuripe (com Fagner, em 1991). São orquestrações muito mais adequadas para o tom breganejo de Se Você Quer (com Fafá de Belém, em 1991) e para a sensualidade familiar de Desabafo (com Ângela Maria, em 1995). Escapam da uniformização a moda de viola O Rei do Gado (com Almir Sater e Sérgio Reis, 1996) e o soul Além de Horizonte (com Jota Quest em arranjo de pegada roqueira, 2005). Mas o que dizer do pot-pourri cantado com Rosana em 1988???!!! Era dispensável.

Em essência, Duetos reafirma convicções musicais e ideológicas de Roberto Carlos. Se a consciência ecológica brota na enjoativa Amazônia (com Chitãozinho & Xororó, 1991), o fiel romantismo norteia Sua Estupidez (com cordas e a voz de Gal Costa, 1997) e Ternura (com Wanderléa, 1991). Já a eterna exaltação da Jovem Guarda é feita em Jovens Tardes de Domingo (com os colegas do movimento, 1995). Enfim, cânones de Rei sempre conservador...

Disco que influenciou Jobim retorna em janeiro

Canção do Amor Demais - o clássico disco lançado por Elizeth Cardoso em 1958 apenas com músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, além do violão de João Gilberto em algumas faixas - tem recebido merecidas honrarias ao longo dos anos, mas, em janeiro, os admiradores da obra de Jobim terão de novo acesso a um disco igualmente importante - mas pouco lembrado - e que contribuiu para dar uma identidade à música do maestro soberano. Lançado originalmente em 1959 pela cantora Lenita Bruno, via selo Festa, Por Toda a Minha Vida (foto) volta outra vez ao catálogo com distribuição da Tratore. No repertório, somente músicas de Tom e Vinicius com um tratamento orquestral do maestro Leo Peracchi que influenciaria os arranjos feitos por Jobim dali em diante. O álbum já havia sido transposto para o CD em 1999 - 40 anos após o lançamento - em reedição correta da Movieplay. A nova reedição recupera a capa original e, como a anterior, traz o texto escrito para a contracapa por Jobim. Merece atenção dos fãs do maestro.

Segundo do Clap Your Hands em 30 de janeiro

Com o título de Some Loud Thunder, o segundo álbum do quinteto norte-americano Clap Your Hands Say Yeah tem lançamento agendado para 30 de janeiro nos Estados Unidos. A cultuada banda de Nova York apresenta 11 músicas no CD. Pela ordem, as faixas do sucessor do bom Clap Your Hands Say Yeah (2005) são Some Loud Thunder, Emily Jean Stock, Mama, Won't You Keep Them Castles in the Air and Burning?, Love Song nº 7, Satan Said Dance, Upon Encountering the Crippled Elephant, Goodbye to Mother and the Cove, Arm and Hammer, Yankee Go Home, Undeewater (You and me) e Five Easy Pieces. Com produção de Dave Fridmann, o disco sairá na Inglaterra um dia antes dos EUA.

Clarice inspira letra de 'Nota de um Samba Só'

Depois de Érika Martins retornar à cena na companhia da banda Telecats, é a vez de outro integrante do extinto grupo baiano Penélope reaparecer. O guitarrista Luisão Pereira (foto) lança o disco Nota de um Samba Só, com título que alude inversa e ironicamente ao standard de Tom Jobim e Newton Mendonça. O CD tem nove faixas. Entre elas, Quadriculado, Você Passou por mim e Catedral de Berna - música baseada em poema de Clarice Lispector. Pode ser adquirido através da internet por R$5 (mais despesas postais) e pelo e-mail esquisitoproducoes@gmail.com. Para quem mora em Salvador (BA), o disco Nota de um Samba Só pode ser encontrado (também) no sebo Cacareco. Fica a dica...

