10 de janeiro de 2009

Samba de Canalha não é afiado como a língua...

Resenha de CD
Título: A Voz do Botequim
Artista: Jota Canalha
Gravadora: Rob Digital
Cotação: * *

Jota Canalha é o pseudônimo de Henrique Cazes. Foi criado para destilar humor ferino, de tom politicamente incorreto, contra chatos, ONGs e lésbicas e famílias de classe média. Canalha já havia dado as caras no CD Cachaça Dá Samba! (Deckdisc, 2007). Era de autoria dele o samba Baranga das Dez, Broto das Duas, faixa do disco dividido por Alfredo Del-Penho & Pedro Paulo Malta - convidados, aliás, de Casal Perfeito, um dos onze sambas da lavra sarcástica de Canalha apresentados neste primeiro disco do destemido cidadão, A Voz do Botequim. O problema é que os sambas não são tão afiados quanto a língua. Por conta de algumas tiradas hilárias, vale até destacar Lero-Lero Blá-Blá-Blá ou Papo de ONG, espirituoso samba de breque que, como seu título já explicita, dá alfinetadas nas prolixas organizações não-governamentais. Um dos sambas mais conhecidos do Canalha, Chatos em Desfile é quase tão chato quanto os alvos dos versos, pois o fato é que, como compositor e cantor, Cazes é bom cavaquinista. E quem costuma ouvir os bem-humorados sambas da turma de Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho - para citar somente dois hábeis cronistas do cotidiano - vai logo perceber o caráter anêmico do humor da letra do samba Dieta de Sambista, faixa que tenta reproduzir o clima de um pagode. Às vezes, o que é vendido como humor é, na verdade, preconceito embutido no meio de gracinhas até grosseiras como as ouvidas em Onde É que Já se Viu? - samba em que o alvo são as lésbicas. Falta inspiração - fato reforçado pela inclusão de um samba de Noel Rosa (1910 - 19370, Mulher Indigesta, no repertório - e sobra pretensão em Jota Canalha. Exceto por um ou outro verso mais espirituoso, o disco A Voz do Botequim não tem a menor graça.

Ney continua brilhante no show 'Inclassificáveis'


Resenha de Show (Segunda visão)
Título: Inclassificáveis
Artista: Ney Matogrosso (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 9 de janeiro de 2009
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz de sexta-feira a domingo, até 18 de janeiro
Inclassificáveis é um dos shows mais brilhantes da trajetória de Ney Matogrosso. Em todos os sentidos. O brilho está nos figurinos exuberantes de Ocimar Versolato e, sobretudo, na energia e na postura deste artista que ainda se revela transgressor neste espetáculo politizado que enfileira músicas desconhecidas de compositores da cena indie (Alice Ruiz, Alzira Espíndola, Cláudio Monjope, Dan Nakagawa, Daniel Carlomagno, Fred Martins, Iara Rennó e Pedro Luís, entre outros). E a volta do show à cena carioca - ao Canecão, a casa onde foi gravado o (ótimo) DVD na temporada de janeiro de 2008 - atesta que o brilho também está na maneira com que Ney mantém o espetáculo azeitado, inteiro. Em cartaz desde setembro de 2007, quando estreou de forma silenciosa em Juiz de Fora (MG) um mês antes de chegar a São Paulo (SP) com toda a badalação da mídia, Inclassificáveis não perdeu seu viço (confira aqui a resenha publicada em 22 de outubro de 2007). Ao contrário, o cantor se mostra mais seguro e até mais confortável com o repertório que burilou na estrada. A maior interação com o público no número Por que a Gente É Assim? - Ney está circulando mais pela platéia em vez de fazer seu jogo de sedução somente com os espectadores da primeira fila - é um bom exemplo de como Inclassificáveis vem ficando mais azeitado com o tempo (embora já fosse sedutor desde o início) sem perda de conteúdo. O roteiro, aliás, é o mesmo da estréia. Não é fácil manter um espetáculo intacto ao longo de extensa turnê nacional. A volta em forma de Inclassificáveis à cena carioca mostra que - sob todos os aspectos! - o show permanece brilhante.

Minissérie gera reedição de biografia de Maysa

Pegando carona na justa - e previsível - exposição de Maysa na mídia por conta da exibição da minissérie Maysa - Quando Fala o Coração na TV Globo, o jornalista capixaba José Roberto Santos Neves está reeditando sua biografia da cantora, lançada em 2005 na coleção Grandes Nomes do Espírito Santo. Trata-se da primeira biografia de Maysa. A reedição é bem superior ao livro original - sobretudo no que se refere à arte gráfica (a nova capa estampa a bela ilustração criada por César G. Villela para álbum gravado pela cantora pelo selo Elenco). Foram adicionadas fotos e informações que aprimoram a narrativa. Contudo, a biografia definitiva de Maysa continua sendo Só Numa Multidão de Amores, escrita por Lira Neto e editada em 2007. Lira mergulha no universo conturbado de Maysa com profundidade que inexiste no perfil traçado por Neves. A reedição da biografia Maysa foi feita de forma independente e o preço (sugerido) do livro é R$ 35.

