3 de outubro de 2009

Continuação foca Lenine com jeito de making of

Resenha de filme
Título: Continuação
Direção: Rodrigo Pinto
Roteiro: Daniel Garcia
e Rodrigo Pinto
Cotação: * *
Em cartaz no Festival
do Rio 2009
(Sessões entre 2 e 7 de
outubro de 2009)

Continuação - o filme do jornalista e cineasta Rodrigo Pinto sobre Lenine, ora em exibição dentro da Première Brasil Música do Festival do Rio 2009 - foca o artista durante o processo de gravação do álbum Labiata (2008). As imagens captadas ao longo de nove meses entre Rio de Janeiro (RJ), Araras (RJ), Recife (PE) e Wiltshire (Inglaterra) poderiam fornecer a pista para o entendimento do processo de criação de Lenine, dono de obra que vem ganhando peso mais pela maneira cosmopolita como é formatada. Porém, Continuação expõe não mais do que lampejos desse processo. A rigor, o que se vê e ouve na tela ao longo de 71 minutos poderia render alentado making of para um DVD do cantor. Pinto foge do documentário biográfico e tampouco cede à tentação de empilhar depoimentos para traçar um perfil generoso do artista. Em contrapartida, toda a discussão que o filme propõe - a dicotomia entre o passado e o futuro da música no momento em que o mercado fonográfico se dilui e sofre reviravoltas com a revolução digital - patina em nível superficial. Lenine defende interessantes pontos de vista, salpicados entre uma tomada e outra. Um deles é a crença de que o conceito de álbum não se sustenta quando o ouvinte baixa um amontoado de músicas na internet e as ouve em sequência aleatória. Há também uma conversa saudosista do compositor com o parceiro Arnaldo Antunes sobre as sensações táteis do vinil. Contudo, estes bons fragmentos de ideias não formam um todo consistente a ponto de abrir um debate ou de provocar reflexões. A direção de Pinto é correta, mas o roteiro - assinado pelo cineasta estreante em parceria com Daniel Garcia - se revela sem rumo e não sustenta a originalidade do conceito. Entre cenas de estúdios e camarins, os instantes mais reveladores estão na visita de Lenine aos pais, em Recife (PE). Não tanto pelo que é dito (embora seja pungente a cena em que seu pai admita que, aos 80 anos, chora à toa para liberar as emoções que foram reprimidas ao longo da vida), mas pelos silêncios. A pausa é elemento determinante na formatação de uma música, ensina Lenine em outra cena. É em Recife também que Lenine revela a influência determinante que discos de Dorival Caymmi (1914 - 2008) e Ary Lobo (1930 - 1980) tiveram em sua formação musical. Mesmo assim, na ausência de informações mais detalhadas sobre a trajetória ímpar do artista, Continuação acaba ficando com jeito de making of. Eventualmente até bem-humorado, como na cena em que João Cavalcanti, filho do cantor, revela maroto no estúdio que Lenine às vezes é confundido com Humberto Gessinger, o mentor da banda gaúcha Engenheiros do Hawaii. Só que, entre o humor bissexto e as reflexões sobre o futuro da música, o documentário não alça um alto voo filosófico.

Bio de Simonal será lançada em 23 de outubro

Está em fase de impressão a primeira (esperadíssima) biografia do cantor Wilson Simonal (1938 - 2000). Nas livrarias a partir de 23 de outubro de 2009, Nem Vem que Não Tem - A Vida e o Veneno de Wilson Simonal (foto) foi redigida pelo jornalista Ricardo Alexandre - autor do melhor livro sobre a geração 80 do pop rock brasileiro, Dias de Luta (DBA, 2002) - com base em mais de dez anos de pesquisas. A biografia vai chegar ao mercado pela editora Globo, que pretendia lançá-la na 14ª Bienal do Rio de Janeiro, mas teve que atrasar a edição por conta de autorizações jurídicas para poder publicar fotos raras e os documentos do DOPS que esclarecem o controvertido caso de 1971 - quando o cantor teria recrutado agentes da repressão para dar um corretivo no contador de sua firma. O mau passo originou a incendiária acusação de que o artista era informante do DOPS - o que liquidou sua vida e sua carreira. De acordo com a editora, negociações com os herdeiros de Simonal permitiram que o texto da biografia fosse editado na íntegra, sem cortes ou interferências.

Joel e Hamilton elevam os bandolins às alturas

Resenha de CD
Título: De Bandolim
a Bandolim
Artista: Hamilton de
Holanda e Joel
Nascimento
Gravadora: Brasilianos
Cotação: * * * * 1/2

Pelo fato de Joel Nascimento e de Hamilton de Holanda serem dois dos maiores bandolinistas de todos os tempos, o encontro da dupla em disco somente poderia resultar brilhante. Mas o CD De Bandolim a Bandolim supera as expectativas. Separados por gerações, o septuagenário Joel e o trintão Hamilton são unidos pela devoção a mestres como Jacob do Bandolim (1918 - 1969), de quem tocam Falta-me Você neste disco gravado em 2008. Há comovente lirismo nessa faixa, assim como em Gotas de Ouro, joia de outro mestre, Ernesto Nazareth (1863 - 1934). Contudo, Joel e Hamilton não se limitam a lapidar obras de compositores sempre recorrentes em álbuns de choro. O que faz com o que seus divinos bandolins sejam elevados às alturas no CD é a habilidade de ambos para transitar por gêneros como o tango - Por una Cabeza (Carlos Gardel e Alfredo Le Pera), faixa que ostenta a pegada passional do ritmo argentino - e a música clássica. Um tema de Bach (1685 - 1750), Chorale Prelude Num Kommm der Heilland Adagio, é transcrito para o toque do bandolim em mais uma ruptura da sempre tênue fronteira que separa a música erudita da popular. Há também peças de Vivaldi (1678 - 1741) e Beethoven (1770 - 1827) que originalmente já pediam bandolins. Enfim, um grande encontro, perceptível já no molejo que sacode Tu Passaste por Este Jardim (Catulo da Paixão Cearense e Alfredo Dutra), pérola do fundo do baú que abre este CD que já se impõe como um dos melhores deste ano de 2009 na categoria instrumental. É sublime!

