17 de outubro de 2008

Virgínia amarra recital lírico com seu laço afro

Resenha de show
Título: Recomeço
Artista: Virgínia Rodrigues
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 16 de outubro de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz até sábado, 18 de outubro de 2008, às 19h30m

Quando se aventura a encarar uma interpretação a capella de Por Toda Minha Vida, no bis do show de lançamento de seu quarto CD, Recomeço, Virgínia Rodrigues já nem consegue surpreender a platéia, pois, no decorrer do recital, a cantora baiana já havia mostrado tantas interpretações arrepiantes como a do bis que o público, embora embevecido, já nem fica impactado diante do virtuosismo vocal da artista. Já soa até natural tanta beleza e força naquela voz projetada na peça Bai Bai Pelô, encenada em 1994 pelo Bando de Teatro Olodum, do qual saiu também o ator Lázaro Ramos, uma das presenças vips da estréia nacional do novo show de Virgínia, na noite de quinta-feira, 16 de outubro de 2008, no Teatro Rival, no mesmo palco onde a cantora se apresentou pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 1997, para lançar seu CD de estréia, o luminoso Sol Negro, infelizmente já tirado de catálogo.

Em cartaz até sábado, 18 de outubro, o show Recomeço segue obviamente a lírica estética camerística do recém-lançado disco homônimo, mas sem reproduzir exatamente o som ouvido no álbum. Prmeiro, porque o pianista que gravou o CD com Virgínia e concebeu os arranjos, Cristóvão Bastos, não integra o trio que acompanha a cantora em cena. Cabe no show ao igualmente virtuoso Itamar Assiére assumir o piano e assinar os arranjos calcados no instrumento. Segundo, porque a cantora amarra o roteiro com o laço afro que caracteriza seu canto operístico que transita na fronteira entre o lírico e o popular. A ponto de o show ser encerrado (antes do bis) com quente afro-samba, Labareda, adornado pela percussão refinada de João Bani e acompanhado (no refrão) pelo público enquanto a cantora ensaia uns passos de dança pelo palco. Labareda vem do repertório do CD anterior da artista, Mares Profundos (2003), do qual a cantora pesca também o Canto de Xangô e o Canto de Ossanha, este numa interpretação absolutamente arrebatadora que (re)afirma a total propriedade de Virgínia ao se apoderar dos afro-sambas de Baden Powell (1937 - 2000) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). É dela!!!

Extrapolando o repertório do CD Recomeço, a cantora apresenta também uma sublime Melodia Sentimental, pouco antes de realçar toda a melancolia contida em Hora da Razão, um dos sambas nobres do repertório do compositor baiano Batatinha (1924 - 1997). Contudo, Virgínia Rodrigues não nega as liberdades estéticas e estilísticas testadas em Recomeço ("Cada disco é um desafio", confidenciou em cena, na estréia). Emoldurada ora pelo toque do violoncelo de Iura Ranevsky, ora pelo piano de Assiére, ou mesmo pelos dois, a voz de mezzo-soprano da cantora passeia lírica e majestosa por músicas como Alma, Canção de Amor, Todo Sentimento, Beatriz (destaque do show, como no disco) e Boa Noite, Amor - todas regravadas no CD que a gravadora Biscoito Fino acaba de pôr nas lojas. Pena que, ainda insegura com as músicas mais difíceis, como Triste Baía da Guanabara e Porto de Araújo (a propósito, duas apropriadas sugestões de Olivia Hime, diretora artística da Biscoito Fino), Virgínia Rodrigues precise ler as letras das composições enquanto as canta. Mas isso é detalhe pequeno de um show de grande beleza que merece ser apreciado.

14 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Quando se aventura a encarar uma interpretação a capella de Por Toda Minha Vida, no bis do show de lançamento de seu quarto CD, Recomeço, Virgínia Rodrigues já nem consegue surpreender a platéia, pois, no decorrer do recital, a cantora baiana já havia mostrado tantas interpretações arrepiantes como a do bis que o público, embora embevecido, já nem fica impactado diante do virtuosismo vocal da artista. Já soa até natural tanta beleza e força naquela voz projetada na peça Bai Bai Pelô, encenada em 1994 pelo Bando de Teatro Olodum, do qual saiu também o ator Lázaro Ramos, uma das presenças vips da estréia nacional do novo show de Virgínia, na noite de quinta-feira, 16 de outubro de 2008, no Teatro Rival, no mesmo palco onde a cantora se apresentou pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 1997, para lançar seu CD de estréia, o luminoso Sol Negro, infelizmente já tirado de catálogo.

