28 de junho de 2008

Maré cheia de charme arrasta os fãs de Adriana

Resenha de show
Título: Maré
Artista: Adriana Calcanhotto
Local: Canecão (RJ)
Data: 27 de junho de 2008
Cotação: * * * *

Difícil não se deixar arrastar pela maré cheia de charme e sedução do novo show de Adriana Calcanhotto, que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de sexta-feira, 27 de junho de 2008, depois de passar por Argentina, Portugal e São Paulo (SP). São ondas de modernidade e inventividade que batem muito bem no palco, expandindo o universo musical do disco Maré, editado em abril. Emoldurada pelos véus transparentes que projetam motivos marítimos no cenário pintado de azul (um dos mais óbvios de Hélio Eichabuer), a cantora surge em cena como se estivesse saindo do mar - e o figurino esplendoroso de Gilda Midani ajuda a criar a aura mitológica - ouvindo numa concha colada ao ouvido sons compartilhados com a platéia. É uma entrada belíssima e cheia de teatralidade que jamais faz supor a linearidade fria dos três primeiros números (Maré, Três e Seu Pensamento). Mas Calcanhotto tem seus truques (como contar uma piada velha que sempre funciona), seu charme e o show começa a envolver o público a partir da quarta música, Mais Feliz, hit de Maritmo, o álbum de 1998 que dialoga conceitualmente com o recente Maré.
Em cena, Calcanhotto comprova a inteligência de suas escolhas musicais e estilísticas. Os arranjos modernos - tocados por quarteto formado por músicos como o hermano Bruno Medina (teclados) e Marcelo Costa (bateria e percussão) - valorizam os números com barulhinhos bons e surpreendentes que vão dando novas nuances às músicas. Em Asas, por exemplo, outra música de Maritmo, já saltam aos ouvidos a excelência das programações eletrônicas pilotadas por Domenico Lancellotti, que se reveza na outra bateria, nos mpcs, no baixo e na guitarra. Já em Mulher sem Razão são os sons tirados da escaleta tocada por Alberto Continentino que quase dão outro tom à parceria de Cazuza (1958 - 1990), Bebel Gilberto e Dé Palmeira. Tem que ver...
A ambiência do show Maré é pautada pela suavidade do disco homônimo. Mas, em cena, Calcanhotto se revela menos cool. E a intérprete - até então restrita ao canto e ao violão - se permite tirar até sons distorcidos da guitarra no meio de Para Lá, sua parceria com Arnaldo Antunes. Em Vai Saber?, precedido por discurso em que Calcanhotto exercita seu humor afiado para revelar como o samba feito para Mart'nália foi parar na voz de Marisa Monte, a artista faz roncar uma cuíca com charme. A leitura da autora para o samba é menos suntuosa do que o registro de Marisa no álbum Universo ao meu Redor (2006). Funciona.
Há números em que nem todo o quarteto divide com Calcanhotto a cena sedutora, na qual as duas baterias estão dispostas frente à frente. Em Sem Saída, número que não alcança a densidade do registro do CD, a artista se acompanha ao violão em arranjo econômico que inclui toques dos teclados de Bruno Medina. Na inédita Poética do Eremita, música composta por Calcanhotto sobre versos da poeta portuguesa Fiama Hasse Pais Brandão (1938 - 2007), a cantora troca o violão pelo violoncelo, do qual tira sons sujos que interagem com os acordes minimalistas da guitarra tocada por Alberto Continentino. Tal música é sobra do CD Maré.
Após surpreender e cantar um samba-rock de Seu Jorge, Tive Razão, Calcanhotto apresenta músicas de maior empatia popular. É quando se ouve o coro espontâneo da platéia em Fico Assim sem Você (número ao qual Domenico Lancellotti acrescenta sutis grooves funkeados que aludem a origem deste hit da dupla Claudinho & Buchecha). Na seqüência, Um Dia Desses (com Alberto Continentino assumindo os vocais feitos por Moreno Veloso no CD) e Vambora ratificam a capacidade da artista de aliar popularidade com sofisticação em vários pontos de sua obra.
As ondas tropicalistas que sempre bateram no mar de Calcanhotto são perceptíveis em Porto Alegre (Nos Braços de Calipso), o tema de Péricles Cavalcanti que, no palco, tem muito da alegria anárquica do grupo Os Mutantes. Detalhe: Calcanhotto dá conta do recado ao fazer o canto da sereia que, no disco, é luxuosamente simulado por Marisa Monte. Em seguida, Maresia encerra o show, cujo bis inclui músicas de Dorival Caymmi (Quem Vem pra Beira do Mar), Guilherme Arantes (Meu Mundo e Nada Mais, com toda pinta de hit popular do provável registro ao vivo do show) e Los Hermanos (Deixa o Verão, com pegada roqueira similar ao registro do grupo). Cortesia para o público do Rio de Janeiro, um segundo bis com Cariocas - pedida pela platéia - e Devolva-me encerra definitivamente uma apresentação que arrasta o séquito fiel de Adriana Calcanhotto em maré hype de forte encantamento.

