Nana se repete com sambas-canções de Dorival
Resenha de CD
Título: Quem Inventou
o Amor
Artista: Nana Caymmi
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *
Por melhor que Nana Caymmi interprete a música de seu pai e por mais sublime que seja a obra de Dorival Caymmi, das mais originais já produzidas por um compositor em nível mundial, há inevitável redundância que dilui a beleza de Quem Inventou o Amor. Até porque cinco dos 14 sambas-canções do CD (Adeus, Desde Ontem, E Eu sem Maria, Não Tem Solução e Você Não Sabe Amar) já tinham sido recriados por Nana em O Mar e o Tempo - disco de 2002, primeiro dos quatro tributos prestados pela artista à obra do pai nos últimos cinco anos. Paira a sensação de déjà-vu.
Desta vez, o foco são os sambas-canções, a parcela mais carioca da obra de Caymmi, construída basicamente entre a segunda metade dos anos 40 e a primeira dos 50. É a vertente menos associada no imaginário popular ao compositor de Nem Eu (1952) - cuja letra contém o verso que dá título a Quem Inventou o Amor. Para amenizar o caráter repetitivo do repertório, a rigor já recorrente em toda a discografia de Nana Caymmi, o produtor José Milton e os arranjadores Dori Caymmi e Cristóvão Bastos arregimentaram instrumentos incomuns no gênero samba-canção. Se o violoncelo de Yura Ranevsky permeia músicas como Valerá a Pena (1955) e Horas (1975), o violino de Ricardo Amado pontua Você Não Sabe Amar (1950) e o acordeom de Chico Chagas se faz bem presente em Sábado em Copacabana (1951) e em E Eu sem Maria (1952).
Sofisticados, os arranjos reproduzem a ambiência de boate que propiciou a proliferação dos sambas-canções de Caymmi. Há até breves passagens jazzísticas em Nesta Rua Tão Deserta (1950) e Tão Só (1953). Em sintonia com o tom elegante do álbum, Nana interpreta as músicas de forma mais contida. A intérprete visceral aparece de relance somente em Adeus (1948) e em Desde Ontem (2002). Porém, por mais que procure renovar sua interpretação, nem que seja com o vocalise que introduz Só Louco (1955), Nana Caymmi já não consegue surpreender ao entoar as belas músicas.
Há méritos no disco, obviamente. E o maior deles é jogar luz sobre sambas-canções menos conhecidos de Caymmi – casos de Nunca Mais (1949) e, sobretudo, de Saudade (1947) - entre standards do porte de Não Tem Solução (1950). Só que nada apaga a impressão de que Nana já gravou Caymmi o suficiente. É hora de partir para um disco de inéditas para revitalizar sua, já repetitiva, discografia.
Título: Quem Inventou
o Amor
Artista: Nana Caymmi
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *
Por melhor que Nana Caymmi interprete a música de seu pai e por mais sublime que seja a obra de Dorival Caymmi, das mais originais já produzidas por um compositor em nível mundial, há inevitável redundância que dilui a beleza de Quem Inventou o Amor. Até porque cinco dos 14 sambas-canções do CD (Adeus, Desde Ontem, E Eu sem Maria, Não Tem Solução e Você Não Sabe Amar) já tinham sido recriados por Nana em O Mar e o Tempo - disco de 2002, primeiro dos quatro tributos prestados pela artista à obra do pai nos últimos cinco anos. Paira a sensação de déjà-vu.
Desta vez, o foco são os sambas-canções, a parcela mais carioca da obra de Caymmi, construída basicamente entre a segunda metade dos anos 40 e a primeira dos 50. É a vertente menos associada no imaginário popular ao compositor de Nem Eu (1952) - cuja letra contém o verso que dá título a Quem Inventou o Amor. Para amenizar o caráter repetitivo do repertório, a rigor já recorrente em toda a discografia de Nana Caymmi, o produtor José Milton e os arranjadores Dori Caymmi e Cristóvão Bastos arregimentaram instrumentos incomuns no gênero samba-canção. Se o violoncelo de Yura Ranevsky permeia músicas como Valerá a Pena (1955) e Horas (1975), o violino de Ricardo Amado pontua Você Não Sabe Amar (1950) e o acordeom de Chico Chagas se faz bem presente em Sábado em Copacabana (1951) e em E Eu sem Maria (1952).
