Samba de Canalha não é afiado como a língua...
Título: A Voz do Botequim
Artista: Jota Canalha
Gravadora: Rob Digital
Cotação: * *
Jota Canalha é o pseudônimo de Henrique Cazes. Foi criado para destilar humor ferino, de tom politicamente incorreto, contra chatos, ONGs e lésbicas e famílias de classe média. Canalha já havia dado as caras no CD Cachaça Dá Samba! (Deckdisc, 2007). Era de autoria dele o samba Baranga das Dez, Broto das Duas, faixa do disco dividido por Alfredo Del-Penho & Pedro Paulo Malta - convidados, aliás, de Casal Perfeito, um dos onze sambas da lavra sarcástica de Canalha apresentados neste primeiro disco do destemido cidadão, A Voz do Botequim. O problema é que os sambas não são tão afiados quanto a língua. Por conta de algumas tiradas hilárias, vale até destacar Lero-Lero Blá-Blá-Blá ou Papo de ONG, espirituoso samba de breque que, como seu título já explicita, dá alfinetadas nas prolixas organizações não-governamentais. Um dos sambas mais conhecidos do Canalha, Chatos em Desfile é quase tão chato quanto os alvos dos versos, pois o fato é que, como compositor e cantor, Cazes é bom cavaquinista. E quem costuma ouvir os bem-humorados sambas da turma de Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho - para citar somente dois hábeis cronistas do cotidiano - vai logo perceber o caráter anêmico do humor da letra do samba Dieta de Sambista, faixa que tenta reproduzir o clima de um pagode. Às vezes, o que é vendido como humor é, na verdade, preconceito embutido no meio de gracinhas até grosseiras como as ouvidas em Onde É que Já se Viu? - samba em que o alvo são as lésbicas. Falta inspiração - fato reforçado pela inclusão de um samba de Noel Rosa (1910 - 19370, Mulher Indigesta, no repertório - e sobra pretensão em Jota Canalha. Exceto por um ou outro verso mais espirituoso, o disco A Voz do Botequim não tem a menor graça.