5 de abril de 2008

'Bituca' faz ressoar tambores de Minas e Milton

Resenha de musical
Título: Bituca - O Vendedor de Sonhos
Direção: João das Neves
Direção musical: Gilvan de Oliveira
Elenco: Laura Castro, Maurício Tizumba, Sérgio Pererê e Titane (em foto de Paula Kossatz)
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz no Teatro Nelson Rodrigues (RJ)
De quinta-feira a domingo, às 20h30m. Até 13 de abril

Enraizada na força da terra das Geraes, no magnetismo da raça negra e na magia ritualística da fé católica, a música de Milton Nascimento é tão grande e universal que nunca coube nas fronteiras mineiras. Mas é na terra das Geraes que ela se alimenta e faz brotar Bituca - O Vendedor de Sonhos, espetáculo que presta tributo a essa música de caráter absolutamente original e sem antecedentes na MPB. Embora inserido na atual programação teatral do Rio de Janeiro, o espetáculo não possui estrutura dramática mínima que lhe configure a forma de musical. É, antes, um show em que um entrosado quarteto entrelaça suas vozes para passear pela obra já quase sacra do compositor. De teatro mesmo, há apenas a dramatização de trecho de conto de Guimarães Rosa que inspirou um álbum de Milton Nascimento (Yauaretê, 1987).
A harmonia vocal do quarteto já salta aos ouvidos em Ânima (1982), número feito logo após a abertura instrumental em que Gilvan de Oliveira sola no seu violão fragmentos de melodias como San Vicente (1972). Após breve conversa de Gilvan com o elenco, ocasião em que os quatro cantores expõem em falas supostamente naturais as sensações provocadas pela música de Milton, Bituca começa a tomar a forma de um show. É quando fica evidente a superioridade vocal da ala masculina sobre a feminina. Os mineiros Maurício Tizumba e Sérgio Pererê - ambos cantores, compositores e percussionistas - evocam inclusive na forma física a figura do autor homenageado. É como se um Milton jovem (Pererê) fosse confrontado em cena com um Milton mais maduro (Tizumba) num envolvente jogo de espelhos. O timbre da voz de Pererê o aproxima mais do canto metálico de Milton, e isso fica evidente em solos como Pai Grande (1970), mas a força ancestral que parece reger o canto de Tizumba o põe em pé de igualdade com o colega e o torna intérprete ideal de músicas como Canção do Sal (1966), a música que lançou Milton Nascimento no mercado fonográfico através da voz de Elis Regina (1945 - 1982). Não por acaso, o dueto de Pererê e Tizumba em Louva-a-Deus (1997) é um dos pontos altos do roteiro. É quando, além das vozes, ressoam os tambores de Minas que formam uma das bases rítmicas da música de Milton - percutidos com alegre vivacidade.
À medida que o roteiro vai sendo desfiado, alternando clássicos de Milton com lados B como Promessas do Sol (1976) e Lágrima do Sul (1985), o espetáculo vai crescendo e envolvendo o espectador. Titane - cantora cuja trajetória fonográfica já se entrelaçou com a do diretor João das Neves e do violonista Gilvan de Oliveira em discos como Inseto Raro (1996) - tem seu melhor momento ao entoar, sentada, E Daí (1978). Contudo, acima de individualidades, o espetáculo tem sua força enraizada na união dos quatro intérpretes. Os números coletivos - entre eles, o partido alto Circo Marimbondo (1976), o samba ternário Cravo e Canela (1972) e Raça (1976) - têm tom invariavelmente harmonioso e quase sempre vibrante. Em Maria Maria (1976), o bailado de Laura Castro e Titane por dentro do emaranhado de fios que foram o cenário realça o visual do número em boa marcação cênica do diretor João das Neves. No todo, Bituca - O Vendedor de Sonhos é boa surpresa da temporada carioca por enfatizar o poder já mítico da linda música de Milton Nascimento.

Roteiro de Bituca - O Vendedor de Sonhos
1. Ânima (1982)
2. O Vendedor de Sonhos (1987)
3. Circo Marimbondo (1976)
4. Cravo e Canela (1972)
5. Itamarandiba (1979)
6. Pai Grande (1970)
7. Lágrima do Sul (1985)
8. Menino (1976)
9. Fé Cega, Faca Amolada (1975)
10. Ponta de Areia (1974)
11. Morro Velho (1967)
12. Canção do Sal (1966)
13. Outubro (1967)
14. Vera Cruz (1968)
15. Louva-a-Deus (1997)
16. O Rouxinol (1997)
17. Maria Maria (1976)
18. Promessas de Sol (1976)
19. E Daí (1978)
20. Caxangá (1977)
21. Raça (1976)
22. Notícias do Brasil (Os Pássaros Trazem) (1971)

Filme foca o olhar baiano de Caetano no mundo

Resenha de documentário
Título: Coração Vagabundo
Direção: Fernando Grostein Andrade
Cotação: * * * 1/2
Em exibição no festival É Tudo Verdade
São Paulo: CineSesc (6 de abril, às 21h)
Brasília: Centro Cultural Banco do Brasil (18 de abril, às 14h)
Recife: Fundação Joaquim Nabuco (20 de abril, às 19h)