Blitz recruta bons parceiros em CD que soa leve

Resenha de CD
Título: Eskute Blitz
Artista: Blitz
Gravadora: CD Promo
Cotação: * * *

É claro que nada vai acontecer com a banda Blitz nessa altura do campeonato. O grupo de Evandro Mesquita já está para sempre linkado ao mágico verão de 1982, quando o sucesso comercial e artístico de seu compacto Você Não Soube me Amar abriu as portas do mercado fonográfico nacional para o rock made in Brazil. Passada a euforia inicial, a Blitz se dissolveu - após três álbuns de estúdio e incontáveis egotrips - para voltar mais tarde, sempre capitaneada por Evandro. Entre idas e vindas, houve apenas um álbum de inéditas, Línguas (1997), no caminho pontuado por discos ao vivo repletos de indisfarçável nostalgia da modernidade. Por isso mesmo, o CD Eskute Blitz - o primeiro trabalho de inéditas da banda em 12 anos, nas lojas neste início de outubro de 2009 - merece atenção. Não é um grande disco, mas é um bom disco que traz uma leveza e uma despretensão que andam escassas no rock brasileiro. E, verdade seja dita, muito da magia da Blitz vinha de seus shows performáticos. A rigor, seus álbuns nunca foram coesos, sendo que o segundo, Radioatividade (1983), é o que mais apresenta melhor acabamento. Eskute Blitz procura dar sabor atual aos ingredientes da receita pop da banda. E a abertura do leque de parceiros contribui positivamente para que o objetivo seja alcançado. Corações na Calça Jeans roça a perfeição pop e, não por acaso, ostenta o nome de Leoni, parceiro de Evandro na faixa e no (menos inspirado) reggae Voo Cego. Já Zero Absoluto é pop rock que junta o nome de Evandro ao casal fofo do grupo Pato Fu - John Ulhoa e Fernanda Takai - enquanto O Garoto Sonha evoca algo da inocência quase infantil de Erasmo Carlos, parceiro de Evandro e de Ralph Canetti no tema. Na seara das baladas, há Nuvens e Vida Mansa, deliciosa ode ao bem-viver que também é feita em Eu, Minha Gata e Meu Cachorro, insosso pop rock que abre (mal) o CD e passa a impressão falsa de que a Blitz vai soar no disco como um clone daquela banda alegre dos anos 80. Não é bem assim. A receita é a mesma, mas, sim, ganhou novos ingredientes. A ponto de a Blitz soar modernosa ao investir no universo dance em Sacanagem. Entre o passado e o presente, há as piadas de duplo sentido sexual - como as feitas em Homem de Avental - que já soam velhas. Apesar de bobagens como Baseado em Clarice, que cita a escritora Clarice Lispector (1920 - 1977), escute o CD sem preconceito: ele tem valor e é melhor do que muito disco elogiado pela mídia, sempre ansiosa por apontar a nova maior banda de todos os tempos da última semana. Ouça!!

Polido, Charlie Brown veste camisa de Bonadio

Resenha de CD
Título: Camisa 10
Joga Bola até na Chuva
Artista: Charlie Brown Jr.
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * 1/2

Em seu primeiro CD na Sony Music, Camisa 10 Joga Bola até na Chuva, o grupo Charlie Brown Jr. veste de novo a camisa de Rick Bonadio. E o produtor deu polimento ao som da banda, sobretudo nas faixas iniciais. Dona do meu Pensamento, Me Encontra e Só os Loucos Sabem - esta uma balada calcada nos violões - exibem textura pop que contrasta com a pegada habitual do grupo de Santos (SP). É como se Bonadio tivesse filtrado o som hard de Charlie Brown Jr. pela estética comercialmente vitoriosa imposta a grupos como NX Zero e Fresno. Ao longo das 13 faixas, contudo, a personalidade de Brown vai se impondo no disco em alguns momentos. E, justiça seja feita, o rap Puro Sangue se beneficia da produção polida de Bonadio. É um dos destaques de repertório que agrega rock (O Dom, a Inteligência e a Voz - faixa em que se identifica a energia e o peso dos tempos áureos da banda), reggae (Inabalavelmente) e dub (Uma Só Vida pra Viver, Tenho Sede Nela Eu Vou). Para fãs antigos, Viver Dias de Sol é uma das pedidas. Mas o fato é que, por mais que o disco tenha bom acabamento instrumental, a safra de inéditas soa irregular. Ao fim da partida, Camisa 10 Joga Bola até na Chuva deixa a sensação de que Charlie Brown Jr. entrou em campo sem estar devidamente aquecido. Jogo parece perdido.

2 de outubro de 2009

NX Zero apresenta 14 inéditas em 'Sete Chaves'

Com lançamento marcado para 20 de outubro de 2009, o terceiro álbum do grupo NX Zero pela gravadora Arsenal Music, Sete Chaves, apresenta 14 músicas inéditas, todas compostas pelos integrantes do quinteto (em foto de César O'Valle). Faixa eleita o primeiro single, Espero a Minha Vez chegará às rádios em 7 de outubro. Confidencial, Vício e Interlúdio são músicas do disco, gravado no estúdio Midas, em São Paulo (SP), com produção de Rick Bonadio. Detalhe: algumas cordas do álbum foram gravadas em Nashville (EUA) - a meca da música country norte-americana.

Vanessa lança 'Sim' nos EUA com faixas extras

Álbum lançado por Vanessa da Mata em 2007, Sim vai ser editado nos Estados Unidos no dia 13 de outubro de 2009. A reedição norte-americana inclui três faixas adicionais, cantadas em inglês. Trata-se de Good Luck, Red (versão em inglês do reggae Vermelho) e da balada Amado. Já o DVD Multishow ao Vivo - Vanessa da Mata (2009) vai ser lançado na Europa em 16 de novembro. Vanessa já vendeu quase 100 mil discos fora do Brasil.

Alice in Chains põe fé na vida sem Layne Staley

Resenha de CD
Título: Black Gives
Way to Blue
Artista: Alice in Chains
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * 1/2

Black Gives Way to Blue é um disco de fé e esperança na vida que, apesar de tudo, tem que continuar. Tudo, no caso do grupo Alice in Chains, é a morte de seu vocalista Layne Staley em 2002. O canto de Staley era uma das marcas registradas da banda - um grande ícone do universo grunge - ao lado da guitarra e das músicas de Jerry Cantrell. E o fato é que, mesmo que o tempo não tenha esperado pelo Alice in Chains, o primeiro álbum de estúdio do grupo em 14 anos exala não somente otimismo, mas vigor. É claro que, para muitos, o novo vocalista William DuVall vai soar como um simulacro de Staley pelo timbre vocal similar. Contudo, Black Gives Way to Blue é um legítimo disco do Alice in Chains, cuja identidade já é perceptível nos acordes de guitarra que introduzem All Secrets Known. E o que se ouve na sequência - em faixas como Check my Brain e a balada Your Decision - é o mesmo grunge melódico e sombrio que pautou discos anteriores da banda. A diferença é que a morte de Staley é o mote desse disco de versos esperançosos. E não é por acaso que a bela faixa-título encerra Black Gives Way to Blue com o inusitado piano de Elton John e a crença de que, por mais tempo que leve, a escuridão sempre vai dar lugar à luz...

