19 de outubro de 2008

Antenada, Alcina repõe seu bloco na rua virtual

Com injusto silêncio da mídia automatizada, Maria Alcina repôs seu bloco na rua neste ano de 2008. Em maio, a cantora mineira apresentou seu sexto álbum solo somente em formato digital. Disponibilizado no portal UOL Megastore para download pago, o CD Maria Alcina, Confete e Serpentina foi batizado com o nome da efusiva música feita para a intérprete pelo compositor Adalberto Rabelo Filho. Com repertório que inclui marchinha de Moisés Santana, Espaço Sideral, o disco é permeado pela alegria carnavalesca que fez a fama de Alcina na primeira metade dos anos 70. E que não teve continuidade no mercado fonográfico porque o governo militar que comandava o Brasil à força naquela época - assustado com a postura transgressora e libertária da artista - processou Alcina por comportamento subversivo, acabando com sua alegria e pondo fim ao Carnaval feito pela cantora em dois esfuziantes álbuns, ambos intitulados Maria Alcina e lançados pela extinta gravadora Continental em 1973 e 1974, tendo sido reeditados em 2002 na série Arquivos Warner. De natureza kafkiana, o processo ceifou a carreira de Alcina no auge. Quando ela retornou ao disco, em 1979, lançando o LP Plenitude pela Copacabana, o Brasil já começava a respirar os ares da abertura política, mas a folia de Alcina foi recebida com menos animação por público e mídia, num quase silêncio que em nada lembrava o barulho feito por Alcina em 1972 ao defender Fio Maravilha no VII Festival Internacional da Canção, num lance certeiro que pôs o tema de Jorge Ben na cara do gol no último FIC.
Maria Alcina, Confete e Serpentina é disco coerente com a trajetória da intérprete de voz grave, ainda em forma. Contudo, Alcina evita que seu bloco desfile em marcha à ré. Antenada, a cantora convidou Maurício Bussab - integrante do Bojo, o grupo eletrônico com quem gravou o CD Agora em 2003 - para produzir o álbum e inserir grooves atuais. Já o repertório concilia músicas de compositores da cena contemporânea, como Wado (autor de Não Pára) e Alzira E (Colapso, parceria com Arruda), com sucessos de outros Carnavais. É o caso de Cachorro Vira-Lata, samba de Alberto Ribeiro (1902 - 1971), gravado por Carmen Miranda (1909 - 1955) em 1937. Herdeira das liberdades tropicalistas, Alcina, a propósito, sempre foi associada à Pequena Notável tanto pelo visual espalhafatoso como pelo repertório, salpicado de marchas e sambas propagados por Carmen. A marchinha Alô, Alô - de André Filho (1906 - 1974) - é um bom exemplo, tendo impulsionado o sucesso do primeiro LP de Alcina, em 1973, em releitura esfuziante, cheia de confetes e serpentinas.
Enfim, Maria Alcina quer botar seu bloco na rua - como avisa no refrão (turbinado com grooves eletrônicos) da marcha de Sérgio Sampaio (1947 - 1994) Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua, sucesso de 1972 que a cantora regrava com muita propriedade em um CD corajoso, em que avisa que nem todo Carnaval tem seu fim.

14 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Com injusto silêncio da mídia automatizada, Maria Alcina repôs seu bloco na rua neste ano de 2008. Em maio, a cantora mineira apresentou seu sexto álbum solo somente em formato digital. Disponibilizado no portal UOL Megastore para download pago, o CD Maria Alcina, Confete e Serpentina foi batizado com o nome da efusiva música feita para a intérprete pelo compositor Adalberto Rabelo Filho. Com repertório que inclui marchinha de Moisés Santana, Espaço Sideral, o disco é permeado pela alegria carnavalesca que fez a fama de Alcina na primeira metade dos anos 70. E que não teve continuidade no mercado fonográfico porque o governo militar que comandava o Brasil à força naquela época - assustado com a postura transgressora e libertária da artista - processou Alcina por comportamento subversivo, acabando com sua alegria e pondo fim ao Carnaval feito pela cantora em dois esfuziantes álbuns, ambos intitulados Maria Alcina e lançados pela extinta gravadora Continental em 1973 e 1974, tendo sido reeditados em 2002 na série Arquivos Warner. De natureza kafkiana, o processo ceifou a carreira de Alcina no auge. Quando ela retornou ao disco, em 1979, lançando o LP Plenitude pela Copacabana, o Brasil já começava a respirar os ares da abertura política, mas a folia de Alcina já foi recebida com menos animação por público e mídia, num quase silêncio que em nada lembrava o barulho feito por Alcina em 1972 ao defender Fio Maravilha no VII Festival Internacional da Canção, num lance certeiro que pôs o tema de Jorge Ben na cara do gol no último FIC.
Maria Alcina, Confete e Serpentina é disco coerente com a trajetória da intérprete de voz grave, ainda em forma. Contudo, Alcina evita que seu bloco desfile em marcha à ré. Antenada, a cantora convidou Maurício Bussab - integrante do Bojo, o grupo eletrônico com quem gravou o CD Agora em 2003 - para produzir o álbum e inserir grooves atuais. Já o repertório concilia músicas de compositores da cena contemporânea, como Wado (autor de Não Pára) e Alzira E (Colapso, parceria com Arruda), com sucessos de outros Carnavais. É o caso de Cachorro Vira-Lata, samba de Alberto Ribeiro (1902 - 1971), gravado por Carmen Miranda (1909 - 1955) em 1937. Herdeira das liberdades tropicalistas, Alcina, a propósito, sempre foi associada à Pequena Notável tanto pelo visual espalhafatoso como pelo repertório, salpicado de marchas e sambas propagados por Carmen. A marchinha Alô, Alô - de André Filho (1906 - 1974) - é um bom exemplo, tendo impulsionado o sucesso do primeiro LP de Alcina, em 1973, em releitura esfuziante, cheia de confetes e serpentinas.
Enfim, Maria Alcina quer botar seu bloco na rua - como avisa no refrão (turbinado com grooves eletrônicos) da marcha de Sérgio Sampaio (1947 - 1994) Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua, sucesso de 1972 que a cantora regrava com muita propriedade em um CD corajoso em que avisa que nem todo Carnaval tem seu fim.