É significativo que, na última tomada de Coração Vagabundo, filme que documenta andanças de Caetano Veloso por Estados Unidos e Japão durante a turnê internacional do álbum A Foreign Sound (2004), o compositor baiano revele para as câmeras do jovem diretor Fernando Grostein Andrade o desejo de ser enterrado em Santo Amaro da Purificação (BA), sua terra natal, ao lado dos túmulos do pai, José, e da filha, Júlia, morta logo após seu nascimento. É que Coração Vagabundo foca o olhar do estrangeiro Caetano no mundo. Por mais cosmopolita e universal que seja a obra do artista, e ela o é em larga escala, a visão de Caetano parte de Santo Amaro e é dessa janela que Caetano parece perceber o mundo ainda hoje, mais de 40 anos após ter migrado para Salvador e, já na seqüência, Rio de Janeiro.
Filmado entre 2003 e 2005, o documentário flagra Caetano antes, durante e depois das gravações do álbum em que expôs seu olhar sobre a música norte-americana. Coração Vagabundo, aliás, nasceu para ser o saboroso extra de um DVD que registraria o show A Foreign Sound, mas que acabou não sendo editado porque coincidiu com o momento tenso da separação de Caetano e Paula Lavigne - descrita no filme pelo cineasta espanhol Pedro Almodovar como uma "personagem exuberante, barroca e exagerada". Lavigne, aliás, aparece no filme e protagoniza alguns takes de involuntário humor como a cena em que expõe o ciúme de Gisele Bündchen, que foi cumprimentar um embevecido Caetano após o show do artista no Carnegie Hall (NY, EUA). Foi o show que teve seu embrião nas apresentações feitas pelo cantor no bar Baretto (SP), em 2003. O filme também exibe imagens da passagem do artista por São Paulo - onde ele é menos estrangeiro.
O mérito do diretor é revelar traços da personalidade de Caetano ao documentar fatos cotidianos das andanças do baiano pelo mundo. A cena em que o artista divaga em Nova York sobre comentário depreciativo de Hermeto Paschoal - que apontou Caetano como um "musiquinho" - exemplifica sua dificuldade de assimilar críticas por mais que seu discurso aparente o contrário. O humor que permeia os 60 minutos do filme volta pleno nas cenas hilárias em que Caetano aparece num templo budista japonês, apresentadas antes da seqüência em que o artista discursa de forma racional sobre sua aversão às instituições religiosas (Caetano não se refere especificamente ao budismo ou a qualquer outra religião, mas ao poder manipulador das religiões).
De certa forma, Caetano Veloso se expõe neste documentário que o desnuda através de suas opiniões -e não por conta do breve take inicial em que o artista aparece realmente nu, de relance, no banheiro de um hotel. E, para quem prefere a música às opiniões, Coração Vagabundo exibe fragmentos de números do show A Foreing Sound. A apresentação da canção Terra (1978) em show no Japão é exemplo de que como a música de Caetano Veloso permanece transcendental como o cinema que a inspirou ainda na baiana Santo Amaro - a janela do artista para o universo.

MPB defende a parceria de Vergueiro com Lima

Letrista de sucessos como Perigo e Transas, hits de Zizi Possi e Ritchie em 1986, o baiano Paulinho Lima mantém há mais de dez anos uma parceria com o pianista, arranjador e produtor musical Guilherme Vergueiro. A dupla celebra sua união no CD justamente intitulado Parceria. Editado pela Lua Music, o disco apresenta 12 músicas dos dois compositores nas vozes de nomes como Jards Macalé, Jussara Silveira, Ney Matogrosso e Preta Gil, que pôs voz em Você É minha Vida, música inicialmente cogitada para Norma Bengell. Assim como a música Com Lágrimas na Voz foi composta para Cauby Peixoto e acabou registrada por Luiza Possi. Três das 12 gravações - Não Vou Reclamar, Hora de Pagar e Eu Amo o Rio de Janeiro - não são inéditas, já tendo sido editadas no álbum Tanta Luz (2002). Eis as músicas e intérpretes do CD Parceria:
1. Não Vou Reclamar - Alcione
2. Pijama nem Pensar - Miltinho
3. Assim Não Dá... - Jards Macalé
4. Foi por Você - Jussara Silveira
5. Certeza de Nada - Ney Matogrosso
6. Tanta Luz - Cris Delanno e Nico Rezende
7. Você É minha Vida - Preta Gil
8. Beira de Rio - Pery Ribeiro
9. Hora de Pegar - Emilio Santiago e Sanny Alves
10. Com Lágrimas na Voz - Luiza Possi
11. Love Moderno - Luce
12. Eu Amo o Rio de Janeiro - Leila Pinheiro

Quarto CD do Funeral chega atrasado ao Brasil

Com quase um ano de atraso, a Warner Music está editando no Brasil o quarto álbum do quinteto galês Funeral for a Friend, que transita pelo rock pesado com eventuais links com o som emo. Produzido por Gil Norton, Tales Don't Tell Themselves foi lançado em maio de 2007. O disco chega realmente atrasado ao mercado brasileiro, pois, na seqüência de sua edição, o grupo já lançou Great Wide Open, um registro ao vivo captado em show feito em Londres, no qual a banda tocou todas as músicas de seus dois primeiros EPs, Between Order & Model (2001) e Four Ways to Scream your Name (2003), raros fora da Inglaterra.

4 de abril de 2008

'Mulher sem Razão' puxa 'Maré' de Calcanhotto

Parceria de Cazuza com Bebel Gilberto e Dé Palmeira, composta em 1986 e lançada por Cazuza em 1989 no álbum duplo Burguesia, Mulher sem Razão é a faixa que puxa Maré, o oitavo CD de Adriana Calcanhotto, nas lojas a partir de 18 de abril. É uma escolha até ousada da gravadora Sony BMG, pois, embora a gravação esteja dentro do alto padrão estético que norteia o disco, a faixa com mais jeito de hit radiofônico é Um Dia Desses, a singela canção de tom ruralista composta por Kassin a partir de versos do poeta tropicalista Torquato Neto (1944 - 1972). Single à parte, Maré também vai ser logo editado em formato digital na loja virtual UOL Megastore. A foto acima à esquerda, da série de divulgação, é de Gilda Midani.

Garrido deixa Cidade Negra em clima de tensão

Toni Garrido vai deixar o posto de vocalista do grupo Cidade Negra após os últimos shows da turnê Diversão. Embora não seja exatamente uma surpresa, uma vez que Garrido vem planejando sua carreira solo já há alguns anos, a saída do cantor foi decidida em clima pouco amistoso. Os três músicos remanescentes da banda cogitam até a possibilidade de convocar a imprensa para uma entrevista coletiva com o objetivo de esclarecer os fatos. Comenta-se nos bastidores que Garrido teria reivindicado uma licença de sua função de vocalista do quarteto para gravar e lançar seu disco solo, mas que os músicos não teriam chegado a um acordo sobre sua saída. Garrido, então, teria tomado a decisão de sair do Cidade Negra - atitude que teria irritado seus colegas na banda, Bino, Da Gama e Lazão. O ambiente ficou pesado entre eles.

Gravação inédita de show de Marisa cai na rede

Embora o esperado DVD que vai trazer o registro do belo show Universo Particular, de Marisa Monte, ainda esteja em fase final de produção, uma gravação inédita do espetáculo já circula no Orkut, em comunidades dedicadas à artista. Não há informação de que se trata da gravação que vai ser editada em breve em DVD, mas a excelente qualidade técnica da captação dos 17 números do show sugere tratar-se de gravação feita diretamente da mesa de som. Eis as 17 músicas do show Universo Particular que circulam na internet:

1. Infinito Particular
2. Universo ao meu Redor
3. Carnavália
4. Vilarejo
5. Eu Não Sou da sua Rua
6. Aconteceu
7. Passe em Casa
8. Maria de Verdade
9. Carnalismo
10. Alta Noite
11. Satisfeito
12. Pra Mais Ninguém
13. Segue o Seco
14. Ao meu Redor
15. Pernambucobucolismo
16. Mais uma Vez
17. Não Vá Embora

Os 50 imaginários anos de Cazuza, ídolo dos 80

Cazuza faria 50 anos nesta sexta-feira, 4 de abril de 2008. É difícil imaginar como estaria hoje a música e a cabeça desse poeta e compositor que soube como poucos encarnar o espírito libertário do rock na década de 80. Cazuza personificava o exagero, o excesso. De talento. De vida. De amor. De poesia despudorada como a que pôs em letras antológicas feitas para os primeiros discos do Barão Vermelho, o grupo carioca que o projetou para o Brasil a partir de 1982. Cazuza era do rock. Mas também da música brasileira mais passional. É como se Janis Joplin encontrasse Lupicínio Rodrigues no Baixo Leblon. Com um aceno para Dolores Duran. E para os que transitavam no dark side.