Tiago & Juvenal pegam a estrada do bom sertão

Resenha de CD
Título: Tiago & Juvenal
Artista: Tiago & Juvenal
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 1/2

A novela Paraíso sai do ar esta semana, porém Tiago e Juvenal - os peões violeiros do remake da trama de Benedito Ruy Barbosa - vão continuar em cena. É que seus intérpretes Rodrigo Sater e Yassir Chediak formaram na vida real dupla sertaneja batizada com os nomes das personagens e estão lançando o primeiro CD do duo. Tiago & Juvenal - o disco - é encarado pela gravadora Som Livre como mais um produto musical originado do folhetim ruralista, como denuncia a frase "Os violeiros da novela Paraíso" cunhada na capa do álbum. Contudo, é justo reconhecer que o disco tem lá seus encantos. As vozes de Rodrigo e Yassir não são especialmente brilhantes, mas se harmonizam bem. Além do mais, a dupla acerta ao cultuar as tradições da música caipira em repertório com mais altos do que baixos. As regravações de Amanheceu, Peguei a Viola (Renato Teixeira) e Vida, Vida Marvada (Rolando Boldrin) soam tão corretas quanto sedutoras. Há também a boa sacada de pegar O Trem das 7, bela incursão de Raul Seixas (1945 - 1989) pelo universo sertanejo. Dentre os temas autorais, vale destacar Te Amo em Sonhos, toada da lavra de Rodrigo, Almir Sater e Paulo Simões. A cantora Paula Fernandes é convidada da faixa. E por falar em Almir Sater, ele toca viola em outra boa inédita, Estrela de Boiadeiro, parceria de Rodrigo com Márcio de Camillo na qual Sérgio Reis também figura como convidado. Em clima mais animado, Feijão Queimado (Raul Torres e José Rielli) garante a dança nos arrasta-pés. O acordeom de Toninho Ferragutti valoriza o registro. Quase no mesmo tom dançante, Ai, que Falta de Ar flerta com malícia de raiz mais populista. Igualmente menos inspirada, a toada romântica Do Princípio até o Fim - pontuada pelo violino de Nicolas Krassik - peca pela poesia mais rala. Na sequência, boas recriações das lavras de Lupicínio Rodrigues (Felicidade - com direito a um quarteto de cordas regido por Edu Morelenbaum), Joubert de Carvalho (De Papo pro Ar, parceria com Olegário Mariano trazida para o universo dos arrasta-pés) e Fagner (Serenou na Madrugada) ratificam que Tiago & Juvenal pegaram a estrada sertaneja mais adequada. Podem ter vida longa.

EMI insere tema de novela no disco de Vercillo

Boa parceria de Jorge Vercillo com Dudu Falcão, lançada por Vercillo no álbum Todos Nós Somos Um (2007), Deve Ser tinha entrado somente como extra no posterior DVD Trem da Minha Vida - Ao Vivo (2009). Mas agora também vai fazer parte do repertório do CD. É que, como Deve Ser foi escolhida para integrar a trilha sonora da novela Viver a Vida, a gravadora EMI Music prepara nova tiragem do CD com a inclusão da música para aproveitar a provável propagação da balada na trama exibida pela Rede Globo.

Catto arde no fogo passional do tango em 'Saga'

Resenha de EP
Título: Saga
Artista: Filippe Catto
Gravadora: nenhuma
Cotação: * * * 1/2

Filipe Catto é jovem cantor e compositor gaúcho, natural de Porto Alegre (RS). Talvez sua localização geográfica tenha influenciado sua paixão pelos tons passionais do tango que brota na vizinha Argentina. Pois não é à toa que um bandoneón tocado por Carlos Magallanes pontua Intro, o tema de abertura do EP, Saga, editado por Catto apenas no formato digital (as sete faixas ja estão disponibilizadas para download no site oficial do artista). Toda a paixão caliente do tango molda o disco, às vezes no ritmo argentino, como na faixa-título. Às vezes, no compasso do samba carioca, como na faixa (sintomaticamente) intitulada Crime Passional. Gravado entre novembro de 2008 e janeiro de 2009, com produção de Sérgio Guidoux, Saga é EP para amantes que ardem no fogo da paixão, como sinaliza a letra de Ressaca. Até uma balada, Teu Quarto, resulta inflamada pelo universo dramático que rege o disco e que se adequa bem ao canto teatral do artista - dono de voz andrógina.

1 de outubro de 2009

Bethânia adia estreia de show dirigido por Bia

Prevista inicialmente para 16 de outubro de 2009, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a estreia do novo show de Maria Bethânia - provavelmente intitulado Amor, Festa, Devoção - foi adiada para 23 de outubro. A cantora (em foto de Mauro Ferreira) optou por cancelar uma semana da temporada do Canecão porque quer ensaiar mais o espetáculo, que - a exemplo de Tempo, Tempo, Tempo, Tempo (2005) e de Dentro do Mar Tem Rio (2006) - tem direção de Bia Lessa. Eis a rota da turnê nacional feita por Maria Bethânia em 2009 para badalar os CDs Tua e Encanteria:
* Rio de Janeiro (RJ) - Canecão (23 a 25 de outubro)
* Belo Horizonte (MG) - Palácio das Artes (18 e 19 de novembro)
* Salvador (BA) - Teatro Castro Alves (22 de novembro)
* Recife (PE) - Teatro Guararapes (27 de novembro)
* Curitiba (PR) - Teatro Guaíra (3 de dezembro)
* Porto Alegre (RS) - Teatro Sesi (5 de dezembro)
* São Paulo (SP) - Teatro Abril (11 a 13 de dezembro)
* Brasília (DF) - Teatro Nacional (17 e 18 de dezembro)

Bethânia fala sobre amores, músicas e devoções

Rio de Janeiro (RJ) - Amor, música e devoções foram os assuntos recorrentes na entrevista coletiva concedida por Maria Bethânia na tarde de quarta-feira, 30 de setembro de 2009, para promover seus dois novos álbuns, Encanteria e Tua, nas lojas a partir de 5 de outubro, com distribuição da Biscoito Fino. Cercada de mimos e atenções pelo staff da gravadora e da Estudantina, a gafieira escolhida para ser a sede da entrevista, a intérprete fez questão de abrir a entrevista com o esclarecimento de que a música Dama, Valete e Rei - cuja autoria é creditada erroneamente no disco Tua ao cantor Bill Farr - é, na realidade, criação da lavra de Ruthinaldo e Paulo Gracindo. Eis os principais tópicos do papo de Bethânia - em foto de Mauro Ferreira durante a coletiva - com os jornalistas:

* O conceito dos dois discos
"A compreensão do amor foi o que me moveu. Mas não entendo somente o amor romântico. Quis falar do amor devoto, do amor que festeja. Acho que o amor protege. É uma redoma. Mas não separo um disco do outro, não. Um tem canções com ritmos e letras elaboradas amorosamente. O outro festeja e louva tudo. Meu berço é católico, mas sou do Candomblé, como todo mundo sabe... E santo gosta de festa... Encanteria é louvação".


