Murat coreografa 'Maré' no passo firme do rap
Resenha de filme
Título: Maré, Nossa
História de Amor
Direção: Lúcia Murat
Cotação: * * *
Em exibição nos cinemas a partir de 4 de abril de 2008
Título: Maré, Nossa
História de Amor
Direção: Lúcia Murat
Cotação: * * *
Em exibição nos cinemas a partir de 4 de abril de 2008
Já no extenso número de abertura, o que apresenta os créditos do filme ao som de Favela (Marcelo Falcão e Xandão) na voz do ator e cantor Vinicius D'Black, fica claro que a música é a protagonista de Maré, Nossa História de Amor - o longa-metragem de Lúcia Murat que estréia na sexta-feira, 4 de abril, em circuito nacional. Murat coreografa e, de certa forma, até estiliza a Favela da Maré no compasso firme do rap e das danças características do hip hop.
Já fixada nos morros e favelas, a cultura do hip hop molda a trama de Maré, que traz o conflito básico de Romeu e Julieta, a peça de William Shakespeare, para o universo das periferias cariocas. Os amantes são o MC Jonatha (D'Black, convincente por se dedicar à música fora do set - ele foi contratado pela gravadora Universal Music) e Analídia (Cristina Lago), os apaixonados que se vêem impedidos de amar não por pertencerem a famílias rivais, como na história original do bardo inglês, mas por estarem indiretamente ligados por seus familiares a facções rivais na dura guerrilha do tráfico que impõe regras e divisões nas comunidades.
Em Maré, os números musicais paralisam a narrativa em vez de fazê-la avançar - como nas peças teatrais do gênero. Mas têm sua força na trama porque calcados na cultura hip hop da dança e do rap. É especiamente envolvente a cena em que o casal protagonista canta e dança na Linha Vermelha na companhia de um coro. Na rodovia que liga facções opostas da partida cidade do Rio de Janeiro, a turma expõe para todos os cariocas a sua ideologia ao juntar Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero) - grande sucesso do grupo O Rappa em sua fase com Marcelo Yuka - e Som de Preto, hit dos bailes funks que também esfrega na cara da classe média o preconceito contra a música e as pessoas da favela.
Murat não tira foco dos problemas sociais da Maré, mas, longe de mostrar a realidade nua e crua de uma favela, a diretora optou por poetizar uma história de amor contada ao som da música e da dança (os protagonistas integram um grupo de aspirantes a bailarinos que freqüentam as aulas dadas pela professora encarnada por uma Marisa Orth fora de seu habitual tom de comédia). A participação do Nação Maré - um trio de rap formado por MS Bom, Leroy e Nego Jegg, moradores reais da favela que serve de cenário para o filme - legitima a trilha sonora, editada esta semana em CD pela gravadora CID. A intenção da diretora foi que o Nação Maré funcionasse como o coro grego que, no teatro, comenta e até mesmo intervém no enredo. O trio marca presença.
A presença de um grupo de dança no eixo central da narrativa acaba por fazer a fusão da música popular com a erudita. A cena em que o casal protagonista transa ao som de Romeo and Juliet, tema de Sergei Prokofiev, tem sua beleza e funciona quase como um contraponto para as batalhas de rap e para as guerras de bandidos que também fazem parte da cena. Ritmo que já não domina o morro, o samba também entra nessa dicotomia popular-erudito e marca especial presença na cena em que Flávio Bauraqui (Paulo) canta O Mundo Já se Acabou, de Walter Alfaiate, com D'Black. Maré, Nossa História de Amor expõe na tela uma realidade já muito explorada pelo cinema nacional, mas o olhar poético e musical de Murat renova o interesse pelo (batido) tema.
2 Comments:
não é o tema que é batido, é a realidade que não muda, e tem que se falar dessa realidade
vi o filme no festival do rio do ano passado e achei uó, cheio de clichês, os atores jovens não estão bem nos papéis, é um casal sem química alguma.
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