5 de maio de 2007

Canto de Célia resiste ao tempo e ao mercado

Resenha de CD
Título: Faço no Tempo
Soar Minha Sílaba
Artista: Célia & Dino
Barioni
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *

Não fosse o mercado selvagem - como bem o define Hermínio Bello de Carvalho no texto que escreveu para o encarte deste disco de Célia - cantora excepcional como ela não teria ficado sete anos sem lançar CD na selvageria da indústria fonográfica. Revelada e avalizada em 1970 no programa Um Instante, Maestro!, apresentado por Flávio Cavalcanti (1923 - 1986), a artista tem caminhado à margem do mercado sem perder a coerência, certa de que sua obra ficará. Certeza, aliás, ampliada com o lançamento deste magnífico disco Faço no Tempo Soar minha Sílaba, idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz.

O título foi extraído de verso da letra de Muito Romântico (1977), a canção de Caetano Veloso que abre o CD, dividido por Célia com o violonista Dino Barioni, arranjador e diretor musical. Intérprete comedida, Célia sabe valorizar as intenções dos compositores sem exacerbar seu canto. É puro prazer ouvi-la destilar as incertezas sentimentais de Dúvida (1946) - a valsa bissexta do repertório de Luiz Gonzaga recriada com adesão do acordeom de seu discípulo Dominguinhos - e remoer as desilusões conjugais de Mãe, Eu Juro, pérola obscura da obra de Adoniran Barbosa, unida por afinidade matrimonial em medley com Sem Açúcar (Chico Buarque, 1975). Buarque também está representado pelo Tango de Nancy (1985). Detalhe: o Marques Filho que assina Mãe, Eu Juro com Adoniran é, na realidade, o saudoso sambista Noite Ilustrada (1928 - 2003).

Com a mesma segurança exibida nos dribles do samba Geraldinos e Arquibaldos (Gonzaguinha, 1975), a cantora desenvolve a trama folhetinesca de Cabaré (João Bosco e Aldir Blanc, de 1973). Entre um samba-canção do repertório de Carmen Costa (Quase, 1954) e a melancolia nostálgica de Serra da Boa Esperança (de Lamartine Babo), Célia recebe colegas como Beth Carvalho (Pressentimento, 1968), Zélia Duncan (Disritmia, 1974) e Lucinha Lins (Vacilão, de 2000). Nas duas primeiras gravações, o bom Quinteto em Branco e Preto se integra ao violão de Barioni. A interação vocal de Célia com Zélia é perfeita. Já com Beth e Lucinha, há choque de estilos realçado pelo fato de Célia estar em grande forma. No todo, Faço no Tempo Soar Minha Sílaba coroa os 60 anos que Célia vai completar em setembro. É um presente para fãs da melhor MPB e de cantoras que cultivam o romantismo de manter sua integridade artística. Nesse sentido, Célia é muito romântica e vence o tempo.

Rogério Caetano homenageia Garoto e Raphael

Novo virtuose do violão de sete cordas, projetado com o CD Pintando o Sete, pelo qual foi indicado ao 5º Prêmio Tim de Música justo na categoria Revelação, Rogério Caetano já prepara seu segundo disco. Em pauta, homenagens do exímio violonista (em foto de Carol de Hollanda) aos seus mestres antecessores Garoto (Pro Garoto) e Raphael Rabello (Amigo Violão). O álbum, que será lançado pela gravadora Rob Digital, vai mostrar dez canções inéditas de autoria de Caetano. Entre os temas, Intuitiva.

Ao vivo de Ivete ascende na parada portuguesa

Já em sua segunda semana na parada lusitana, o CD Ivete no Maracanã - Multishow ao Vivo ascendeu no Top 30 da A.F.P. (Associação Fonográfica Portuguesa), subindo da 16ª para 10ª posição. A proeza pode ser entendida por quem assistir ao Diário de Bordo que valoriza os extras do DVD (capa à esquerda) recém-lançado no mercado nacional. Trata-se de documentário de quase 40 minutos que capta andanças de Ivete Sangalo pela Europa. Além de mostrar o duro cotidiano da artista entre aviões e camarins, Diário de Bordo deixa entrever que a cantora está - de fato - em ascensão no mercado europeu. A outra ótima atração dos extras é o encontro com Rosa Passos. As duas baianas fazem dueto em Dunas, tema de Rosa. Filmado numa sessão de estúdio, o clipe destoa do efusivo clima do pirotécnico show-evento registrado no estádio carioca, mas mostra que Ivete tem possibilidades a explorar bem além do universo da axé music.