* Roque Ferreira, compositor predominante nos CDs
"Roque é um rapaz da Bahia cuja música tem um suingue que não é somente o do Recôncavo. É brasileiro. Ele mandou um CD com nove músicas e eu fiquei louca pelas nove. Depois, ele mandou outro CD com mais oito músicas e, depois, um terceiro CD com outras cinco músicas".

* A inclusão de Gilberto Gil em Saudade Dela
"Gil tem elo forte com Edith do Prato (a sambista baiana homenageada na faixa do CD Encanteria). Ele sempre teve gosto por ouvir e aprender o toque do prato e as quebradas da chula. Gil tinha que estar nesse samba".

* A fidelidade aos sons rurais
"Eu tenho uma atração por toda essa coisa melancólica da canção do campo. É como se fosse um refúgio. É Santo Amaro na minha cabeça. Acho chique demais. Meus pais me mandavam muito para a fazenda do meu tio. Eu me criei ouvindo duplas como Tonico e Tinoco. Tenho muito encantamento pela música da roça, pelas guarânias que vem do Paraguai".

* A razão de voltar a lançar dois discos
"Por mim, faria dez discos. Mas tudo no Brasil é caro. Tudo aqui parece uma ópera. Minha fome de cantar é grande. Nasci para isso. Adoro meu ofício e vivo para ele. É um casamento de comum acordo que deu certo".

* A riqueza do repertório inédito
"Recebi com alegria inúmeras canções de compositores. Fique feliz de ver esse movimento tão vivo da canção do Brasil. É um recado positivo para mim, que sou uma intérprete, vivo disso e não sei fazer outra coisa".

* Seu temperamento difícil
"Não sei como meu maestro me aguenta, como meu técnico de som me aguenta... Eu sou insuportável. Falo sobre tudo. Não é que eu ache que saiba mais do que todos. Mas não vejo razão para não falar o que penso".

* Dori, Nana e Zizi
"É uma grande ousadia minha cantar Dori (Caymmi) nesse trabalho. Ele faz canções tão sofisticadas e eu sou uma intérprete de palco. Nana (Caymmi) é que sabe cantar isso direito. Nana e Zizi (Possi). Nana e Zizi são as duas que sabem fazer. Nana é minha irmã. Ter cantado com ela no Brasileirinho foi uma das maiores realizações da minha vida e de toda minha carreira".

* 'Pareço a Diana Krall'
"Tua parece disco de uma cantora de jazz. Parece que eu sou a Diana Krall. Aquela mulher canta tudo, toca tudo, mas não nasceu em Santo Amaro...".

McCartney lança CD e DVD com shows em NY

Paul McCartney vai lançar em novembro de 2009 o registro ao vivo do show que apresentou durante três noites - 17, 18 e 21 de julho - no Citi Field Stadium, em Nova York (EUA). Segundo trabalho do artista a ser editado selo Hear Music, Good Evening New York City vai chegar às lojas nos formatos de vinil, CD duplo, DVD e blu-ray. Edição especial vai incluir um segundo DVD com a gravação adicional de show feito pelo cantor no Ed Sullivan Theater. No roteiro das três apresentações de CitiField, McCartney recebey Billy Joel e revisitou algumas canções dos Beatles (Drive my Car, Eleanor Rigby e Hey Jude, entre elas), hits gravados com o grupo The Wings e pérolas de sua discografia solo.

Xuxa celebra o Natal no nono volume de XSPB

Nono volume do projeto Xuxa Só pra Baixinhos, Natal Mágico tem repertório centrado - como já anuncia seu título - em temas que festejam o nascimento de Cristo. Nas lojas já neste mês de outubro de 2009, o trabalho marca a estreia da apresentadora na gravadora Sony Music e conta com as adesões de nomes como Carlinhos Brown, Ivete Sangalo, Lulu Santos, Zeca Pagodinho e padre Marcelo Rossi. O CD - capa acima - reúne 17 temas natalinos em 15 faixas. Entre as músicas, há Estrela Guia, Natal do Brasil, Parabéns para Jesus, O Menino Jesus Vai Nascer e Então É Natal.

30 de setembro de 2009

Bethânia festeja discos no Palco Maria Bethânia

Parafraseando a letra de Encanteria, faixa-título de um dos álbuns lançados esta semana por Maria Bethânia, a cantora baiana deixou sua luz numa das casas mais animadas do Rio de Janeiro (RJ) na noite desta quarta-feira, 30 de setembro de 2009. Foi na gafieira Estudantina, situada na Praça Tirandentes, em plena efervescência do Centro carioca. Depois de série de entrevistas concedidas para promover os lançamentos simultâneos dos discos Encanteria e Tua, nas lojas a partir de 5 de outubro, a intérprete subiu ao Palco Maria Bethânia para dar canja no show da Orquestra Portátil de Música, com a qual gravou o samba Feita na Bahia e a faixa-título do CD Encanteria. E foi justamente este tema de Paulo César Pinheiro que louva a festa do Candomblé que Bethânia - em fotos de Mauro Ferreira - cantou com a orquestra ao fim da festa-show, aberta com discurso em que a cantora agradeceu a homenagem e teceu loas ao talento dos músicos da Orquestra Portátil. Estrelas como Caetano Veloso, Teresa Cristina, Dori Caymmi, Moacyr Luz, Rita Ribeiro e Jussara Silveira circularam pelo salão da gafieira Estudantina, iluminado pela presença de Maria numa noite festiva.

'BandaDois' de Gil é inspirada 'volta ao começo'

Resenha de Show - Gravação de DVD
Título: BandaDois
Artista: Gilberto Gil (com Bem Gil na foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Bradesco (SP)
Data: 29 de setembro de 2009
Cotação: * * * *

Antes de entrar no palco do Teatro Bradesco para fazer a segunda apresentação do show BandaDois e concluir a gravação do DVD que a gravadora Warner Music vai pôr nas lojas em novembro, Gilberto Gil ouviu de Liminha - produtor musical desse seu novo registro ao vivo - que fazer um show de voz-e-violão é como voltar ao começo, à origem da criação musical. No caso de Gil, esse retorno ao básico resultou azeitado e sedutor. Máquina de ritmos plurais, o violão de Gil sintetiza em seu toque globalizado a batida do samba, o seminal suingue africano e a vivacidade dos ritmos nordestinos - para citar somente três influências que ditam o curso da música do compositor desde os anos 60. Um pouco de tudo isso - e muito mais - aparece em BandaDois, projeto cujo nome alude ao fato de Gil estar em sintonia, na maior parte do show, com seu filho Bem Gil, violonista que reafirma o talento já evidenciado em espetáculo anterior, Gil Luminoso, semente deste novo show calcado na simplicidade e - por isso - envolvente.

