Ira! se debate entre a integridade e as paradas
Resenha de CD
Título: Invisível DJ
Artista: Ira!
Gravadora: Arsenal
/ Universal Music
Cotação: * * 1/2
Seria justo exigir do Ira! que - na gravação de Invisível DJ - ficasse indiferente ao sucesso comercial conquistado por seu Acústico MTV, editado em 2004 com produção de Rick Bonadio? Sim, seria. Afinal, trata-se de uma das bandas de histórico mais respeitável do rock brasileiro, ainda que sua discografia seja bem irregular - com tropeço sério como a guinada radical rumo à eletrônica em trabalhos como Você Não Sabe Quem Eu Sou (1998). Décimo-terceiro álbum do Ira! em 25 anos de carreira (o grupo foi formado em fins de 1981, em SP), Invisível DJ expõe a banda se debatendo entre a manutenção de sua integridade artística e a adesão ao som padronizado produzido por Bonadio para bandas como CPM 22. A julgar pelo single ruim Eu Vou Tentar, balada moldada para FMs, composta por Rodrigo Koala, hitmaker do selo Arsenal, a batalha estaria perdida. Mas há, sim, alguma salvação entre as faixas deste disco que oscila entre a liberdade criativa e o som manipulado no laboratório de Bonadio.
Há ecos do velho e bom Ira! no álbum. E eles não se resumem aos precisos acordes da guitarra de Edgard Scandurra. A despeito de sua faixa-título ser rock bem pop e redondo, Invisível DJ cresce nos rocks mais pesados. Não Basta o Perdão e, sobretudo, A Saga estão à altura dos áureos momentos do grupo. Em A Saga, a letra cinematográfica de Arnaldo Antunes (o parceiro de Scandurra na faixa) é especialmente inspirada. Outro destaque na seara hard é No Universo dos seus Olhos, cujos versos de Scandurra até soam como poesia e resistem bem sem música. Faça o teste e comprove!
Em CD pautado por letras de bom nível, a releitura de Feito Gente - rock de Walter Franco que abriu o disco Revolver, editado pelo artista em 1975 - cai bem e até soa integrada ao repertório. O que destoa, mas conta ponto, é o tom levemente rural do fluente rock Mariana Foi pro Mar. Que poderia estar em LP do trio Sá, Rodrix & Guarabyra, ícone do gênero nos anos 70. É a surpresa do disco.
Referências e tons à parte, a questão é que Invisível DJ parece construído cerebralmente em sala de marketing. Com receita que inclui faixa de cárater político, O Candidato, e canção composta e cantada em espanhol, La Luna Llena, providencial para o (forte) mercado de língua hispânica. Ao menos, o vocalista Nasi não soa desafinado - efeito provável dos recursos de estúdio - e há faixas legais ao longo do CD. Mas que Invisível DJ sinaliza mudança de comportamento de um grupo que viveu e não aprendeu com os erros, lá isso sinaliza. Tomara que, ao menos, o disco venda bem...
Título: Invisível DJ
Artista: Ira!
Gravadora: Arsenal
/ Universal Music
Cotação: * * 1/2
Seria justo exigir do Ira! que - na gravação de Invisível DJ - ficasse indiferente ao sucesso comercial conquistado por seu Acústico MTV, editado em 2004 com produção de Rick Bonadio? Sim, seria. Afinal, trata-se de uma das bandas de histórico mais respeitável do rock brasileiro, ainda que sua discografia seja bem irregular - com tropeço sério como a guinada radical rumo à eletrônica em trabalhos como Você Não Sabe Quem Eu Sou (1998). Décimo-terceiro álbum do Ira! em 25 anos de carreira (o grupo foi formado em fins de 1981, em SP), Invisível DJ expõe a banda se debatendo entre a manutenção de sua integridade artística e a adesão ao som padronizado produzido por Bonadio para bandas como CPM 22. A julgar pelo single ruim Eu Vou Tentar, balada moldada para FMs, composta por Rodrigo Koala, hitmaker do selo Arsenal, a batalha estaria perdida. Mas há, sim, alguma salvação entre as faixas deste disco que oscila entre a liberdade criativa e o som manipulado no laboratório de Bonadio.
Há ecos do velho e bom Ira! no álbum. E eles não se resumem aos precisos acordes da guitarra de Edgard Scandurra. A despeito de sua faixa-título ser rock bem pop e redondo, Invisível DJ cresce nos rocks mais pesados. Não Basta o Perdão e, sobretudo, A Saga estão à altura dos áureos momentos do grupo. Em A Saga, a letra cinematográfica de Arnaldo Antunes (o parceiro de Scandurra na faixa) é especialmente inspirada. Outro destaque na seara hard é No Universo dos seus Olhos, cujos versos de Scandurra até soam como poesia e resistem bem sem música. Faça o teste e comprove!
Em CD pautado por letras de bom nível, a releitura de Feito Gente - rock de Walter Franco que abriu o disco Revolver, editado pelo artista em 1975 - cai bem e até soa integrada ao repertório. O que destoa, mas conta ponto, é o tom levemente rural do fluente rock Mariana Foi pro Mar. Que poderia estar em LP do trio Sá, Rodrix & Guarabyra, ícone do gênero nos anos 70. É a surpresa do disco.
Referências e tons à parte, a questão é que Invisível DJ parece construído cerebralmente em sala de marketing. Com receita que inclui faixa de cárater político, O Candidato, e canção composta e cantada em espanhol, La Luna Llena, providencial para o (forte) mercado de língua hispânica. Ao menos, o vocalista Nasi não soa desafinado - efeito provável dos recursos de estúdio - e há faixas legais ao longo do CD. Mas que Invisível DJ sinaliza mudança de comportamento de um grupo que viveu e não aprendeu com os erros, lá isso sinaliza. Tomara que, ao menos, o disco venda bem...
6 Comments:
posso tá enganado, mas a resenha 'sinaliza' - pra usar um termo do crítico - pré-conceito com o som do produtor.
Mauro, adorei seu blog! Vou passar por aqui sempre para curtir seu texto. Bj, Ava
Integridade artística não combina com Rick Bonadio.
O ira! foi pro saco ha algum tempo.
Descanse em paz.
Jose Henrique
é preciso que a banda fique nesse debate entre integridade e paradas?Não é possível ser íntegro e honesto nas paradas?acredito que sim.
Cara, você realmente não acompanha o ira!. Esse flerte do Scandurra com música em espanhol é antigo(vem do "isso é amor"). Esse lance de música pra tocar em rádio é só pq os caras gravaram "emo", mas eles antes já gravaram Wander Wildner, Jupiter Maçã e disseram que era modismo também. Os caras sobrevivem ao tempo e continuam fazendo rock de primeira.
Achei o disco muito bom,soa rock,soa pop,sem deixar de ser Ira,e é muito superior a todas essas produções atuais de pop rock no Brasil.Na minha humilde opinião,o Ira tá envelhecendo muito bem,ao contrário de Titãs e tals;
Postar um comentário
<< Home