Retrô 2006 - O show messiânico do U2 em SP

Se os endiabrados Rolling Stones soltaram os demônios na Praia de Copacabana, em 18 de fevereiro, dias depois o U2 fez brilhar o espírito sagrado de seu rock em dois históricos shows da turnê Vertigo apresentados no Estádio do Morumbi, em São Paulo (SP), em 20 e 21 de fevereiro. Foi a terceira vinda do grupo irlandês ao Brasil e a primeira realmente consagradora. A imagem de Jesus Cristo pregado na cruz - vista no terço deixado por Bono Vox ao microfone, ao fim de 40, o tema inspirado no Salmo 40 e último dos 23 números do roteiro - simbolizou com perfeição o clima messiânico da apresentação. A banda fez sua oração em forma de rock. O público ouviu as súplicas feitas por seu Senhor, Bono, em letras humanitárias. E orou, seja repetindo com devoção o refrão de Pride (In the Name of Love), seja iluminando a platéia com a luz de seus celulares na emocionante One. Para ficar na memória!!

"Para vencer a pobreza, todos temos que trabalhar e agir como um só", pregou Bono (na foto de Guto Costa, em cena durante o show de 20 de fevereiro). Foi um espetáculo de luzes, cores e som como poucas vezes visto no Brasil. Desde o primeiro número, City of Blinding Lights, Bono regeu a platéia escorado na guitarra sempre cortante de The Edge. "Oi, galera! Agora é a nossa vez!", saudou o cantor antes de apresentar Elevation, numa referência ao fato de os Rolling Stones terem eletrizado Copacabana-RJ dois dias antes.

Em sua vez, o U2 fez um show com o tom politizado que norteia sua obra desde o lançamento do disco War, a obra-prima de 1983 que fez o mundo conhecer jóias como Sunday Bloody Sunday (um dos números em que Bono pareceu realmente orar no palco do Morumbi) e New Year's Day (reconhecível aos primeiros acordes do piano tocado por The Edge). O êxtase da platéia diante da visão de seu Messias esquentou até números mais frios como Until the End of the World. Foi em forma de oração que o público cantou sozinho os versos que batizam a balada I Still Haven't Found What I'm Looking for - número a que se seguiu breve momento profano no qual Bono puxou a letra da velha marchinha carnavalesca: "Ai, ai, ai... Está chegando a hora...". Claro que o público completou os versos animada e espontaneamente. Mas o dia não estava raiando e ninguém tinha que ir embora. Ainda. Havia tempo para Bono exorcizar os demônios de sua relação com o pai em Sometimes You Can't Make It on your Own, para protagonizar com Edge o instante folk do show (Stuck in a Moment, com Edge explorando falsetes de sua voz e se acompanhando ao violão) e para assumir em Love and Peace or Else a parte da bateria estrategicamente posicionada na passarela que se estendia do palco rumo à platéia.

No bloco mais politizado de um show que transpirou política, Sunday Bloody Sunday precedeu Bullet the Blue Sky (número teatral em que Bono fechou seus olhos com uma bandana para caminhar cego pela passarela) e Miss Saravejo - uma das orações mais belas, em cujo fim o telão exibiu, em português, trechos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em Pride (In the Name of Love), Bono citaria os países da América Latina sem esperar forte vaia para a Argentina - efeito de rixas futebolísticas.

Os riffs empolgantes de Where the Streets Have no Name seriam o prenúncio do fim, com One. Mas um bis farto - com Zoo Station, The Fly, Misterious Ways e With or Without You (com direito a fã puxada da platéia para o palco) - prolongou a missa. Um segundo bis, com a elétrica All Because of You, preparou a platéia para a comunhão final com 40. Para o público que lotou o Morumbi ou que viu o show na transmissão ao vivo da Rede Globo, Bono Vox foi um Deus nas noites históricas de 20 e 21 de fevereiro de 2006.

11 de dezembro de 2006

Roberto critica biografia: 'eu me sinto agredido'

Habituado a declarações diplomáticas sobre tudo e sobre todos, Roberto Carlos elevou o tom na entrevista coletiva concedida no hotel Ceasar Park, em Ipanema (RJ), na tarde desta segunda-feira, 11 de dezembro, para badalar o lançamento do CD e DVD Duetos, já nas lojas via Sony BMG com tiragens iniciais de 250 mil e 150 mil cópias, respectivamente. Sem o comedido discurso típico de suas entrevistas, o Rei não poupou críticas à biografia Roberto Carlos em Detalhes, escrita pelo jornalista baiano Paulo Cesar de Araújo sem autorização do cantor. O livro já está à venda, mas, se depender da vontade de Roberto Carlos, será por pouco tempo.