Com a voz em boa forma, Gil explorou tons e divisões ao reviver um repertório quase todo autoral, colhido em várias épocas. Pelo tom mais intimista, BandaDois se ajusta mais aos temas mais interiorizados do cancioneiro de Gil. Casos de Flora (a canção feita para sua mulher, Flora Gil, e ora transmutada em samba), A Linha e o Linho (outro tema composto para Flora, no caso num hotel em Paris, como revelou o cantor à platéia de convidados) e Metáfora. Contudo, a entrada em cena de Bem Gil (inicialmente no violão e, depois, também na percussão), a partir de Super-Homem - a Canção, azeita a máquina de ritmos e propicia o clima ideal para que Gil remexa nos repertórios de pilares da música brasileira como Dorival Caymmi (1914 - 2008) - saudado com o samba Saudade da Bahia, repleto de significado para um cantor que deixou a régua e o compasso em Salvador (BA) e foi para o Rio de Janeiro (RJ) vivenciar a música - e Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), evocado através de seu sucesso Chiclete com Banana. Dez!

Das três inéditas, Das Duas, Uma se mostra com mais vigor poético do que melódico. Na contramão do fino acabamento poético de sua antecessora, Quatro Coisas investe em versos mais diretos enquanto, já no fim, Pronto pra Preto se vale do suingue black para exaltar as conquistas e os avanços globais da raça negra. O tema está inserido em bloco que evoca a mãe África já ao iniciar com música sintomaticamente intitulada La Renaissance Africaine, que cresce e ganha seu melhor registro em show. É música condizente com o universo visionário de um compositor que, já em 1977, anteviu a miscigenação atual com Refavela, presente no bis em número que conta com a adesão de José Gil, hábil no toque de um baixo largo. Entre o canto onomatopaico de O Rouxinol (entoado com citação da versão em inglês intitulada Nightingale e feita para o álbum gravado por Gil em 1978 para os Estados Unidos) e a lembrança de Banda Um (música da fase pop do cantor que não se ajustou bem ao formato acústico), há a Refazenda, instante zen de uma obra carregada de espiritualidade. A exemplo de Andar com Fé, música que encerra BandaDois em clima alegre, com percussão e as palmas do público. Ao fim do bis, Expresso 2222 retoma o caminho festivo e reafirma a pluralidade da música de Gilberto Gil. A BandaDois vale por uma orquestra!!

Dois na bossa: Maria Rita cai no samba com Gil

"(Ela) Suinga que nem a mãe!", elogiou Gilberto Gil, com afetuosa dose de exagero, ao fim da participação de Maria Rita na gravação de seu DVD BandaDois, no segundo dos dois shows feitos no Teatro Bradesco (SP), em 28 e 29 de setembro de 2009, para gerar o registro ao vivo do vídeo, nas lojas em novembro em edição do selo Geléia Geral e com distribuição da Warner Music. Com um vestido brilhante, fora de sintonia com o refinamento despojado da apresentação acústica, a cantora caiu no samba com Gil para reviver Amor até o Fim, tema do compositor que foi lançado em 1966 por sua mãe, Elis Regina (1945 - 1982), com suingue que pode ser comprovado na gravação incluída no segundo dos três volumes do disco Dois na Bossa, divididos pela Pimentinha com Jair Rodrigues. Sem querer mostrar que pode reeditar as divisões de Elis, saudada em cena por Gil antes do número ("Elis comandava o espetáculo nos anos 60. Todos eram loucos por ela"), Maria Rita reafirmou sua técnica impecável e cantou Amor até o Fim sentada, em registro vocal suave, com direito a floreios e improvisos no fim, numa fina sintonia com Gil. Sim, Maria Rita (vista na gravação em foto de Mauro Ferreira) também suingou...

Gil remonta ' Banda Um' ao gravar 'BandaDois'

Música que gerou o título (Um Banda Um) do álbum lançado por Gilberto Gil em 1982, quase nunca revisitada pelo compositor após o fim da turnê do disco, Banda Um reapareceu no roteiro de BandaDois, o DVD que Gil - visto em fotos de Mauro Ferreira - gravou na noite de ontem, 29 de setembro de 2009, em show dirigido por Andrucha Waddington e apresentado no novo Teatro Bradesco, em São Paulo (SP), para plateia de convidados. Eis o roteiro do show BandaDois no segundo dia de gravação do DVD:
1. Máquina de Ritmo
2. Flora
3. Esotérico
4. A Linha e o Linho
5. Metáfora
6. Super-Homem, a Canção - com Bem Gil
7. Saudade da Bahia - com Bem Gil
8. Chiclete com Banana - com Bem Gil
9. Das Duas, Uma - com Bem Gil
10. Quatro Coisas - com Bem Gil
11. Amor até o Fim - com Maria Rita e Bem Gil
12. Tempo Rei
13. Lamento Sertanejo
14. O Rouxinol - com Bem Gil
15. Refazenda - com Bem Gil
16. Banda Um - com Bem Gil
17. Raça Humana - com Bem Gil
18. La Renaissance Africaine - com Bem Gil
19. Pronto pra Preto - com Bem Gil
20. Andar com Fé - com Bem Gil
Bis:
21. Refavela - com Bem Gil e José Gil
22. Baba Alapalá - com Bem Gil e José Gil
23. Expresso 2222 - com Bem Gil
Repetições e improvisações:
24. O Rouxinol - com Bem Gil
25. Refavela - com Bem Gil e José Gil
26. Se Eu Quiser Falar com Deus (a pedido da platéia)
27. Flora
28. A Paz

Dois discos para celebrar os 70 anos de Francis

Para festejar seus 70 anos de vida, completados em 31 de agosto de 2009, Francis Hime (em foto de Leonardo Aversa) idealizou dois discos, unidos num álbum duplo intitulado O Tempo das Palavras... Imagem. Nas lojas nos próximos dias, com edição e distribuição da gravadora Biscoito Fino, ambos os CDs trazem repertórios autorais, mas conceitos bem distintos. O Tempo das Palavras apresenta um cancioneiro quase todo inédito - a exceção é a regravação de O Sim pelo Não, tema letrado por Edu Lobo - composto por Francis como parceiros novos (Moska) e antigos (Olivia Hime, Joyce, Paulo César Pinheiro). Já Imagem é um disco instrumental de piano solo - o primeiro de Francis no gênero - que reúne uma seleção de 25 músicas criadas para trilhas de cinema. Figuram em Imagem temas ouvidos originalmente em filmes antigos como A Noiva da Cidade, A Estrela Sobe, Lição de Amor, Marcados para Viver e Dona Flor e seus Dois Maridos.