Sofisticados, os arranjos reproduzem a ambiência de boate que propiciou a proliferação dos sambas-canções de Caymmi. Há até breves passagens jazzísticas em Nesta Rua Tão Deserta (1950) e Tão Só (1953). Em sintonia com o tom elegante do álbum, Nana interpreta as músicas de forma mais contida. A intérprete visceral aparece de relance somente em Adeus (1948) e em Desde Ontem (2002). Porém, por mais que procure renovar sua interpretação, nem que seja com o vocalise que introduz Só Louco (1955), Nana Caymmi já não consegue surpreender ao entoar as belas músicas.
Há méritos no disco, obviamente. E o maior deles é jogar luz sobre sambas-canções menos conhecidos de Caymmi – casos de Nunca Mais (1949) e, sobretudo, de Saudade (1947) - entre standards do porte de Não Tem Solução (1950). Só que nada apaga a impressão de que Nana já gravou Caymmi o suficiente. É hora de partir para um disco de inéditas para revitalizar sua, já repetitiva, discografia.
33 Comments:
Nana tem que homenagear seu pai com ele vivo, será que é tão difícil entender seu sentimento?
Já tá mais do q homenageado. Dessa vez, eu concordo com o Mauro. Mas, por outro lado, Nana grava o q quiser e compra e ouve quem quer!
Te contei, não?!
milton, não escreva besteira; seja crítico. mauro, vc tem razão !
Vou me repetir.Sou a favor de tributos quando o homenageado está vivo pra sentir a alegria e nesse ponto eu aplaudo a Nana. Mas que tal partir agora para um disco de inéditas ?
Um abraço
Diogo Santos
'Ô Bahia!(Bahia que não me sai do pensamento ... )'
Nana é divina, quem não sabe?! entretanto "mais do mesmo" desafia e leva a nocaute a criatividade de qualquer um.
Adoraria um CD desta cantora excepcional com um repertório, digamos assim, menos familiar. Saudade de João Bosco, Ivan Lins, Sueli Costa, Fátima Guedes, uma leva de compositores que Nana incorpora como ninguém. E uma abertura ao novo, por quê não?
Bem, Nana pode tudo. Esperemos a mudança dos ventos. Se houver.
Que tributo que nada, galera. Tenho certeza que Dorival NÃO AGUENTA MAIS ouvir aquelas mesmas músicas na voz de Nana. (Vocês não conhecem o pavio curto dos Caymmi?)
Se gravar mais um, o velho Dorival vai levantar da rede e despachar o tal CD para Yemanjá.
Arranjos de Dori Caymmi e Cristóvão Bastos?
Tem coisa boa nesse disco.
Salve Nana Caymmi,deusa da Música Popular Brasileira.Você tem o direito de gravar quantas vezes quiser o mesmo repertório homenagenando o divino Dorival que soará sempre novo.
Lourdes Ábido
Nem eu e só louco, a nana já gravou algumas vezes tb. Porque repetir tanto, se o Pai, tem tantas canções ?
Acho que optaram dessa vez pelo mais fácil do mais fácil. Pena, Nana tem competência pra fazer um puta disco. E fez um legalzinho.
Edu - abc
Anônimo 9:15,concordo e ainda digo que Dorival estaria muito mais orgulhoso da filha,se ela tivesse feito um trabalho mais original.O velho não é bobo não!Luc,não adianta nada grandes arranjos,grandes músicos sem uma grande intérprete.Não é o caso de Nana que é fora de série e qualquer grande artista quer trabalhar com ela.O problema é que ela é muito "mandona",não tem a disposição,disponibilidade e a acessibilidade de uma Billie,outra cantora "gênio".Mas esse trabalho da Nana,reflete uma onda muito sinistra da MPB,muitos continuam regravando muito,Miúcha,Mônica Salmaso etc.Tenho certeza que o problema não é falta de repertório novo e de qualidade,mas medo de arriscar,ter dificuldade veiculação para o novo.Acho também que hoje em dia num trabalho o produtor deve ser igualmente responsabilizado,ou mais.Ainda mais nesse caso em que é óbvio que o interesse é o produto em primeiro lugar.Depois que Nana o "vestiu azul" do neo-liberalismo,artisticamente seus trabalhos não surpreenderam muito,infelizmente.
anonimo 9:15, concordo com você. O bom e velho Dorival e euzinho tb daremos o mesmo fim ao tal CD.
