Laura se excede ao abordar repertório da Sapoti
Resenha de Show
Título: Eu Sinto uma Vontade Louca de Gritar pela Rua
- Homenagem a Ângela Maria
Artista: Laura Castro (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Café Pequeno (RJ)
Data: 6 de dezembro de 2008
Cotação: * * 1/2
Em cartaz até 21 de dezembro, de sexta-feira a domingo
Com trajetória marcada por atuações secundárias em musicais como Dolores e Elis - Estrela do Brasil, a cantora Laura Castro alça vôo solo em show dedicado ao repertório de Ângela Maria por conta dos 80 anos da Sapoti, completados em 13 de maio de 2008. Com estranho título tomado emprestado de verso de Amendoim Torradinho, música de Henrique Beltrão que foi sucesso na voz da remanescente estrela da era do rádio, o show Eu Sinto uma Vontade Louca de Gritar pela Rua está em cartaz até 21 de dezembro de 2008 no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro (RJ), e precede o disco homônimo que vai ser lançado em 2009. Seu roteiro reflete a diversidade estética do repertório de Ângela - um cancioneiro de romantismo extremado e de altos e baixos, irmanados pela voz doce (daí o apelido Sapoti dado pelo então presidente Getúlio Vargas) temperada por grande extensão e alto teor sentimental. Voz que foi guia para cantoras de eras posteriores - como Elis Regina (1945 - 1982) e Fafá de Belém.
Cantora sem os raros recursos vocais de Ângela, Laura Castro peca por excessos ao carregar no tom de músicas como Vida de Bailarina - cuja letra já ostenta as tintas fortes do rebuscamento poético do período pré-Bossa Nova - e Gente Humilde. Quando prioriza tonalidades mais suaves, como em Eu Não Existo sem Você, o resultado é mais envolvente. Diretor musical e arranjador do show, o violonista Márcio Pizzi experimenta leves ousadias estilísticas como desviar Negue (Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos) e Nem Eu (Dorival Caymmi) da rota habitual do samba-canção rumo à direção do samba mais tradicional em caminho rítmico pontuado pelo pandeiro tocado pela percussionista Taíssa Mattos. Nem Eu, inclusive, chega a ganhar cacos no dueto feito por Laura com o pianista Wladimir Pinheiro (cuja escaleta introduz momentos antes o fado Foi Deus). Tão inapropriado quanto os cacos postos no belo samba-canção de Caymmi é o sorriso que aparece nos lábios da intérprete enquanto ela canta Fósforo Queimado, pois incondiz com a mágoa exposta nos versos deste tema gravado pela Sapoti na áurea década de 50.
Aberto com dramática interpretação do Tango pra Tereza, exemplo do cancioneiro de aura kitsch que garantiu a sobrevida de Ângela Maria nas paradas popularescas dos anos 70, o roteiro adiciona aos clássicos da Sapoti (Babalu, claro, marca inevitável presença, mas com pulsação diferente e elegante) alguns lados B da discografia irregular da cantora. Entre eles, o juvenil Cha Cha Cha da Moça (entoado de forma graciosa por Laura com a adesão vocal do pianista Wladimir Pinheiro no refrão) e Rancho do Lalá, marcha-rancho composta em tributo ao compositor Lamartine Babo (1904 - 1963). Apesar de Laura conseguir imprimir alguma vivacidade à música, novamente em dueto com seu pianista, a composição em si não é das mais inspiradas do gênero. No todo, a direção de João Cícero procura realçar em cena a teatralidade do cancioneiro da Sapoti. Porém, Laura Castro aborda tal repertório acima do tom, com interpretações (por vezes) exacerbadas que somente reforçam os excessos naturais de músicas que pertencem a outro tempo. Seria salutar podar tais excessos no CD vindouro...
Título: Eu Sinto uma Vontade Louca de Gritar pela Rua
- Homenagem a Ângela Maria
Artista: Laura Castro (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Café Pequeno (RJ)
Data: 6 de dezembro de 2008
Cotação: * * 1/2
Em cartaz até 21 de dezembro, de sexta-feira a domingo
Com trajetória marcada por atuações secundárias em musicais como Dolores e Elis - Estrela do Brasil, a cantora Laura Castro alça vôo solo em show dedicado ao repertório de Ângela Maria por conta dos 80 anos da Sapoti, completados em 13 de maio de 2008. Com estranho título tomado emprestado de verso de Amendoim Torradinho, música de Henrique Beltrão que foi sucesso na voz da remanescente estrela da era do rádio, o show Eu Sinto uma Vontade Louca de Gritar pela Rua está em cartaz até 21 de dezembro de 2008 no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro (RJ), e precede o disco homônimo que vai ser lançado em 2009. Seu roteiro reflete a diversidade estética do repertório de Ângela - um cancioneiro de romantismo extremado e de altos e baixos, irmanados pela voz doce (daí o apelido Sapoti dado pelo então presidente Getúlio Vargas) temperada por grande extensão e alto teor sentimental. Voz que foi guia para cantoras de eras posteriores - como Elis Regina (1945 - 1982) e Fafá de Belém.