Soraya revive dois hits carnavalescos de Carmen

Com a autoridade de quem já encarnou Carmen Miranda (1909 - 1955) no teatro (no musical South American Way, encenado em 2001), a atriz e cantora Soraya Ravenle regravou dois sucessos carnavalescos da Pequena Notável para o CD que vai reunir as dez marchinhas finalistas da edição de 2009 do concurso promovido pela casa Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (RJ). Soraya revive Pra Você Gostar de mim (Taí) - marchinha de Joubert de Carvalho (1900 - 1977) que, gravada por Carmen em 1930, se tornou seu primeiro retumbante sucesso, impulsionando a carreira da então iniciante (e desconhecida) cantora - e Mamãe Eu Quero, marchinha que, gravada por seu co-autor Jararaca em 1936, se tornou um dos grandes sucessos do Carnaval de 1937 antes de ser regravada pela Brazilian Bombshell em 1939 para a trilha do filme Serenata Tropical, exibido em 1940. As duas gravações de Soraya Ravenle vão entrar como faixas-bônus do CD da Fundição Progresso numa reverência a Carmen Miranda, pelo centenário de seu nascimento.

O canto da 'Cigarra' nos anos 70 ecoa em 2009

Está prevista para fevereiro - pela EMI Music - a chegada às lojas da esperada caixa O Canto da Cigarra nos Anos 70, que embala os onze álbuns lançados por Simone na gravadora Odeon entre 1973 e 1980. Eis os onze títulos reeditados na caixa produzida e criada pelo jornalista Rodrigo Faour: Simone (1973, veja capa à esquerda), Expo-Som '73 - Ao Vivo (1973), Brasil-Export 73 Agô Kelofé (1973), Festa Brasil (1974), Quatro Paredes (1974), Gotas D'Água (1975), Face a Face (1977), Cigarra (1978), Pedaços (1979), Simone ao Vivo (1980) e Simone (de 1980).

Ariel evoca o sotaque da Lapa sem brilho vocal

Resenha de CD
Título: Noites da Lapa
Artista: Marcos Ariel
Gravadora: MP,B
/ Universal Music
Cotação: * *

É sintomático que o pianista Marcos Ariel tenha decidido incluir uma versão cantada de Desafinado neste álbum em que ele procura evocar o universo musical da Lapa, o bairro do Centro do Rio de Janeiro (RJ) que é um dos pólos de revitalização do samba e do choro na cidade natal destes ritmos seminais. O problema do CD é que falta brilho a Ariel quando ele solta sua voz opaca - fato repetido com freqüência no disco. Quando o virtuoso pianista se dedicar a tocar seu instrumento, como em Garota de Ipanema, o clássico carioca de alcance mundial que abre o medley no qual figura Desafinado, Ariel o faz com bossa e elegância ímpares. Infelizmente, os temas instrumentais - como o Choro de L.A. - são minoria no repertório que transita basicamente entre o samba e o choro. Noites da Lapa, o CD, abre a parceria dos selos Rio Scenarium Discos - a Rio Scenarium é uma das casas mais cultuadas no circuito musical do bairro - e Maior Prazer, Brasil (MP,B). A parceria pode vir a dar samba (e outros ritmos) quando propagar em disco vozes mais interessantes dentre as que são ouvidas cotidianamente na Lapa...

9 de janeiro de 2009

Aydar canta com Pagodinho no segundo álbum

Arquitetado com produção dividida entre Kassin e Duani (Forróçacana), o segundo CD da cantora Mariana Aydar conta com a participação de Zeca Pagodinho. O dueto acontece na faixa intitulada O Samba me Persegue. Com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2009, o disco tem a missão de consolidar no diluído mercado fonográfico o nome de Aydar, projetado em 2006 com a edição do elogiado álbum Kavita 1. O CD sairá pela Universal Music.

Byington vai de Björk a Noel em disco intimista

Composição de Björk, New World ganha inusitada regravação de Olivia Byington em Perto, CD de voz e violão no qual Byington registra em clima intimista músicas já visitadas pela cantora no seu primeiro DVD, A Vida É Perto, editado em 2008 com o registro ao vivo do show inicialmente intitulado Cada Um, Cada Um. Entre as novidades, na voz de Byington, há também Lágrimas Negras (Jorge Mautner e Nelson Jacobina) e Entre a Voz e o Oceano. Este fado - parceria da artista com o poeta português Tiago Torres da Silva - foi gravado em Portugal com a participação da fadista lusitana Mafalda Arnauth. A seleção inclui Com que Roupa? - o samba de Noel Rosa (1910 - 1937) que Olivia já havia gravado em 1997 no álbum A Dama do Encantado, dedicado ao repertório de Aracy de Almeida (1914 - 1988). Do roteiro do show, Perto rebobina Mãe da Manhã (uma das músicas mais desconhecidas e belas de Gilberto Gil, lançada por Gal Costa em 1993 no CD O Sorriso do Gato de Alice) e Pense em mim, o hit da dupla sertaneja Leandro & Leonardo - desta vez, com o devido crédito aos autores Douglas Maio, José Ribeiro e Mário Soares. Décimo-segundo álbum da discografia da artista, Perto está sendo lançado neste mês de janeiro pela gravadora Biscoito Fino. Já está à venda.