29 de setembro de 2009

'Dois' de Partimpim traz Dylan, João e Caetano

O Homem Deu Nome a Todos os Animais - a versão fiel de Zé Ramalho para música de Bob Dylan, Man Gave Names to All the Animals, gravada pelo cantor brasileiro no CD/DVD Tá Tudo Mudando - Zé Ramalho Canta Bob Dylan (2008) - é uma das 12 músicas do segundo álbum de estúdio de Adriana Partimpim, o heterônimo criado por Adriana Calcanhotto para assinar seus projetos infantis. Nas lojas na primeira semana de outubro de 2009, via Sony Music, o CD Dois traz também no repertório Bim Bom - o baião de João Gilberto, lançado pelo autor em 1959 e curiosamente regravado 50 anos depois de forma simultânea por Adriana e por Bebel Gilberto - e Alexandre, tema pouco conhecido de Caetano Veloso, gravado no disco Livro (1997). Outras curiosidades da seleção são Gatinha Manhosa - canção de Roberto e Erasmo Carlos, associada ao Tremendão desde 1966, mas lançada em 1964 pelo conjunto Renato e seus Blue Caps no LP Viva a Juventude! - e O Trenzinho do Caipira, tema composto em 1930 por Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959) e posteriormente letrado pelo poeta Ferreira Gullar. Em sintonia com a modernidade da era tecnológica, Partimpim também canta Ringtone do Amor. Outras faixas são Alface (versão de Augusto de Campos para poema de Edward Lear), As Borboletas (um tema do poeta Vinicius de Moraes, musicado por Cid Campos) e Na Massa (parceria de Arnaldo Antunes e Davi Moraes, já gravada por Davi).

DVD de Kevin vai trazer Moska em dose dupla

Hábil nas conexões com compositores latino-americanos, como o uruguaio Jorge Drexler, Moska está no DVD que Kevin Johansen - artista nascido no Alaska (EUA), mas radicado na Argentina desde a adolescência - vai lançar ainda neste ano de 2009. Gravado em Buenos Aires, o registro ao vivo do show traz a voz e o violão de Moska em duas músicas, No Voy a Ser Yo e Gira Magica. Aguarde.

Allen reedita segundo CD com faixas acústicas

Dias depois de ter sinalizado que não iria mais lançar álbuns, Lily Allen anuncia reedição especial de seu segundo CD, It's Not me, It's You (2009). A (farta) reedição vai chegar às lojas em 16 de novembro com nove faixas adicionais, incluindo o feliz cover de Womanizer - hit de Britney Spears que Allen já vem cantando em shows - e versões acústicas de músicas como 22, He Wasn't There, Who'd Have Known e I Could Say. De quebra, a versão turbinada do álbum traz DVD com entrevista, quatro clipes (Not Fair, 22, Fuck You e The Fear) e oito números ao vivo captados em show no Shepherd's Bush Empire, em Londres. Entre eles, alguns hits do primeiro bom álbum de Allen - como LDN, Smile e Littlest Things.

Filme historia o legado brasileiro no som global

Resenha de Filme
Título: Beyond Ipanema
- Ondas Brasileiras na Música Global
(Brasil, 2009)
Direção: Guto Barra e Béco Dranoff
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz no Festival do Rio 2009
(Sessões entre 26 de setembro e 2 de outubro de 2009)

Em maior ou menor grau, a música brasileira tem influenciado os sons do mundo desde 1939, ano em que Carmen Miranda (1909 - 1955) foi para os Estados Unidos mostrar aos norte-americanos o que é que o Brasil tinha, criando involuntariamente a imagem-clichê tropical que ainda identifica muito mal o País no imaginário planetário. Em cartaz dentro da programação do Festival do Rio 2009, o documentário Beyond Ipanema - Ondas Brasileiras na Música Global historia essa influência ao longo das décadas, montando painel interessante que chega aos dias atuais, época em que - como mostra o filme dos diretores Guto Barra e Béco Dranoff (ambos brasileiros e ambos radicados em Nova York) - uma banda indie e desconhecida como a paulista Garotas Suecas já consegue contabilizar (cerca de) 25 shows na terra do Tio Sam em um ano.

A despeito da omissão indesculpável dos nomes de Djavan, Ivan Lins e Milton Nascimento (três compositores há anos com ampla visibilidade na cena de jazz dos Estados Unidos), o documentário expõe, através de minitextos didáticos e de depoimentos, vasto panorama da presença da música brasileira no exterior. Há ênfase demasiada no legado da Tropicália - a rigor, evocada no cenário estrangeiro mais pelo culto aos Mutantes e pela redescoberta de Tom Zé do que pela ideologia em si do movimento pop de 1967. Aliás, uma das cenas hilárias é a que capta a exultação do ex-engraxate Joel Stones - hoje no comando do sebo Tropicalia in Furs, situado no Village - por ter vendido por cinco mil dólares um exemplar raríssimo do compacto do grupo O' Seis, que vem a ser o sexteto que originou os Mutantes. Os diretores vão além e também mostram a felicidade do comprador, Giuliano, ao receber o disco em sua casa (na foto do post, quem aparece é o vendedor).

Embora menos valorizada pela juventude, ao menos em sua forma tradicional, a Bossa Nova também é um assunto recorrente em Beyond Ipanema. O filme lembra que ela deixou suas marcas perenes na música do mundo a partir do controvertido concerto organizado no Carnegie Hall em 1962. A música de Tom Jobim (1927 - 1994) seduziu os Estados Unidos pela voz de Astrud Gilberto, intérprete de Garota de Ipanema em Getz / Gilberto, histórico álbum de 1964 que espalhou pelo mundo a modernidade bossa-novista. Sem saudosismo, Beyond Ipanema mostra na sequência como a união da batida da bossa com os samples deu novo impulso mundial à música brasileira a partir dos anos 90, gerando ícones como Bebel Gilberto, uma das entrevistadas. De forma superficial, os diretores focam também fenômenos recentes como o grupo paulista Cansei de Ser Sexy - exemplo de como atravessar as fronteiras brasileiras a partir da internet - e o grupo Forró in the Dark. Sem falar no funk carioca, o pancadão do estilo Miami Bass cultuado no exterior sob o rótulo de funk-favela. Mas, no fim, o filme volta ao começo e fecha com a imagem tropicalista de Carmen Miranda, portuguesa vivaz que fez o mundo da música descobrir o Brasil com seus balangandãs bem antes da nova bossa.

28 de setembro de 2009

Gil grava DVD 'BandaDois' com o violão de Bem

BandaDois é o título do DVD que Gilberto Gil (em foto de Paulo Mussoi) grava em São Paulo (SP) a partir desta segunda-feira, 28 de setembro de 2009, em dois shows no recém-inaugurado Teatro Bradesco. Dirigida por Andrucha Waddington, a gravação vai ser concluída na apresentação de terça-feira. O cantor vai dividir o palco com o filho violonista Bem Gil. O registro ao vivo do show vai ser editado em novembro pelo selo do artista, Geléia Geral, e tem produção musical de Liminha. Neste formato de voz-e-violão (ou violões, nos números que contam com Bem), Gil vai mostrar três composições inéditas - Das Duas, Uma (feita com inspiração no casamento de sua filha Maria), Quatro Coisas e Pronto pra Preto - e revisitar sucessos como Amor até o Fim, samba que ele vai gravar em dueto com Maria Rita, para aludir ao fato de que o suingante tema foi lançado por Elis Regina (1945 - 1982) em 1966.