Cazuza morreu jovem, devastado por uma Aids impiedosa que corroeu as defesas de seu organismo, mas que, em contrapartida, fortaleceu as imagens de seus versos, lapidados pela maturidade precoce imposta pela vivência de uma doença tão cruel. Aquele garoto que ia mudar o mundo morreu jovem. E, como todo jovem talento que sai forçosamente de cena na plenitude do cumprimento de sua missão artística, virou mito. Não envelheceu como artista diante de seu público. Difícil imaginar Cazuza aos 50 anos, já que, com 30, ele ousava ser um roqueiro que incursionava pela música brasileira quando ainda existia um muro imaginário dividindo o rock e a sagrada MPB. Cazuza embaralhou as cartas desse mercado no seu melhor disco solo, Ideologia, gravado em 1988 com urgência, já sob efeito das reflexões e balanços provocados pela doença. Certo é que sua obra passou com louvor na peneira do tempo por conta da forte originalidade.

P.S.: Para não dizer que não falei de tributos, a gravadora Universal Music vai lançar em maio um DVD com gravações feitas por Cazuza para a Rede Globo de Televisão. O DVD vai reunir takes captados em 1985 para o programa Mixto Quente e um especial produzido em 1989. Está sendo arquitetado também um grande show com participação de estrelas do rock e da MPB, que acontece em 1º de maio - no Rio de Janeiro (RJ) - e vira DVD.

3 de abril de 2008

Zizi faz 'Oração ao Tempo' com sua filha Luiza

Sete anos depois de ter apresentado sua filha Luiza Possi ao mercado fonográfico no disco Bossa (2001), em dueto feito na faixa Haja o que Houver, Zizi Possi voltou a cantar o sucesso do conjunto português Madredeus com sua rebenta. Luiza foi a convidada do quarto e mais concorrido show da série Cantos e Contos, apresentada por Zizi às terças-feiras na casa paulista Tom Jazz. O sucesso foi tanto que há a possibilidade de o encontro ser bisado numa casa maior como o Tom Brasil. Oração ao Tempo, obra-prima de Caetano Veloso regravada por Luiza em seu DVD e CD ao vivo A Vida É Mesmo Agora, foi uma das músicas cantadas em dueto por mãe e filha - chamada ao palco quando Zizi entoou Luiza, a valsa de Tom Jobim. As curiosidades foram a inclusão de dois sucessos do grupo Novos Baianos, Preta Pretinha e Besta É Tu. Eis o sensível roteiro do quarto dos 12 shows da série (a foto de Luiza e Zizi Possi em cena é da lavra de Ronaldo Aguiar):

1. Meu Amigo, meu Herói - Zizi Posssi
2. Luz e Mistério - Zizi Possi
3. Sentimental Demais / Dedicado a Você - Zizi Possi
4. Paixão e Medo - Zizi Possi
5. Luiza - Zizi Possi
6. João e Maria - Luiza Possi e Zizi Possi
7. Folhetim - Luiza Possi
8. Gandaia das Ondas - Luiza Possi
9. Haja o que Houver - Luiza Possi e Zizi Possi
10. Lua de Mel - Luiza Possi e Zizi Possi
11. Isla para Dos - Luiza Possi e Zizi Possi
12. Preta Pretinha - Luiza Possi e Zizi Possi
13. Besta É Tu - Luiza Possi e Zizi Possi
14. Uirapuru - Luiza Possi e Zizi Possi
15. Escurinha - Luiza Possi e Zizi Possi
16. Mais Simples - Luiza Possi
17. Tudo a Ver - Luiza Possi e Zizi Possi
18. Barato Total - Luiza Possi e Zizi Possi
19. Oração ao Tempo - Luiza Possi e Zizi Possi
20. Tempos Modernos - Luiza Possi e Zizi Possi

Saída de Zélia dos Mutantes ainda rende nota...

Com mais de seis meses de atraso, as saídas de Arnaldo Baptista e Zélia Duncan do grupo Os Mutantes - anunciadas em setembro de 2007 de forma quase simultânea - renderam uma Declaração Oficial à Imprensa, escrita por Sérgio Dias Baptista, intitulada Mutantes Depois... e enviada aos jornalistas na quarta-feira, 2 de abril de 2008. Por alguns trechos do discurso, nota-se que há mágoas de Sérgio Dias em relação aos ex-companheiros de banda.
"Fiquei e estarei sempre de luto por Arnaldo e, com Zélia, creio que me apressei ao julgá-la uma Mutante... Ela parecia tanto sê-lo, mas descobri que, em vez de Mutante, ela é uma transformer... Ela serviu para provar que (o grupo) Mutantes é maior do que qualquer um de seus membros individuais...", sentencia o guitarrista em trecho da declaração que deixa entrever a mágoa. Mais adiante, Sérgio Dias Baptista relata que Arnaldo e Zélia não quiseram compor com ele músicas para o disco de inéditas que a banda pretende lançar. "Tentei desde o começo junto ao meu irmão e a Zélia formar um núcleo de criação, mas foi infrutífero, pois eles não quiseram fazer músicas novas", relata Sérgio, acrescentando que, tempos depois, firmou parceria com Tom Zé.
A história da entrada de Zélia nos Mutantes nunca foi tão mágica como sustentava Sérgio Dias Baptista em reportagens que mais pareciam releases sobre a volta da banda. O primeiro nome sugerido para ocupar o posto de Rita Lee - que se recusou a reassumir a função de vocalista da banda da qual foi expulsa - foi Fernanda Takai, pela freqüente associação do som do Pato Fu com a criatividade dos Mutantes. Mas a sugestão do nome de Takai, feita pelo empresário Aluizer Malab, foi recusada pelo guitarrista. Chegou-se então ao nome de Rebeca Matta, que chegou a ser testada em ensaio, mas não foi aprovada. Foi então que Zélia, convidada por Sérgio, acabou assumindo o posto - numa atitude discutível para uma cantora que vinha de dois grandes discos consecutivos relacionados entre os melhores de seus respectivos anos (Eu me Transformo em Outras e Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band, de 2004 e 2005). Só que a carreira solo de Zélia Duncan - que vai lançar em breve CD e DVD divididos com Simone, Amigo É Casa - precisa seguir em frente e, como era previsível, a artista teve que deixar os Mutantes. Pois parece que somente Sérgio Dias não percebeu que Zélia é, sim, uma Mutante...