'Lados B' de Alceu entram na ciranda mourisca

Com lançamento previsto para 26 de janeiro de 2009, o primeiro álbum de Alceu Valença na gravadora Biscoito Fino, Ciranda Mourisca, é um projeto de regravações. O cantor reapresenta lados B de sua discografia com sotaque ibérico para ressaltar a forte influência moura na música do Nordeste. A idéia foi aproximar as composições do universo rítmico das cirandas praieiras. Das 12 músicas autorais, a única inédita na voz do artista é a Ciranda da Rosa Vermelha, tema do folclore, adaptado pelo cantor e gravado por Elba Ramalho em 1997. Eis o repertório revisto por Alceu em Ciranda Mourisca:

1. Pétalas (1994, álbum Maracatus, Batuques e Ladeiras)
2. Chuva de Cajus (1985, álbum Estação da Luz)
3. Amor que Vai (1994, álbum Maracatus, Batuques e Ladeiras)
4. Maracajá (1994, álbum Maracatus, Batuques e Ladeiras)

5. Deusa da Noite (Dia Branco) (1974, álbum Molhado de Suor)
6. Mensageira dos Anjos (1974, álbum Molhado de Suor)
7. Íris (1987, álbum Leque Moleque)
8. Sino de Ouro (1985, álbum Estação da Luz)
9. Molhado de Suor (1974, álbum Molhado de Suor)
10. Loa de Lisboa (1990, álbum Andar, Andar)
11. Dente de Ocidente (1974, álbum Molhado de Suor)
12. Ciranda da Rosa Vermelha

Clarkson mostra 'All I Ever Wanted' em março

All I Ever Wanted é o - forte - título do quarto álbum de Kelly Clarkson. O lançamento já está programado para 10 de março de 2009. Produzido por Dr. Luke e Max Martin, o primeiro single do CD, My Life Would Suck without You, vai ser lançado em MP3 em 16 de janeiro e, três dias depois, vai chegar às rádios dos Estados Unidos. A ensolarada capa do álbum (foto acima à direita) sinaliza que o repertório vem em tom menos sombrio do que o do álbum anterior da artista, My December (2007), que vendeu 782 mil cópias nos EUA - marca bem inferior às dos dois primeiros CDs da boa cantora, revelada no programa de calouros American Idol.

Dura na queda, Elza volta febril e sapeca à cena

Resenha de Show
Título: Elza Sapeca da Breca
Artista: Elza Soares
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 8 de janeiro de 2009
Cotação: * * * *
Em cartaz até 10 de janeiro de 2009

Já habituada a fazer shows fervidos, Elza Soares voltou febril ao palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), para estrear seu novo show, Elza Sapeca da Breca. Mas nem a febre que abalou sua voz conseguiu baixar a temperatura quente da apresentação. Assanhada como sempre, a mulata mostrou que é dura na queda e, mesmo sem a artilharia vocal dos melhores dias, fez um grande show realmente inédito - nem tanto por conta do roteiro, de fato salpicado com algumas novidades na voz de Elza, mas sobretudo pelos arranjos do maestro Eduardo Neves. Sob a batuta de Neves, um trio de metais em brasa repaginou músicas recorrentes no repertório da artista como Espumas ao Vento e, claro, Malandro.
A abertura de Elza Sapeca da Breca é feita a capella com Milagres, o tema cortante de Cazuza, Frejat e Denise Barroso que Elza gravou num de seus discos mais ousados, Somos Todos Iguais (Som Livre, 1985), infelizmente ainda inédito em CD. Na seqüência, Opinião, Palmas no Portão - um título menor do repertório de sambas da cantora - e Lata d'Água foram moldando um dos mais bem-costurados roteiros apresentados por Elza. Os links foram criativos. Pontuado por um acordeom, o samba Volta por Cima estava mais para tango - o que possibilitou a emenda perfeita com a já clássica abordagem de Fadas no ritmo argentino.
De certa forma, as trocas de roupa delimitam os blocos e climas do roteiro. Logo após a primeira das duas trocas de figurino, Elza surpreende quem não conhece seus dotes jazzísticos ao entoar, num tom lânguido, Imagination, tema do repertório suave do trompetista norte-americano Chet Baker (1929 - 1988). Na seqüência, vem o link mais inspirado do roteiro. Apresentado numa batida seca, quase fúnebre, um samba inédito que retrata o trágico e violento cotidiano dos morros cariocas - Fatalidade, parceria de Rodrigo Alzuguir com Alfredo del Peño - é emendado com um samba das antigas de Zé Kétti (1921 - 1999), Malvadeza Durão, um flash pioneiro dos códigos que regem as favelas. Antes de mais uma troca de roupa, Elza fecha o bloco em clima bem mais light ao reviver cheia de floreios e maneirismos vocais o samba Camisa Listrada, de Assis Valente (1911 - 1958). Show de suingue!
Na última parte, aberta com uma Mulata Assanhada totalmente remodelada, a maior surpresa é o gracioso dueto de Elza com o tecladista Marcelo Caldi em Acertei no Milhar. Mesmo sem ter a artilharia vocal da cantora, Caldi entra no jogo e co-protagoniza o número mais teatral do show. Que reabilita o Estatuto da Gafieira (Billy Blanco) com o trio metaleiro se destaca na banda. Nessa altura, a cantora já está mais sapeca do que nunca, ironiza em cena a idolatria de Madonna (sem citar o nome da cantora), faz alusões aos dotes físicos do baixista Edson Menezes e deixa o show com menos pique por conta de tanta falação. No bis, Tente Outra Vez (número herdado de recente show-tributo a Raul Seixas realizado em São Paulo com a participação de Elza), A Carne e um medley de funk que linka Se Essa Rua Fosse Minha com o Rap da Felicidade e com Som de Preto, ressaltando a ideologia de Elza, a mulata assanhada, sempre febril, e sempre sapeca, dura na queda.