Cantora sem os raros recursos vocais de Ângela, Laura Castro peca por excessos ao carregar no tom de músicas como Vida de Bailarina - cuja letra já ostenta as tintas fortes do rebuscamento poético do período pré-Bossa Nova - e Gente Humilde. Quando prioriza tonalidades mais suaves, como em Eu Não Existo sem Você, o resultado é mais envolvente. Diretor musical e arranjador do show, o violonista Márcio Pizzi experimenta leves ousadias estilísticas como desviar Negue (Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos) e Nem Eu (Dorival Caymmi) da rota habitual do samba-canção rumo à direção do samba mais tradicional em caminho rítmico pontuado pelo pandeiro tocado pela percussionista Taíssa Mattos. Nem Eu, inclusive, chega a ganhar cacos no dueto feito por Laura com o pianista Wladimir Pinheiro (cuja escaleta introduz momentos antes o fado Foi Deus). Tão inapropriado quanto os cacos postos no belo samba-canção de Caymmi é o sorriso que aparece nos lábios da intérprete enquanto ela canta Fósforo Queimado, pois incondiz com a mágoa exposta nos versos deste tema gravado pela Sapoti na áurea década de 50.
Aberto com dramática interpretação do Tango pra Tereza, exemplo do cancioneiro de aura kitsch que garantiu a sobrevida de Ângela Maria nas paradas popularescas dos anos 70, o roteiro adiciona aos clássicos da Sapoti (Babalu, claro, marca inevitável presença, mas com pulsação diferente e elegante) alguns lados B da discografia irregular da cantora. Entre eles, o juvenil Cha Cha Cha da Moça (entoado de forma graciosa por Laura com a adesão vocal do pianista Wladimir Pinheiro no refrão) e Rancho do Lalá, marcha-rancho composta em tributo ao compositor Lamartine Babo (1904 - 1963). Apesar de Laura conseguir imprimir alguma vivacidade à música, novamente em dueto com seu pianista, a composição em si não é das mais inspiradas do gênero. No todo, a direção de João Cícero procura realçar em cena a teatralidade do cancioneiro da Sapoti. Porém, Laura Castro aborda tal repertório acima do tom, com interpretações (por vezes) exacerbadas que somente reforçam os excessos naturais de músicas que pertencem a outro tempo. Seria salutar podar tais excessos no CD vindouro...
20 Comments:
Com trajetória marcada por atuações secundárias em musicais como Dolores e Elis - Estrela do Brasil, a cantora Laura Castro alça vôo solo em show dedicado ao repertório de Ângela Maria por conta dos 80 anos da Sapoti, completados em 13 de maio de 2008. Com estranho título tomado emprestado de verso de Amendoim Torradinho, música de Henrique Beltrão que foi sucesso na voz da remanescente estrela da era do rádio, o show Eu Sinto uma Vontade Louca de Gritar pela Rua está em cartaz até 21 de dezembro de 2008 no Teatro Café Pequeno, no Rio de Janeiro (RJ), e precede o disco homônimo que vai ser lançado em 2009. Seu roteiro reflete a diversidade estética do repertório de Ângela - um cancioneiro de romantismo extremado e de altos e baixos, irmanados pela voz doce (daí o apelido Sapoti dado pelo então presidente Getúlio Vargas) temperada por grande extensão e alto teor sentimental. Voz que foi guia para cantoras de eras posteriores - como Elis Regina (1945 - 1982) e Fafá de Belém.
Cantora sem os raros recursos vocais de Ângela, Laura Castro peca por excessos ao carregar no tom de músicas como Vida de Bailarina - cuja letra já ostenta as tintas fortes do rebuscamento poético do período pré-Bossa Nova - e Gente Humilde. Quando prioriza tonalidades mais suaves, como em Eu Não Existo sem Você, o resultado é mais envolvente. Diretor musical e arranjador do show, o violonista Márcio Pizzi experimenta leves ousadias estilísticas como desviar Negue (Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos) e Nem Eu (Dorival Caymmi) da rota habitual do samba-canção rumo à direção do samba mais tradicional em caminho rítmico pontuado pelo pandeiro tocado pela percussionista Taíssa Mattos. Nem Eu, inclusive, chega a ganhar cacos no dueto feito por Laura com o pianista Wladimir Pinheiro (cuja escaleta introduz momentos antes o fado Foi Deus). Tão inapropriado quanto os cacos postos no belo samba-canção de Caymmi é o sorriso que aparece nos lábios da intérprete enquanto ela canta Fósforo Queimado, pois incondiz com a mágoa exposta nos versos deste tema gravado pela Sapoti na áurea década de 50.