"Não li o livro todo, mas há coisas nele que me desagradam muito. É uma biografia não autorizada, cheia de coisas não verdadeiras que ofendem a mim e a pessoas muito queridas, vítimas de uma exposição sensacionalista. A minha história é um patrimônio meu. Eu é que tinha que escrever esse livro e contá-la quando eu quiser. Ninguém melhor do que eu vai saber contar minha história. Meus advogados já estão estudando o caso. A gente está cuidando do assunto dentro da lei", afirmou o cantor, sem a normal diplomacia.

Apesar de o tema principal da coletiva ser o projeto de duetos, a biografia foi assunto abordado mais de três vezes - e, a cada vez, em tom muito mais enfurecido por Roberto Carlos. "Eu me sinto agredido na minha privacidade. Isso me incomoda, me entristece, me irrita", disse ele ao comentar o livro pela segunda vez, mas sem revelar os trechos que lhe causaram tanta irritação (e incômodo).

Na terceira vez em que a biografia foi mencionada, com o justo argumento de que o livro dá a real dimensão da importância de Roberto Carlos na música brasileira, o Rei se exaltou ainda mais. "E daí??? Não tem nada a ver uma coisa com outra. O autor se apropriou de meu patrimônio para escrever uma história que é minha. Um livro tem que contar verdades, não pode ter invasão de privacidade. A vida privada de cada um tem que ser respeitada. Pelo fato de ele (o autor) me comparar a (Frank) Sinatra como cantor, não acho que ele tem o direito de ofender pessoas que me são tão caras", respondeu Roberto, num tom novamente alterado.

Quando o assunto não era a biografia, o tom voltava a ser ameno e diplomático. Sobraram elogios para Jorge Ben Jor, Marisa Monte e MC Leozinho - os três convidados do especial que a Rede Globo exibe no próximo sábado, 16 de dezembro. A propósito, Roberto contou que ficou surpreso ao contabilizar os duetos, 93, feitos em seus especiais anuais na Rede Globo. "Tenho material para lançar os volumes 2 e 3, se quiser", afirmou, antes de contar que gravará DVD e CD na Espanha, em janeiro, e de revelar que não gostou do material filmado na temporada realizada no navio Costa Victoria, em fevereiro. O desgosto adiou a edição de DVD feito em alto mar.

Entre queixas contra a pirataria de CDs ("Não dá para a gravadora competir com os piratas") e desculpas para a já rarefeita produção autoral ("Chega uma fase da vida em que a gente compõe com mais cuidado, buscando algo maior do que antes. Isso torna o trabalho de composição mais lento"), Roberto creditou à crise do mercado fonográfico a curva descendente de vendas de seus discos. Antes habituado ao patamar do milhão (até passaria de dois milhões nos áureos anos 70 e 80), o Rei vendeu 350 mil cópias de seu último álbum, de acordo com o diretor da Sony BMG, Alexandre Schiavo. "Isso não me preocupa porque não acontece somente comigo. É uma questão de mercado. As gravadoras atravessam momentos de grande preocupação. Eu não me preocupo com isso de forma pessoal porque tenho uma média boa no mercado", relativizou Roberto Carlos, sem entrar nos detalhes que, em esfera pessoal, tanto o irritaram no (já polêmico) livro de Paulo Cesar de Araújo.

Menescal e Cris estendem a parceria para DVD

Roberto Menescal e Cris Delanno estão lançando o DVD Eu & Cris (capa à direita). É o desdobramento da parceria inaugurada no CD homônimo que o músico e a cantora gravaram em dupla em 2003. No repertório, clássicos da velha bossa (Wave, Samba de uma Nota Só, Sabe Você), standards estrangeiros (Cry me a River, Roxanne) e até uma jóia do cancioneiro popular (Outra Vez, música de Isolda que foi hit na voz de Roberto Carlos em 1977 e 1978). O roteiro inclui ainda Da Cor do Pecado, de Bororó, e Corazón Partío - sucesso de Alejandro Sanz.

Jota Quest lança DVD gravado em show no Sul

Em evidência nas rádios durante 2006 por conta do sucesso da música O Sol, o grupo Jota Quest lança esta semana o DVD Até Onde Vai (capa à esquerda), que registra o show inspirado no álbum homônimo. A gravação foi feita em 3 de setembro, em Porto Alegre (RS), no Anfiteatro Pôr-do-Sol, às margens de rio - o Guaíba.