DVD duplo reaviva Ramones com imagens raras

A gravadora Warner Music está lançando no Brasil um DVD duplo que reúne imagens históricas dos Ramones, o pioneiro grupo punk formado em Nova York (EUA) na primeira metade dos anos 70. Ramones It's Alive 1974 - 1996 reaviva o legado da banda com quatro horas de vídeos capturados em shows. Há desde as primeiras e já lendárias aparições feitas pelos Ramones em 1974 no CBGB, primeiro reduto punk de Nova York, até números filmados em março de 1996 em apresentação do grupo no estádio River Plate, em Buenos Aires, na Argentina. Os 33 vídeos estão dispostos em ordem cronológica.

Murat coreografa 'Maré' no passo firme do rap

Resenha de filme
Título: Maré, Nossa
História de Amor
Direção: Lúcia Murat
Cotação: * * *

Em exibição nos cinemas a partir de 4 de abril de 2008

Já no extenso número de abertura, o que apresenta os créditos do filme ao som de Favela (Marcelo Falcão e Xandão) na voz do ator e cantor Vinicius D'Black, fica claro que a música é a protagonista de Maré, Nossa História de Amor - o longa-metragem de Lúcia Murat que estréia na sexta-feira, 4 de abril, em circuito nacional. Murat coreografa e, de certa forma, até estiliza a Favela da Maré no compasso firme do rap e das danças características do hip hop.
Já fixada nos morros e favelas, a cultura do hip hop molda a trama de Maré, que traz o conflito básico de Romeu e Julieta, a peça de William Shakespeare, para o universo das periferias cariocas. Os amantes são o MC Jonatha (D'Black, convincente por se dedicar à música fora do set - ele foi contratado pela gravadora Universal Music) e Analídia (Cristina Lago), os apaixonados que se vêem impedidos de amar não por pertencerem a famílias rivais, como na história original do bardo inglês, mas por estarem indiretamente ligados por seus familiares a facções rivais na dura guerrilha do tráfico que impõe regras e divisões nas comunidades.
Em Maré, os números musicais paralisam a narrativa em vez de fazê-la avançar - como nas peças teatrais do gênero. Mas têm sua força na trama porque calcados na cultura hip hop da dança e do rap. É especiamente envolvente a cena em que o casal protagonista canta e dança na Linha Vermelha na companhia de um coro. Na rodovia que liga facções opostas da partida cidade do Rio de Janeiro, a turma expõe para todos os cariocas a sua ideologia ao juntar Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero) - grande sucesso do grupo O Rappa em sua fase com Marcelo Yuka - e Som de Preto, hit dos bailes funks que também esfrega na cara da classe média o preconceito contra a música e as pessoas da favela.
Murat não tira foco dos problemas sociais da Maré, mas, longe de mostrar a realidade nua e crua de uma favela, a diretora optou por poetizar uma história de amor contada ao som da música e da dança (os protagonistas integram um grupo de aspirantes a bailarinos que freqüentam as aulas dadas pela professora encarnada por uma Marisa Orth fora de seu habitual tom de comédia). A participação do Nação Maré - um trio de rap formado por MS Bom, Leroy e Nego Jegg, moradores reais da favela que serve de cenário para o filme - legitima a trilha sonora, editada esta semana em CD pela gravadora CID. A intenção da diretora foi que o Nação Maré funcionasse como o coro grego que, no teatro, comenta e até mesmo intervém no enredo. O trio marca presença.
A presença de um grupo de dança no eixo central da narrativa acaba por fazer a fusão da música popular com a erudita. A cena em que o casal protagonista transa ao som de Romeo and Juliet, tema de Sergei Prokofiev, tem sua beleza e funciona quase como um contraponto para as batalhas de rap e para as guerras de bandidos que também fazem parte da cena. Ritmo que já não domina o morro, o samba também entra nessa dicotomia popular-erudito e marca especial presença na cena em que Flávio Bauraqui (Paulo) canta O Mundo Já se Acabou, de Walter Alfaiate, com D'Black. Maré, Nossa História de Amor expõe na tela uma realidade já muito explorada pelo cinema nacional, mas o olhar poético e musical de Murat renova o interesse pelo (batido) tema.

2 de abril de 2008

Show de Ana é mais sedutor na lente de Carelli

Resenha de CD e DVD
Título: Dois Quartos
Multishow ao Vivo
Artista: Ana Carolina
Gravadora: Armazém
/ Sony BMG
Cotação: * * *

Justiça seja feita: o diretor Rodrigo Carelli - escalado para pilotar a gravação do show Dois Quartos, feita por Ana Carolina em São Paulo (SP) em novembro de 2007 - conseguiu até tornar o show melhor pelas lentes atentas de suas câmeras. A caprichada captação de imagem ameniza a frieza original do espetáculo (dirigido com requinte por Monique Gardenberg) e valoriza sua edição em DVD, mas não tira o foco do principal problema do show: seu roteiro de altos e baixos, calcado num excessivo disco duplo que não conseguiu reeditar nas rádios o êxito dos álbuns anteriores da talentosa cantora e compositora.
Para fãs, e Ana Carolina os têm em larga escala, a edição simultânea do CD e do DVD - produtos inaugurais do selo da artista, Armazém, vinculado à gravadora Sony BMG - propicia também a oportunidade de ouvir três ótimas músicas compostas por Ana para cantoras. Duas permaneciam até então inéditas na voz da autora. Por estranho acaso, ou por generosidade mesmo, a compositora ofereceu as melhores músicas de sua recente safra autoral para suas colegas. Dois Quartos - Multishow ao Vivo cumpre a função de registrar na voz de Ana o delicioso samba Cabide (entregue para Mart'nália), a guarânia Eu Que Não Sei Quase Nada do Mar (composta por Jorge Vercilo sob encomenda para Maria Bethânia) e a canção pop Sinais de Fogo (hit do primeiro disco de Preta Gil). A propósito, é injustificável a exclusão de Sinais de Fogo do repertório selecionado para o CD em favor de músicas menores como Milhares de Sambas e Rosas. Embora a música tenha entrado no DVD anterior Estampado - Um Instante que Não Pára, nunca fez parte dos CDs de Ana...
Fora da seara autoral, há incursões por Fever (Eddie Cooley e Davenport) e Eu Sou Melhor que Você (Maurício Pacheco) - músicas que, unidas a Cantinho no erotizado bloco inicial, causaram polêmica na estréia do show em Belo Horizonte, em junho de 2007 - e pelo universo refinado de Marina Lima e Antonio Cicero. Mas cantar uma pérola como Três não é tarefa das mais fáceis. O registro de Ana atenua a leveza da música (nem mesmo Adriana Calcanhotto, cuja sofisticação guarda maior parentesco com a obra de Marina, conseguiu superar no CD Maré o registro feito pela autora no CD Lá nos Primórdios, de 2006).
Dois Quartos - Multishow ao Vivo deixa a sensação de que Ana Carolina precisa se renovar com urgência para manter o sucesso e reeditar o prestígio obtido em seu primeiro belo álbum.