'Discoteca MTV' lembra piada genial do Ultraje

Resenha de programa de TV
Título: Discoteca MTV - Nós Vamos Invadir sua Praia (Ultraje a Rigor, 1985)
Canal: MTV
Exibição: 4 de maio
Cotação: * * * *

"Esse disco foi uma onda", resumiu Falcão (do Rappa) ao falar de Nós Vamos Invadir sua Praia, o clássico álbum de estréia do Ultraje a Rigor, enfocado no terceiro dos 12 programas da série Discoteca MTV. Foi o episódio que mais detalhou a criação e gravação das músicas do disco abordado. “É demais!”, atestou o produtor do disco, Liminha, ao reler a letra da faixa-título, que sintetizava a gozação dos paulistas contra os cariocas e seu rock de bermudas, como era ironizado, na época, o som pop juvenil de bandas como Kid Abelha. "Havia rivalidade entre Rio e São Paulo", confirmou Liminha, produtor dos grandes discos de rock dos 80.

O mentor, líder, compositor e vocalista do Ultraje a Rigor, Roger Moreira, foi o único integrante do grupo de SP entrevistado pelo programa. "Era tudo novo. Não tinha essa mentalidade de 'vamos estourar', 'vamos fazer sucesso' que passou a existir nos anos 90", contextualiza Roger. A rigor, Nós Vamos Invadir sua Praia foi uma grande e genial piada do Ultraje que divertiu tanto que o grupo nunca mais conseguiu contar outra com tanta graça. "Foi o disco de maior hits por metro quadrado. Não soa datado", disse o jornalista Marco Bezzi, um dos críticos que depõem no programa.

Bezzi tem razão. Não é à toa que nomes em ascensão na atual cena pop nacional - como Gabriel (Autoramas), Philippe (Dead Fish) e Érika Martins - testemunharam que ouviram hits como Rebelde sem Causa, Ciúme, Zoraide (inspirada em namoradas próprias e alheias, de acordo com Roger Moreira), Mim Quer Tocar (grande gozação com os cantores de reggae) e Independente Futebol Clube nas festas que freqüentavam quando entraram na adolescência. "Virei fã na hora quando ouvi Marylou numa festa", lembrou Érika.

A festa aconteceu primeiramente no estúdio Nas Nuvens. Liminha narrou o dia em que um balde d'água caiu na sua cabeça ao abrir a porta do banheiro. "Parecia que a gente estava no pré-primário, com todo mundo retrocedido à infância", depôs Lobão, que, claro, participou da guerras de travesseiros, entre outras brincadeiras, por ter feito coro na faixa-título ao lado de Ritchie e Leo Jaime. Bons tempos em que o rock brasileiro não se levava tão a sério...

4 de maio de 2007

A lenta evolução do blablablá 'teen' de Marjorie

Resenha de CD
Título: Flores, Amores
e Blablablá
Artista: Marjorie Estiano
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * 1/2

Alçada ao posto de revelação da TV, por ter encarnado de forma convincente a Marina da novela Páginas da Vida, Marjorie Estiano conciliou a intensa atuação no folhetim com o preparo de seu segundo disco, Flores, Amores e Blablablá, nas lojas esta semana sob a cruel pressão de bisar o êxito comercial de seu antecessor, Marjorie Estiano (2005), que driblou a crise do mercado, vendendo 170 mil cópias.

Projetada no seriado juvenil Malhação, dos fins de tarde globais, a atriz e cantora despontou no mercado fonográfico com CD que patinou na debilidade teen. E, por isso mesmo, logo conquistou o público adolescente com hits como a balada Você Sempre Será - devidamente propagados pela Rede Globo. Foi preciso um DVD - em que Marjorie exibiu maturidade em temas mais adultos como o Miss Celie's Blues, da trilha do filme A Cor Púrpura - para que fosse perceptível a existência de uma cantora até já segura e com potencial. Em bom português, Marjorie podia ser mais do que um descartável produto teen dirigido aos fãs do seriado Malhação.