A (terceira) gravação ao vivo da banda mineira foi idealizada para celebrar os 10 anos de carreira do Jota Quest - projetado em 1996 com a contratação pela Sony BMG e o lançamento do disco que rendeu hits como a regravação de As Dores do Mundo, balada de Hyldon.

Turbinado com dois clipes (de Além do Horizonte e O Sol) e com 20%, documentário de 50 minutos dirigido pelo jornalista Bruno Natal, o DVD reúne 14 números do show captado no Sul. Além de músicas do CD Até Onde Vai, o roteiro inclui sucessos como Na Moral, Do seu Lado, Mais uma Vez e De Volta ao Planeta. Para fã.

Retrô 2006 - À meia-voz, Marina voltou inteira

Em 2006, Marina Lima fez - enfim - um registro à meia-voz que foi bem recebido por crítica e por (parte do) público. Estreado em São Paulo em fins de 2005, no Auditório Ibirapuera, com refinada atmosfera teatral concebida pela diretora Monique Gardenberg, o show Primórdios gerou bom disco de estúdio - Lá nos Primórdios, gravado no início do ano por Marina de maneira independente e editado em agosto com distribuição da EMI - e em 2007 vai render DVD, filmado em novembro no mesmo Auditório Ibirapuera numa apresentação restrita a convidados da cantora e de um patrocinador. A moderna teatralidade tirou o foco da voz...

Foi um 2006 de saldo bem positivo para uma artista que somente vinha errando. Em 2003, dois anos depois de ter lançado inéditas no esmaecido CD Setembro, Marina Lima fez o jogo da indústria fonográfica e tentou voltar às paradas com Acústico MTV que, de tão inapropriado, foi dos poucos da série que não aconteceu no mercado. Gata escaldada aos 50 anos, a cantora procurou (e enfim encontrou...) tom mais pessoal e chique em Lá nos Primórdios.

A decepção foi certa para quem buscou no disco - produzido pela própria Marina com Renato Alsher - a compositora de seus áureos tempos, a autora de um pop redondo. Não havia hits instântaneos em Lá nos Primórdios. A voz também continuava sem o viço de outrora, mas não soou insuficiente dentro da atmosfera do CD. No estúdio, Marina formatou sonoridade crua e rascante, urdida com um canto eventualmente falado e com sons de sintetizadores e de guitarra. Uma ambiência eletrônica envolveu repertório formado por cinco inéditas, três recriações de lados B da obra da artista e incursões pelos repertórios de Chico Buarque e Laurie Anderson. Das inéditas, o tango pop Três e o indie rock Entre as Coisas foram os destaques. Anna Bella - inspirada na artista plástica Anna Bella Geiger - chamou mais atenção por verso questionador ("Por que as mulheres também não podem ter sua sauna gay?") do que pela melodia pouco inspirada. A balada Que Ainda Virão - a faixa mais intimista do disco e única inédita que ainda não tinha sido exibida no show Primórdios - também não foi das melhores criações de Marina. Já Valeu cresceu no remix de DJ Dolores, que acentuou a batida da ciranda apenas insinuada na mediana gravação original.

As três recriações da própria lavra da compositora estiveram em sintonia com o sotaque cru do álbum. Difícil (de Todas, álbum de 1985) é a do verso "Sexo é bom!", marco na época por ser ouvido na voz de uma mulher. $ Cara veio do repertório de A Próxima Parada, disco de 1989 cujo resultado final desagradou Marina. Por fim, Meus Irmãos era de O Chamado, bom álbum de 1993. O toque mais experimental ficou por conta de Vestidinho Vermelho, abusada versão de Alvin L para Beautiful Red Dress, tema lançado em 1989 por Laurie Anderson, cantora e compositora americana, identificada com a vanguarda. De clima underground, a bela faixa apareceu também em remix feito para as pistas por DJ Zé Pedro. A outra incursão de Marina Lima fora de sua seara autoral foi Dura na Queda, o samba composto por Chico Buarque em 2000 para peça baseada na vida da cantora Elza Soares. Marina ralentou o ritmo do samba, numa modernosa releitura que nunca empolgou.