Roteiro de 'Maré' une Arantes, Jorge e Caymmi

Samba-rock de Seu Jorge, gravado por Paula Lima em seu primeiro álbum solo, É Isso Aí! (2001), Tive Razão foi a surpresa do roteiro da ótima estréia carioca do novo show de Adriana Calcanhotto, Maré, na noite de sexta-feira, 27 de junho de 2008. A idéia da artista foi criar roteiro flexível até certo ponto. "Ele é fixo, mas sujeito a chuvas e trovoadas", caracteriza a cantora. Na primeira das três apresentações cariocas agendadas no Canecão (RJ), Calcanhotto não incluiu Rio Longe, música de Moreno Veloso que chegou a cantar em algumas sessões de Maré no exterior. Eis o conceitual roteiro do show de 27 de junho de 2008:
1. Maré (Adriana Calcanhotto e Moreno Veloso)
2. Três (Marina Lima e Antonio Cícero)
3. Seu Pensamento (Adriana Calcanhotto e Dé Palmeira)
4. Mais Feliz (Cazuza, Bebel Gilberto e Dé Palmeira)
5. Asas (Adriana Calcanhotto e Antonio Cícero)
6. Teu Nome Mais Secreto (Adriana Calcanhotto e Waly Salomão)
7. Para Lá (Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes)
8. Vai Saber? (Adriana Calcanhotto)
9. Esquadros (Adriana Calcanhotto)
10. Mulher sem Razão (Cazuza, Bebel Gilberto e Dé Palmeira)
11. Sem Saída (Augusto de Campos e Cid Campos)
12. Poética do Eremita (Calcanhotto e Fiama Hasse Pais Brandão)
13. Tive Razão (Seu Jorge)
14. Fico Assim sem Você (Claudinho & Buchecha)
15. Um Dia Desses (Kassin e Torquato Neto)
16. Vambora (Adriana Calcanhotto)
17. Porto Alegre (Nos Braços de Calipso) (Péricles Cavalcanti)
18. Maresia (Paulo Machado e Antonio Cícero)
Bis:
19. Quem Vem pra Beira do Mar (Dorival Caymmi)
20. Meu Mundo e Nada Mais (Guilherme Arantes)
21. Deixa o Verão (Rodrigo Amarante)
Bis 2:
22. Cariocas (Adriana Calcanhotto)
23. Devolva-me (Lilian Knapp e Renato Barros)

Em setembro, coletânea dos Chemical Brothers

Keeping my Composure é a gravação inédita que o duo The Chemical Brothers - um dos grandes pioneiros da música eletrônica - apresenta em coletânea programada para 1º de setembro. Brotherhood é o título da compilação dupla que resume a trajetória fonográfica de 13 anos de Ed Simons e Tom Rowlands. O CD 1 reúne 13 hits da dupla, além da faixa inédita gravada com participação de Spank Rock. Já o CD 2 agrupa dez temas sob o título Electronic Battle Weapons. São gravações que serviram de laboratório para os experimentos do duo e que nunca haviam sido disponibilizadas na discografia oficial dos Chemical Brothers. O disco sairá via EMI.

Sai nova coletânea de Rivers feita para o Brasil

Dentro da boa série Classic, a gravadora Som Livre põe nas lojas bem-vinda coletânea de Johnny Rivers produzida para o Brasil. A compilação chega em boa hora, pois já não havia nenhum CD do cantor norte-americano (popular nos anos 60 e 70) em catálogo no mercado brasileiro. Do You Wanna Dance? é a faixa que abre previsivelmente a coletânea, já que esta bela gravação de Rivers alcançou no Brasil uma repercussão não obtida em nenhum outro país. A seleção de repertório de Johnny Rivers Classic inclui também o registro ao vivo de Memphis Tenn, o cover do repertório de Chuck Berry que deu a Rivers grande projeção nos Estados Unidos em 1964. Aliás, o maior sucesso do artista nos EUA, Poor Side of Town, também integra a seleção ao lado de músicas como It's Too Late e Summer Rain. Pena que não haja no magro encarte maiores informações sobre a origem das 14 faixas.

27 de junho de 2008

Jaime realça melancolia madura em 'Interlúdio'

Resenha de CD
Título: Interlúdio
Artista: Leo Jaime
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 1/2

Leo Jaime está associado à vertente bem-humorada do rock carioca projetado nos anos 80. O rock de bermudas - como chegou a ser pejorativamente rotulado pela turma mais engajada daquela geração pop. Mas o fato - assimilado com dificuldade pelo mercado fonográfico da época - é que o cantor já experimentou sons mais maduros em bons álbuns como Vida Difícil (1986) e, sobretudo, Avenida das Desilusões (1989). Não foi bem compreendido e, num passo em falso, tentou esticar sua adolescência no deslocado Sexo, Drops & Rock'n'Roll (1990). Posto na geladeira da Warner Music, Jaime ainda conseguiu gravar disco de covers, Todo Amor (1995), até sair forçosamente de cena. A bem-vinda volta se dá com Interlúdio, álbum em que o artista realça a maturidade e a melancolia que já esboçara nos anos 80 sem receber o (devido) crédito do mercado.
Primeiro trabalho de Jaime em 13 anos, Interlúdio é belo álbum. Quase cinqüentão, Jaime faz inventário reflexivo-existencial de perdas, danos, solidões e desilusões em cancioneiro de tonalidade romântica. "O amor me esqueceu, me deixou em paz", queixa-se na faixa-título, de esfumaçado clima bluesy. Em Pode Ser, uma das mais inspiradas baladas do disco, o foco recai sobre descompassos conjugais. "O tempo passa ao meu redor / Sem olhar pra mim / E talvez seja até melhor assim", admite na canção Nos Arredores do Amor, parceria com Leoni (como Jaime, grande hitmaker dos 80).
Álbum de clima invernal, Interlúdio monta o painel saudoso de tempos mais solares em Fotografia, outra parceria de Leo com Leoni, única música não inédita de um disco que confirma a inspiração do compositor em temas como Mesmo Assim e Se Ela Soubesse o que Quer, faixas que têm todo jeito de hits radiofônicos. Aliás, a primeira metade das dez faixas é bem superior à segunda, que tem músicas menos inspiradas como Silêncio e apresenta também a única música não autoral, Hoje e Sempre, de Alvin L. Mas, no todo, o disco desce bem. E Tudo tem até clima juvenil que cairia bem em Sessão da Tarde, título mais bem-sucedido da discografia de Leo Jaime, ex-roqueiro que canta afinado e compõe bem. As doses de melancolia e nostalgia de Interlúdio são altas. Contudo, são coerentes com o momento do artista. E o tempo, afinal, não iria mesmo esperar por Leo Jaime...