Cordas realçam melancolia autoral de k.d. Lang

Resenha de CD
Título: Watershed
Artista: k.d. Lang
Gravadora: Nonesuch
/ Warner Music
Cotação: * * * 1/2

É difícil não se deixar seduzir pela beleza encantadora de I Dream of Spring, música que abre o (bom) primeiro álbum de repertório inédito e autoral de k.d. Lang em oito anos. Watershed tem sua melancolia pontuada por cordas - às vezes orquestradas de forma excessiva, como em Thread - mas é mais um disco que reafirma a elegância da obra de lang. O sucessor de Invincible Summer (2000) é mais cinzento e introspectivo, mas nem por isso menos inspirado. Honra o histórico de Lang como compositora em músicas como Je Fais la Planche, Coming Home (adornada com um banjo que remete à atmosfera country do início de carreira da artista canadense) e Sunday. O álbum peca somente por ser linear e por cair ligeiramente na segunda metade. Contudo, é pautado por sutilezas que valorizam as 11 músicas, gravadas no tempo da delicadeza. A voz macia, de tom sensual, da cantora contribui para criar atmosfera requintada que contentará admiradores da discografia coerente e sem tropeços de k.d. Lang.

Clara é pouco lembrada nos 25 anos de morte

Faz 25 anos nesta quarta-feira, 2 de abril de 2008, que Clara Nunes saiu de cena, vítima de complicações decorrentes de uma operação de varizes. A gravadora que detém toda a obra fonográfica da cantora - a EMI Music, herdeira do acervo da extinta Odeon - planeja bem-vinda reedição revista da desleixada caixa mal-editada em 2004. A mesma gravadora acaba de pôr nas lojas, de forma bem discreta, a compilação Mestiça, inspirada na biografia Guerreira da Utopia, escrita por Vagner Fernandes e editada em 2007. É pouco para uma artista da luminosidade e da importância de Clara Nunes. De 1971 em diante, seus álbuns formam uma das discografias mais ricas e coerentes da música brasileira. Viva Clara Nunes - ser de rara luz!

NX Zero revive em DVD trajetória até o sucesso

Autor de uma das músicas mais tocadas nas rádios durante 2007, Razões e Emoções, o grupo NX Zero refaz sua caminhada rumo ao estrelato em seu bom primeiro DVD, 62 Mil Horas até Aqui, editado pela gravadora Arsenal Music (do produtor da banda, Rick Bonadio) em parceria com a Universal Music. O título do DVD alude ao documentário de 36 minutos em que os cinco músicos revivem sua trajetória. O vídeo apresenta também Valendo, um set de 17 músicas gravadas em estúdio. Apenas Mais Uma de Amor, bela balada lançada por Lulu Santos em seu álbum Mondo Cane (1992), é a curiosidade do roteiro. O DVD inclui também os clipes de Além de mim, Pela Última Vez e, claro, do hit Razões e Emoções. Mentor do quinteto, Bonadio assina a produção do DVD.

1 de abril de 2008

Crow recupera vigor com produtor de CD áureo

Resenha de CD
Título: Detours
Artista: Sheryl Crow
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * *

Pode até ser coincidência, mas a retomada da (feliz) parceria da ativista Sheryl Crow com o produtor Bill Bottrell - que pilotou em 1993 a obra-prima dela, Tuesday Night Music Club - injetou ânimo e vigor no som de Crow. Talvez a vitória da artista contra um câncer de mama - abordado na faixa Make It Go Away (Radiation Song) - também tenha contribuído para renovar a energia da compositora, mas o fato é que o mix de rock, pop, country e folk de Crow poucas vezes soou tão sedutor. Detours é um de seus grandes álbuns. Desde a primeira faixa, God Bless This Mess, ouvida num delicioso registro de voz-e-violão intencionalmente sujo e com ar caseiro, fica claro que a chama voltou a queimar. A explosiva Gasoline, de alto teor político, reitera o calor do álbum. Seja pelo provocativo acento árabe de Peace Be Upon Us, seja pela força de músicas como Shine Over Babylon e Love Is Free, seja pela pegada pop de Love Is All There Is, Detours repõe Sheryl Crow em lugar de destaque na cena pop norte-americana. Ela retornou ao clube da boa música...

Blige levanta estima feminina com discurso viril

Resenha de CD
Título: Growing Pains
Artista: Mary J Blige
Gravadora: Arsenal /
Universal Music
Cotação: * * * 1/2

The Breakthrough, álbum lançado por Mary J Blige em 2005, levantou a auto-estima da boa cantora no mercado fonográfico após alguns discos de menor expressão artística e comercial. Growing Pains, ótimo sucessor do CD que devolveu o status a Blige, saiu nos Estados Unidos em dezembro e chega ao Brasil com três meses de atraso porque seu mix de r&b, soul, pop e rap dificilmente vai ser incensado no mercado nacional como é cultuado no norte-americano. Mas o fato é que o oitavo trabalho de estúdio de Blige a mantém em alta cotação. Mesmo sem ser tão explosivo quanto The Breakthrough, oferece munição certeira para garantir a atenção dos admiradores da artista. Blige, que já sofreu na mão de homens exploradores, canta letras que exaltam a auto-estima das mulheres. As três primeiras faixas de Growing Pains - Work That, Grown Woman (com intervenção do discurso do rapper Ludacris) e Just Fine - têm batidas particularmente explosivas. Depois, o disco desacelera e perde (um pouco) o pique, mas sem deixar cair o nível do discurso femininista. "Feel Like a Woman", sentencia Blige já no título de uma das 16 faixas, com o vozeirão que continua em forma (como pode ser percebido em Hurt Again). Feel Like a Woman reproduz na letra o discurso feito por uma mulher para o parceiro insensível. É por essa seara feminina que transita o som novamente poderoso de Mary J Blige.