Essa cantora de futuro se mostra somente de relance em Flores, Amores e Blablablá. Houve evolução em relação ao primeiro CD, sobretudo na formatação de uma sonoridade de banda que, sim, é bacana. Os grooves são azeitados. O problema, grave, é a irregularidade do repertório, quase todo assinado pelos músicos que tocam com a artista. Se Alexandre Castilho, André Aquino e Victor Pozas fossem compositores inspirados, tudo bem. Mas não são. Tanto que o CD cresce com contribuições externas. Enviada por Rita Lee, a letra do pop rock Tatuagem tem a espirituosidade sempre jovial da titia. E o cover de Oh! Darling - um blues pouco conhecido dos Beatles - sinaliza que Marjorie tem cacife para vôos muito maiores. Nem que seja sua pálida incursão eletrônica pela efervescência rítmica de Cuba em Alucinados, faixa que incorpora o rap do cubano René Ferrer. Ainda que músicas como Espirais e Flores (de delicada arquitetura quase barroca) representem bons momentos no repertório, o progresso deste blablablá juvenil de Marjorie Estiano ainda é lento e até contradiz o talento da cantora.

Paula Toller batiza e finaliza segundo disco solo

SóNós é o título do segundo CD solo de Paula Toller, já pronto. Inicialmente programado pela Warner Music para 25 de maio, o lançamento do álbum pode ser adiado para junho. Em princípio, duas músicas serão enviadas às rádios: À Noite Sonhei Contigo e All Over. Nesta faixa, a cantora carioca faz dueto com Donavon Frankenreiter - o cantor, compositor e surfista norte-americano que aproveitou a realização de show no Rio de Janeiro para fazer a gravação com Paula. Por ora, a idéia de dois singles está de pé. All Over é parceria de Paula e Frankenreiter com Caio Fonseca e o produtor Paul Ralphes. À Noite Sonhei Contigo é versão da artista para tema de Kevin Johansen, compositor radicado na Argentina.

Disco de Elizeth com Pixinguinha chega ao CD

Belo (e raro) disco gravado por Elizeth Cardoso (1920 - 1990) em 1967, com a intervenção brilhante do saxofone de Pixinguinha (1897 - 1973) nas músicas Isso É que É Viver e Carinhoso, o LP A Enluarada Elizeth ganha enfim sua primeira reedição em CD na novíssima fornada da coleção Brasil de A a Z, na qual a EMI seleciona 23 artistas - um nome para cada letra do alfabeto - e embala três discos destes artistas em série de caixas. O box dedicado à Divina é completado pelos dois volumes do álbum Elizeth Cardoso e Silvio Caldas (1971), este relançado em CD pela Movieplay nos anos 90, mas sem a capa e o encarte originais.

As 16 músicas - ou assuntos - do disco de Elba

Parceria de Pedro Luís com Lula Queiroga, gravada por Pedro em 2004 no CD Vagabundo, dividido com Ney Matogrosso, Noite Severina é uma das 16 músicas do 29º disco de Elba Ramalho (em foto de Rogério Resende durante a gravação), Qual o Assunto que Mais lhe Interessa?, nas lojas ainda neste semestre. Lula Queiroga, o produtor, participa de Último Minuto. O bandolinista Hamilton de Holanda toca em Argila. Já o grupo Trombonada, de Recife (PE), marca presença em Ave Anjo Angelis. Eis as 16 faixas:
* Amplidão (Chico César)
* Argila (Carlinhos Brown)
* Ave Anjo Angelis (Jorge Ben Jor)
* Os Beijos (Pedro Luís e Ivan Santos)
* Boi Cavalo Tróia (Pedro Osmar e Paulo Ró)
* Conceição dos Coqueiros(LulaQueiroga, LuluOliveira e AlexandreBicudo)
* A Dança das Borboletas (Alceu Valença e Zé Ramalho)
* Dois pra Sempre (Lula Queiroga)
* As Forças da Natureza (João Nogueira e Paulo César Pinheiro)
* Gaiola da Saudade (Jam da Silva e Maciel Salú)
* Qual o Assunto que Mais lhe Interessa? (Roberto Mendes e Capinam)
* A Natureza das Coisas (Accioly Neto)
* Noite Severina (Lula Queiroga e Pedro Luís)
* Novena (Geraldo Azevedo)
* Rua da Passagem - Trânsito (Lenine e Arnaldo Antunes)
* Último Minuto (Lula Queiroga)

3 de maio de 2007

Coletânea reúne as 14 mais 'gostosas' da Hebe

Chegou às lojas esta semana a coletânea As Mais Gostosas da Hebe. Trata-se de simples compilação de 14 fonogramas dos dois álbuns gravados pela apresentadora Hebe Camargo na retomada de sua carreira de cantora (antes de conseguir sucesso na TV, ela se lançou na música nos anos 50). O CD reúne gravações de Pra Você (1999) e Como É Grande o meu Amor por Vocês (2001). Há duetos com Chico Buarque (Trocando em Miúdos), Ivete Sangalo (Simples Carinho) e Simone (Pensando em Ti), entre outros astros.