Caixa embala álbuns, raridades e DVD do RPM

Previsto inicialmente para julho de 2007, a caixa com discos do RPM vai efetivamente chegar às lojas um ano depois. O box Revolução! RPM 25 Anos reúne os três álbuns lançados pelo grupo na Sony BMG - a obra-prima Revoluções por Minuto (1985), o milionário Rádio Pirata ao Vivo (1986) e o irregular RPM (1988) - e um CD com remixes e lados B da obra do grupo. Completando a caixa, há o DVD com o registro do show Rádio Pirata ao Vivo, antes disponível somente em VHS. Os 25 anos do subtítulo aludem ao fato de a banda ter sido efetivamente formada em 1983, em SP.

Coletânea do Joy Division traz mais do mesmo

Resenha de CD
Título: The Best of
Joy Division
Artista: Joy Division
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *

É bastante compreensível que os lançamentos coincidentes de dois filmes sobre o Joy Division - Control, sensível biografia ficcional de Ian Curtis (1956 - 1980), e Joy Division, documentário sobre o grupo - tenham inspirado a indústria fonográfica a produzir nova coletânea da banda. Mas The Best of Joy Division - a compilação dupla editada em março de 2008 que a Warner Music está lançando no Brasil neste mês de junho - oferece rigorosamente mais do mesmo. O que também é comprensível. Afinal, o grupo editou apenas dois álbuns em sua curta existência, Unknow Pleasures (1979) e Closer (1980), ambos devidamente retalhados em coletâneas anteriores como Substance (1988) e Permanent (1995). O único possível diferencial da coleção atual seriam os registros ao vivo captados na rádio BBC, mas esse material já foi lançado em CD em 2000 em The Complete BBC Recordings. Mas, para fãs de última hora de Joy Division ou de Ian Curtis (artista de aura mitológica), vale a informação de que The Best of Joy Division inclui oito gravações ao vivo registradas pela banda em duas sessões do programa de rádio John Peel Show, exibidas em 14 de fevereiro e em 10 de dezembro de 1979, respectivamente. Há também registros ao vivo de Transmission e She's Lost Control, extraídos do programa de TV Something Else, exibido originalmente pela BBC em 15 de setembro de 1979. A coletânea dupla fecha com o áudio de entrevista concedida em setembro de 1979 por Ian Curtis e Stephen Morris ao radialista da BBC Richard Skinner. Nada que colecionadores de discos do Joy Division já não tenham. Mas, como sempre há novos adolescentes descobrindo o grupo inglês, sobretudo agora depois dos lançamentos dos dois filmes, The Best of Joy Division tem lá a sua serventia para esses novos fãs.

Bebel, Takai, Camelo e Roberta saúdam Donato

Parceria de João Donato com João Mello, gravada em 1963 por Donato, Sambou Sambou é a música que Roberta Sá vai cantar no tributo a Donato que vai acontecer em São Paulo (8 e 9 de julho, no Auditório Ibirapuera) e no Rio de Janeiro (11 de julho, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro) dentro da série de shows e eventos ItaúBrasil, que celebra os 50 anos da Bossa Nova. Roberta integra time de intérpretes de aura hype que inclui também Adriana Calcanhotto (Naquela Estação), Bebel Gilberto (A Rã), Fernanda Takai (Gaiolas Abertas), Marcelo Camelo (Simples Carinho) e Marcelo D2 (Balança Menina). Os cantores serão acompanhados pela Orquestra Ouro Negro. Donato, claro, vai tocar o seu piano. Nelson Motta e Mario Adnet dirigem o show.

26 de junho de 2008

Caixa de Chico não é essencial, mas é eficiente

Resenha de caixa
Título: Essencial
Artista: Chico
Buarque
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

A rigor, Essencial é título inapropriado para qualquer coletânea de Chico Buarque que venha a ser produzida pela gravadora Sony BMG. Afinal, a parcela realmente essencial da grandiosa obra do compositor pertence aos arquivos da companhia hoje denominada Universal Music e abrange o período 1970 - 1986. Ainda assim, a caixa Essencial - já nas lojas com quatro CDs temáticos e o DVD Chico ou o País da Delicadeza Perdida - cumpre com eficiência sua função de montar bom painel da obra do compositor. Como há nove fonogramas cedidos pela Universal e como Chico regravou bastante a própria obra a partir de seu ingresso na BMG, em 1987, o perfil de sua obra esboçado na caixa acaba sendo bom. Até porque, entre as 56 faixas selecionadas para os quatro CDs, há músicas que cobrem 40 anos da grande construção erguida com maestria por Chico Buarque de Hollanda, indo desde Pedro Pedreiro (o samba lançado por Chico em 1965 e que aparece na caixa em gravação de 1966) a Renata Maria (a superestimada primeira parceria do compositor com Ivan Lins, arquitetada por Leila Pinheiro, a intérprete da gravação original, de CD de 2005).
No que diz respeito às duas gravações inéditas lançadas na caixa para atrair a atenção de fãs de Chico, ambas nada acrescentam à discografia do compositor e, por isso mesmo, são sobras da obra fonográfica do artista. Tanto Amar foi limada da seleção final do álbum de regravações Uma Palavra (1995). Já o registro ao vivo do Samba do Grande Amor ficou de fora tanto do DVD Chico e as Cidades ao Vivo como do CD Chico ao Vivo (1999). E não foi à toa que os dois registros sobraram: Chico canta mal nos dois.
Quanto à divisão do repertório em quatro CDs temáticos (intitulados Samba e Amor, Todo o Sentimento, Cotidiano e Entre Amigos, Paratodos), outras coletâneas já exploraram tais divisões com maior critério. Era preferível que as 56 faixas tivessem sido dispostas em ordem cronológica para facilitar a percepção da evolução da construção da obra momunental de Chico Buarque de Hollanda. Ainda assim, Essencial tem lá seu (reduzido) charme...