Lá nos Primórdios foi arranjado (com rara unidade) por Marina com os músicos que tocaram no show quente e sexual que gerou o disco e que chegou ao Rio de Janeiro em 1º de setembro, em três apresentações que não chegaram a lotar o Canecão. Mas, nem por isso, Marina Lima pareceu menos feliz em cena. Ao realçar sua forte personalidade musical, a artista se redimiu dos fracos discos anteriores e mostrou que continua inteira, ainda que à meia-voz...

Bosco lança inéditas com Nei Lopes em 2007

Inicialmente programado para este ano, o aguardado álbum de inéditas de João Bosco (foto) teve seu lançamento adiado para 2007 para não minimizar as vendas do DVD e CD ao vivo Obrigado, Gente! - editados em maio pela gravadora MP,B com distribuição da Universal Music. No álbum de inéditas, Bosco inicia parceria com Nei Lopes, primoroso letrista ligado ao universo do samba. Os compositores já fizeram músicas como Jimbo no Jazz, com versos que narram as peripécias de um jongueiro fã de jazz. Além da bem-vinda colaboração com Nei Lopes, o CD oficializa a retomada da parceria de Bosco com Aldir Blanc em faixas como Mentiras de Verdade, Sonho de Caramujo e Toma Lá, Dá Cá. Dez!!

10 de dezembro de 2006

Milton lança DVD com registro do show 'Pietá'

Pietá - o show que Milton Nascimento estreou em 2003 - ganha tardio registro em DVD (capa à direita). A edição é da gravadora Som Livre em parceria com o selo do compositor, Nascimento. A boa gravação foi feita ao fim da turnê, em 29 de junho de 2005, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG). Se na estréia carioca Milton dividia o microfone com Maria Rita, Marina Machado e Simone Guimarães, na gravação apenas Marina Machado continuava em cena, fazendo duetos com o cantor em músicas como Casa Aberta, Tristesse e Encontros e Despedidas.

E for falar em encontros, o DVD mostra - nos extras - reuniões do artista em estúdio com Lenine e o grupo (mineiro) Berimbrown. Com Lenine, Milton canta a balada Paciência, com o reforço vocal do coro dos Meninos de Três Pontas. Com o afiado Berimbrown, o compositor rebobina o hit Fé Cega, Faca Amolada - parceria com Fernando Brant, lançada por Milton (em 1975) no álbum Minas.

CDs de Chico Buarque voltam, avulsos, às lojas

Cinco anos depois de todos terem sido remasterizados e reunidos na essencial caixa Construção, editada em 2001 e recentemente reposta em catálogo, os 17 discos gravados por Chico Buarque na Philips e na Ariola, entre 1970 e 1986, voltarão às lojas em breve em edições avulsas. A gravadora Universal Music, que abriga em seus arquivos essa primorosa parte da obra fonográfica do compositor, vai lançar já na próxima semana a coleção Chico Buarque Essencial, com novas reedições dos álbuns. Luigi Hoffer foi recrutado para fazer outra remasterização, ou seja, não se trata da simples reposição em catálogo - de forma avulsa - dos títulos da caixa Construção.

Iniciada com Chico Buarque de Hollanda Nº 4 (capa acima, 1970), a coleção inclui os álbuns Construção (1971), Quando o Carnaval Chegar (1972), Caetano e Chico - Juntos ao Vivo (1972), Chico Canta (1973), Sinal Fechado (1974), Meus Caros Amigos (1976), Os Saltimbancos (trilha do musical, 1977), Chico Buarque (1978), Ópera do Malandro (1979), Vida (1980), Almanaque (1981), Saltimbancos Trapalhões (1981), Chico Buarque en Español (feito para o exterior em 1982), Chico Buarque (1984), Chico Buarque Apresenta Malandro (1986) e Ópera do Malandro (trilha do filme, 1986). Enfim, resumindo, é o melhor do compositor carioca - cuja obra, de 1987 em diante, perderia progressivamente o apelo popular, apesar de um ou outro disco brilhante, como Paratodos (1993).