Zélia lança em DVD inédita feita com Hamilton

Zélia Duncan - à esquerda em foto de Nana Moraes - lança música inédita feita com o bandolinista Hamilton de Holanda. Com título de Valsa em Si, a composição vai poder ser conferida no terceiro DVD da artista. Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band registra o show homônimo. O novo tema foi gravado apenas com a cantora e Hamilton no palco. Nos extras, há os clipes de Vi, Não Vivi e Redentor, ambos dirigidos por Pietro Sargentelli. O de Redentor é inédito. O DVD sai pelo selo Duncan Discos, com distribuição da gravadora Universal Music, e a previsão é de que chegue às lojas na primeira quinzena de maio.

'Rei' destrói estoque, mas não conteúdo de bio

Por mais que esteja decidido a apagar todo e qualquer vestígio da existência da biografia Roberto Carlos em Detalhes, e o primeiro passo nesse sentido será a destruição dos 10.700 exemplares que estavam em estoque na Editora Planeta, Roberto Carlos não conseguirá fazer desaparecer por completo o conteúdo do ótimo livro do historiador Paulo Cesar de Araújo. Afinal, dos 22.300 exemplares que já tinham saído da editora, boa parte foi efetivamente vendida. Sem falar que várias cópias do livro estão nas mãos de formadores de opinião. Que certamente usarão a confiável biografia como fonte de futuros artigos e reportagens sobre Roberto Carlos. Em acordo firmado na sexta-feira, 30 de abril, o autor e a editora cederam às pressões do cantor para interromper a comercialização do livro, em troca da retirada dos processos que estavam sendo movidos pelo artista contra ambos. Se o livro ainda não tivesse chegado às livrarias, Roberto Carlos teria sido (totalmente) vitorioso. Nessa altura do campeonato, não há mais como impedir o conhecimento de detalhes de sua vida e obra que o Rei teria preferido omitir da opinião pública. E tampouco o grande arranhão em sua imagem...

Livro compila a produção apaixonada de Rangel

Pioneiro no exercício constante da crítica musical na imprensa oficial e alternativa, a partir dos anos 50, Lúcio Rangel (1914 - 1979) escrevia de forma apaixonada. Com a mesma intensidade com que louvava os seus ídolos (Pixinguinha, Cartola, Ismael Silva e Noel Rosa), Rangel apontava erros de informação e demolia modismos - sem medo de melindrar artistas, gravadoras e colegas de ofício. A produção intensa (em todos os sentidos) do criador em 1954 da Revista da Música Popular foi compilada em Samba, Jazz & Outras Notas, livro recém-lançado pela Editora Agir. Autor do delicioso perfil biográfico de Rangel que o apresenta aos leitores, o jornalista Sérgio Augusto selecionou e organizou textos escritos pelo crítico - entre as décadas de 50 e 70 - para jornais e revistas como Diário Carioca, Manchete e A Cigarra, entre outros. Textos urdidos com paixão que não cegava o autor, de olhar rigoroso ao fornecer informações precisas sobre discos e artistas. Uma aula de jornalismo musical necessária em tempos de críticos sem opinião e amedrontados diante do controle das assessorias de imprensa...

2 de maio de 2007

Nana se repete com sambas-canções de Dorival

Resenha de CD
Título: Quem Inventou
o Amor
Artista: Nana Caymmi
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *

Por melhor que Nana Caymmi interprete a música de seu pai e por mais sublime que seja a obra de Dorival Caymmi, das mais originais já produzidas por um compositor em nível mundial, há inevitável redundância que dilui a beleza de Quem Inventou o Amor. Até porque cinco dos 14 sambas-canções do CD (Adeus, Desde Ontem, E Eu sem Maria, Não Tem Solução e Você Não Sabe Amar) já tinham sido recriados por Nana em O Mar e o Tempo - disco de 2002, primeiro dos quatro tributos prestados pela artista à obra do pai nos últimos cinco anos. Paira a sensação de déjà-vu.