Ferriani e Saraiva valorizam palavras de Aguiar

Resenha de CD
Título: Sobre Palavras
Artista: Verônica Ferriani
e Chico Saraiva
Gravadora: Borandá
Cotação: * * * 1/2

Difícil ouvir Cabotino Coco, o tema que abre o CD gravado pela cantora Verônica Ferriani com o ótimo violonista Chico Saraiva, sem pensar nas composições de Guinga & Aldir Blanc. Seja pela vivacidade do ritmo ou dos versos. Não, Chico Saraiva e Mauro Aguiar - o melodista e o letrista cujas parcerias são alvo da voz de Ferriani no disco Sobre Palavras - não chegam a atingir o patamar brilhante da dupla carioca, compositora de obras-primas como Catavento e Girassol. Contudo, há valor neste álbum de repertório composto a partir dos versos do também carioca Mauro Aguiar, letrista muito acima da média. O nome do selo que edita o CD, Borandá, dá a pista do recorrente tom nordestino de faixas como Araripe Ararat e Sanfona Safenada (na qual Chico César faz um arretado dueto com Ferriani). Mesmo em canções embebidas em poesia, como Lua Pós-Lua, há a sanfona lírica de Toninho Ferragutti a demarcar território. Além das fronteiras nordestinas, o repertório explora o samba em De Salto Agulha - destaque do repertório - e Metralhadora Giratória. Por mais que soe por vezes cansativo, sobretudo na segunda metade, Sobre Palavras é CD refinado que resulta mais coeso do que o álbum de estreia de Ferriani, lançado em fevereiro deste ano de 2009 com produção de BiD. As palavras seminais de Aguiar são valorizadas!!

Ivete confirma feitura de DVD em NY em 2010

Ivete Sangalo (em foto de Cacau Mangabeira) confirmou - pelo twitter - a gravação de seu DVD em show no Madison Square Garden, em Nova York (EUA), em 2010. Previsto inicialmente para este ano de 2009, mas adiado por causa da crise econômica e da gravidez da artista, o registro ao vivo vai ser realizado em 4 de setembro de 2010 - com a presença de convidados internacionais.

Cauby faz disco em que canta Roberto e Erasmo

Vinte e nove anos depois de receber uma inédita da dupla Roberto e Erasmo Carlos (Brigas de Amor) para seu bom álbum Cauby! Cauby! (Som Livre, 1980), Cauby Peixoto ganha outro mimo do Rei. Desta vez, não é uma inédita, mas a autorização para que solte sua voz potente em doze músicas do cancioneiro de Roberto e Erasmo em CD que está sendo gravado em São Paulo (SP) com produção de Thiago Marques Luiz. Intitulado Cauby Interpreta Roberto, o álbum traz no repertório hits como A Volta (1966), As Flores do Jardim da Nossa Casa (1969), De Tanto Amor (1971), A Distância (1972), Proposta (1973), Olha (1975), Os seus Botões (1976), Não se Esqueça de mim (1977) e Desabafo (1979). Entre as músicas menos batidas, há O Show Já Terminou - tema lançado por Roberto num compacto editado em agosto de 1973 - e Música Suave (faixa menos badalada de seu álbum de 1978). Apenas uma canção selecionada por Cauby, Sentado à Beira do Caminho, não foi gravada originalmente por Roberto, tendo sido lançada por Erasmo Carlos em compacto datado de maio de 1969.

27 de setembro de 2009

No palco, Taviani não evolui na medida do disco

Resenha de Show
Título: Meu Coração Não Quer Viver Batendo Devagar
Artista: Isabella Taviani (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 26 de setembro
Cotação: * * 1/2

Em seu quarto recém-lançado álbum, Meu Coração Não Quer Viver Batendo Devagar, Isabella Taviani apara excessos e até ensaia guinada quase cool, guiada pela produção elegante de Jr. Tostoi e Rodrigo Campello. No show de lançamento do disco, que estreou no Rio de Janeiro (RJ) neste fim de semana, a artista mostra que, no palco, não evolui na medida do CD. Não, Taviani não nega as conquistas do disco, perceptíveis em números mais melodiosos como Presente-Passado e Borboletas e Risos, mas seu estilo exacerbado acaba se impondo e dando o tom do show. Na sequência final, quando Taviani canta o rock Luxúria e a nova Falsidade Desmedida iluminada por tons quentes de vermelho, a temperatura do espetáculo sobe aos perigosos níveis de shows anteriores. E, no bis, quando o público praticamente a obriga a cantar De Qualquer Maneira, um hit dos primeiros tempos não previsto no roteiro oficial, fica a certeza de que, para a alegria de seu público, Isabella Taviani continua (quase) a mesma em cena...

Aberto com Argumentos de Vidro (parceria com Jorge Vercillo repetida no bis com direito à citação de I Will Survive), o roteiro seria totalmente autoral não fosse Ternura - um dos sucessos de Wanderléa na Jovem Guarda - reaparecer acoplado ao hit Foto Polaroid quase como uma vinheta. E nisso reside um dos grandes problemas do show. Taviani não é a compositora que imagina ser. Montar o repertório de um show somente com músicas de sua autoria acaba tornando sua apresentação cansativa para o público que não se contenta em ouvir canções como Digitais, revivida com citação de Handy Man, tema de James Taylor. Boa cantora, sobretudo quando lapida seu canto, Taviani poderia se aventurar em cena por repertório alheio. Felizmente, ela ao menos começa a abrir o leque de parceiros. Arranjo, boa canção feita com Zélia Duncan, comprova no palco o acerto do disco. Mas é preciso mais.

Em sua segunda apresentação, o show Meu Coração Não Quer Viver Batendo Devagar teve a ordem do roteiro alterada substancialmente em relação à estreia, ocorrida no Canecão em 25 de setembro de 2009. Mas certamente o tom roqueiro de Casa no Céu - cuja letra foi esquecida por Taviani na apresentação de sábado - continuou o mesmo. Assim como a coreografia flamenca que introduz Escorpião, número que realça o toque da bateria de Sérgio Melo. Em cena, a cantora também se permite entoar Diga Sim pra mim sentada em pneus cenográficos. O público aplaude e canta junto com ela. Mais tarde, já em pé com seu violão, Taviani apresenta Depois da Chuva, outra parceria com Jorge Vercillo, esta com a adesão de Zélia Duncan. A essa altura do show, já está claro que, para o bem ou para o mal, Taviani (quase) nunca é cool.

