Resenha de CDTítulo: Meu CoraçãoBrasileiroArtista: Clara BellarGravadora: AtraçãoFonográficaCotação: * * *Atriz francesa radicada em Los Angeles (EUA), integrante do elenco de
blockbusters como
Inteligência Artificial, Clara Bellar se aventura na música com
Meu Coração Brasileiro, primeiro CD de trilogia que será completada pelos álbuns
Mon Coeur Français e
My English Heart. Já lançado na Europa e no Japão, o disco inaugural da série chega ao Brasil valorizado pela direção musical de Dori Caymmi, cujo violão dá o tom leve e acústico dos arranjos. Dori foi escolha acertada para pilotar o disco ao lado do guitarrista Cláudio Guimarães e da própria Bellar, pois soube criar atmosfera suave que combina com a voz de pouco alcance da artista. E ainda pôs sua voz grave em
Acontece que Eu Sou Baiano (1944), um daqueles sambas buliçosos que apenas Dorival Caymmi sabe fazer.
A primeira impressão é de que o
coração brasileiro de Clara Bellar bate descompassado porque o CD abre com
Canto das Três Raças (1976), samba que pede a amplitude vocal exibida por Clara Nunes (1942 - 1983), intérprete imbatível da obra-prima de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro. Mas a impressão é falsa. Na maioria das demais faixas, com destaque para o samba
Bahia com H (Denis Brean, 1948), Bellar segue bem a receita de João Gilberto e mostra que menos pode ser mais. A segunda faixa é um achado:
Joana Francesa (1973) é tema apropriado para o leve sotaque da artista, que convocou Milton Nascimento para plácido dueto, feito sem a intensidade (geralmente) associada ao hit de Chico Buarque.
Além de Milton, o
coração brasileiro de Bellar abriga João Bosco, convidado da simpática versão de
Aquarela do Brasil (Ary Barroso, 1939) e compositor recorrente na ficha técnica em
Nação (1982), outro samba difícil de dissociar da voz de Clara, a Nunes. Com repertório impecável, que inclui
Sampa (Caetano Veloso, 1978) e
Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico, 1935), o disco expõe a visão da música brasileira pela ótica de uma estrangeira, mas sem recorrer ao exotismo e aos clichês tropicais.