Renovada, Wanderléa sintoniza velhas estações
Resenha de CD
Título: Nova Estação
Artista: Wanderléa
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *
Como o amigo Erasmo Carlos, Wanderléa passou um tempo sentada à beira do caminho, perdida com o fim da Jovem Guarda. Contudo, justiça seja feita, nos anos 70, a Ternurinha se desviou da rota das tardes dominicais dos anos 60 numa série de discos renovadores - Maravilhosa (1972), Feito Gente (1975), Vamos que Eu Já Vou (1977) e Mais que a Paixão (1978) - que não conseguiram sedimentar a mudança de rumo da cantora (ao contrário do que aconteceu com o Tremendão). E o fato é que a carreira da cantora voltou a girar em torno de seu passado de glória. Daí a agradável surpresa desse Nova Estação, belo álbum que não vai mudar o curso da História nesta altura da vida da artista, mas que mostra Wanderléa em boa forma, sintonizada com repertório de abrangente leque estético que engloba samba (A Banca do Distinto, de Billy Blanco), choro (o esperto Choro Chorão, de Martinho da Vila) e canções de Geraldo Azevedo (Dia Branco, com citação de Carinhoso), Chico Buarque (Mil Perdões, pontuada pelo sax soprano de Ubaldo Versolato) e Johnny Alf (Eu e a Brisa, emendada com O Que É Amar), entre outros grandes compositores nunca associados ao canto pop juvenil de Wandeca.
"Renascer cada dia como a luz da manhã / Despertar sem medo, enganar a dor", receita Wanderléa na faixa-título do CD Nova Estação. É sintomático que a canção da lavra de Luiz Guedes e Thomas Roth abra este álbum em que a Ternurinha esboça um renascimento artístico, enganando a dor de não ter tido a carreira luminosa a que fazia jus. E há luz neste disco em que, renovada, a intérprete sintoniza velhas estações. Wanderléa está cantando muito bem e os arranjos (a maioria de Lalo Califórnia, produtor do disco ao lado de Thiago Marques Luiz) primam pela elegância. Sem mofo, embora estacionado no passado da música brasileira, o repertório foca pontos obscuros da trajetória de Wanderléa. My Funny Valentine - ouvido num registro jazzy de tom lânguido e sensual - evoca o tempo em que Wanderléa foi crooner da orquestra regida pelo trombonista Astor Silva, cantando músicas como este standard de Richard Rodgers e Lorenz Hart. Nesta estação renovadora, a cantora se arrisca até como arranjadora do pot-pourri de sambas que aglutina Chiclete com Banana, Adeus América e Eu Quero um Samba. Em faixa mais contemporânea, uma balada de Arnaldo Antunes - Se Tudo Pode Acontecer, em delicado arranjo pontuado pela guitarra slide tocada por Lalo Califórnia - credencia Wanderléa a sintonizar compositores de tempos mais atuais. Na contramão, mas sem aquele saudosismo jovem-guardista que tanto atrapalhou sua carreira, a cantora se reconecta aos parceiros das velhas tardes de domingo Roberto e Erasmo Carlos no Samba da Preguiça - pérola obscura da dupla, revivida pela Ternurinha sem a pegada de samba-rock do registro feito pelo Trio Mocotó em 1973 - e em Todos Estão Surdos, hino pacifista da fase soul do Rei, em arranjo xerocado da gravação original de Roberto (de 1971). Entre registro sem brilho especial de tema de Luiz Melodia (Salve Linda Canção sem Esperança) e lembrança do encontro fonográfico com Egberto Gismonti (Mais que a Paixão, canção situada ao fim do disco como pungente carta de princípios), Wanderléa apaga a má-impressão de seu último álbum, O Amor Sobreviverá (gravado de forma independente e distribuído pela BMG em 2003), e renasce em Nova Estação, voltando a brilhar com luminosidade há muito ausente de sua voz.
Título: Nova Estação
Artista: Wanderléa
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *
Como o amigo Erasmo Carlos, Wanderléa passou um tempo sentada à beira do caminho, perdida com o fim da Jovem Guarda. Contudo, justiça seja feita, nos anos 70, a Ternurinha se desviou da rota das tardes dominicais dos anos 60 numa série de discos renovadores - Maravilhosa (1972), Feito Gente (1975), Vamos que Eu Já Vou (1977) e Mais que a Paixão (1978) - que não conseguiram sedimentar a mudança de rumo da cantora (ao contrário do que aconteceu com o Tremendão). E o fato é que a carreira da cantora voltou a girar em torno de seu passado de glória. Daí a agradável surpresa desse Nova Estação, belo álbum que não vai mudar o curso da História nesta altura da vida da artista, mas que mostra Wanderléa em boa forma, sintonizada com repertório de abrangente leque estético que engloba samba (A Banca do Distinto, de Billy Blanco), choro (o esperto Choro Chorão, de Martinho da Vila) e canções de Geraldo Azevedo (Dia Branco, com citação de Carinhoso), Chico Buarque (Mil Perdões, pontuada pelo sax soprano de Ubaldo Versolato) e Johnny Alf (Eu e a Brisa, emendada com O Que É Amar), entre outros grandes compositores nunca associados ao canto pop juvenil de Wandeca.