19 de outubro de 2008 às 12:34  
Anonymous Anônimo said...

Alcina vale mais pela persona do que pela voz, propriamente.
Seu grave é fosco e opaco. Duro.
Mas será bacana tê-la de volta à cena. Sua figura é interessante.

19 de outubro de 2008 às 13:20  
Anonymous Anônimo said...

O primeiro LP dela, de 1973, é muito bom. Realmente, mais personalidade do q voz. Mas as versões dela para "Paraíba" e "Mulher Rendeira", num estilo meio tropicalista, são ótimas!

19 de outubro de 2008 às 18:24  
Blogger Luanda Cozetti said...

Salve Mauro!
Mais do que re-benvindas as Serpentinas e os Confetes de Alcina!rs!
Belo texto!
Um beijo lisboeta,
Luanda!

19 de outubro de 2008 às 20:43  
Anonymous Anônimo said...

MARIA ALCINA É EXTRAORDINÁRIA E NÃO É RESPEITADA COMO DEVERIA.

20 de outubro de 2008 às 01:09  
Anonymous Anônimo said...

Adoro!!! "Oi trepa no coqueiro, tira coco!" rsrsrsrsr

20 de outubro de 2008 às 11:05  
Anonymous Anônimo said...

"Seu grave é fosco e opaco. Duro.
"

E daí?? Caramba, detesto esse tipo de comentário que quer extratificar qualidade vocal num determinado tipo de voz que os autores das frases acreditam ser o bonito. O bonito do som da voz humana e da capacidade do ser humano cantar é, EXATAMANTE, a grande variedade de formas de cantar. Uma voz, ao contrário do som de um instrumento, nunca é igual à outra, por mais semelhante. E acho maravilhoso que possam existir intrumentos que, apesar de serem o mesmo (a voz) possam soar tão diferentes quanto Clementina de Jesus e Tetê Espíndola, Gal Costa e Maria Bethânia, Billie Holiday e Chavella Vargas, Olívia Byington e Maria Alcina.

20 de outubro de 2008 às 11:06  
Blogger Unknown said...

A voz dela é ótima...ajuntando com a interpretaçao forte,variando entre a come'dia e o drama, quando precisa ser. Acho ela uma das melhores artistas do país e ainda injusticada com comentarios toscos e opacos sobre ela como os ditos aqui. Xô preconceito!

20 de outubro de 2008 às 16:42  
Anonymous Anônimo said...

VIVA ALCINA !!!!!!!!!!!!!!!!!!

20 de outubro de 2008 às 17:24  
Anonymous Anônimo said...

Olá Mauro!
Maria Alcina é uma estrela da MPB.Voz peculiar,presença de palco única.Uma grande mulher,uma grande cantora.Tudo fica bom na voz poderosa dela.Parabéns Maria Alcina.Esperamos o disco nas lojas para comprarmos e termos nas mãos.

20 de outubro de 2008 às 18:32  
Anonymous Anônimo said...

Tb prefiro o savoir-faire de Maria Alcina à sua voz. O fato de haver vozes absolutamente peculiares não significa que todas apresentem beleza. A da mineira é realmente fosca e sem matizes. Não é bonita.

20 de outubro de 2008 às 19:19  
Anonymous Anônimo said...

Comprarei com certeza...Maria Alcina tem verdade em seu trabalho..gosta da persona artistica , gosto da voz, do tom de galhardia em algumas musicas e seu "Fio Maravilha" faz parte de mim. Seja benvinda , querida!

20 de outubro de 2008 às 23:02  
Anonymous Anônimo said...

Repetindo: Detesto esse tipo de comentário que quer extratificar qualidade vocal num determinado tipo de voz que os autores das frases acreditam ser o bonito.

21 de outubro de 2008 às 10:54  
Anonymous Anônimo said...

Uma das maiores estrelas brasileiras de todos os tempos. No palco, é única. Herdeira de Carmen Miranda e Clementina de Jesus.

23 de outubro de 2008 às 21:00  

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