DVD documenta a brava música de Edu Lobo

sem gravar desde 2001, quando registrou músicas como A Moça do Sonho no CD com a trilha do musical Cambaio, composta com o parceiro Chico Buarque, Edu Lobo (foto) chega ao DVD com o documentário Vento Bravo. Assinado por Beatriz Thiellman e Regina Zappa, o filme tem patrocínio da Petrobrás. A tiragem inicial de duas mil cópias do DVD será distribuída em escolas, bibliotecas, universidades e instituições que ensinam música. Depois, em data ainda incerta, o documentário chegará ao mercado no cinema ou mesmo nas lojas.

Já exibido em sessões privadas, o vídeo tem um tom documental e mistura depoimentos de parceiros e colegas como Chico Buarque e Dori Caymmi com imagens de Lobo em cena. Há takes de show feito pelo compositor em 2006 na casa Mistura Fina (RJ). O último disco solo de Edu Lobo, o belo Meia-Noite, foi editado em 1995.

Davi Moraes vai produzir disco solo de Jauperi

Davi Moraes (foto) vai produzir o disco solo que Jauperi - um dos líderes dissidentes do grupo baiano Vixe Mainha (ex-Afrodisíaco) - vai gravar em 2007. Mas o Vixe Mainha, a sensação do axé entre fim de 2005 e início de 2006, continua e planeja DVD para 2007.

E por falar em Davi Moraes, ele participa (como guitarrista) da gravação do segundo DVD de Ivete Sangalo, programada para o próximo sábado - 16 de dezembro - no estádio do Maracanã (RJ).

Retrô 2006 - Detonautas sobrevivem à tragédia

No fim da tarde dominical de 4 de junho de 2006, tragédia urbana abalou - mas não destruiu - o sexteto carioca Detonautas Roque Clube (foto). O guitarrista da banda, Rodrigo Netto, foi assassinado aos 29 anos após tentativa de assalto. O músico voltava de almoço em família e guiava seu carro pela avenida Marechal Rondon, no Rocha (bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro), quando o veículo foi abordado e baleado por assaltantes. Rodrigo morreu no local.

Mesmo abalados com a perda violenta do colega, os integrantes do Detonautas logo comunicaram em nota oficial, datada de 9 de junho, que o grupo iria prosseguir com suas atividades. E assim foi feito... Além de cumprir a agenda de shows, a banda lançou neste fim de ano o livro Mais Além, batizado com o nome de música de seu primeiro disco. Sem a pretensão de ser autobiografia, o livro retrata o cotidiano do grupo através de fotos, diários, quadrinhos, ilustrações, letras e textos extraídos do blog do sexteto. As fotos são de Marco Terranova. Gabriel O Pensador é o autor do prefácio.

A morte de Rodrigo Netto aconteceu no exato momento em que o Detonautas começava a ganhar a atenção da crítica por conta do terceiro trabalho, Psicodeliamorsexo&distorção, editado em março. Quando lançou seu segundo álbum, Roque Marciano, o grupo já sinalizara que sua carreira poderia ir além de um sucesso emplacado no seriado juvenil Malhação (Quando o Sol se For, o hit do primeiro disco). Letras mais adultas e som mais encorpado mostraram alguma evolução. Mas o som do grupo ganhou mesmo atitude a partir do terceiro CD. Até que não tinha tanta psicodelia como sugeria o título, mas tinha alguma distorção e muito peso, a começar pelas duas faixas que abrem o disco, No Escuro o Sangue Escorre e Não Reclame Mais (a boa primeira música de trabalho).

Com pegada forte, o produtor Edu K (do De Falla, grupo gaúcho dos anos 80) tratou com capricho um repertório que, a rigor, nem soava tão original. Psicodeliamorsexo&distorção é um disco de rock, eventualmente retrô como em Sonhos Verdes. Às vezes, mais uptodate - caso de Dia Comum. Mas, em essência, um rock honesto, como atestaram faixas como Ela Não Sabe (Mas Nós Sabemos). Com beats mais desacelerados, Insone - longa faixa gravada ao vivo - foi a que mais bem sintetizou o título do álbum. Alguma psicodelia e distorção fizeram bem ao som do Detonautas. Tico Santa Cruz (voz), Tchello (baixo), Fábio Brasil (bateria), DJ Cleston (percussão e pick-ups), Rodrigo Netto (guitarra e voz) e Renato Rocha (guitarra, violão e piano) estavam no caminho certo. Pena que a violência urbana tenha tirado Netto da estrada.