"Renascer cada dia como a luz da manhã / Despertar sem medo, enganar a dor", receita Wanderléa na faixa-título do CD Nova Estação. É sintomático que a canção da lavra de Luiz Guedes e Thomas Roth abra este álbum em que a Ternurinha esboça um renascimento artístico, enganando a dor de não ter tido a carreira luminosa a que fazia jus. E há luz neste disco em que, renovada, a intérprete sintoniza velhas estações. Wanderléa está cantando muito bem e os arranjos (a maioria de Lalo Califórnia, produtor do disco ao lado de Thiago Marques Luiz) primam pela elegância. Sem mofo, embora estacionado no passado da música brasileira, o repertório foca pontos obscuros da trajetória de Wanderléa. My Funny Valentine - ouvido num registro jazzy de tom lânguido e sensual - evoca o tempo em que Wanderléa foi crooner da orquestra regida pelo trombonista Astor Silva, cantando músicas como este standard de Richard Rodgers e Lorenz Hart. Nesta estação renovadora, a cantora se arrisca até como arranjadora do pot-pourri de sambas que aglutina Chiclete com Banana, Adeus América e Eu Quero um Samba. Em faixa mais contemporânea, uma balada de Arnaldo Antunes - Se Tudo Pode Acontecer, em delicado arranjo pontuado pela guitarra slide tocada por Lalo Califórnia - credencia Wanderléa a sintonizar compositores de tempos mais atuais. Na contramão, mas sem aquele saudosismo jovem-guardista que tanto atrapalhou sua carreira, a cantora se reconecta aos parceiros das velhas tardes de domingo Roberto e Erasmo Carlos no Samba da Preguiça - pérola obscura da dupla, revivida pela Ternurinha sem a pegada de samba-rock do registro feito pelo Trio Mocotó em 1973 - e em Todos Estão Surdos, hino pacifista da fase soul do Rei, em arranjo xerocado da gravação original de Roberto (de 1971). Entre registro sem brilho especial de tema de Luiz Melodia (Salve Linda Canção sem Esperança) e lembrança do encontro fonográfico com Egberto Gismonti (Mais que a Paixão, canção situada ao fim do disco como pungente carta de princípios), Wanderléa apaga a má-impressão de seu último álbum, O Amor Sobreviverá (gravado de forma independente e distribuído pela BMG em 2003), e renasce em Nova Estação, voltando a brilhar com luminosidade há muito ausente de sua voz.
38 Comments:
Como o amigo Erasmo Carlos, Wanderléa passou um tempo sentada à beira do caminho, perdida com o fim da Jovem Guarda. Contudo, justiça seja feita, nos anos 70, a Ternurinha se desviou da rota das tardes dominicais dos anos 60 numa série de discos renovadores - Maravilhosa (1972), Feito Gente (1975), Vamos que Eu Já Vou (1977) e Mais que a Paixão (1978) - que não conseguiram sedimentar a mudança de rumo da cantora (ao contrário do que aconteceu com o Tremendão). E o fato é que a carreira da cantora voltou a girar em torno de seu passado de glória. Daí a agradável surpresa desse Nova Estação, belo álbum que não vai mudar o curso da História nesta altura da vida da artista, mas que mostra Wanderléa em boa forma, sintonizada com repertório de abrangente leque estético que engloba samba (A Banca do Distinto, de Billy Blanco), choro (o esperto Choro Chorão, de Martinho da Vila) e canções de Geraldo Azevedo (Dia Branco, com citação de Carinhoso), Chico Buarque (Mil Perdões, pontuada pelo sax soprano de Ubaldo Versolato) e Johnny Alf (Eu e a Brisa, emendada com O Que É Amar), entre outros grandes compositores nunca associados ao canto pop juvenil de Wandeca.