Mesma cantora
Mesmo repertório
Mesmo compositor
Mesmos arranjadores
Mesmo produtor
Fica difícel,algo ou alguem não soar repetitivo.Mesmo todos geniais e bem intencionados.Mas acho que Nana,arrumou uma forma as avessas de protestar,rebelar,talvez inconcientemente, abusando exageradamente como ninguém nessas fórmulas e formatos,tão frequentes na nossa música atual e tão distoantes de seus próprios princípios.Nana sempre primou por nunca ser repetitiva em seus trabalhos diversos,difícel entender a lógica desse aí.Que voce acha,Mauro?
Me parece que o mais interessanteé o fato de ter uma música de Dorival de 2002.
Mas isso é coisa de familia.Homenagem da filha ao pai.
Depois, tenho o outro CD, regravar outra vez aquelas 5,prá que?
Bem, concluo, não me interessa.
O que me deixa mais triste(e feliz)é que ela tá cantando muito,mas muito mesmo.Impressionante!Então com certeza,não esta com nenhum problema de saúde.Acho que ainda consegue decorar umas letrinhas novas.Esta muito longe de estar "gagá".HaHaHaaa...
3:16, conheço um músico que gravou com a Nana e disse que ela é irascível (na verdade falou que ela era maluca) e mandona. Devemos ter a mesma fonte.
Adorei a história do velho Caymmi dando fim ao disco. Mas pretendo conferir. Estou ouvindo a caixa com três CDs lançada pela EMI. "...e a gente nem deu nome", Nana (1998) e Bolero. Coisas muito boas. O que é a música Aquário do Moacir Luiz e do Aldir Blanc? Por que nunca ouvi isso antes? É a minha cara. Aldir é foda, um dos maiores! Com Nana, ficou perfeito!
Flávio
Luc,além de ser mandona,vários compositores famosos e craques lhe mandam músicas.Ela não as grava e depois queixa que as deram para outra gravar.É pirada mesmo!Outro dia lendo numa coletânea nova de entrevistas antigas do famoso jornal "Pasquim",uma entrevista muito antiga do Chico Buarque,ele dizendo que ela gravaria uma série de parcerias suas com um teatrólogo famoso.Até hoje ela nem ninguém gravou isso,que eu saiba.Todos querem a Nana,porque ela é irresistível mesmo,uma grande musa,mas pirada,complexa!
Luc,
Eu já encontrei a Nana em um show que fez na escola de música que eu freqüentava. Realmente, ela não é fácil, mas é sempre no intuito de fazer o melhor. Ela sempre busca o melhor. Aí ela acaba falando muito palavrão, bebe muito. Acho ela engraçada, fofa até.
O Gilberto Gil uma vez declarou que a Nana era a Billie Holiday brasileira. Na entrega ao cantar, no bom gosto do repertório, por ser extremamente crítica e, com certeza, por ter uma personalidade difícil. Concordo com ele.
Flávio,
Que bom que você citou a música "Aquário". Essa música é um primor e Nana a canta lindamente. Pena que já em 1998 músicas lindas como essa começaram a ficar de fora do conhecimento do grande público em geral.
abração,
Denilson
Nana é doida de pedra mas canta como ninguém. Como não sou psiquiatra...deixa tudo como está.
Mas, ok, eu daria o mesmo fim ao CD. Não faria falta. Nana tem discos antológicos.
Sem dúvida Denilson,Nana busca mesmo o melhor,no jeito dela.É divina mesmo!Flávio,concordo e nessa caixa lançada pela EMI,fico também completamente "paralisado" com a faixa "Bons Amigos".Parece que foi gravada agora.
alguns discos de nana são pouco procurados hoje, mas daqui a uns 50 anos será cantado aos ventos, da mesma forma que se cantam os discos de elis.
nana e elis são, em termos de corencia, e som linear, as duas maiores cantoras do país.
ao contrário da confusa Gal.
Eu gosto da história do disco de ouro.