Rosa faz romance com classe e toques de jazz

Resenha de CD
Título: Romance
Artista: Rosa Passos
Gravadora: Telarc
/ Universal Music
Cotação: * * * *

Lançado em maio no exterior, o 14º álbum de Rosa Passos, Romance, chega esta semana às lojas do Brasil, com o selo da Universal Music, evidenciando as qualidades da intérprete. É disco que tem o clima esfumaçado e intimista de uma boate. Dona de divisão toda particular, Rosa apresenta coleção de canções de amor compostas no Brasil. Músicas como Álibi, Eu Sei que Vou te Amar e Nem Eu ganham tonalidades jazzísticas e divisões que lhes dão novas nuances sem desfigurar as melodias originais. Os arranjos - divididos entre o pianista Fábio Torres, o violonista Lula Galvão e o baixista Paulo Paulelli - são pautados pela suavidade. Que promove saudável contraste com a dramaticidade contida nos versos de Atrás da Porta, Tatuagem e Altos e Baixos - interpretados com economia por Rosa, sem arroubos vocais. O único ponto negativo de Romance é uma certa linearidade que inexiste nos shows da cantora, nos quais números mais suingantes se alternam com outros bem mais íntimos. Neste irretocável cancioneiro amoroso, o clima pouco varia de uma faixa para outra. Mas nada que lhe empane o brilho. Romance é disco para quem aprecia uma cantora que interage com seus músicos como se fosse mais uma integrante da banda. Nesse sentido, tem muito de João Gilberto em Rosa Passos. E não é somente o canto macio...

Ídolo chinês, Lang chega ao Brasil em coletânea

Fenômeno de popularidade na sua terra natal, a China, o virtuoso pianista Lang Lang já vem atravessando a fronteira da música erudita em âmbito internacional. A ponto de a gravadora Universal Music estar editando no Brasil a coletânea The Art of Lang Lang, produzida em 2007 pela Deutsche Grammophon - a companhia alemã que tem Lang sob contrato. Entre as 13 faixas da compilação, há temas de Franz Liszt (1811 - 1886), Frèderic Chopin (1810 - 1849), Mozart (1756 - 1849) e Tchaikovsky (1840 - 1893). Fechando o CD, há faixa de contorno mais popular, Io Ci Saró, da qual participa o tenor italiano Andrea Bocelli. É curioso...

Sylvinha Araújo, da Jovem Guarda, sai de cena

Cantora projetada nos embalos da Jovem Guarda, Sylvinha Araújo saiu de cena na noite de quarta-feira, 25 de julho de 2008, vítima de complicações decorrentes de um câncer de mama diagnosticado há 12 anos. Casada desde 1969 com Eduardo Araújo, intérprete também associado à Jovem Guarda, Sylvinha tinha uma gravadora, a Number One, por onde lançou em 2001 o CD Suave É a Noite. Mas, como a grande maioria dos participantes do movimento comandado por Roberto e Erasmo Carlos, a cantora mineira (radicada em São Paulo) nunca conseguiu dissociar sua imagem das velhas tardes de domingo. Embora tenha construído sólida carreira no mercado publicitário com a gravação de jingles, Sylvinha será sempre lembrada como uma voz da Jovem Guarda...

25 de junho de 2008

Caetano regrava 'Moça' para bar dos teletemas

Como já havia prometido ao cancelar sua participação na gravação ao vivo do CD e DVD Um Barzinho, um Violão - Novelas 70, realizada em 12 e 13 de maio no Morro da Urca (RJ), Caetano Veloso gravou em estúdio o registro de Moça, a canção de Wando que, na voz do autor, foi tema da novela Pecado Capital, exibida pela Rede Globo entre 1975 e 1976. Como mostra a foto à direita de Washington Possato, clicada no estúdio carioca Mega, o cantor registrou o hit de Wando munido de seu violão. O CD do projeto chegará às lojas em agosto. Já o DVD vai ser lançado em setembro. Uma posterior edição em Blu-Ray sairá no fim de 2008.

Boa seleção valoriza outra coletânea de Cartola

Resenha de CD
Título: Cartola Bate
Outra Vez Vol. 2
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 1/2

Em 1988, a gravadora Som Livre festejou os 80 anos de Cartola (1908 - 1980) com álbum, Bate Outra Vez, em que estrelas da MPB e do pop nacional revisitavam a obra do compositor em gravações inéditas. Vinte anos depois, a companhia presta seu tributo ao centenário de Cartola com coletânea que pega carona no prestígio do disco de 1988. Desta vez, as gravações não são inéditas. Contudo, a seleção dos 14 fonogramas - feita por Rodrigo Faour - é boa e valoriza a compilação. Inclusive por conta do faixa-a-faixa que detalha a origem de cada composição e da gravação escolhida. Bate Outra Vez Vol. 2 joga luz sobre registros pouco ouvidos. São os casos de Alvorada (no dueto pálido de Maria Bethânia e Hermínio Bello de Carvalho, feito em 1995 para álbum, Cantoria, que festeja os 60 anos do parceiro de Cartola e Carlos Cachaça no samba), Divina Dama (na gravação de Chico Buarque para o projeto Chico Buarque de Mangueira, de 1997) e de Sim (no vozeirão de Nelson Gonçalves, em gravação de 1975 incluída no LP Nelson Canta Cada Vez Melhor). E há músicas também pouco conhecidas. Festa da Vinda, parceria de Cartola com Nuno Veloso, reaparece no dueto de Cauby Peixoto e Zeca Pagodinho - gravado em 2000 para disco de Cauby, Meu Coração É um Pandeiro, que obteve reduzida repercussão fora da imprensa escrita. Bissexta parceria de Cartola com Noel Rosa (1910 - 1937), o maroto samba Qual Foi o Mal que te Fiz? pode ser ouvido no registro feito por Dona Inah para o disco Divino Samba Meu, editado em 2004. Já Labaredas, parceria menos inspirada de Cartola com Hermínio Bello de Carvalho, é lembrado em sua única gravação, feita por Joanna em 1980 para o LP Estrela Guia. Entre fonogramas menos batidos de Beth Carvalho (Que Sejam Bem-Vindos) e Clara Nunes (Que Sejas Bem Feliz, jóia nunca regravada), há ainda a última gravação de Cartola, Eu Sei, feita em dueto com Alcione dois meses antes de o mestre sair de cena. Enfim, poderia ser mais uma entre tantas coletâneas de Cartola, mas Bate Outra Vez Vol. 2 consegue soar reveladora por conta da nada óbvia seleção de repertório. E, mesmo quando a obra de Cartola não arrebata (há músicas menores no CD), soa sofisticada.

