Bebel garante bons momentos no retorno ao Rio
Título: Momento - Verão no Morro
Artista: Bebel Gilberto
Local: Morro da Urca (RJ)
Data: 8 de dezembro de 2007
Cotação: * * *
Favorecida pela atmosfera sedutora e jovem do Morro da Urca, Bebel Gilberto garantiu bons momentos ao público (igualmente jovem) que subiu o morro para ver a volta da cantora aos palcos cariocas. Em miniturnê pelo Brasil, aonde veio fazer apenas três apresentações do show calcado no seu terceiro CD, Momento, a filha de João Gilberto e Miúcha tirou - já na madrugada de sábado, 8 de dezembro - a má impressão de seus shows anteriores no Rio, feitos em lugares inadequados para ela como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e o Golden Room do Copacabana Palace. Luxo!!
O trabalho hype de Bebel está escorado em sonoridades, grooves e levadas. Como cantora, ela deixa (muito) a desejar - como ficou ratificado no bis, quando, depois de sua consagradora releitura do Samba da Benção, reviveu duas já célebres parcerias com Cazuza, Mais Feliz e Preciso Dizer que te Amo. Na primeira, em especial, ela exibiu interpretação sofrível. Mas ninguém subira o morro na espera de arroubos vocais da artista e o show acabou contentando o público certo. O que contou foram os tais grooves. Os da música Momento foram especialmente sedutores com bolhas caindo pelo palco e criando belo visual que desviou a atenção da letra pueril.
Espontânea e espirituosa, Bebel abriu o show com Tranqüilo, um tema da Orquestra Imperial que gravou em seu atual álbum com o instrumental da big-band carioca. Entre uma tirada e outra ("Fico pensando em inglês quando faço show", "Estou numa fase em que entendo tudo" e "Tô solteira, solta e mal-intencionada"), Bebel uniu August Day Song (música de seu primeiro álbum, Tanto Tempo) com Os Novos Yorkinos (um dos poucos destaques do repertório autoral do irregular Momento). As levadas são mesmo similares. Em Um Segundo, ela tentou um tom teatral que apenas realçou os lugares-comuns dos versos de seu cancioneiro sentimental. Bebel é mais cativante quando se apropria de repertório alheio - como Night and Day (Cole Porter) e Sweet Dreams (Are Made of This), hit do duo Eurythmics - e o reprocessa à moda de sua bossa hype.
Se o show pareceu não engrenar na sua primeira metade ("Vocês falam, hein? Agora parem de falar e vem participar", ralhou Bebel, dando pito sutil na parte desatenta da pláteia), a segunda foi bem charmosa. Bebel estava se apresentando para um público que fala a sua língua. Quando saiu de cena antes do bis, ao som de Aganju (Carlinhos Brown) e Caçada (baião do tio Chico Buarque, inferior ao registro impecável do CD), os aplausos não foram meramente protocolares. Bebel Gilberto garantira alguns momentos legais no seu retorno aos palcos cariocas. Desta vez, a impressão foi boa...