Em show, Takai abre o leque estilístico de Nara

Resenha de show
Título: Onde Brilhem os Olhos seus
Artista: Fernanda Takai
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 31 de março de 2008
Cotação: * * * *
Sucesso na voz de Eliana Pittman em 1974, Sinhá Pureza nunca mereceu registro na voz de Nara Leão (1942 - 1989). Mas o tema de Pinduca, que celebrava a fusão de ritmos do Norte como o carimbó, integra o roteiro do primeiro show solo de Fernanda Takai para evocar a origem da artista - nascida no Amapá - e para abrir ainda mais o já amplo leque estético do repertório de Nara, mote do primeiro disco individual de Takai, Onde Brilhem os Olhos seus, que já vendeu expressivas 25 mil cópias desde seu lançamento, em novembro de 2007. Distribuído pela Tratore de início, o CD passou a ser comercializado pela gravadora Deckdisc.
Ao subir ao palco do Teatro Rival para gravar ao vivo sua participação no Palco MPB FM, programa da homônima emissora carioca dedicada à música brasileira, Takai apresentou no Rio, em versão reduzida, o show que estreou em São Paulo (SP), em 8 de março de 2008, e já passou por capitais como Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS) antes de aportar no Canecão (RJ), em apresentação agendada para 2 de maio, ocasião em que Takai vai completar o roteiro com incursões inéditas pelas searas de Michael Jackson (Ben), Eurythmics (There Must Be an Angel), Duran Duran (Ordinary World, rock linkado a Estrada do Sol, canção de Dolores Duran e Tom Jobim incluída por Takai no seu incensado CD solo) e da própria Nara Leão (O Barquinho e O Divã).
No show, Takai reproduz a atmosfera delicada do disco e - como no CD idealizado por Nelson Motta - se escora no instrumental inventivo do tecladista Lulu Camargo e do guitarrista John Ulhoa, mentores da sonoridade moderna que deu novas nuances ao repertório de Nara. Ao vivo, a levada pop de Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos levanta a platéia, logo motivada a fazer coro com a cantora nos versos da música de Roberto e Erasmo Carlos. Seja o meu Céu também acelera os beats da banda com sua estilizada batida nordestina. Enquanto Com Açúcar, com Afeto (Chico Buarque) se exibe reinventada com suave pegada roqueira que evoca o som do Pato Fu, o grupo mineiro do qual Takai faz parte ao lado de Ulhoa e Camargo. "Esse disco solo não rompe com a minha história. Ele cabe perfeitamente na discografia do Pato Fu", reitera a artista em cena depois de entoar, de forma graciosa, o choro Odeon e de apresentar sua abordagem cool de Insensatez. Em sintonia com os barulhinhos bons do Pato Fu, Takai se porta no palco com desenvoltura e charme. Sem perder sua aura tímida.
Cantora de repertório multifacetado, Nara foi a primeira a dedicar um disco ao cancioneiro de Roberto e Erasmo Carlos num ano, 1978, em que a dupla de compositores ainda tinha sua obra romântica avaliada com desdém pelos patrulhadores ideológicos. É dentro deste contexto plural, permitido pela coragem de Nara em implodir rótulos e diferenças, que Takai pesca uma pérola kitsch do repertório do cantor Evaldo Braga (1947 - 1973), Esconda o Pranto num Sorriso. Com classe, e sem preconceito, Takai reduz o teor sentimental desse hit do cancioneiro popular aos níveis mínimos de glicose. A voz não é volumosa ("Sou uma cantora de microfone", assume em cena), mas, como Nara, Takai sabe abordar repertório alheio com elegância e refinamento. Ela brilha em sua primeira aventura solo nos palcos. À altura de Nara.

Mombojó quer Kassin na produção de seu disco

Se depender da vontade do Mombojó, o ultra-requisitado Kassin estará envolvido na produção do terceiro álbum do grupo de Pernambuco. Ainda sem título e em fase embrionária de gestação, o sucessor de Homem-Espuma (2006) vai ser gravado de forma independente. O lançamento está previsto para o segundo semestre de 2008. Sem descartar o CD como mídia tradicional, a idéia da banda é experimentar a edição do disco em formatos de custo mais reduzido - casos do SMD (Semi Metalic Disc) e do MP3.

31 de março de 2008

Universal esclarece fato sobre o CD de Leonardo

A companhia Universal Music se pronunciou sobre a resenha do CD que Leonardo lança esta semana, Coração Bandido. Publicado no domingo, 30 de março, o texto da resenha criticava o fato de o cantor ter sido induzido a gravar um repertório que ia além do universo sertanejo em seu disco anterior, De Corpo e Alma, editado pela Universal em 2006. A gravadora alega que o álbum já estava pronto quando o passe de Leonardo foi negociado com a antiga gravadora do artista, a Sony BMG. Questionada pelo jornalista sobre o inapropriado dueto com Zeca Pagodinho, na faixa eleita para iniciar a promoção do álbum, a Universal admite que fez a ponte de Leonardo com Zeca, mas a pedido de Leonardo, que já tinha a música (De Latinha na Mão) - de acordo com a gravadora. Eis a réplica enviada pela gravadora Universal ao blog:

"Em relação à nota publicada no blog Notas Musicais sobre o cantor Leonardo, a Universal Music esclarece que o primeiro álbum do cantor na gravadora, De Corpo e Alma, NÃO foi produzido pela Universal Music e, portanto, o artista NÃO foi induzido a gravar repertório algum. O álbum, que já estava pronto quando Leonardo ingressou na Universal, foi adquirido como parte da negociação do artista com a Universal e veio formatado de sua antiga gravadora. Portanto, Coração Bandido é, de fato, o PRIMEIRO trabalho completamente produzido e realizado pela parceria de sucesso entre Leonardo e a Universal Music".