"Renascer cada dia como a luz da manhã / Despertar sem medo, enganar a dor", receita Wanderléa na faixa-título de Nova Estação. É sintomático que a canção da lavra de Luiz Guedes e Thomas Roth abra este CD em que a Ternurinha esboça um renascimento artístico, enganando a dor de não ter tido a carreira luminosa a que fazia jus. E há luz neste disco que, renovada, a intérprete sintoniza velhas estações. Wanderléa está cantando muito bem e os arranjos (a maioria de Lalo Califórnia, produtor do disco ao lado de Thiago Marques Luiz) primam pela elegância. Sem mofo, embora estacionado no passado da música brasileira, o repertório foca pontos obscuros da trajetória de Wanderléa. My Funny Valentine - ouvido num registro jazzy de tom lânguido e sensual - evoca o tempo em que Wanderléa foi crooner da orquestra regida pelo trombonista Astor Silva, cantando músicas como este standard de Richard Rodgers e Lorenz Hart. Nesta estação renovadora, a cantora se arrisca até como arranjadora do pot-pourri de sambas que aglutina Chiclete com Banana, Adeus América e Eu Quero um Samba. Em faixa mais contemporânea, uma balada de Arnaldo Antunes - Se Tudo Pode Acontecer, em belo arranjo pontuado pela guitarra slide tocado por Lalo Califórnia - credencia Wanderléa a sintonizar compositores de tempos mais atuais. Na contramão, mas sem aquele saudosismo jovem-guardista que tanto atrapalhou sua carreira, a cantora se reconecta aos parceiros das velhas tardes de domingo Roberto e Erasmo Carlos no Samba da Preguiça - pérola obscura da dupla, revivida pela Ternurinha sem a pegada de samba-rock do registro feito pelo Trio Mocotó em 1973 - e em Todos Estão Surdos, hino pacifista da fase soul do Rei, em arranjo xerocado da gravação feita por Roberto em seu álbum de 1971. Entre um Luiz Melodia sem brilho especial (Salve Linda Canção sem Esperança) e uma lembrança do encontro fonográfico com Egberto Gismonti (Mais que a Paixão, canção situada ao fim do disco como pungente carta de princípios), Wanderléa apaga a má-impressão de seu último álbum, O Amor Sobreviverá (gravado de forma independente e distribuído pela BMG em 2003), e renasce em Nova Estação, voltando a brilhar com luminosidade há muito ausente de sua voz.
Poxa, ainda não encontrei em lugar nenhum... espero que esteja nas lojas logo, porque este também vai virar presente de Natal, hehehehe.
Um dos CDs do ano. AMEI !
Vou sair AGORA à procura.
Vamos que eu já vou...
Erasmo ficou perdido com o fim da jovem guarda? Não sabia, pela discografia não se diria.
"enganando a dor de não ter tido a carreira luminosa a que fazia jus"!!!
Que lugar mais que comum. Me pergunto se foi ela que te falou, ou essa genialidade saiu da tua pena, fruto de uma dedução? Pela segurança que você usou parece que Wanderléa te contou isso.
Dor é outra coisa.
Wandeca pode muito mais do que parar o casamento.
Sempre que se aventurou por outras plagas se deu muito bem. Espero que desta vez tenha sido igual.
Maravilhosa!
Acho que Wanderléia teve a carreira do seu tamanho, e foi ótima, não percebo nela nenhuma amargura em relação a isso. Sobre o disco, acho um pecado tantas regravações, mas tudo bem.
Adoro Wandeca e fico muito feliz por este novo trabalho. Só não concordo que "Salve Linda Canção Sem Esperança" seja "sem brilho especial". Esta figura entre as melhores composições de Melodia.
Concordo com o anônimo, Erasmão não se perdeu, ao contrário, sempre esteve na procura.
Seus discos dos anos 70 são ótimos!!!
PS: Flávia, não queria ser teu amigo secreto. :>)
Jose Henrique
Credo, Mauro, que texto arcaico. "A dor de não ter tido a carreira luminosa...." me soou jurássico. Over. Desnecessário.
Wanderleia, boa cantora e excelente performer é uma das figuras públicas mais amadas do país.
Erasmo não se perdeu! A MPB foi quem perdeu sempre o colocando em
2ºplano, como o "parceiro do Rei".
O Rei só vem gravando "porcaria" a partir de "Caminhoneiro". Erasmo foi quem soube sair do padrão "Jovem Guarda" mantendo sua "veia rockeira" misturando MPB a ela - tarefa complicada - e em vários discos dos anos 70 e 80 até surpreendeu os mais céticos lançando músicas que tornaram-se clássicas: "Panorama Ecológico"; "Meu ego"; "Minha Superstar"; "Pega na Mentira"; "Abra seus Olhos" e por aí vai. Humor, Romance, "Recado"... Perdido está é o "Rei"! Vive do passado e da imagem que criou - ou criaram em torno dele.
Só uma coisa André : Meu Ego foi primeiro gravado por Nara em um antológico disco dos anos 70 e esse louro não é só do Tremendão, é do Rei também. E, olha que eu nem endeuso tanto a dupla... Respeito, mas não rezo missa...
É vero, anônimo.
Erasmo tem poucas composições que não seja com Roberto. Só destaco que ele - Erasmo - é quem grava o que vale a pena.