Nana cantando divinamente, cada show melhor do que o anterior, a crítica canonizando a mulher, mas nada de rolar um disco de ouro.
Uma bicha amiga (das inúmeras) se enfezou, pegou um bolachão de vinil, passou cola e cobriu tudo de purpurina dourada. Lado A e Lado B.
Organizou-se uma festa na casa da cantora e, na hora de fazer a entrega do galardão, o disco escorregou das mãos da homenageada, espatifou-se no tapete e fez uma NUVEM de purpurina.
Diz que até hoje a faxineira está reclamando.
Nanaaaaaaaa, falaram que você é pirada, mandona, difícil, irascível, não importa, eu quero ver um show seu, só seu,e me deliciar com a sua interpretação única. De cortar os pulsos.Você já homenageou bastante o Velho do Mar, agora volta pra nós que gostamos de você também cantando as composições de Fátima Guedes, Djavan, Sueli Costa, João Donato, Ivan,Vinicius,Dolores,o mano Dori,etc, etc...
Oi, Nana está no novo cd de Sueli Costa que vai sair em meados de maio.
Pôôôôxa Mauro,
Nana é repetitiva de qualquer jeito. Que é boa é, e seus cds são legais, mas é tudo muito parecido. Nana não muda nunca.
Concordo com Mauro...o disco salva-se pelo improvisso jazzistico de Nesta rua tão deserta. Quanto a mim, espero ver Nana cantar Milton Nascimento, Sueli Costa, Fatima Guedes, e dar luz a antigas músicas de Maysa e Ângela Rorô
Como disse Bethânia nos DVD do show "Brasileirinho", Nana é a maior cantora do Brasil e do mundo. Como disse Mauro, Caymmi é um dos maiores compositores do Brasil e do mundo. Logo, esse CD não podia ser menos que maravilhoso. Tenho todos os discos lançados por Nana Caymmi desde o primeiro na Elenco, na década de 1960, e esse CD recém-lançado é, na minha opinião, um dos melhores de toda a sua carreira. Nana chegou ao limite, se melhorar estraga. Não importa que quase todas as músicas já tenham sido anteriormente gravadas pela própria Nana, neste CD ela consegue um grau de sofisticação em músicas como "Nem Eu" e "Nunca Mais" que deixa as suas gravações anteriores dessas músicas no chulé. Ao contrário de Gal Costa, que cada vez que regrava as velhas músicas de seu repertório o faz de forma pior e mais previsível, Nana é como vinho: só faz melhorar com a passagem do tempo.
O disco é musicalmente perfeito.Mas os fãs e principalmente os filhos desses,já escutaram por demais esse repertório ao longo da carreira de Nana Caymmi.Ela canta bem demais,mais esta em estado de latência criativa.Djavan,Toninho Horta,João Donato,Milton,Lô Borges,Sueli Costa,etc.e muita gente nova como o Hebert Vianna,a Marisa Monte,a Vanessa da Matta,Nando Reis,etc.estão abarrotados de canções inéditas ou não,mas perfeitas para a voz da Nana.Ela sabe disso!Ela sabe como ninguém como é amada.
Nana Caymmi falou outro dia que gostaria de fazer um disco com canções do Beto Guedes. E outro com músicas de Cristóvão Bastos.
Pois é Luc,eu acredito nela,mas quem tem que acreditar de verdade é o produtor dela,que é bem careta.Dá uma de bacana,de protetor de artistas indefesos,mas anda é precisando de mais coerência e coragem.Queria acreditar nele também,mas é complicado,tenho minhas dúvidas.A Nana,a gente sabe das maravilhas que é capaz.
É verdade, 12:24. Na mesma entrevista, ela disse ter sugerido os projetos ao produtor, que botou o pé no freio. Disse que não vende.
Fico pensando se a Petrobrás financiasse x-1 filmes perebas, esse 1 bastaria para fazer uns tantos discos.
Se os projetos nao vendem, como que voces querem que o Ze Milton produza? Me digam!!! Como???
O problema nao é o Ze Milton e sim os executivos das gravadores que só pensam em formulas instantaneas.
Voces nao sabem oque dizem...
Nana é a Billie Brasileira mesmo,parece que está cantando sempre a mesma música,mas é lindo.
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