Em cartaz até sábado, 18 de outubro, o show Recomeço segue obviamente a estética camerística do recém-lançado disco homônimo, mas sem reproduzir exatamente o som ouvido no álbum. Prmeiro, porque o pianista que gravou o CD com Virgínia e fez os arranjos, Cristóvão Bastos, não integra o trio que acompanha a cantora em cena. Cabe no show ao igualmente virtuoso Itamar Assiére assumir o piano e assinar os arranjos calcados no instrumento. Segundo, porque a cantora amarra o roteiro com o laço afro que caracteriza seu canto operístico que transita na fronteira entre o lírico e o popular. A ponto de o show ser encerrado (antes do bis) com quente afro-samba, Labareda, adornado pela percussão refinada de João Bani e acompanhado (no refrão) pelo público enquanto a cantora ensaia uns passos de dança pelo palco. Labareda vem do repertório do CD anterior da artista, Mares Profundos (2003), do qual a cantora pesca também o Canto de Xangô e o Canto de Ossanha, este numa interpretação absolutamente arrebatadora que (re)afirma a total propriedade de Virgínia ao se apoderar dos afro-sambas de Baden Powell (1936 - 2000) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). É dela!!!

Extrapolando o repertório do CD Recomeço, a cantora apresenta também uma sublime Melodia Sentimental, pouco antes de realçar toda a melancolia contida em Hora da Razão, um dos sambas nobres do repertório do compositor baiano Batatinha (1924 - 1997). Contudo, Virgínia Rodrigues não nega as liberdades estéticas e estilísticas testadas em Recomeço ("Cada disco é um desafio", confidenciou em cena, na estréia). Emoldurada ora pelo toque do violoncelo de Iura Ranevsky, ora pelo piano de Assiére, ou mesmo pelos dois, a voz de mezzo-soprano da cantora passeia com lirismo por músicas como Alma, Canção de Amor, Todo Sentimento, Beatriz (destaque do show, como no disco) e Boa Noite, Amor - todas regravadas por ela no CD que a gravadora Biscoito Fino acaba de pôr nas lojas. Pena que, ainda insegura com as músicas mais difíceis, como Triste Baía da Guanabara e Porto de Araújo (a propósito, duas apropriadas sugestões de Olivia Hime, diretora artística da Biscoito Fino), Virgínia Rodrigues precise ler as letras das composições enquanto as canta. Detalhe pequeno de um show de infinita beleza que merece ser apreciado.

17 de outubro de 2008 às 12:58  
Anonymous Anônimo said...

Não nego o potencial da cantora, mas acho sua voz dura, sem maleabilidade. Um cd inteiro me dá sono.

17 de outubro de 2008 às 13:00  
Anonymous Anônimo said...

Não nego o potencial da cantora mas acho muito cheia de pose e de pompa. Sorumbática, quer mostrar que é virtuose até cantando ' Parabéns pra Você ' ...

17 de outubro de 2008 às 13:27  
Anonymous Anônimo said...

Vi o show de ontem à noite e agradeci muito ter tido a oportunidade de apreciar a apresentação da cantora com o percussionista Naná Vasconcelos, no ano passado. Honestamente, se o de ontem tivesse sido meu primeiro contato com a Virgínia Rodrigues, dificilmente eu estaria empolgado para um posterior... Achei o show sufocado e a voz vacilante nos momentos baixos. O toque 'intimista', tão alardeado, acabou não funcionando.
Em minha opinião, o encanto de Virgínia Rodrigues está na mistura dos seus aguidos líricos com a sonoridade "afro-baiana", marcadas com uma percussão forte. Mas os arranjos de ontem não permitiram a combinação, obrigando-a, em diversos momentos, a cantar em tons abaixo do usual, perdendo muito do seu encanto.
Alguns momentos devem ser destacados, como as lindíssimas interpretações de "Todo Sentimento" e "Melodia Sentimental", mas confesso minha decepção por não ter escutado "A Noite do Meu Bem".
Mas reitero que, felizmente pude ter a oportunidade de ver a cantora em um momento anterior, em sua forma absoluta, também no Teatro Rival, em 2007, graças à qual, continuo sendo grande admirador desta artista, não esmorecendo diante de um passo em falso como o que foi dado na última noite.

17 de outubro de 2008 às 15:23  
Anonymous Anônimo said...

Você é rápido mesmo, tinha parado no show do Cartola... e já tem tanta coisa depois disso!
Gostei muito do show, a voz dela é sensacional, mas os arranjos me soaram parecidos, muitas músicas seguidas no mesmo clima, isso me cansou em alguns momentos.... mas nao deixa de ser detalhe perto da maravilha que é o seu canto.

17 de outubro de 2008 às 16:36  
Anonymous Anônimo said...

Tb considero a voz de Virgínia frequentemente dura, sem ondulações, matizes, luz. Diria uma voz marrom. Ainda assim ouço alguma coisa de sua lavra com prazer mas um CD inteiro não consigo.
Tive o privilégio de participar de um encontro informal onde ela cantou várias coisas lindíssimas em meio a outros tantos 'cantores' de final de semana. Aí, sim, arrasou pq entremeado com outros timbres. Hiper agradável, inclusive pq se trata de uma figura cheia de vida, dengo e com uma verve que nem sempre aparece na artista profissional.
Sem querer (ou precisar) parecer virtuose, sua voz ganha contornos interessantíssimos e sua performance fica irresistível.