Fafá capta imagens em Portugal para um DVD

Fafá de Belém aproveitou uma recente viagem a Portugal para captar imagens para DVD que vai documentar a sua carreira na Terrinha. Sob a direção de Paulo Severo, a cantora gravou takes em cidades como Coimbra, Lisboa e na região do Alentejo. A idéia é gravar imagens de shows da artista tanto em Portugal como no Brasil. Mas o projeto ainda está em fase embrionária. Fafá também planejava um DVD com o registro do show Tanto Mar - em que cantava a obra de Chico Buarque - e, sem patrocínio, não conseguiu concretizar o projeto.

Costello faz rock com simplicidade de macarrão

Resenha de CD
Título: Momofuku
Artista: Elvis Costello
and the Imposters
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * 1/2

Um convite para Elvis Costello gravar com a cantora Jenny Lewis motivou a reunião do artista com seu trio The Imposters e acabou gerando o embrião de um novo álbum do grupo com o astro britânico, dono de obra camaleônica que já adquiriu contornos de pop, jazz, funk, clássico e até rock - como neste azeitado Momofuku. O título alude a Ando Momofuku, inventor do Cup Noodle, o macarrão preparado instantaneamente. A idéia de Costello foi gravar rapidamente com sua turma um rock simples, básico e saboroso. Não há conceitos em torno do repertório e tampouco firulas nesta gravação. Há apenas uma sucessão de músicas cantadas e tocadas com energia juvenil. Exemplo é Turpentine, faixa que soa como gravação de uma banda de garagem. É fato que Costello já apresentou álbuns mais arrebatadores - casos de Paint from Memory, CD de 1998 dividido com Burt Bacharach, e de For the Stars, o sublime álbum de 2001 gravado com a cantora erudita alemã Anne Sofie Von Otter - mas Momofuku desce bem como um miojo bem preparado na hora certa. Os molhos podem ser tanto as distorções de Stella Hurt como a reverência ao universo de Bob Dylan em American Gangster Time. No toque de Elvis Costello, um miojo às vezes vira até iguaria. Porque o cozinheiro sabe como prepará-lo.

24 de junho de 2008

Biografia inspira desleixada coletânea de Maysa

Lançada em 2007, a excelente biografia Maysa - Só numa Multidão de Amores é a musa inspiradora da edição de mais uma fraca coletânea da cantora. Treze gravações de Maysa (1936 - 1977) foram compiladas para CD batizado com o nome do livro de Lira Neto e posto nas lojas neste mês de junho pela EMI. A capa é idêntica à da biografia. Contudo, o disco não foi editado com o capricho do livro - obrigatório para todos que se interessam por Maysa. O magro encarte apresenta superficial texto de Neto sobre a cantora e peca por omitir a data original de fonogramas como Resposta, Ouça, Meu Mundo Caiu, Caminhos Cruzados, O Barquinho e Bonita. Eis as 13 faixas da desleixada coletânea Maysa - Só numa Multidão de Amores:
1. Resposta
2. Ouça
3. Meu Mundo Caiu
4. Caminhos Cruzados
5. O Barquinho
6. Demais / I've Got You Under my Skin - Ao vivo
7. Por Causa de Você / Dindi - Ao vivo
8. Ne me Quitte Pas - Ao Vivo
9. Eu e a Brisa - Ao Vivo
10. Se Todos Fossem Iguais a Você - Ao Vivo
11. Catavento
12. Um Dia
13. Bonita

'Pássaro Pênsil' voa com Ná, Leila e as Marinas

Sétimo título da discografia do compositor das Geraes Flávio Henrique, gravado em 2007 com patrocínio da Petrobrás, Pássaro Pênsil chega às lojas pela Biscoito Fino em edição luxuosa. A embalagem digipack acomoda dois fartos libretos, um com fotos e outro com as letras e fichas técnicas das 14 músicas autorais de denso clima poético. O compositor e violonista apresenta parcerias com Carlos Rennó (a faixa-título), Celso Viáfora (Primeiro Sol), Luiz Tatit (Vi, tema cantado no CD por Ná Ozzetti), Márcio Borges (Água Marina - faixa que ostenta a voz de Marina de la Riva - e Azul de Passagem), Marina Machado (Iluminuras), Milton Nascimento (Amor do Céu, Amor do Mar) e Zeca Baleiro, parceiro e intérprete convidado do Choro do Fim do Mundo. O compositor, aliás, convocou belo time de cantores para defender suas músicas. Lô Borges faz dueto com Henrique em O Pássaro Pênsil. Leila Pinheiro canta Só o Mar. Simone Guimarães pôz voz no baião Sangue Seco. Marina Machado, que já dividiu disco com Flávio Henrique, é a intérprete da supra-citada Amor do Céu, Amor do Mar. O compositor, que merece projeção além do clube mineiro, assina a produção deste disco Pássaro Pênsil.

Calypso lança seis inéditas em projeto acústico

Sucesso popular no Norte e no Nordeste do Brasil, a Banda Calypso resolveu testar a sua guitarrada em um inusitado formato acústico. Editado pela gravadora Som Livre, o disco Acústico do grupo paraense apresenta seis temas inéditos (Eu Sonhei, Gritar de Amor, Lembro de Você, Máquina do Tempo, Paixão Machucada e Viagem Louca) entre as 15 músicas entoadas pela cantora Joelma. Chimbinha prioriza os violões em detrimento das guitarras para acompanhar sua partner em repertório que inclui hits como Anjo, Doce Mel (não confundir com o sucesso de Xuxa que Preta Gil vem cantando em show), Estrela Dourada e Não Faz Sentido. À venda.