DVD de 'Dentro do Mar Tem Rio' sai em março

São verdadeiros os rumores que circularam nos últimos dias em comunidades do orkut dedicadas a Maria Bethânia: o DVD do show Dentro do Mar Tem Rio - estreado em novembro de 2006 em São Paulo (SP) - tem lançamento programado para março pela gravadora Biscoito Fino. A gravação foi feita duas vezes. Como Bethânia (em cena na foto de Beti Niemeyer) não aprovou as imagens captadas pelo diretor Andrucha Waddington em show no Canecão (RJ), em agosto de 2007, o registro foi refeito em São Paulo (SP) - já no encerramento da turnê - em dezembro de 2007.

8 de janeiro de 2009

Biscoito Fino precisa melhorar revisão de DVDs

A gravadora Biscoito Fino precisa - com urgência - aprimorar a revisão de textos e fichas técnicas de seus discos. Os DVDs, em especial, estão chegando às lojas com erros incompatíveis com o habitual alto nível artístico dos diversos produtos da gravadora. Primeiro, houve o erro feio na ficha técnica do DVD de Olivia Byington, A Vida É Perto, cuja faixa Pense em mim teve a autoria atribuída à dupla Leandro & Leonardo, com a omissão dos nomes dos três verdadeiros autores (Douglas Maio, Mário Soares e Zé Ribeiro) da música. Na seqüência, o DVD do belo filme Os Doces Bárbaros informava em texto editado na contracapa que a formação do quarteto tinha sido em 1978, quando, na realidade, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia se agruparam em 1976 (o filme que documentou a turnê é que foi lançado em 1978). O último lapso é o do DVD Três Meninas do Brasil, editado esta semana pelo selo Quitanda com constrangedor erro gramatical na ficha técnica. O tema de Caetano Veloso Nu com a minha Música - entoado por Teresa Cristina no show que a une a Jussara Silveira e a Rita Ribeiro - aparece grafado com acento indevido na palavra nu. Nada a ver com a companhia que se consolidou no mercado fonográfico por priorizar a música brasileira da melhor qualidade.

Orixá da Mangueira, Xangô sai de cena aos 85

Carioca, ele foi criado no bairro do Estácio, se iniciou no samba numa escola de Rocha Miranda e chegou a ingressar na Portela. Mas foi ao entrar em 1939 na Mangueira - a escola de samba que adotaria até no sobrenome artístico - que o bamba Olivério Ferreira, mais conhecido como Xangô da Mangueira, logo se consagrou. Inicialmente como puxador - função que ocupou até 1951, ano em que passou o bastão para Jamelão (1913 - 2008) - e, mais tarde, como hábil diretor de harmonia. Essa trajetória luminosa na escola verde-e-rosa se encerrou na noite de quarta-feira, 7 de janeiro de 2009, data em que Xangô da Mangueira saiu de cena, aos 85 anos. Nascido em 19 de janeiro de 1923, Xangô foi também mestre no improviso e - não por acaso - seu primeiro (tardio) LP, editado em 1972 pela extinta gravadora Copacabana, foi intitulado Rei do Partido Alto. A discografia solo do artista teve seu auge nos anos 70 e se encerrou em 1982 com o álbum Xangô Chão da Mangueira. No mundo do samba, Xangô sempre foi tratado com respeito e a devoção de um orixá. Fora desse universo, contudo, o compositor nunca conseguiu a popularidade obtida, por exemplo, por seu fã Cartola (1908 - 1980). Que o tempo corrija a injustiça!...

Música de Liminha puxa o disco dos Paralamas

A lhe Esperar, a música que puxa o próximo álbum de inéditas dos Paralamas do Sucesso, chega às rádios nesta quinta-feira, 8 de janeiro de 2009. Trata-se de parceria do produtor do CD, Liminha, com Arnaldo Antunes. Incorporando a batida do reggae que já moldava o som do grupo no início da carreira, a música tem uma pegada pop que inexiste no repertório dos dois anteriores álbuns de inéditas do trio, Longo Caminho (2002) e Hoje (2005). Intitulado Brasil Afora, o primeiro álbum de material novo dos Paralamas do Sucesso em quatro anos chega às lojas na primeira semana de fevereiro, pela gravadora EMI Music. A gravação foi feita em Salvador (BA), no estúdio Ilha dos Sapos, de Carlinhos Brown, co-autor de duas faixas. O repertório é quase todo autoral.

