Wanderléa expande no palco instante luminoso
Título: Nova Estação
Artista: Wanderléa (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Cosipa Cultura (SP)
Data: 12 de dezembro de 2008
Cotação: * * * *
Em cartaz até domingo, 14 de dezembro de 2008
Recém-lançado pela gravadora Lua Music, o CD Nova Estação dá lufada de ar fresco na carreira de Wanderléa com repertório que, embora situado em pontos do passado da cantora, a tira do limitado universo musical da Jovem Guarda. No bonito show de lançamento do disco, em cartaz até 14 de dezembro de 2008 no Teatro Cosipa Cultura (SP), a Ternurinha confirma e expande esse luminoso momento de renovação. Com leveza, ela reproduz o repertório do álbum e adiciona dois temas suingantes que gravou nos anos 70, década em que lançou discos ousados que o público, surdo aos seus anseios de renovação, preferiu não ouvir. Trata-se do samba-rock Crioula (da lavra de Hélio Matheus) e de Ginga de Mandinga, parceria de Jorge Mautner com Rodolfo Grani Júnior. Os dois números encerram show que transcorre sedutor. Mesmo quando Wanderléa remói clichês sentimentais ao cantar música menor, Imenso Amor, parceria da intérprete com Renato Corrêa.
Graças à leveza do canto e da voz da cantora, algumas músicas do disco - como Nova Estação (Luiz Guedes e Thomas Roth) e Dia Branco (Geraldo Azevedo) - crescem e até ganham nuances no registro do palco. Até um momento menos inspirado do CD, como a abordagem em ritmo de reggae de Salve Linda Canção Sem Esperança (Luiz Melodia), adquire brilho no show. É que Wanderléa está feliz e até explicita essa felicidade em cena. Orgulhosa, a artista comenta com a platéia a satisfação de saber que Nova Estação foi eleito o Disco do Ano na votação realizada esta semana pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) e lembra que o repertório atual reflete sua trajetória, iniciada como cantora do Regional de Canhoto na Rádio Mayrink Veiga e prosseguida com a passagem, como crooner, pela orquestra de Astor Silva no começo dos anos 60. A caminhada pré-Jovem Guarda justifica o ecletismo de um roteiro que irmana lânguida abordagem jazzística de clássico norte-americano, My Funny Valentine, e a verve do melhor samba de Billy Blanco, A Banca do Distinto, veículo para Wanderléa jogar toda sua ginga adormecida.
Sob a feliz direção musical de Lalo Califórnia, a cantora reproduz os climas do CD Nova Estação e explora com êxito um registro vocal mais suave e grave. Contudo, Choro Chorão (Martinho da Vila) se ressente em cena da ausência do grupo Ó do Borogodó, convidado da gravação de estúdio. Da mesma forma que Se Tudo Pode Acontecer (Arnaldo Antunes) perde no palco a levada envolvente do disco. Outro detalhe: Wanderléa não dá ao medley que une O que É Amar e Eu e a Brisa a leveza exigida pelo fino cancioneiro de Johnny Alf. Nem por isso seu show - cujo roteiro inclui um único sucesso da Jovem Guarda, Ternura, cantado em coro pelo público - deixa de ser renovador como o bem-vindo CD que deu novos velhos ares à carreira então mofada de Wanderléa.