30 de setembro de 2009

'BandaDois' de Gil é inspirada 'volta ao começo'

Resenha de Show - Gravação de DVD
Título: BandaDois
Artista: Gilberto Gil (com Bem Gil na foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Bradesco (SP)
Data: 29 de setembro de 2009
Cotação: * * * *

Antes de entrar no palco do Teatro Bradesco para fazer a segunda apresentação do show BandaDois e concluir a gravação do DVD que a gravadora Warner Music vai pôr nas lojas em novembro, Gilberto Gil ouviu de Liminha - produtor musical desse seu novo registro ao vivo - que fazer um show de voz-e-violão é como voltar ao começo, à origem da criação musical. No caso de Gil, esse retorno ao básico resultou azeitado e sedutor. Máquina de ritmos plurais, o violão de Gil sintetiza em seu toque globalizado a batida do samba, o seminal suingue africano e a vivacidade dos ritmos nordestinos - para citar somente três influências que ditam o curso da música do compositor desde os anos 60. Um pouco de tudo isso - e muito mais - aparece em BandaDois, projeto cujo nome alude ao fato de Gil estar em sintonia, na maior parte do show, com seu filho Bem Gil, violonista que reafirma o talento já evidenciado em espetáculo anterior, Gil Luminoso, semente deste novo show calcado na simplicidade e - por isso - envolvente.

Com a voz em boa forma, Gil explorou tons e divisões ao reviver um repertório quase todo autoral, colhido em várias épocas. Pelo tom mais intimista, BandaDois se ajusta mais aos temas mais interiorizados do cancioneiro de Gil. Casos de Flora (a canção feita para sua mulher, Flora Gil, e ora transmutada em samba), A Linha e o Linho (outro tema composto para Flora, no caso num hotel em Paris, como revelou o cantor à platéia de convidados) e Metáfora. Contudo, a entrada em cena de Bem Gil (inicialmente no violão e, depois, também na percussão), a partir de Super-Homem - a Canção, azeita a máquina de ritmos e propicia o clima ideal para que Gil remexa nos repertórios de pilares da música brasileira como Dorival Caymmi (1914 - 2008) - saudado com o samba Saudade da Bahia, repleto de significado para um cantor que deixou a régua e o compasso em Salvador (BA) e foi para o Rio de Janeiro (RJ) vivenciar a música - e Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), evocado através de seu sucesso Chiclete com Banana. Dez!

Das três inéditas, Das Duas, Uma se mostra com mais vigor poético do que melódico. Na contramão do fino acabamento poético de sua antecessora, Quatro Coisas investe em versos mais diretos enquanto, já no fim, Pronto pra Preto se vale do suingue black para exaltar as conquistas e os avanços globais da raça negra. O tema está inserido em bloco que evoca a mãe África já ao iniciar com música sintomaticamente intitulada La Renaissance Africaine, que cresce e ganha seu melhor registro em show. É música condizente com o universo visionário de um compositor que, já em 1977, anteviu a miscigenação atual com Refavela, presente no bis em número que conta com a adesão de José Gil, hábil no toque de um baixo largo. Entre o canto onomatopaico de O Rouxinol (entoado com citação da versão em inglês intitulada Nightingale e feita para o álbum gravado por Gil em 1978 para os Estados Unidos) e a lembrança de Banda Um (música da fase pop do cantor que não se ajustou bem ao formato acústico), há a Refazenda, instante zen de uma obra carregada de espiritualidade. A exemplo de Andar com Fé, música que encerra BandaDois em clima alegre, com percussão e as palmas do público. Ao fim do bis, Expresso 2222 retoma o caminho festivo e reafirma a pluralidade da música de Gilberto Gil. A BandaDois vale por uma orquestra!!