Desta vez, o foco são os sambas-canções, a parcela mais carioca da obra de Caymmi, construída basicamente entre a segunda metade dos anos 40 e a primeira dos 50. É a vertente menos associada no imaginário popular ao compositor de Nem Eu (1952) - cuja letra contém o verso que dá título a Quem Inventou o Amor. Para amenizar o caráter repetitivo do repertório, a rigor já recorrente em toda a discografia de Nana Caymmi, o produtor José Milton e os arranjadores Dori Caymmi e Cristóvão Bastos arregimentaram instrumentos incomuns no gênero samba-canção. Se o violoncelo de Yura Ranevsky permeia músicas como Valerá a Pena (1955) e Horas (1975), o violino de Ricardo Amado pontua Você Não Sabe Amar (1950) e o acordeom de Chico Chagas se faz bem presente em Sábado em Copacabana (1951) e em E Eu sem Maria (1952).

Sofisticados, os arranjos reproduzem a ambiência de boate que propiciou a proliferação dos sambas-canções de Caymmi. Há até breves passagens jazzísticas em Nesta Rua Tão Deserta (1950) e Tão Só (1953). Em sintonia com o tom elegante do álbum, Nana interpreta as músicas de forma mais contida. A intérprete visceral aparece de relance somente em Adeus (1948) e em Desde Ontem (2002). Porém, por mais que procure renovar sua interpretação, nem que seja com o vocalise que introduz Só Louco (1955), Nana Caymmi já não consegue surpreender ao entoar as belas músicas.

Há méritos no disco, obviamente. E o maior deles é jogar luz sobre sambas-canções menos conhecidos de Caymmi – casos de Nunca Mais (1949) e, sobretudo, de Saudade (1947) - entre standards do porte de Não Tem Solução (1950). Só que nada apaga a impressão de que Nana já gravou Caymmi o suficiente. É hora de partir para um disco de inéditas para revitalizar sua, já repetitiva, discografia.

Deck disponibiliza álbum do Cachorro Grande

O terceiro álbum do Cachorro Grande ( grupo gaúcho em ascensão na cena roqueira brasileira), Todos os Tempos, estará nas lojas em 5 de junho com inéditas como Deixa Fudê, Roda Gigante, Você me Faz Continuar, Conflitos Existenciais e O Certo e o Errado. Mas já está disponível para download no portal MSN por conta de uma parceria firmada pela gravadora Deckdisc com a referida empresa. Já foi criado um site (www.todosostempos.com.br) que - além de possibilitar o download - revela informações sobre o CD. A partir de 15 de maio, Todos os Tempos também poderá ser adquirido no site da Deck e demais lojas virtuais - em esquema de pré-venda.

Trilha de 'Riacho Doce' volta com rara de Bebel

A reedição da trilha sonora de Riacho Doce - reposta em catálogo pela gravadora Som Livre no rastro do lançamento em DVD da minissérie exibida pela TV Globo em 1990 - traz à tona registro obscuro de Bebel Gilberto. Sem sonhar estourar no exterior, a cantora gravou para a trilha sonora a música Flor da Idade, composta por Mariozinho Rocha e Aldir Blanc. Foi o tema da personagem Dora, interpretada pela atriz Juliana Martins. Item para colecionadores.

Bublé faz 'cover' de Billy Paul e canta com Ivan

Com participação de Ivan Lins em Wonderful Tonight, cover do repertório de Eric Clapton, o quinto CD de Michael Bublé, Call me Irresponsible, teve lançamento mundial em 30 de abril. Regravação da obra de Billy Paul, Me and Mrs. Jones já tem lugar garantido no disco da trilha sonora internacional da novela Paraíso Tropical. Mas o primeiro single é Everything, uma das duas únicas músicas assinadas por Bublé (a outra é Lost). Já a faixa Comin' Home Baby tem intervenção de Boyz II Men. Detalhe: na edição já à venda nas lojas digitais, o álbum exibe duas faixas-bônus, L-O-V-E e Orange Colored Sky. Call me Irresponsible já está disponível no Brasil.

1 de maio de 2007

Kaiser Chiefs soa mais (Brit)pop no segundo CD

Resenha de CD
Título: Yours Truly,
Angry Mob
Artista: Kaiser Chiefs
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * 1/2

Depois de Bloc Party e Arctic Monkeys, outro grupo inglês já encara a prova do segundo disco depois de ter sido alçado à condição de "divindade" do rock no primeiro álbum. No caso deste quinteto de Leeds, o resultado é decepcionante. O sucessor de Employment (2005) até começa muito bem - com Ruby (o belo primeiro single) e The Angry Mob - e termina muito bem com Retirement, uma das melhores músicas do repertório. Só que o recheio é bastante irregular. O grupo soa radiofônico além da conta. Faixas como Heat Dies Down cortejam demais as paradas e esvaziam um CD que soa bem mais (Brit)pop do que seu antecessor. Basta ouvir uma balada trivial do naipe de Love's Not a Competition (But I'm Winning) para constatar que a aura hype construída em torno do Kaiser Chiefs vai se dissolver progressivamente a partir deste álbum, ainda que ele angarie fãs...