7 de janeiro de 2009

Led Zeppelin vai gravar CD com novo vocalista

O show não pode - e nem vai - parar. Como Robert Plant já anunciou em dezembro de 2008 que não tem interesse em participar da reunião do Led Zeppelin, o grupo vai tentar alçar vôo em 2009 com um novo vocalista. A intenção é gravar um álbum com o substituto de Plant - o ainda não foi escolhido - e sair em turnê. Ou vice-versa. Por enquanto, o grupo é formado pelo guitarrista Jimmy Page, o baixista John Paul Jones e o baterista Jason Bonham. Jason é filho do baterista original, John Bonham, morto em 1980 - ano, aliás, da dissolução da banda, que se reuniu, em dezembro de 2007, para (histórico) show em Londres, Inglaterra.

Eminem e 50 Cent lançam suas novas músicas

Duas músicas dos próximos CDs dos rappers norte-americanos Eminem (foto à direita) e 50 Cent estão sendo lançadas esta semana nas rádios dos Estados Unidos e - claro - podem ser ouvidas na internet. A nova música de Eminem se chama Crack a Bottle, faz parte do álbum Relapse - ainda sem data de lançamento oficial - e conta com intervenções de Dr. Dre e do próprio 50 Cent. Detalhe: uma versão embrionária de Crack a Bottle já tinha caído na rede em novembro de 2008, mas não era a oficial. Já 50 Cent aposta suas fichas em I Get It in, música do álbum Before I Self Destruct, que chegou a ter seu lançamento anunciado para 9 de dezembro de 2008, mas foi adiado porque o rapper decidiu fazer gravações complementares. Consta que 50 Cent ainda está finalizando o CD...

Padre Fábio grava show no tempo da indústria

Resenha de Show - Gravação de CD e DVD
Título: Eu e o Tempo
Artista: Fábio de Melo (em foto de Mauro Ferreira)
Data: 6 de janeiro de 2009
Local: Canecão (RJ)
Cotação: * * *

"Errou! Errou!", acusou o público com fervor religioso tão logo padre Fábio de Mello acabou de apresentar Contrários, uma das músicas incluídas na gravação ao vivo do CD e DVD Eu e o Tempo, realizada em show num superlotado Canecão (RJ) na noite de terça-feira, 6 de janeiro de 2009. Não, o padre não tinha errado. Não daquela vez. E a platéia sabia disso. Era apenas uma tentativa graciosa de fazer ele repetir o número. A cena dá bem a medida da adoração que o público católico devota ao padre-cantor, novo fenômeno do mercado fonográfico. O registro ao vivo foi arquitetado pela gravadora LGK Music no embalo das 540 mil cópias vendidas em 2008 de Vida, o 11º CD de Fábio, campeão de um mercado que amarga lucros descendentes. Foi por isso que, na noite de terça-feira, a indústria - da fé e do disco - funcionou a todo vapor. No palco-púlpito do Canecão, um líder carismástico (no duplo sentido) fez sua missa-show diante de fiéis que o adoram para gerar CD e DVD. Um registro feito no tempo litúrgico e no tempo da máquina fonográfica, com as devidas interrupções para repetições de músicas e para ajustes na imagem do padre popstar. E, como todo popstar, o padre já sabe como é importante afagar o ego do público fiel. Faz parte do show, o da fé.

Dirigido e roteirizado por Túlio Feliciano, nome recorrente na condução de shows de samba, o espetáculo de Fábio de Melo foi estruturado em cinco tempos litúrgicos (Pentecostes, Advento, Epifania, Quaresma e Páscoa). A cada mudança do tempo, um relógio era deslocado no fundo do cenário, de uma extremidade à outra do palco, para marcar a passagem. Poemas, relatos e textos filosóficos - sobre o amor, a amizade, Jesus e Deus - entrecortaram repertório que embaralhou cânticos religiosos com músicas conhecidas nas vozes de cantores profanos como Fábio Jr. - de quem o padre-xará reviveu Vida e Pai. Aliás, Pai teria rendido mais se seu arranjo fosse tão econômico quanto o de O Caderno, a sensível canção infanto-juvenil de Toquinho, entoada pelo padre apenas na companhia da guitarra de Ary Piassarolo e dos teclados de Maurício Piassarolo, pai e filho (o primeiro em participação especial) - como ressaltou Fábio, antes de convocar Ary ao palco.

Ágil na primeira metade do show, transcorrida sem erros, a gravação se tornou arrastada do meio para o fim com sucessivas repetições que evidenciaram ligeira falta de sintonia entre artista, músicos e equipe técnica. Ao todo, foram três horas de show. Ou de pregação, dependendo do ponto de vista. Alguns números, como Tudo É do Pai, foram acompanhados em catártico coro popular. Há os cânticos católicos que fazem jus à tanta adoração pelo bonito desenho melódico - em especial, Humano Amor de Deus. Outros se sustentam mais nas mensagens de fé, amor e perserverança. Entre hits religiosos e bissextas novidades em seu repertório, como Arvoreando e Cântico das Criaturas, padre Fábio soube conduzir sua missa-show com inegável carisma e voz agradável que, como ele mesmo avisou, não estava em sua melhor forma na noite da gravação do CD e DVD Eu e o Tempo. Cantor, compositor, escritor e professor universitário (pós-graduado em teologia), além de padre desde 2001, Fábio de Melo parece ter aquele algo mais que distingue as estrelas. Deve ser por isso que, para os fiéis, o tempo pára na presença do novo popstar católico...