Viagem pela trajetória já crepuscular de Rogers

Editado em setembro de 2006 nos Estados Unidos, o DVD Kenny Rogers - The Journey chega ao Brasil em edição nacional produzida pela gravadora Coqueiro Verde. Trata-se de um documentário que viaja através de 40 anos para recontar a trajetória de Rogers, cantor norte-americano que transitou do country para o pop, emplacando hits como She Believes in me, We've Got Tonight (em duo com a cantora Sheena Eston) e Lady. A narrativa é entremeada com números de show recente feito por Rogers, já em fase crepuscular. Entre imagens de arquivo e depoimentos de colegas como Lionel Richie, há dueto do artista com Willie Nelson em Blue Skies, de Irving Berlin. Avalizado pelo próprio Kenny Rogers, cuja entrevista também costura o roteiro, The Journey é viagem calculada pelo universo de um cantor que envelheceu (muito) mal do ponto de vista artístico. É para fãs.

23 de junho de 2008

Tributo a Jacob vira DVD com faixa de estúdio

Com a gravação adicional de Noites Cariocas, feita em estúdio por grupo que inclui o bandolinista fera Hamilton de Holanda, o registro ao vivo do belo espetáculo Ao Jacob, seus Bandolins - recital apresentado em 2002 na Sala Cecília Meirelles (RJ) em tributo a Jacob do Bandolim (1928 - 1969) - ganha registro em DVD, via Biscoito Fino, com o mesmo título e a mesma arte gráfica do CD duplo já posto nas lojas há anos pela própria Biscoito Fino. Entre outros méritos, o espetáculo reuniu a Camerata Carioca, reagrupada para interpretar a Suíte Retratos, composta por Radamés Gnattali (1906 - 1988) em homenagem a Jacob, o mestre do choro. Biscoito realmente fino...

Paralamas tocam com Ivete no gueto de Brown

A foto acima é um flagrante do encontro informal dos Paralamas do Sucesso com Ivete Sangalo no estúdio de Carlinhos Brown. A reunião aconteceu em Salvador, na Bahia. O trio carioca gravava as bases do CD que vai lançar em outubro quando recebeu a visita inesperada da cantora. A chegada de Ivete foi pretexto para um sarau comandado por Herbert Vianna (com o violão, na foto de Mário Sena), cantor e guitarrista do grupo. No texto intitulado Em Busca da Vibe Perfeita, o baterista dos Paralamas do Sucesso, João Barone, relata a viagem do grupo. Eis o texto divulgado nesta segunda-feira, 23 de junho de 2008, pela assessoria oficial do trio:

Em busca da “vibe perfeita”
João Barone

"Faz poucos dias que terminamos a primeira fase de gravações do novo álbum. Os trabalhos aconteceram no estúdio de Carlinhos Brown, em pleno Candeal, bairro superconhecido da capital baiana. Antigamente, procurávamos gravar em estúdios com as melhores condições técnicas, via de regra, caros e sofisticados. Hoje em dia, com as amplas possibilidades da era digital, isso já não é mais o caso. Se alguém disser que sua banda não pode gravar em qualquer lugar, não acredite, você pode, sim... Hoje em dia é fácil achar um bom estúdio que ofereça tecnologia, razoavelmente barato e de qualidade. O estúdio construído do chão ao teto por Carlinhos Brown, batizado de Guetto, conta com o que há de melhor da tecnologia digital de ponta, além dos melhores microfones vintage e uma acústica excelente, numa sala enorme com pé direito de oito metros. Mas nós fomos gravar lá por um motivo mais importante: a busca da vibe perfeita.

Nossa experiência com estúdios de gravação é ampla, na maioria trazendo boas lembranças. Na época em que a gravadora Odeon (EMI) tinha estúdios próprios, era uma festa gravar noite adentro, com pausas para devorar pizzas e sanduíches de provolone, ou esfriar a cuca em animadas partidas de vôlei de estúdio, onde a quadra era demarcada com fita crepe numa grande sala de gravação acarpetada e a rede era composta pelas tapadeiras acústicas, uma bagunça sem igual! Com a desativação dos estúdios, gravamos em vários outros excelentes representantes do gênero no Rio, como o Nas Nuvens, Impressão Digital, Mega e no AR, todos muito bons.

Quando gravamos o disco Severino na Inglaterra, tivemos algumas experiências desagradáveis. A gravação demorou para engrenar, num processo muito moroso. O que salvou foi a incrível presença de Brian May, do Queen, participando da faixa El Vampiro Bajo El Sol, tocando guitarra e fazendo os vocais conosco, a melhor lembrança desses tempos... Ainda no exterior, mixamos alguns álbuns em Los Angeles, em Londres e gravamos alguma coisa no fantástico Real World, do Peter Gabriel, com memórias inapagáveis da nossa estadia, hospedados no próprio complexo de gravação, na cidade de Box Mills, perto de Bath.

Mas relato isso tudo para chegar hoje, com a recém entusiasmada experiência de gravar as bases do nosso novo trabalho no estúdio Guetto, nome alusivo ao globalizado bairro do Candeal, de onde o multitalentoso Carlinhos Brown – tal qual um Peter Gabriel dos trópicos - montou uma incrível usina de som que administra e comanda. Acontece que nós poderíamos ter gravado o novo disco em qualquer lugar, mas resolvemos ir atrás de um lugar especial, onde o astral fosse determinante para o andamento das gravações. Estivemos neste mesmo estúdio em outubro passado, para ensaiar a participação do Brown no show Paralamas & Titãs. Ficamos muito empolgados e resolvemos gravar nosso novo álbum neste local, pois percebemos que a atmosfera que reina nesse pedaço de Salvador é especial. Eu poderia me estender só falando de como o bairro do Candeal representa um dos melhores exemplos de resgate e inclusão social da população carente de recursos, que foi promovido pelo Brown usando primordialmente a música, que sabemos ser um dos melhores remédios para os males do mundo. Quem quiser prova mais concreta, só indo lá para entender.