Filme inspira (mais uma) coletânea de Cartola

Pegando carona na exposição de Cartola (1908 - 1980) na mídia, por conta da estréia do documentário Música para os Olhos, a EMI vai pôr nas lojas (mais uma) coletânea do compositor. Acontece (capa à direita) reúne 14 gravações do criador de As Rosas Não Falam - música obviamente incluída na seleção ao lado de pérolas como Alvorada, Cordas de Aço, Minha, O Sol Nascerá, O Mundo É um Moinho, Ensaboa, Quem me Vê Sorrindo e Tive Sim.

Como os dois primeiros magistrais discos de Cartola (gravados em 1974 e 1976) pertencem ao arquivo da EMI, seria mais oportuno que a gravadora pusesse nas lojas reedições luxuosas destes dois títulos - já relançados em CD, mas de forma econômica - em vez de explorar seus repertórios com a produção de mais uma coletânea.

Paul divulga repertório de CD que sai em junho

Memory Almost Full é o título do álbum que Paul McCartney lança em 5 de junho, pelo novo selo Hear Music, criado pela rede de cafeterias americana Starbucks em parceria com a gravadora Concord Music. Produzido por David Kahne, o CD será o primeiro do ex-Beatle a ficar logo disponível também em formato digital. O primeiro single é Dance Tonight, cujo clipe tem direção de Michel Gondry e a participação da atriz Natalie Portman. Eis as 13 faixas:

* Dance Tonight
* Ever Present Past
* See your Sunshine
* Only Mama Knows
* You Tell me
* Mister Bellamy
* Gratitude
* Vintage Clothes
* That Was me
* Feet in the Clouds
*
House of Wax
* End of the End
* Nod your Head

Filme sobre Piaf vai ter trilha editada no Brasil

Filme de ficção sobre a vida de Edith Piaf (1915 - 1963), vivida nas telas por Marion Cotillard, La Vie en Rose estréia em 1º de junho no Brasil. No embalo da entrada do filme no circuito nacional, a gravadora EMI vai lançar a trilha sonora do longa francês. O CD com a trilha traz 11 gravações originais de Piaf (com inédita remasterização, feita em 2006), nove temas instrumentais compostos para o filme (L'Éveil, Apparition, Dernière Nuit, Lisieux e L'ABC, entre outros) e sete gravações extras, incluindo três músicas interpretadas por Jil Aigrot, a cantora que dubla a atriz Marion Cotillard em todos os números musicais do filme de Olivier Dahan, cujo título completo é La Môme - La Vie en Rose. Os temas entoados por Jil Aigrot no álbum são Mon Homme, Les Mômes de la Cloche e Les Hiboux.

30 de abril de 2007

Silvério ostenta eletricidade que remete a Alceu

Resenha de DVD
Título: Cabeça Elétrica
Coração Acústico Ao Vivo
Artista: Silvério Pessoa
Gravadora: Independente
Cotação: * * * *

Impossível não associar a eletricidade de Silvério Pessoa, em cena, ao canto vivaz de Alceu Valença. Se este fincou antena em solo pernambucano nos anos 70 para captar informações do pop rock que embutiu nos ritmos da terra natal, seu talentoso conterrâneo está inserido na ebulição miscigenada que caracteriza Recife (e arredores) desde o advento do Mangue Beat. Líder da banda Cascabulho nos anos 90, Silvério partiu neste início de século XXI em carreira solo que desemboca em seu primeiro DVD, gravado em show realizado no Teatro Santa Isabel, em Recife (PE), em 5 de novembro de 2005. Nos extras, há making of (bom, só que burocrático) e os clipes das músicas Nas Terras da Gente, Carreiro Novo, Micróbio do Frevo e Coco do M.