Celina Borges brilha na gravação de padre Fábio

Cantora mineira, conhecida pelo público seguidor do movimento católico intitulado Renovação Carismática, Celina Borges brilhou na gravação do DVD de padre Fábio de Melo, Eu e o Tempo, realizada na noite de terça-feira, 6 de janeiro de 2008, em show no Canecão, no Rio de Janeiro (RJ). Com sete CDs em sua discografia, Celina foi chamada ao palco por Fábio para fazer dueto em Tudo Posso. Com voz volumosa, no estilo exuberante das cantoras norte-americanas de gospel, a intérprete arrancou entusiásticos aplausos da platéia católica que seguiu (com fervor) a missa-show.

6 de janeiro de 2009

Guitarrista dos Stooges sai de cena aos 60 anos

Integrante da formação original do lendário grupo The Stooges, o guitarrista Ron Asheton (à esquerda na foto, uma das últimas imagens oficiais da banda que projetou Iggy Pop em 1967) foi encontrado morto na sua casa, em Michigan (EUA), na manhã desta terça-feira, 6 de janeiro de 2009. O irmão do baterista dos Stooges, Scott Asheton, tinha 60 anos. Os riffs de sua guitarra marcaram os clássicos do quarteto como No Fun. Dissolvido em 1974, o grupo tinha se reunido em 2003 e, desde então, gravou o álbum The Weirdness (2007) e teve agenda regular de shows. Uma autópsia ainda vai apontar a causa da morte de Ron Asheton.

Guitarras amplificam a melancolia de Morrissey

Resenha de CD
Título: Years of Refusal
Artista: Morrissey
Gravadora: Decca
/ Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Se alguém começar a escutar aleatoriamente o nono álbum de estúdio de Morrissey pela décima faixa, You Were Good in your Time, pode supor que Years of Refusal oferece mais do mesmo. You Were Good in your Time é uma balada de cinco melancólicos minutos, adornada com cordas e turbinada com ruídos e efeitos em seu minuto final. Contudo, Years of Refusal se distingue na recente discografia solo de Morrissey pela predominância das guitarras. São elas que temperam a tristeza e a desesperança recorrentes na música do ex-Smith em músicas como Something Is Squeezing my Skull, Mama Lay Softly on the Riverbed e Black Cloud. Estas três faixas abrem o CD e anunciam o tom roqueiro de Years of Refusal, cujo lançamento - previsto inicialmente para setembro de 2008 - foi remarcado para 16 de fevereiro de 2009. É o primeiro disco de inéditas de Morrissey na Decca, gravadora na qual ele estreou em 2008 com Greatest Hits, a coletânea que antecipou duas - All You Need Is me e That's How People Grow Up - das 12 faixas de Years of Refusal.

Disponível (extra-oficialmente) na internet desde domingo, 4 de janeiro de 2009, Years of Refusal flagra Morrissey com a energia que faltou em seu álbum anterior, Ringleader of the Tormentors (2006), produzido com pompa por Tony Visconti. Eventualmente pesado, seu nono disco não chega a ser tão bom quanto You Are the Quarry - o vigoroso álbum de 2004 que marcou a retomada da carreira solo de Morrissey, produzido pelo mesmo Jerry Finn que pilota o novo álbum - mas apresenta faixas bem interessantes como a vibrante One Day Goodbye Will Be Farewell - de contorno até pop (na medida em que Morrissey consegue soar pop) - e I'm Throwing my Arms around Paris, bela música que remete ao som do The Smiths, o grupo que projetou Morrissey nos anos 80. No meio de tantas guitarras, proeminentes em faixas como Sorry Doesn't Help, há o acento mariachi de When Last I Spoke to Carol e há densos climas emocionais como o de It's Not your Birthday Anymore, tema que adquire tom quase épico em seus cinco minutos e nove segundos. Na faixa final, Morrissey recorre novamente às guitarras para proclamar uma suposta autosuficiência em I'm Ok by Myself, o rock mais nervoso do disco. No todo, Years of Refusal apaga em alto e bom som a má-impressão deixada pelo pálido Ringleader of the Tormentors.

Morrissey posa com filho de assistente em disco

Sebastien Pesel-Browne é o nome do garotinho que aparece com Morrissey na capa do nono álbum de estúdio do artista, Years of Refusal, nas lojas em 16 de fevereiro de 2009 pela gravadora Decca, mas já disponível extra-oficialmente na internet desde domingo, 4 de janeiro. Sebastien é filho de Charlie Browne, um dos assistentes do cantor. Detalhe: os pais do garoto se conheceram em show de Morrissey, em Boston (EUA). A foto é de Jake Walters.

5 de janeiro de 2009

Diana Krall divulga capa do álbum Quiet Nights

Foi divulgada - nesta segunda-feira, 5 de janeiro de 2009 - a capa do próximo álbum de Diana Krall, Quiet Nights, produzido por Tommy LiPuma com arranjos do craque Claus Ogerman. O disco é bastante influenciado pela Bossa Nova e inclui três músicas de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), sendo que uma delas - Quiet Nights of Quiet Stars, a versão em inglês de Corcovado - inspirou o título do disco, nas lojas, pela gravadora Verve, em 31 de março.