Muita "porcaria" do "Rei" tem assinatura de Erasmo também.
Só não entendo por que Erasmo grava o que presta e Roberto sempre aquela coisa chata - a partir de "Caminhoneiro" - de mulheres gordas, baixinhas, magras, cegas, surdas, mudas... além dos arranjos que sempre tornam, no mínimo, 12 músicas de um disco... iguais.
Repito: Roberto "sentou à beira do caminho" e não levantou mais, já Erasmo...
PS: Estou com preguiça de consultar minha discografia. Tenho o CD de Nara citado em que ela só canta músicas da dupla. A gravação de Erasmo de "Meu ego" é anterior, não ? Estaria enganado ?
Abraços.
Ela arrasou no show de lançamento esse final de semana em SP. O disco é um primor !
Meu irmão, sem querer pegar no teu pé e já pegando, como diria Jô Soares.
Mas, vc só citou as mais fraquinhas do amigo do Rei, só faltou citar a da Roberta Close. hehehehhehe
Pô, vou ter que limpar a barra dele.
- É preciso dar um jeito, meu amigo
- Não te quero santa
- 26 de vida normal
- Sábado morto
- Sou um criança, não entendo nada
- Grilos
- Banda dos contentes
Esse sim, é o grande Erasmo dos anos 70, nada perdido.
Jose Henrique
O cd é lindo e de bom gosto!
Mas convenhamos: Wanderléa nao precisa mais provar nada prá ninguém!
Wanderlea é maaaaaaaara!
Nova Estação e Todos estão Surdos são um SA-CO, em minha modestíssima opinião. As demais são ótimas. E a Wandeca é apenas um espetáculo!!!!
Prezado Anônimo,
Confirmei em minha discografia.
"Meu Ego" foi primeiro gravada por Erasmo em 1974 no LP/CD "Pelas Esquinas de Ipanema". Nara regravou - em dueto com o próprio Erasmo - em seu LP/CD de 1977
"Meus Amigos São Um Barato".
Abraços.
Deveriam lançar os LPs citados, em CD. O Maravilhosa é demais. Tem Mata-me Depressa, de cortar os pulsos, Uva de Caminhão e Quero ser Locomotiva, deliciosas. E a melhor versão de Back in Bahia.
Wanderleia é um dos maiores ícones da arte brasileira. Um charme só.
Ah, Zé, acho que minha mãe vai gostar do presente! =)
Esse disco está uma coisa maravilhosa; não páro de ouvir. Fico impressionada com a vitalidade dela e com a capacidade de ir além do esperado. A música do Melodia e a do Gismonti já valem o disco.
Tem na Modern Sound e nas Fnacs.
Valeu pela dica, Anônimo! Tinha procurado na Americanas, no Submarino e nas lojas locais e não tinha achado em lugar nenhum...
André 2, Pelas esquinas de Ipanema é de 1978, não de 74. A gravacao com a Nara é de 77,a primeira.
Melhor disco do ano pela APCA.
Compositores bregas: cuidem-se.
Até a Wanderléa cantando boa música ?
Daqui a pouco vai ser a Ivete, os "sertanejos".
Façam um Plano de Previdência correndo ou acabem com a pirataria.
Tá cansativo esse papo de MEU EGO, hein... Tem no disco ? Quero ouvir esse disco !
Em tempo! acaba de ganhar o prêmio de melhor cd de 2008 da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Artes)
O DISCO DO ANO !
Bethânia cantando Escandalosa, e eu me lembrando da interpretação graciosa, brejeira e sensual da Wanderleia.
Marisa bombando nas rádios com Não é Proibido e eu imaginando essa mesma canção na performance descontraída e arrojada da Wandeca.
Espero que 2009 traga à grande cena esse ícone de modernidade, juventude, carisma e elegância. ESTILO.
Parabéns pelo APCA. Wanderléia valorizou o prêmio.
Caríssimo Mauro: um Luiz Melodia sem brilho especial ?!!! Você não ouviu a faixa direito...
Comprei o CD e me apaixonei. Merecidíssimo o prêmio.
Wanderleia é sinônimo de verve e jovialidade.
maria
Opa, fiquei curioso !
O show novo dela é maravilhoso, você bem que poderia fazer um post, né Mauro ! Não sei se vai para o Rio, mas em São Paulo tá rolando no Teatro Cosipa.
Wanderléa a anos atrás disse q gostaria de ter a emoção da Bethânia e a voz de Gal. Acho que com esse trabalho ela prova pra ela mesma que ela se basta.
Parabéns a Wanderléa por tão bonito cd.
Bom texto do Mauro.Quanto ao disco, realmente é uma beleza..Wanderléa nunca cantou tão bem e este trabalho dela, deve ser ampliado para que todos ouçam.Não páro mais de ouvir!
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