Aberto com dramática interpretação do Tango pra Tereza, exemplo do cancioneiro de aura kitsch que garantiu a sobrevida de Ângela Maria nas paradas popularescas dos anos 70, o roteiro adiciona aos clássicos da Sapoti (Babalu, claro, marca inevitável presença, mas com pulsação diferente e elegante) alguns lados B da discografia irregular da cantora. Entre eles, o juvenil Cha Cha Cha da Moça (entoado de forma graciosa por Laura com a adesão vocal do pianista Wladimir Pinheiro no refrão) e Rancho do Lalá, marcha-rancho composta em tributo ao compositor Lamartine Babo (1904 - 1963). Apesar de Laura conseguir imprimir alguma vivacidade à música, novamente em dueto com seu pianista, a composição em si não é das mais inspiradas do gênero. No todo, a direção de João Cícero procura realçar em cena a teatralidade do cancioneiro da Sapoti. Porém, Laura Castro aborda tal repertório acima do tom, com interpretações (por vezes) exacerbadas que somente reforçam os excessos naturais de músicas que pertencem a outro tempo. Seria salutar podar tais excessos no CD vindouro...
Olá Mauro, acho que você esqueceu algo ao apresentar Laura Castro. Em 2008, ela foi protagonista do musical Um Homem Célebre (CCBB), de Wladimir Pinheiro com direção de Pedro Paulo Rangel, e uma das 4 vozes do musical Bituca: vendedor de sonhos (Caixa Cultural), com direção de João das Neves. Em 2006, foi sucesso de público e crítica com o musical As Robertas, loucas pelo rei. Para mim, possui uma das mais belas e versáteis vozes do teatro musical carioca. Aos leitores do blog sugiro que confiram as interpretações do show em homenagem à Sapoti, www.myspace.com/lauracmcastro.
Não assisti ao show, mas o sorriso em fósforo queimado, não poderia ser de satisfação "hoje não me interessa se sofres assim..."
Não conheço a cantora. Já Ângela Maria sim. Se já acho Ângela Maria bastante exagerada, seria possível alguém cantá-la exagerando mais ainda ? Caramba!
Oi André,
Acho que voce não entendeu. Vi o show e creio que o exagero a que ele se referiu era uma certa referencia à Angela e ao "exagero" presente na voz e na interpretação que ela dá às músicas. Eu, particularmente, adorei o show e acho que a questão é que ela (a cantora) realmente tem muita voz e interpreta cada canção – mais Elis Regina, menos Marisa Monte…
Obrigado, Marina
Vou prestar atenção na moça.
Bem...
Eu não assisti ao show, mas entrei no MySpace dela (obrigado, anônimo das 07:38) e dei uma escutada nas gravações dela.
A voz dela é muito boa, porém também achei as interpretações equivocadas.
A Elis, que conseguia imitar com perfeição a voz da Ângela quando queria, não caía nessa de interpretar exageradamente.
Aliás, sinceramente, eu já escutei muitas músicas e vi muitos vídeos da Ângela Maria e não acho que ela tinha essa onda de exagerada não. Às vezes, ela ficava um pouco brega (ou kitsch, como quiserem...), mas exagerada, não acho não.
Mas, como sempre gosto de ressaltar, é só a minha opinião.
abração,
Denilson
Olá Denílson,
Também não vi o show e fui ao myspace conferir. Obrigada Anônimo das 07:38. Não achei as interpretações exageradas, achei dramáticas. A intérprete não imita Ângela Maria, aborda seu repertório com intenção dramática. E ele sem dúvida se presta a isso. Aliás muito boa e de estilo diferente a gravação de vida severina, acho que de um outro show. A moça é boa, dramática ou cool. Foi uma boa descoberta.
abração, silvana.
Eu também entrei no myspace e dela e dei uma olhada nas gravações e nos vídeos. Ao contrário de algumas das opiniões postadas, achei que ela fez algumas escolhas bastante elegantes. Gostei principalmente dos vídeos, onde pude ver melhor o rosto dela, que (além de lindo), é muito expressivo.