Conectado com o mundo, Silvério apresenta visão cibernética de ritmos (baião, xote, coco, ciranda) que moldam a melhor música nordestina. Vinhetas com símbolos regionais costuram o roteiro para realçar a fusão de tradição e modernidade - evidente também nos efeitos eletrônicos que turbinam o xote Seu Antônio e na rala psicodelia que se insere progressivamente no forró Nas Terras da Gente. Há muito de Alceu nas performances elétricas de Silvério em números como Cipó de Goiabeira, Disposto a Tudo (tema que tem seu ritmo marcado pelas palmas da platéia), Poesia Urbana (outro xote) e Sambada e Massapé. A base firme vem dos forrós, mas a linguagem extrapola a fronteira do agreste pernambucano.

Baseado no repertório do terceiro disco solo do cantor, Cabeça Elétrica, Coração Acústico, o roteiro avança por músicas da seara do grupo Cascabulho - casos de Vendedor de Amendoim e Coco de Chegada. Na ciranda Nas Águas do Mar (cuja primeira parte é entoada a capella pelo artista), Silvério Pessoa ostenta a poesia lírica que afina seu nordeste cibernético, que, aos poucos, deverá ter a identidade burilada para que a ainda forte associação com Alceu Valença se torne somente uma (bem-vinda) referência.

Bennett revê seus clássicos em especial de TV

Resenha de DVD
Título: An American Classic
Artista: Tony Bennett
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Fiel seguidor do padrão vocal imposto por Frank Sinatra na canção americana, Tony Bennett festejou seus 80 anos em CD que aderiu à fórmula de duetos que fez seu amigo Sinatra voltar às paradas na década de 90. Bom especial de TV dirigido por Rob Marshall e editado em DVD, An American Classic é o desdobramento do álbum Duets. Em apenas 41 minutos, os atores-narradores Billy Cristal, Bruce Willis, Catherine Zeta-Jones, John Travolta e Robert De Niro recordam, em rápidos flashes, passagens emblemáticas da trajetória do cantor. São pretextos para apresentações dos duetos filmados ao vivo. Se Bennett reaviva Sing, You Sinners com John Legend em cabaré, Because of You - seu primeiro hit na Columbia - é rebobinado no estúdio da gravadora ao lado de k.d. Lang. Dez!!!

Há imponência e opulência nas imagens e interpretações. Smile - por exemplo - é entoado com Barbra Streisand numa catedral. É o número que abre o especial, cuja edição nacional em DVD não foi legendada em português (ao menos, a gravadora Sony BMG alerta na contracapa sobre a ausência de legendas). A falha é amenizada pelo fato de o especial ter pouco texto e muita música. Haja dueto! As referências ao The Tony Bennet Show - programa dos anos 50 comandado pelo artista na rede de TV NBC - são as deixas para o astro octagenário receber Diana Krall (The Best Is Yet to Come) e até Juanes (ótimo em The Shadow of your Smile). Já Elton John (convidado de Rags to Riches) e Michael Bublé (em Just in Time) aparecem em cenário que recria o palco das casas de Las Vegas, cenários das apresentações do anfitrião nos anos 60. Por sua vez, o dueto com Stevie Wonder, em forma ao reviver For Once in my Life, remete ao nobre palco do Carnegie Hall. Com toda a pompa...

A adesão de Tony Bennett ao formato acústico da MTV também é lembrada no especial. É quando Christina Aguilera entra em cena para cantar Steppin' Out com o mestre. Enfim, é um especial que soaria até trivial se não fossem a produção (luxuosa) e a direção segura de Rob Marshall. É DVD para quem acha que Tony Bennett é mesmo um clássico cantor americano. E o título lhe faz justiça! Até porque - desafiando os 80 anos - ele está cantando muito bem.

Caymmi, Ivan e Venturini no horizonte de Leila

estão no forno da gravadora Biscoito Fino o CD e o DVD Nos Horizontes do Mundo - Ao Vivo, de Leila Pinheiro. Gravados em agosto de 2006, no Sesc Pinheiros (SP), CD (foto) e DVD chegam às lojas dois anos depois do homônimo álbum de estúdio. O DVD - o segundo da cantora - inclui nos extras o clipe de Hoje e o making of do show, além do roteiro integral, com 24 músicas em 21 números. Já o 13º CD de Leila agrega 18 músicas em 14 faixas. Entre elas, Mais Uma Vez, única parceria de Renato Russo e Flávio Venturini. Um dos destaques é o medley que reúne Amor é Outra Liberdade (Sueli Costa e Abel Silva), Você Bem Sabe (Djavan e Nelson Motta), Só Louco (Dorival Caymmi) e Vitoriosa (Ivan Lins e Vitor Martins).