6 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Antes de entrar no palco do Teatro Bradesco para fazer a segunda apresentação do show BandaDois e concluir a gravação do DVD que a gravadora Warner Music vai pôr nas lojas em novembro, Gilberto Gil ouviu de Liminha - produtor musical desse seu novo registro ao vivo - que fazer um show de voz-e-violão é como voltar ao começo, à origem da criação musical. No caso de Gil, esse retorno ao básico resultou azeitado e sedutor. Máquina de ritmos plurais, o violão de Gil sintetiza em seu toque globalizado a batida do samba, o seminal suingue africano e a vivacidade dos ritmos nordestinos - para citar somente três influências que ditam o curso da música do compositor desde os anos 60. Um pouco de tudo isso - e muito mais - aparece em BandaDois, projeto cujo nome alude ao fato de Gil estar em sintonia, na maior parte do show, com seu filho Bem Gil, violonista que reafirma o talento já evidenciado em espetáculo anterior, Gil Luminoso, semente deste novo show calcado na simplicidade e - por isso - envolvente.

Com a voz em boa forma, Gil explorou tons e divisões ao reviver um repertório quase todo autoral, colhido em várias épocas. Pelo tom mais intimista, BandaDois se ajusta mais aos temas mais interiorizados do cancioneiro de Gil. Casos de Flora (a canção feita para sua mulher, Flora Gil, e ora transmutada em samba), A Linha e o Linho (outro tema composto para Flora, no caso num hotel em Paris, como revelou o cantor à platéia de convidados) e Metáfora. Contudo, a entrada em cena de Bem Gil - inicialmente no violão e, depois, também na percussão - a partir de Super-Homem, a Canção azeita a máquina de ritmos e propicia o clima ideal para que Gil remexa nos repertórios de pilares da música brasileira como Dorival Caymmi (1914 - 2008) - saudado com o samba Saudade da Bahia, repleto de significado para um cantor que deixou a régua e o compasso em Salvador (BA) e foi para o Rio de Janeiro (RJ) vivenciar a música - e Jackson do Pandeiro (1919 - 1982), evocado através de seu sucesso Chiclete com Banana. Dez!

Das três inéditas, Das Duas, Uma se mostra com mais vigor poético do que melódico. Na contramão do fino acabamento poético de sua antecessora, Quatro Coisas investe em versos mais diretos enquanto, já no fim, Pronto pra Preto se vale do suingue black para exaltar as conquistas e os avanços globais da raça negra. O tema está inserido em bloco que evoca a mãe África já ao iniciar com música sintomaticamente intitulada La Renaissance Africaine, que cresce e ganha seu melhor registro em show. É música condizente com o universo visionário de um compositor que, já em 1977, anteviu a miscigenação atual com Refavela, presente no bis em número que conta com a adesão de José Gil, hábil no toque de um baixo largo. Entre o canto onomatopaico de O Rouxinol (entoado com citação da versão em inglês intitulada Nightingale e feita para o álbum gravado por Gil em 1978 para os Estados Unidos) e a lembrança de Um Banda Um (tema da fase pop do cantor que não se ajustou bem ao formato acústico), há a Refazenda, instante zen de uma obra carregada de espiritualidade. A exemplo de Andar com Fé, música que encerra BandaDois em clima alegre, com percussão e as palmas do público. Ao fim do bis, Expresso 2222 retoma o caminho festivo e reafirma a pluralidade da música de Gilberto Gil. A BandaDois vale por uma orquestra.

30 de setembro de 2009 às 02:52  
Anonymous Gustavo said...

a voz de gil melhorou mesmo, mauro? ela andava bem fanhosa nos últinos tempos...

30 de setembro de 2009 às 09:19  
Anonymous Luciana said...

me parece um disco de revisão, sem novidade

30 de setembro de 2009 às 10:47  
Anonymous dudu said...

Esse show pelo sua crítica foi mais ou menos o que ele apresentou no Back 2 Black aqui no Rio.É bem singelo e agradável. E o que mais chama a atenção é o violão tocado por Gil, que é ímpar. Salve Gil!!!!

30 de setembro de 2009 às 13:39  
Anonymous Danilo said...

Queria mesmo era ouvir Gil cantando a belíssima "Mãe da Manhã" que Gal gravou, dentre outras canções mais Lado B. Esses hits eu tenho tudo, o que desanima um pouco...

30 de setembro de 2009 às 19:33  
Blogger igor said...

Cantar a Linha e o Linho foi uma exelente idéia, mas essa música é a da Gal em gravação num songbook de Gil.

30 de setembro de 2009 às 22:18  

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