No primeiro dia de gravação, Brown adentra o estúdio como um furacão, reflexo da sua transbordante alegria pela nossa presença. Tocou, cantou e anunciou que haveria reza, samba de roda e fogos pelo final da trezena à Santo Antônio, um dos mais cultuados santos na Bahia, dando início aos festejos juninos, tão populares no Estado. Foram dias de pura alegria e astral lá no alto. Ficamos um pouco tristes com o término da nossa rotina, ao contrário de tempos atrás, quando muitas vezes acabar uma gravação era sempre um alívio. Tudo passou tão rápido que fez valer aquela velha máxima de que o tempo voa quando as coisas boas estão acontecendo. No último dia de gravação, recebemos no estúdio as visitas inesperadas de Geraldinho Azevedo e Ivete Sangalo, que estavam gravando num outro estúdio perto dali e apareceram para uma social. Herbert aproveitou e promoveu o seu já tradicional sarau, tocando e cantando um monte de músicas ao violão, junto com Ivete, que - para surpresa geral - tomou conta de minhas baquetas e mandou ver na bateria, acompanhando Herbert com algumas batidas muito bem executadas! Essa menina ainda vai longe!

A Bahia já nos proporcionou momentos incríveis, como nos inúmeros shows ao longo de anos, quando sempre nos deparamos com platéias das mais quentes e participantes, Olodum e Timbalada com a gente em cima do palco na Concha... Teve uma vez em que Os Paralamas foram homenageados pelo bloco afro Araketu, em plena favela dos Alagados, aquela que dá nome a canção, uns 22 anos atrás. Nós, na época, garotos classe média do Rio de Janeiro, ali, recebendo o reconhecimento daquela gente por falar da sua verdade para o resto do país. Ou no dia em que gravamos Carro Velho com o próprio Brown... Mas desta vez a Bahia nos deu algo muito mais precioso, difícil de medir, mas fácil de sentir. Estávamos super à vontade, como se a gente não tivesse saído de casa. Os trabalhos rolaram na maior harmonia, sob as bênçãos dos orixás. Deve ser isso que eles chamam de axé... e o axé foi fortíssimo!".

'Êxtase' reforça laços entre Senise e Peranzzetta

Pouco antes de morrer, em 14 de dezembro de 2006, Severino Dias de Oliveira, o Sivuca (1930 - 2006), ouviu Mestre Sivuca - música criada por Gilson Peranzzetta em sua homenagem - numa gravação demo enviada pelo pianista a João Pessoa (PB). A idéia de Peranzzetta era registrar o tema com o auxílio luxuoso do acordeom de Sivuca. A idéia não foi concretizada diante do estado já delicado do parceiro de Chico Buarque na valsa João e Maria. Mas a homenagem ao músico pode ser ouvida em Êxtase. Mestre Sivuca é a primeira das 14 faixas do quarto álbum do duo formado por Peranzzetta com o saxofonista e flautista Mauro Senise. E o tributo ao mestre da sanfona reverbera também em outra faixa do disco, Itabaiana, batizada com o nome da cidade natal de Sivuca. Trata-se de valsa.
Editado esta semana pela Marari Discos, Êxtase reforça os laços e as afinidades entre os dois grandes músicos. Composto e arranjado por Peranzzetta, o repertório combina lirismo e tonalidades jazzísticas em amplo leque rítmico que abre espaço tanto para um tango abrasileirado (Apanhei-te Pianinho, tema que remete a Ernesto Nazareth) como para um choro (Celebrando Jobim, com a adição das cordas da Orquestra dos Sonhos). Entre os destaques, há Por um Triz - faixa de textura camerística - e Aboio, lindo tema que reverencia a força do povo nordestino. Dez!

CD revela o coerente início roqueiro de Ramalho

Resenha de CD
Título: Zé Ramalho
da Paraíba
Artista: Zé Ramalho
Gravadora: Selo
Discobertas / Coqueiro
Verde
Cotação: * * * 1/2

"Eu sou todos nós", sentencia Zé Ramalho em um verso de Falido Transatlântico, canção que integra o álbum duplo Zé Ramalho da Paraíba, título inaugural do selo Discobertas, aberto pelo produtor e pesquisador musical Marcelo Fróes para editar relíquias do baú da MPB. O álbum duplo dedicado a Ramalho eterniza 23 números de cinco shows feitos pelo artista - entre 1973 e 1977 - na Paraíba e no Rio de Janeiro. Falido Transatlântico é número extraído do show Um Dia Antes da Vida, apresentado por Ramalho em 1976. Seu verso Eu Sou Todos Nós seria reaproveitado pelo cantor no título do álbum que lançou em 1998, exemplificando a firme coerência que pauta a discografia do compositor. O disco atual revela o início da viagem.
Por perpetuar gravações caseiras extraídas de fitas cassetes do acervo pessoal do artista, Zé Ramalho da Paraíba peca pelo caráter oscilante do áudio. A qualidade é especialmente precária nos oito números captados no show mais antigo, Atlântida, de 1973. É quando Ramalho aparece mais imerso no rock (como comprovam os arranjos de músicas como Brejo do Cruz, Puxa Puxa e da versão original de Táxi Lunar) e no blues (Jacarepaguá Blues) sem enterrar de todo sua raiz nordestina, que salta em músicas como Autor da Natureza. Atlântida ilustra a fase hippie de Ramalho. No show seguinte, Um Dia Antes da Vida, já são mais perceptíveis em números como A Árvore e O Astronauta (de apropriado clima viajante...) o misticismo filosófico-apocalíptico que iria nortear sua obra e o transformaria num Profeta do Sertão.
As maiores raridades estão no disco 1. Já o CD 2 documenta registros seminais de músicas como Avôhai e A Dança das Borboletas, captadas no show de voz-e-violão Coletiva de Música Paraibana, feito por Ramalho em 1976, um ano antes de sua contratação pela gravadora CBS (atual Sony Music). Enfim, com Zé Ramalho da Paraíba, título indicado para colecionadores, o selo Discobertas chega ao mercado fonográfico cumprindo bem sua função de documentar gravações inéditas ou raras. Que venham os CDs de Jackson do Pandeiro e Renato Russo!

