Retrô 2006 - À meia-voz, Marina voltou inteira
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Foi um 2006 de saldo bem positivo para uma artista que somente vinha errando. Em 2003, dois anos depois de ter lançado inéditas no esmaecido CD Setembro, Marina Lima fez o jogo da indústria fonográfica e tentou voltar às paradas com Acústico MTV que, de tão inapropriado, foi dos poucos da série que não aconteceu no mercado. Gata escaldada aos 50 anos, a cantora procurou (e enfim encontrou...) tom mais pessoal e chique em Lá nos Primórdios.
A decepção foi certa para quem buscou no disco - produzido pela própria Marina com Renato Alsher - a compositora de seus áureos tempos, a autora de um pop redondo. Não havia hits instântaneos em Lá nos Primórdios. A voz também continuava sem o viço de outrora, mas não soou insuficiente dentro da atmosfera do CD. No estúdio, Marina formatou sonoridade crua e rascante, urdida com um canto eventualmente falado e com sons de sintetizadores e de guitarra. Uma ambiência eletrônica envolveu repertório formado por cinco inéditas, três recriações de lados B da obra da artista e incursões pelos repertórios de Chico Buarque e Laurie Anderson. Das inéditas, o tango pop Três e o indie rock Entre as Coisas foram os destaques. Anna Bella - inspirada na artista plástica Anna Bella Geiger - chamou mais atenção por verso questionador ("Por que as mulheres também não podem ter sua sauna gay?") do que pela melodia pouco inspirada. A balada Que Ainda Virão - a faixa mais intimista do disco e única inédita que ainda não tinha sido exibida no show Primórdios - também não foi das melhores criações de Marina. Já Valeu cresceu no remix de DJ Dolores, que acentuou a batida da ciranda apenas insinuada na mediana gravação original.
As três recriações da própria lavra da compositora estiveram em sintonia com o sotaque cru do álbum. Difícil (de Todas, álbum de 1985) é a do verso "Sexo é bom!", marco na época por ser ouvido na voz de uma mulher. $ Cara veio do repertório de A Próxima Parada, disco de 1989 cujo resultado final desagradou Marina. Por fim, Meus Irmãos era de O Chamado, bom álbum de 1993. O toque mais experimental ficou por conta de Vestidinho Vermelho, abusada versão de Alvin L para Beautiful Red Dress, tema lançado em 1989 por Laurie Anderson, cantora e compositora americana, identificada com a vanguarda. De clima underground, a bela faixa apareceu também em remix feito para as pistas por DJ Zé Pedro. A outra incursão de Marina Lima fora de sua seara autoral foi Dura na Queda, o samba composto por Chico Buarque em 2000 para peça baseada na vida da cantora Elza Soares. Marina ralentou o ritmo do samba, numa modernosa releitura que nunca empolgou.
Lá nos Primórdios foi arranjado (com rara unidade) por Marina com os músicos que tocaram no show quente e sexual que gerou o disco e que chegou ao Rio de Janeiro em 1º de setembro, em três apresentações que não chegaram a lotar o Canecão. Mas, nem por isso, Marina Lima pareceu menos feliz em cena. Ao realçar sua forte personalidade musical, a artista se redimiu dos fracos discos anteriores e mostrou que continua inteira, ainda que à meia-voz...
11 Comments:
muy bueno!
Mauro, faço minhas todas as suas palavras. No alvo.
Embora eu ache bem razoável este CD da Marina, gosto mesmo é dos mais antigos. Sem comparação em todos os sentidos.
Marina já era! Ela só fez algo muito legal até o disco Fullgás... depois foi ladeira abaixo! Não sei como as gravadoras permitem q ela grave tanta porcaria e ainda por cima sem voz nenhuma.
Por favor...
nossa, dessa vez o colunista abusou de frases de efeito... em vez de crítica, vira "literatice"!!!
rosemberg
não vi o o show, mas pelo que li não foi um grande sucesso de publico, por isso minha pergunta:
mauro vc acha válido registrar em dvd um show que não aconteceu
Ana Bella, é linda!Adoro.
Mas Marina 1° 2° 3°! e 5° meus preferidos!
Rosemberg, acho válido registrar todo show belo e importante para a trajetória do artista. Primórdios foi sucesso de público em SP. No Rio, não aconteceu tanto. Mas é bacana, sofisticado, até ousado.
Ouvi falar que Marina apresentou este show, ou parte dele, em San Francisco, California.
Tive dois trabalhos:
1) baixar o album todo
2) deleter o album todo
Show de horrores.
Melhor álbum de Marina, na minha opinião. Acho incríveis a criatividade, a ousadia, a personalidade e o talento para compor dessa artista. A voz pode ter perdido potência, mas o timbre é o mesmo e é marca registrada. No atual cenário da música brasileira, e há muito tempo, não conheço ninguém melhor do que ela. Abraço.
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