Detonautas trabalham no 'Retorno de Saturno'

O grupo carioca Detonautas Roque Clube está trabalhando na pré-produção de seu quarto álbum, O Retorno de Saturno. Vai ser o primeiro trabalho do (agora) quinteto sem o guitarrista Rodrigo Netto, assassinado no ano passado durante assalto. O repertório já está alinhavado. A produção fica a cargo de Fernando Magalhães, guitarrista do Barão Vermelho. O lançamento está previsto para o segundo semestre. Só que não há, ainda, data certa para o CD sair.

29 de abril de 2007

Bethânia e Seu Jorge no CD autoral de Byington

Tema composto em tributo à cantora Clementina de Jesus (1901 - 1987), Mãe Quelé é uma das 12 faixas do álbum autoral de Olivia Byington. O CD chega ao Brasil em maio, via Biscoito Fino, depois de ter sido editado em Portugal em outubro de 2006. Mãe Quelé traz a voz de Maria Bethânia. O outro convidado do disco Olivia Byington é Seu Jorge, que marca presença no samba Na Ponta dos Pés, parceria de Olivia com o poeta português Tiago Torres da Silva. Aliás, nove das 12 músicas da seleção inteiramente autoral trazem versos de Tiago (Areias do Leblon, Lisboa, Eu Nunca Fui à Bahia e O Mar É minha Hora, entre outras). As três exceções são Balada do Avesso (que tem versos de Geraldo Carneiro), Todo Par (com letra de Marcelo Pires) e Clarão (poesia do saudoso Cacaso). Já os arranjos ficaram divididos entre Leandro Braga e Pedro Jóia.

Martinho põe Margareth e o Ilê em seu mundo

Margareth Menezes e o grupo afro Ilê Ayiê entraram no mundo de Martinho da Vila. A cantora e o grupo aderiram ao time de convidados do novo CD do compositor, Martinho da Vila, do Brasil, do Mundo, que chega às lojas ainda neste semestre pela MZA Music. Margareth pôs voz em Salvador (BA) no samba Te Encontro no Ilê. A faixa terá a percussão do tradicional grupo.

Sai no Brasil disco gravado por Billie há 50 anos

Em janeiro de 1957, com seus 41 anos, Billie Holiday (1915 - 1959) entrou nos estúdios da Capitol, em Hollywood (EUA), para gravar um álbum sob a batuta do produtor Norman Granz. Songs for Distingué Lovers (capa à direita) ganha uma boa reedição no mercado brasileiro 50 anos após o seu lançamento. O CD volta dentro da série Classics - editada pela Universal Music com jóias do baú da gravadora Verve. No fino repertório, gravado por Billie com o toque de músicos como Ben Webster (sax tenor) e Jimmie Rowles (piano), há belos temas de Cole Porter (Just One of Those Things), George & Ira Gershwin (A Foggy Day) e Richard Rodgers e Lorenz Hart (I Didn't Know What Time Is was). Às seis músicas do álbum original, foram adicionadas seis faixas-bônus nesta atual reedição.

Jennifer estiliza latinidade em CD em espanhol

Resenha de CD
Título: Como Ama
una Mujer
Artista: Jennifer Lopez
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * *

Oito anos depois de estrear no mercado fonográfico dos EUA cantando em inglês no álbum On the 6 (1999), a (também) atriz Jennifer Lopez reforça a descendência latina ao lançar o seu primeiro CD em espanhol. Não chega a ser surpresa. Astros como Ricky Martin também pegaram o caminho de volta após um boom inicial na indústria norte-americana. No caso de Jennifer, nem se pode falar exatamente em volta, pois a sua atuação como cantora em espanhol se limitava a algumas faixas da trilha sonora do filme Selena. Contudo, Como Ama una Mujer indica retrocesso em sua carreira fonográfica. Pelo título, aliás, já é possível detectar o caráter sentimental do repertório - comprovado em baladas como Amarte Es Todo, Sola, (dona do melhor arranjo, com cordas de estilo clássico) e a chata canção que dá nome ao álbum. Em outras faixas, notadamente Que Hiciste e Te Voy a Querer, Jennifer Lopez acelera os beats e estiliza a vibrante pulsação da música latina. Já Porque te Marchas é o cover em espanhol de Can't Believe (This Is me), música do CD anterior da artista, Rebirth (2005). Enfim, há quem goste da música de Jennifer Lopez. Mas a produção de Marc Anthony e Estéfano somente contribui para atolar a fraca cantora nos clichês do estereótipo latino que impera nos Estados Unidos...