22 de junho de 2008

Obra inédita de Caetano progride sem arrebatar

Encerrada na última quarta-feira, 18 de junho de 2008, a primeira temporada de Obra em Progresso - o show experimental e mutante criado por Caetano Veloso para testar o repertório de seu próximo disco - sinaliza um trabalho mediano como , o superestimado álbum editado pelo artista em 2006. Houve progresso na formatação da obra inédita ao longo das cinco apresentações. Mas nenhuma das músicas novas apresentadas por Caetano (acima em close de Ricardo Nunes no último show da primeira temporada) está realmente à altura do bom compositor.
Se em Caetano Veloso flertou com o rock, a obra inédita em progresso aponta para um disco eventualmente mais voltado para o samba. Ou transamba, termo usado pelo compositor para caracterizar um samba de ritmo calcado em guitarras e que remete ao título de álbum de 1972, Transa, em que o artista adotou sonoridade mais jovial. Nessa seara, a inclusão do cover de Incompatibilidade de Gênios (João Bosco e Aldir Blanc) se mostrou acertada. Eixo do álbum , o envolvimento de Caetano com o trio de músicos Marcelo Callado (bateria), Pedro Sá (guitarra) e Ricardo Dias Gomes (baixo) vai nortear o próximo disco. Possivelmente com a adição de Eduardo Josino e Josino Eduardo, os percussionistas gêmeos da Bahia que tocaram em Noites do Norte (2000) e foram recrutados para a primeira e a última apresentações de Obra em Progresso, show que vai voltar ao cartaz no segundo semestre, ainda no Rio de Janeiro (RJ), quando o compositor baiano regressar de turnê pela Europa.
Houve nítido progresso nos arranjos. O do sombrio samba Perdeu - em que Caetano aborda a violência que rege o cotidiano nas favelas - evoluiu muito do primeiro para o último show. Mas a música em si não arrebata. Aliás, Obra em Progresso seduz mais pelos timbres, sonoridades e discursos das músicas do que pelas melodias - a rigor, aquém do padrão áureo do compositor. Tarado ni Você assusta pela pobreza. Já A Cor Amarela - tributo à axé music, gênero pop baiano do qual Caetano sempre soube separar o luxo do lixo - conquista pela vivacidade rítmica. Sem Cais, parceria com o guitarrista Pedro Sá, encontra porto seguro na velha bossa enquanto Falso Leblon chama a atenção pela letra que descarta as drogas. Sustentada em firme falsete, Por Quem é canção pautada por estranhezas belas. Por sua vez, Base de Guantánamo se sustenta no discurso político que, por conta de declaração do compositor em recente entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, gerou até troca de farpas entre Caetano e Fidel Castro, ex-presidente de Cuba - defendida na letra, mas atacada pelo artista no jornal. Enfim, que venha o novo disco - a ser gravado (provavelmente) a partir de setembro e editado até o fim de 2008.

Paralamas gravam inéditas entre Rio e Salvador

Três anos depois do lançamento do CD Hoje (2005), o grupo Paralamas do Sucesso grava álbum de inéditas - o terceiro desde o acidente de ultraleve sofrido pelo cantor e guitarrista Herbert Vianna em fevereiro de 2001. O novo disco já começou a ser formatado no Rio de Janeiro - na foto acima, extraída do site oficial do trio carioca, um flagrante da banda na pré-produção do CD - e na Bahia. O grupo acabou de retornar de Salvador (BA), onde registrou algumas bases no estúdio Ilha dos Sapos, de Carlinhos Brown, parceiro de Herbert numa das músicas do CD. Brown e Herbert retomam a parceria iniciada com Uma Brasileira, o hit do disco ao vivo Vamo Batê Lata (1995) que devolveu à banda o sucesso popular perdido com álbuns como Os Grãos (1991) e Severino (1994). O novo CD vai ser lançado em outubro.

Bosco formata dois discos no segundo semestre

Programado, de início, para 2006, o CD de inéditas em que João Bosco registra as novas parcerias com Aldir Blanc - Sonho de Caramujo e Mentiras de Verdade, entre outras - poderá ser, enfim, concretizado já no segundo semestre de 2008. O muito esperado álbum de inéditas de Bosco (o primeiro desde 2002) vai trazer também as primeiras colaborações do compositor com Nei Lopes. Entre elas, Jimbo no Jazz. E o artista, que já tem material inédito para um disco duplo, aproveita o embalo e grava na Alemanha, em setembro, um CD com a NDR BigBand - com a qual fez turnê pelo Brasil em maio de 2007. Feito para o exterior, o disco vai ser gravado no estúdio da orquestra alemã de jazz com alguns temas de Bosco no repertório.

DVD capta B.B. King, aos 81, em cena e forma

Aos 81 anos, B.B. King segue fiel ao blues com sua também fiel Lucille, a guitarra que o acompanha em shows como os filmados em meados de 2007 - nos clubes que o artista tem em Nashville (EUA) e em Memphis (EUA) - para o DVD B.B. King Live. Já editado no exterior em 19 de fevereiro de 2008, o DVD chega neste mês de junho ao Brasil e captura o mestre em cena e em forma. No roteiro, há os clássicos do repertório de King - The Thrill Is Gone, Rock me Baby e When Loves Comes to Town, entre outros - e duas músicas (You Are my Sunshine e When the Saints Go Marching in) nunca gravadas pelo artista. A filmagem foi feita com câmeras de alta definição. Nos extras, há mensagem do guitarrista para os fãs.