Nader encena na tela o teatro poético de Waly

Resenha de documentário
Título: Pan-Cinema Permanente
Direção: Carlos Nader
Cotação: * * * *
Em exibição no festival É Tudo Verdade
Rio de Janeiro: Unibanco Artplex (31 de março, às 14h)
São Paulo: CineSesc (1º de abril, às 21h. 2 de abril, às 13h)

É tudo mentira, costumava dizer Waly Salomão (1944 - 2003) a respeito da realidade cotidiana. Parceiro de Caetano Veloso e Jards Macalé, entre outros compositores para quem fez letras de músicas, o poeta sustentava que a vida era uma encenação em que todos vestem personagens - ou máscaras. Waly, figura lendária pontuada por excessos de linguagem, era ele próprio uma bela personagem. Que rendeu comovente documentário de Carlos Nader, amigo da personagem enfocada neste filme de estrutura pouco convencional que, embora até salpique informações biográficas de Waly, foge da intenção de reconstituir a trajetória deste baiano de Jequié que, nos anos 60, foi para o Rio de Janeiro com a cara, a coragem e a sua poesia para "pegar o sol com a mão".
Com uma câmera digital na mão e as idéias verborrágicas na cabeça de Waly, Nader filmou o poeta em eventos, happenings e passagens cotidianas desde 1994. A sedução de seu filme reside justamente na exposição destes fragmentos de espontaneidade construída. Nader encena na tela o teatro poético de Waly. Pan-Cinema Permanente - cujo título foi extraído de poema dedicado por Waly a Nader - é quase um monológo que dá voz à personagem principal. Tanto que os depoimentos de nomes como Antonio Cicero e Caetano Veloso são quase todos ouvidos em off. E eles reiteram o caráter teatralizado das atuações cotidianas do parceiro e amigo. "Ele era excessivo", admite um saudoso Caetano.
A força do filme está nas palavras de Waly e na edição pouco linear, intencionalmente cheia de buracos negros. Em seu delírio verborrágico de eventuais contornos barrocos, o poeta diverte e comove os espectadores em cenas como a entrevista que deu a um programa de uma emissora de TV síria. O apresentador vira marionete no teatro encenado ao vivo por Waly naquele programa em que o poeta canta os versos de Mel, celebrizados por Maria Bethânia na música que deu título ao seu álbum de 1979. Mais tarde, é a vez de Adriana Calcanhotto mostrar, a sós com seu violão, a música que fez para os versos revoltos ("Só meu sangue sabe tua seiva e senha / E irriga as margens cegas / De tuas elétricas ribeiras") de Teu Nome Mais Secreto, última parceria da cantora com o poeta, gravada recentemente por Calcanhotto em seu oitavo (e ainda inédito) álbum, Maré, nas lojas em 18 de abril.
"A vida é sonho", sentenciava Waly. Nader conseguiu traduzir na tela o espírito onírico e circense da performance de Waly em seu palco terreno. Pan-Cinema Permanente costura fragmentos poéticos com trechos de filmes Super 8 dirigidos por Waly na cena tropicalista dos anos 60. Não há aparente lógica na edição. Não há referências explícitas, que seriam lógicas, a Jards Macalé e a Gal Costa (ouvida somente na gravação original de Vapor Barato), duas personagens emblemáticas no teatro musicado de Waly. Mas tudo faz sentido. É o espírito festivo do poeta que domina a cena neste filme que, mais do que documentar ou catalogar, optou por celebrar sua passagem pelo mundo. Em todos os sentidos, já que há takes filmados em diversos países. Talvez tudo seja mesmo mentira. Só que as mentiras sinceras de Waly Salomão interessam.

Deckdisc já explora o acervo de Teresa Cristina

Embora tenha gravado apenas quatro álbuns desde 2002, Teresa Cristina já vai ganhar sua primeira coletânea de sucessos. A carioca Deckdisc - gravadora que, a pedido de Teresa, liberou em 2007 o passe da sambista para a multinacional EMI Music - vai lançar em abril a compilação Eu Sou Assim - O Melhor de Teresa Cristina & Grupo Semente. O precoce best of rebobina o repertório dos três primeiros discos da cantora e inclui As Forças da Natureza, samba regravado por Teresa e o Semente para álbum duplo que celebrou a obra de Clara Nunes (1942 - 1983). Na seleção, há Candeeiro, Quantas Lágrimas e O meu Guri.

DVD recorda a faceta gospel da obra de Dylan

Na virada da década de 70 para a de 80, Bob Dylan gravou dois álbuns - Slow Train Coming (1979) e Saved (1980) - com músicas gospel de sua autoria. Pouco celebrado, o repertório religioso do trovador rendeu em 2003 um CD, Gotta Serve Somebody - The Gospel Songs of Bob Dylan, em que estrelas da música gospel norte-americana recriavam as canções cristãs do compositor. A gravação deste disco foi documentada em DVD lançado em 2006 nos Estados Unidos e ora editado no Brasil pela gravadora carioca Coqueiro Verde. A faixa-título rendeu clipe de animação que evoca a figura de Dylan.

30 de março de 2008

Filme reabre caso de Simonal sem dar veredicto

Resenha de documentário
Título: Simonal Ninguém
Sabe o Duro que Dei
Direção: Cláudio Manoel,
Micael Langer e Calvito
Leal
Cotação: * * * * *
Em exibição no festival
É Tudo Verdade
São Paulo: CineSesc (4 de abril, às 21h. 5 de abril, às 13h)