17 de outubro de 2008 às 18:06  
Anonymous Anônimo said...

Concordo co Beethoven- foi isso mesmo , que bom que já conhcia Virginia de outros shows, onde a junção de seu canto lírico se casava muito bem com uma boa percussão e sua o´tima performace de palco- seus trejeitos são fascinantes.
Não entendi até agora o pq desse projeto, os arranjos são bem conservadores e monótomos- faltou alguém iluminado e rebelde pra ousar um pouquinho. O público que foi prestigiar Vírginia esperava um pouco mais de " música , de movimento ". Mesmo assim é um bonito show, mas acho que se objetivo e tornar Virginia mais popular esse projeto diz exatamente o contrário. Poxa aquele primeiro CD era tão fantàstico , pq não seguir por aí... quem sabe o próximo, mesmo assim, desejo todo sucesso do mundo pra Vírginia.

17 de outubro de 2008 às 19:57  
Blogger Vinny said...

Conheço Virgínia a muito anos e sou apaixonado pela sua voz e sua ousadia. Acho ela fantástica! Que voz! Que presença!

Ela cantando sambas-reggae, aquela música negra tão forte, me arrepia, me embevece. Virgínia precisa ser mais conhecida do público, todos precisam conhecer essa mulher.

Ah! Por sinal ela mora perto de mim aqui em Itapuã e vira e mexe me esbarro com ela. Tão simples no dia-a-dia... tão grandiosa no palco!

17 de outubro de 2008 às 22:29  
Anonymous Anônimo said...

virgínia está presa a um tipo de interpretação. não sei se é a única possível para sua voz.
fato é que soa consativa. não vai pra frente, embora agrade meia dúzia de "antenados" e os gringos em circuito de navio pelo litoral brasileiro - até a amazônia.

18 de outubro de 2008 às 15:24  
Anonymous Anônimo said...

Acho que o treinamento lírico pode ser uma desvantagem para cantoras populares. É uma opinião pessoal e talvez alguém que entenda do assunto possa me corrigir.

A emissão lírica teria, na origem, a função de fazer a voz e a palavra chegarem ao público em grandes espaços, sem microfone e – dureza – por cima de uma orquestra. O que a gente tem, então? Uma cantora treinada para produzir o máximo possível de volume e uma dicção perfeccionista. A minha opinião é a seguinte: o preço desse volume e dessa dicção é alto em termos de expressividade. A não ser que a cantora seja realmente uma artista, a interpretação endurece e fica monótona. Isso acontece inclusive na ópera e na canção de câmara.

18 de outubro de 2008 às 22:21  
Anonymous Anônimo said...

Qualquer CD produzido por Olivia Hime sera sempre suntuoso, interessante, belo, artistico, MAS muito chato, cansativo, sonolento.
Continuo achando que Virginia precisa se desgarrar de regravacoes e trilhar seu proprio caminho. 4 CDs de regravacoes ja basta..ela precisa ter musicas feitas para ela, para voz dela, com tematica afro-brasileira porque ela eh otima e sublime nisto. Ela jamais se tornara mais popular com um repertorio destes.
Mais um CD elegante da Biscoito.

20 de outubro de 2008 às 00:44  
Anonymous Anônimo said...

luc,

Até concordo com você, quanto à abordagem lírica das canções populares.

Mas, apesar de não ter assistido a este show especificamente, penso que a Virgina Rodrigues tem uma expressividade cênica que me encanta. Pelo menos, foi o que percebi no show do primeiro disco dela, a que assisti em Brasilia.

Eu ainda lamento o fato dela ser tão pouco conhecida no Brasil.

abração,
Denilson

20 de outubro de 2008 às 09:28  
Anonymous Anônimo said...

Denilson,
Nunca assisti ao vivo. O que ouvi no disco é interessante no começo, mas fica monótono depois. Ela fraseia pouco. Também poderia dar um carinho maior à afinação. De qq maneira, tem um timbre diferente e um sotaque bom de ouvir.
Abraço,
Luc

20 de outubro de 2008 às 15:45  
Anonymous Anônimo said...

Anônimo das 12:44.
Um CD produzido por Olivia Hime segundo você será sempre interessante, belo e artístico, e também segundo você chato, cansativo e sonolento. Mas, atenção, apenas para quem ache chato, cansativo e sonolento a beleza, a arte e as coisas interessantes. Talvez você, com todo direito, não goste desses elementos, ou do excesso deles, mas há quem goste, e é a essas pessoas que o trabalho deve estar sendo dirigido. Cabe também perguntar se a Virgínia gostaria de se tornar mais popular. Quem sabe ela não queira fazer exatamente o que vem fazendo e da forma que vem fazendo? Ser mais popular, para ela, pode ser só um subproduto e não um fim.
Um abraço

José Carlos

21 de outubro de 2008 às 09:36  

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