Minissérie sobre Maysa gera compilação dupla

Em exibição pela Rede Globo a partir desta segunda-feira, 5 de janeiro de 2009, a curta minissérie Maysa - Quando Fala o Coração já tem sua trilha sonora editada pela gravadora Som Livre em CD duplo. Na realidade, trata-se de mais uma compilação de Maysa (1936 - 1977) que rebobina 27 gravações feitas entre 1956 e 1974. A boa seleção abrange do primeiro ao último álbum da cantora. O repertório é fiel ao que vai ser ouvido na trama de ficção escrita por Manoel Carlos com base na trajetória real da artista. Tanto que quem aparece na capa do CD é a atriz Larissa Maciel, que encarna Maysa escorada em impressionantes caracterizações que retratam as - muitas - fases e faces da cantora.

Luiza regrava Gil sob a direção de Max Viana

Canção da lavra de Gilberto Gil, lançada em 1976 pelo grupo Os Doces Bárbaros, O seu Amor ganha regravação de Luiza Possi (à direita em foto de Nana Moraes). Em seu quinto CD, gravado sob a direção musical de Max Viana, a cantora vai arriscar algumas músicas autorais - caso de Eu Espero, parceria de Luiza com Dudu Falcão - em repertório assinado por compositores como Chico César (versão de música do africano Lokua Kanza), Lula Queiroga e Samuel Rosa. O lançamento está previsto para março, via LGK Music, a gravadora de Líber Gadelha que tem seus discos distribuídos pela Som Livre.

'Circus' de Britney bate marca dos dois milhões

Lançado em 2 de dezembro de 2008, o sexto álbum de estúdio de Britney Spears, Circus, já bateu a marca de dois milhões de cópias vendidas ao redor do mundo. Somente nos Estados Unidos - o país onde os dois primeiros singles do disco, Womanizer e Circus, vem tendo ótimo desempenho nas paradas - já foram vendidos 1 milhão e 104 mil exemplares do álbum até 31 de dezembro de 2008. Marca que já supera a do anterior Blackout (2007) e que (re)põe Britney em lugar de honra no picadeiro pop.

4 de janeiro de 2009

Prince pretende lançar três CDs ao longo do ano

Sem lançar CD desde julho de 2007, quando editou Planet Earth em parceria com jornal inglês, Prince pretende lançar nada menos do que três álbuns ao longo de 2009. Um - por ora intitulado MPL Sound e já em fase final de produção - tem tom experimental de ambiência electro e conta com a adesão do rapper norte-americano Q-Tip. Outro disco, Lotus Plant, já concluído, tem arranjos calcados em guitarras e traz músicas como Dreamer, Wall of Berlin e Colonized Mind - além de Crimson & Clover, um cover do repertório de Tommy James and the Shondells. Por fim, um terceiro CD, Elixir, apresenta Prince ao lado da cantora Bria Valente - sua nova aposta na cena musical - em repertório erótico.

Gravação uniformiza sambas do Carnaval 2009

Resenha de CD
Título: Sambas de
Enredo 2009
Artista: Vários
Gravadora: Gravasamba
/ Universal Music
Cotação: * 1/2

Já até virou clichê dizer que os sambas de enredo dos últimos anos são meros arremedos das obras-primas do gênero, que viveu seu auge nos anos 60 e 70. São mesmo. E o confronto da safra do Carnaval de 2009 com o único samba antigo reeditado no Grupo Especial das escolas do Rio de Janeiro - Lenda das Sereias, Rainha do Mar (1976), revivido pelo Império Serrano de acordo com o atual regulamento da Liga das Escolas de Samba - corrobora uma queda de qualidade que vem sendo progressiva ao longo dos últimos 20 anos. Mas o que salta aos ouvidos no CD Sambas de Enredo 2009 é o tom padronizado e frio da gravação, que uniformiza e dilui quaisquer eventuais nuances dos sambas. Como a participação do grupo Fundo de Quintal no registro do samba da Imperatriz Leopoldinense, Imperatriz... Só Quer Mostrar que Faz Samba Também. Quanto aos sambas propriamente ditos, os 10 inéditos do Grupo Especial do Carnaval carioca patinam entre os níveis fraco e mediano. Merecem menção especial os da Beija-Flor (No Chuveiro da Alegria Quem Banha o Corpo, Lava a Alma na Folia - com a grife típica da escola de Nilópolis) e da Portela (E Por Falar em Amor, Onde Anda Você? - de um desenho melódico até incomum em tempos de sambas com andamentos de marcha). Em contrapartida, escolas como Unidos da Tijuca e Unidos de Vila Isabela apresentam sambas bem aquém de seus históricos. Tijuca 2009: Uma Odisséia sobre o Espaço e Neste Palco da Folia, É Minha Vila que Anuncia: Theatro Municipal - A Centenária Maravilha (este pontuado na gravação pelo violino de Léo Ortiz) jamais farão parte de uma antologia de sambas-enredos. É justo destacar, contudo, o poder incendiário do segundo refrão do samba do Salgueiro ("Vem no tambor da Academia / Que a furiosa bateria vai te arrepiar / Repique, tamborim, surdo, caixa e pandeiro / Salve o Mestre do Salgueiro!" - o ponto alto do samba Tambor). Até contagia, mas, no todo, a gravação do disco deixa a desejar. Mesmo um samba primoroso como Lendas da Sereia, Rainha do Mar perde parte de seu encanto no (acelerado) registro do chapado CD Sambas de Enredo 2009. A folia é desanimada.