Humorista do grupo Casseta & Planeta, Cláudio Manoel quis reabrir em seu primeiro filme um dos casos policiais mais controvertidos da música pop brasileira. Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei reconstitui a ascensão, glória e queda de um dos cantores mais populares do Brasil na virada dos anos 60 para 70. Condenado ao ostracismo depois que foi apontado como informante do Departamento de Ordem Política e Social (mais conhecido como Dops, o órgão repressor do regime militar instaurado no Brasil em 1964), Wilson Simonal (1938 - 2000) foi banido do cenário musical por conta dessa suposta associação com a ditadura. O documentário investiga Simonal sem condená-lo, mas também sem absolvê-lo. Cabe ao espectador, diante das versões dos fatos expostos no filme, dar o seu veredicto pessoal. O grande mérito da produção é documentar os fatos com precisão sem julgar Simonal.
O roteiro prima por entrelaçar os depoimentos - dados por nomes como Boni, Chico Anysio, Jaguar, Nelson Motta, Ricardo Cravo Albin, Miele, Pelé, Sérgio Cabral, Tony Tornado - com farto material de arquivo. É como se as imagens referendassem os testemunhos dos que conviveram com Simonal em sua fase áurea. E, no auge, Simonal era cheio de si - como pode ser percebido no seu dueto com Sarah Vaughan em The Shadow of your Smile, na maneira como regia a platéia dos programas da TV Record e na performance incendiária que obteve no show que fez no Maracanãzinho (RJ), em 1970, antes da apresentação de Sergio Mendes, o ofuscado astro principal da noite. Foi o auge da pilantragem, o subgênero inventado por Carlos Imperial para rotular a música de Simonal. "A pilantragem foi uma bobagem", resumiu Sérgio Cabral, com aguçada visão crítica do repertório (a rigor, irregular) do astro. Simonal alternou o lixo e o luxo da MPB.
Através dos depoimentos de colegas como Tony Tornado, o documentário toca de forma clara na questão racial que permeia toda a carreira de Simonal, pois sempre houve quem não engolisse o imenso sucesso popular daquele negro, filho de empregada doméstica, que tinha um suingue fenomenal, uma voz privilegiada e - cheio de si, em atitudes que beiravam a arrogância - desfilava com carros e louras, alfinetando as elites brancas do país tropical.
Em seu ano áureo, 1970, Simonal chegou a ser o cantor oficial do tricampeonato do Brasil na Copa do Mundo, no México. Mas o jogo começou a virar em agosto de 1971, quando Simonal mandou agentes do Dops dar uma surra no então contador de sua empresa, Raphael Viviani, sob a alegação de roubo. Nunca ouvido fora do inquérito policial instaurado para averiguar o caso, o depoimento de Viviani é a maior contribuição do filme para que a história seja entendida sob todos seus prismas. Com olhos marejados, Viviani nega o roubo e relata que o admitiu somente sob tortura dos agentes - tortura que, sustenta Viviani, incluiu choques elétricos.
Ingênuo, Simonal alegou que recorreu ao Dops por ter contatos no órgão e por estar sofrendo ameaças de terroristas. Foi outra atitude infeliz que o complicou quando o inspetor Mário Borges o denunciou na imprensa, sem provas, como informante do Dops. Tendenciosa e sensacionalista, a imprensa da época condenou Simonal e negou seu direito de defesa. Isolado como se fosse um leproso, como lembra Nelson Motta, Simonal viu as portas se fecharem e, mesmo tendo gravado regularmente discos até meados dos anos 70, ficou sem ter como divulgá-los nas casas de shows e na própria mídia. Foi o início de longa fase crespuscular que levou o cantor ao alcoolismo e à morte por cirrose hepática, em 2000, aos 62 anos, quando já perdera a voz e o suingue raros.
Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei conta de forma envolvente essa bela história que alternou cenas de alegria e tristeza. Não absolve e tampouco condena Wilson Simonal, mas esclarece fatos e enfatiza a força de seu canto. Um filme histórico!

Filme linear (re)conta a história do Joy Division

Resenha de documentário
Título: Joy Division
Direção: Grant Gee
Cotação: * * *
Em exibição no festival É Tudo Verdade
Rio de Janeiro: Unibanco Artplex (1º de abril, às 22h30m)
São Paulo: CineSesc (4 de abril, às 23h)

Joy Division, o documentário feito em 2006 pelo diretor Grant Gee sobre o grupo inglês que revelou Ian Curtis (1956 - 1980) e originou o New Order, reconta de forma linear e em tom oficial a breve, mas intensa, história da emblemática banda formada em 1976 em Manchester, a cinzenta cidade britânica. O valioso material de arquivo sustenta o documentário e impede que Joy Division apresente mera sucessão de depoimentos sobre fatos que, afinal, já são conhecidos pelos fãs do grupo e que geraram paralelo longa-metragem de ficção (Control, 2007) dirigido por Anton Corbijn em preto-e-branco com base no livro da mulher de Ian Curtis - Deborah - e já exibido no Brasil pelo Festival do Rio.
Trechos do livro de Deborah Curtis são projetados na tela, mas a autora não fala no filme, costurado por depoimentos dos três músicos oriundos do Joy Division (Bernard Summer, Stephen Morris e Peter Hook) e de Annik Honoré, a amante de Ian. Há uma tentativa do diretor - sobretudo no início e no fim do documentário - de fazer um paralelo entre a ascensão do Joy Division e a transformação de Manchester. Mas, no fim das contas, o que garante o interesse do filme é a trajetória atormentada de Ian Curtis, cujo suicídio, em maio de 1980, impôs fim abrupto ao Joy Division após dois cultuados álbuns (Unknown Pleasures - o LP de estréia de 1979 ao qual os músicos sobreviventes do grupo afirmam fazer restrições - e Closer, o mais bem-acabado segundo trabalho, editado em 1980 pouco antes da morte de Ian). A rigor, pouco ou nada é contado de novo. Mas a história oficial do Joy Division, sombria como o som do quarteto, é interessante.
Apresentado em primeira mão no Brasil na 13ª edição do festival É Tudo Verdade, o documentário Joy Division já tem garantida sua exibição em circuito nacional. As cenas em que o grupo de Ian Curtis pode ser visto ao vivo, tocando músicas como Love Will Tear Us Apart, redimem e minimizam a linearidade do filme - menos impactante do que o lendário grupo que fez história.

Produzido por Barros, Frejat grava terceiro solo

Frejat (em foto de Christian Gaul) prepara seu terceiro disco solo no estilo pop romântico. A produção foi confiada ao tecladista Maurício Barros, um dos fundadores do Barão Vermelho. Uma das faixas do disco de Frejat, Dois Lados, já pode ser ouvida na trilha sonora da novela Beleza Pura, recém-editada em CD pela Som Livre. Composta por Frejat sob encomenda para ser tema da personagem Norma, interpretada pela atriz Carolina Ferraz, a música sinaliza a linha pop do álbum, que vai ser lançado este ano. Dois Lados é parceria de Frejat com Maurício e Mauro Sta. Cecília.
E por falar em Maurício Barros, ele grava seu primeiro CD solo, Marraio. Uma música do repertório autoral é Horizonte Perdido.

Coração de Leonardo bate no compasso caipira

Resenha de CD
Título: Coração Bandido
Artista: Leonardo
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * *

Ao entrar na Universal Music, em 2006, Leonardo foi induzido a gravar repertório ruim que ia além do universo sertanejo. Até inapropriado dueto com Zeca Pagodinho foi providenciado para turbinar o CD que marcou a estréia do artista na major. Mas o disco não reeditou o sucessos dos álbuns que Leonardo lançava pela Sony BMG. Não é à toa que, em Coração Bandido, ele remói suas dores de amores no compasso sertanejo em que bate o coração de parcela expressiva do povo brasileiro. O repertório alterna baladas sentimentais - como Porque É Tão Cruel o Amor, Dois Passarinhos (com direito a violinos e cellos orquestrados no típico tom caipira) e a faixa-título - com temas animados compostos para animar os bailões sertanejos. São os casos dos arrasta-pés Rodo de Borracha e Pega Fogo Cabaré, de Mentirosa (faixa que tenta em vão clonar a batida latina do calipso) e do forró Por Favor Reza por Nóis. A produção de César Augusto segue à risca a fórmula do sertanejo mais comercial. Dez anos depois da morte de Leandro, em junho de 1998, o coração de Leonardo parece ter fôlego para bombar este som padronizado que continua no gosto do Brasil popularesco. E gosto se discute...