Filme didático conta história do rock brasileiro

Resenha de Filme
Título: Rock Brasileiro - História em Imagens
Direção: Bernardo Palmeiro
Roteiro: Kika Serra
Cotação: * * *
Em cartaz no Festival do Rio
(Sessões entre 25 de setembro e 3 de outubro de 2009)
A despeito de a sua narrativa ter tom didático (no caso, justificado pelo fato raro de se tratar de um documentário primordialmente direcionado às escolas), o filme Rock Brasileiro - História em Imagens tem cacife para despertar interesse de todos os devotos do já cinquentenário rock'n'roll. O roteiro de Kika Serra traça, de forma cronológica, a evolução do rock made in Brazil desde a fase pré-Jovem Guarda - quando o filme Sementes da Violência (1955) fez brotar nos jovens nacionais a ânsia de tocar sua guitarra - até a geração de bandas dos anos 2000, representada por nomes com NX Zero e Fresno. Através da didática narração em off e dos muitos depoimentos colhidos entre nomes de todas as gerações, num amplo painel que vai de Erasmo Carlos a Pitty, passando pelo produtor Rick Bonadio, o diretor Bernardo Palmeiro consegue abordar (mesmo que de forma superficial) todas os fatos e as características relevantes das (várias) gerações do rock brasileiro.
"Cada vez que você tenta definir o rock, você queima a língua", ressalta João Barone, o baterista do trio carioca Paralamas do Sucesso, logo no início do documentário. Com toda a razão. Por isso mesmo, o filme cresce quando os entrevistados discutem as tendências de cada geração. "A Tropicália nada mais foi do que uma Jovem Guarda num estágio cultural maior", defende Erasmo Carlos. O filme ressalta o papel pioneiro de Rita Lee nos anos 70 - década em que o rock brasileiro ficou submerso no underground e influenciado pelo sons progressivos - por conta de seus discos bem-sucedidos do ponto de vista comercial. Assim como lembra o pioneirismo de Raul Seixas (1945 - 1989) ao fundir esse mesmo rock com os ritmos nordestinos. E a importância que os festivais Rock in Rio (1985) e Hollywood Rock (1988) tiveram para a consolidação do mercado de música pop que se abriu a partir do verão de 1982 com o estouro da Blitz. Quando a narrativa chega aos anos 90, década caracterizada pela fusão do rock com ritmos nacionais, o filme enfatiza o forte papel da MTV na propagação de bandas como Skank e O Rappa. E Pitty se faz notar pela sinceridade de seu depoimento, em especial ao dizer que, de todas as bandas que misturaram rock com música brasileira, a única que não lhe pareceu artificial foi a Nação Zumbi. Enfim, como a toda hora surgem adolescentes fascinados pelo poder e status de tocar uma guitarra, o filme cai bem nas escolas para mostrar a esses garotos que o rock nacional, entre altos e baixos, também tem história(s).

Bela voz de Belo não floresce no CD 'Primavera'

Resenha de CD
Título: Primavera
Artista: Belo
Gravadora: Sony Music
Cotação: *

No texto em que apresenta o chato oitavo CD solo de Belo, Primavera, o maestro Rildo Hora - um gaitista e produtor bastante requisitado no universo do samba - elogia, com razão, o timbre e a afinação do cantor, projetado na década de 90 como vocalista do grupo paulista Soweto. Sim, somente quem fecha os ouvidos para os ídolos populares - e Belo, a despeito de todo seu conturbado histórico pessoal, continua a ser um deles - pode ignorar que, como cantor, ele realmente está acima da média. Por isso mesmo, é pena que, neste CD Primavera, sua voz seja tão desperdiçada. Mais uma vez. O fiel Prateado produz o disco - com direito a arranjos de cordas de Jota Moreas e a arranjos de metais urdidos com o toque de Serginho Trombone - com total devoção à fórmula insossa do pagode romântico que infestou o mercado fonográfico e as rádios a partir dos anos 90. Mudam os nomes das músicas (Choro, Tudo no Lugar e Invencível, entre outras), mas permanece a qualidade ruim que norteia o repertório. Até um samba de Arlindo Cruz e Sombrinha - Onde Está? - não consegue florescer com o colorido habitual da dupla por conta desse padrão que rege Primavera. Poucas faixas escapam do tom choroso do tal pagode romântico. Em Dona do Pedaço, parceria de Picolé e Prateado, Belo esboça investida pelo suingue do samba-rock. Já a balada Tudo Mudou é versão de tema oriundo do cancioneiro de Jose Ortega, compositor da Costa Rica. Porém, no todo, há pouca variação no CD Primavera. E quem se apaga é a bela voz de Belo.

'One Love' eleva 'dance' à máxima potência pop

Resenha de CD
Título: One Love
Artista: David Guetta
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * 1/2

Lançado em 21 de agosto de 2009, o quarto bom álbum de David Guetta - um DJ francês que transita pela via mais pop da dance music - já chegou às lojas precedido pelo estouro nas pistas mundiais de When Love Takes Her, empolgante tema no qual figura Kelly Rowland. A gravação abre One Love e dá o tom do CD. O que se ouve é dance music - mais especificamente o house - elevada à máxima potência pop. O estelar time de convidados do álbum já indica a força atual de Guetta nas pistas. Rapper pop por excelência, Akon realça o alto teor erótico de Sexy Bitch. Estelle defende bem a faixa-título. Já will.i.am se entrega às batidas do DJ em On the Dancefloor e em I Wanna Go Crazy, com melhor resultado na primeira. A própria Kelly Rowland bisa duas vezes sua participação em It's the Way You Love - faixa que não tem a força de When Love Taker Her - e na envolvente Choose, tema no qual aparece também Ne-Yo. Embora nem todas as faixas tenham pegada pegajosa, caso de Memories (com adesão do rapper Kid Cudi), One Love é um CD bacana e recheado de vocais que mostra que a dance music não precisa necessariamente ser sinônimo de bate-estaca repetitivo. Ainda que Guetta também repita sua receita pop quase à exaustão.

Lia Sabugosa finaliza álbum 'Pra Quem Quiser'

Lia Sabugosa finalizou a gravação de seu segundo álbum, Pra Quem Quiser, a ser lançado ainda em 2009 com o selo do Sesc. Gravado no Rio de Janeiro (RJ), o CD tem produção dividida entre o baterista Cesinha, Lucas Duque, Daniel Lopes - compositor que assina Imagina, uma das oito músicas do repertório quase todo inédito - e a própria Lia. A cantora grava temas de Apoena Frota (E Que Ninguém Duvide) e de Mila Martilotti (O Que Eu Sinto por Você), entre outros jovens nomes da cena indie carioca. A faixa-título, Pra Quem Quiser, vem da lavra da artista carioca Martha V.