Ritchie grava DVD e já planeja disco de inéditas

Bem motivado pela chegada às lojas da edição comemorativa dos 25 anos de seu primeiro belo álbum, Vôo de Coração (1983), Ritchie prepara a sua volta ao mercado fonográfico - e em dose dupla. Em 29 de janeiro de 2009, o compositor grava seu primeiro DVD com os sucessos e os lados B de sua discografia. A gravação vai ser feita no estúdio Visom, no Rio de Janeiro (RJ), como se fosse ao vivo, mas sem a presença de platéia. O lançamento está agendado para abril em parceria com o Canal Brasil. Na sequência da edição do DVD, o cantor (acima em foto de Milton Montenegro) planeja entrar em estúdio em seguida para gravar álbum de inéditas com parcerias com nomes com Arnaldo Antunes, Bernardo Vilhena (fiel letrista das músicas de Ritchie desde o começo) e Fausto Nilo.

Juntos, os quatro ases da bossa soam renovados

Resenha de CD
Título: Os Bossa Nova
Artista: Carlos Lyra, João Donato, Marcos Valle e
Roberto Menescal
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Dentre os projetos idealizados para festejar os 50 anos que a Bossa Nova completou em 2008, um dos mais interessantes é Os Bossa Nova, álbum que a Biscoito Fino acaba de pôr nas lojas com a reunião - até então inédita em disco - de quatro ases da bossa cinqüentenária. Carlos Lyra, Marcos Valle e Roberto Menescal foram três dos principais fornecedores de clássicos da fase inicial do movimento, sendo suplantados somente pelo soberano Tom Jobim (1927 - 1994). João Donato foi a ovelha desgarrada do moderno rebanho, mas ninguém duvida de que sua bossa já era nova na década de 50. Juntos pela primeira vez num disco inteiro, os quatro craques da bossa soam renovados pelo (feliz) encontro.

Idealizado pelo produtor José Milton e gravado entre agosto e outubro de 2008, o CD Os Bossa Nova não é projeto de caráter retrospectivo. Os já exauridos clássicos de cada compositor foram evitados. A rigor, os quatro cantam ou tocam juntos somente em duas das 14 faixas - Bossa Entre Amigos (Roberto Menescal e Marcos Valle) e Samba do Carioca, composto por Lyra com Vinicius de Moraes (1913 -1980) em 1963 para o musical Pobre Menina Rica - mas o interesse do disco se sustenta pelo troca-troca de repertório e pelo revezamento entre os mestres. Se Menescal se une a Lyra para reviver o Balansamba que compôs com Ronaldo Bôscoli (1927 - 1994), Marcos Valle entoa Até Quem Sabe, parceria de Donato com seu irmão Lysias Ênio. Há também temas instrumentais como Sextante (da safra inédita de Lyra), Entardecendo (parceria de Valle com Menescal) e A Cara do Rio (de Menescal com Donato) - com destaque para os dois primeiros. São nestes temas que fica mais evidente o refinamento harmônico do disco, para o qual contribuem os ótimos músicos convidados - entre eles, o trompetista Jessé Sadoc, o baixista Jorge Helder e o baterista Paulo Braga, hábeis na sustentação da leveza das bossas.

Há fino entrosamento entre os quatro ases. O que joga contra Os Bossa Nova são dois fatos incontestáveis. O primeiro é que nenhuma música nova ou mesmo mais antiga - caso de Ciúme, composta por Lyra em 1954 - chega sequer a roçar a beleza dos clássicos da bossa. O segundo é que nenhum dos quatro ases prima exatamente pelo virtuosismo vocal. Lyra e Valle até se viram bem no microfone. Já Menescal nunca foi mesmo talhado para o canto, como comprova o registro de Vagamente, parceria dele com Bôscoli que deu título ao primeiro LP de Wanda Sá. Mas é justo reconhecer que o dueto de Menescal com João Donato (outro desafinado) em Teresa da Praia é gracioso. No geral, o álbum deixa a (boa) impressão de que a festa da bossa não tem fim. Aliás, os sintomáticos versos que encerram o disco ("Vamos já pensando numa próxima vez / Pois a nossa bossa entre amigos / Ninguém vai separar", de Bossa entre Amigos) sinalizam que vai ser sempre tempo de celebrar a modernidade atemporal da bossa.

DVD documenta passagem do McFly pelo Brasil

A vinda do grupo McFly ao Brasil em outubro de 2008 - para shows em Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), em miniturnê que rendeu à banda algumas aparições em populares programas de televisão - fez aumentar a febre nacional em torno do grupo inglês. Ciente de que a idolatria teen em torno dessa boyband já chegou ao Brasil, a EMI Music produziu para o mercado nacional uma edição especial do ralo DVD Radio:Active, que documenta os bastidores da gravação do CD homônimo. A terceira parte do DVD é inteiramente dedicada à passagem do quarteto pelo Brasil, onde músicas como Lies e Falling in Love são hits entre os fãs do McFly.