Cara,
dá uma olhada nos vídeos dela no YouTube que talvez você tenha outra impressão. Tem um onde ela canta uma música do Milton que tá f...
Gente,
Não sei o porquê de tanta polêmica. Fui atrás para ver quem é essa menina e acho que ela é só uma boa cantora fazendo um show. Não é preciso tanta análise sobre a maneira que ela interpreta ou não cada música. O importante é que ela tem uma boa voz e está fazendo bem o trabalho dela, mesmo que hajam discordâncias sobre o resultado geral.
Aliás, é bacana ver gente jovem se inserindo no mercado. Ela está de parabéns pela coragem.
Eu vi o show e concordo com o Mauro em 2 coisas: que ela é mais envolvente quando se utiliza de tons mais suaves (como no pout-pourri das canções Pra Dizer Adeus e Ternura Antiga) e que ela é graciosa.
O resto é especulação.
Gostaria de dizer que acho Laura Castro uma cantora incrivelmente talentosa, com ampla extensão e técnica vocal, além de uma capacitade interpretativa invejável.
Tive o prazer de trabalhar com ela em espetáculos anteriores, o que só fez com que aumentasse minha admiração pelo seu talento, seu trabalho, sua capacidade de realização e entrega a cada novo projeto.
Como o grande diretor João das Neves uma vez falou, ela não é uma "atriz-cantora", e sim uma "cantora-atriz".
Fernando,
Você pode citar qual é a música do Milton que é possível vê-la cantando no YouTube? Procurei mas só achei músicas em que ela canta junto com outros atores/cantores.
abração,
Denilson
Me tornei fan dessa cantora quando assisti o musical Obrigado Cartola! e o show Antinome no Jockey. Desde então, tento acompanhar seus trabalhos.
Laura Castro, em alguns meses desse ano, esteve protagonizando simultaneamente 3 espetáculos/shows em horários nobres. Foi difícil para mim assistir todos, imagino faze-los. Sempre me surpreendo com sua voz e suas belíssimas interpretações. Estou cansado dessa moda cool atual. Então, deixo aqui meus parabéns a Laura Castro! Por quebrar esse padrão cool que se tornou obvio e cansativo. Para terminar, agradecer ao anonimo do myspace! não conhecia ainda! Aguardo o CD ansiosamente!
Pô, cara. É um que ela canta sozinha. Segue o link:
http://www.youtube.com/watch?v=KXbn9W5xATk
valeu!
Olá Fernando, chequei o link e gostei. Cool e dramática ao mesmo tempo. Aliás o vídeo de Foi Deus que está no myspace tem a mesma mistura. Legal!
http://www.youtube.com/watch?v=AmmCevuQbCc
Adorei o show. Este crítico, Mauro Ferreira, elogia os consagrados enquanto pune os novatos. Nâo percebe, por exemplo, o sorriso sarcástico de "Fósforo queimado". Além disso, se refere a um dueto na música "Rancho do lalá" quando na verdade se trata de um trio. Preste atenção Mauro Ferreira!
Caramba!
A moça deve estar feliz, afinal, "bem ou mal, falem de mim".
Conheço muito de música e nunca tinha ouvido falar na cantora, por isso não palpito.
Duvido que 40% aqui conheçam também e deveriam seguir meu exemplo. Podem estar sendo injustos ou bonzinhos demais.
Ô povo pra falar.
Ola, Sr. Mauro Ferreira
Felizmente tive a oportunidade de ver o show desta nova cantora, Laura Castro. Nao a conhecia, talvez assim o o senhor - que chegou a se equivocar com a sua trajetoria artistica -, mas fiquei muito satisfeita com o que vi. E o que vi foi um talento que precisa ter seu espaco reconhecido, porque poucas vezes ouvi vozes como a dela, e poucas vezes vi interpretacoes tao entregues como a que vi nesse show. Entregue e consciente. Uma voz que reverbera e que tem o poder de arrepiar. No dia em que fui, velhinhos saiam discutindo quem era melhor cantora, ela ou a propria Angela Maria! Talvez seja exagero ate pelo tempo de estrada, mas o importante eh que, pela empolgacao da plateia e aplausos finais, o show e a cantora dizem a que vieram, comunicam. Talvez seja isso o mais importante, nao eh? Entendo que a funcao do senhor seja criticar, mas nao posso deixar de observar um tom amargo em criticos que nem sequer se preocupam e averiguar a real trajetoria do criticado em questao. Se o senhor fosse "senhora" diria que, na ocasiao, devia estar na tpm. Mas tudo bem, todos temos os nossos dias... Ainda bem que estava leve e feliz da vida quando fui assistir a essa carismatica cantora no Leblon! Abracos.
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