Pecado é ignorar canto fervido de Márcia Castro
Resenha de show
Título: Pecadinho
Artista: Márcia Castro
Local: Mistura Fina (RJ)
Data: 14 de outubro de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Título: Pecadinho
Artista: Márcia Castro
Local: Mistura Fina (RJ)
Data: 14 de outubro de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Márcia Castro é uma cantora da Bahia que vem chamando a atenção da crítica e do público mais antenado com seu fervido primeiro CD, Pecadinho, (mal) lançado pela gravadora paulista Eldorado. A faixa-título é um frevo composto por Tom Zé com Tuzé de Abreu. Mas não pense que o repertório e a postura de Márcia Castro evoquem o axé aeróbico de cantoras como Claudia Leitte. O dendê é outro - e bem mais apimentado. No show que chegou ao Rio de Janeiro na terça-feira, 14 de outubro, em apresentação única na casa Mistura Fina, feita basicamente para platéia de convidados, Márcia mostrou que tem personalidade, ousadia e cacife para se consolidar no populoso país das cantoras.
Uma provável e natural tensão no primeiro número - Cá Tu, Cá Eu - prejudicou a dicção da cantora e impediu que o público fruisse todo o interessante jogo de palavras armado pelos autores Jarbas Bittencourt, André Simões e Karina de Faria neste tema que já sinaliza a fina ironia de um repertório pavimentado à margem do mercado. Entre músicas nada óbvias de compositores Itamar Assumpção (Tua Boca, em que Márcia combina atmosfera roqueira com o tom lânguido apropriado para os versos sensuais), Jorge Mautner (Rainha do Egito, veículo para a expressão do gestual forte da intérprete) e Sérgio Sampaio (Em Nome de Deus), Márcia Castro embaralha sutis tons de jazz, rock e blues num roteiro que prioriza ritmos brasileiros sem ranços nacionalistas. O delicioso samba Barraqueira (Manuela Rodrigues) exprime com perfeição o caráter provocante que molda o canto de Márcia Castro. A propósito, a cantora já marca posição na faixa mais badalada do disco Pecadinho, Queda, cuja letra direta expõe a tensão que balança a estrutura de namoros convencionais de duas mulheres às voltas com desejos ocultos. E ela saboreia os versos...
Com seu canto cheio de suingue e sua firme postura cênica, Márcia Castro entra no campo da sensualidade em números como Futebol para Principiantes - samba de Kleber Albuquerque - e Você Gosta, outra música de Tom Zé, fã declarado de sua conterrânea. E ganha o jogo quando subverte o sentido original de "Você não gosta de mim, mas sua filha gosta", o emblemático verso de Jorge Maravilha, recado cifrado de Chico Buarque (então na pele de Julinho da Adelaide) ao durão Emilio Garrastazu Médici, então instaurado à força na presidência do Brasil. Em roteiro composto essencialmente por músicas desconhecidas, Jorge Maravilha marca a presença bissexta do que se convencionou chamar de sucesso. A música reside na memória afetiva do público que acompanhava a MPB na década de 70. Assim como Coração Selvagem, tema passional da fase mais inspirada de Belchior. É quando Márcia faz pulsar sua veia bluesy em interpretação que renova a música, com citação de Sua Estupidez (Roberto e Erasmo Carlos) e o toque do trompete de Sidimar Vieira - trunfo da banda.
O que impressiona ainda no show de Márcia Castro é a capacidade de combinar tons e universos musicais díspares sem perda da unidade. Se a cantora deixa baixar sua Janis Joplin ao reviver em arranjo heavy o alucinado Crazy Pop Rock, do conterrâneo Gilberto Gil, ela também experimenta clima cool em Lágrimas Negras (outra de Jorge Mautner) e na introdução do samba Barulho (Roque Ferreira), embalado no disco com mais molho e com o luxuoso auxílio vocal de Zélia Duncan. Enfim, o show Pecadinho é - como o disco que lhe dá nome - provocante, indie, abusado. Mais do que voz (e a dela é boa sem ser exatamente excepcional), Márcia Castro tem atitude, tempero raro na aguada moqueca da cena atual. Pecado é ignorar o canto da nova baiana...
26 Comments:
Márcia Castro é uma cantora da Bahia que vem chamando a atenção da crítica e do público mais antenado com seu fervido primeiro CD, Pecadinho, (mal) lançado pela gravadora paulista Eldorado. A faixa-título é um frevo composto por Tom Zé com Tuzé de Abreu. Mas não pense que o repertório e a postura de Márcia Castro evoquem o axé aeróbico de cantoras como Claudia Leitte. O dendê é outro - e bem mais apimentado. No show que chegou ao Rio de Janeiro na terça-feira, 14 de outubro, em apresentação única na casa Mistura Fina, feita basicamente para platéia de convidados, Márcia mostrou que tem personalidade, ousadia e cacife para se consolidar no populoso país das cantoras.
Uma provável e natural tensão no primeiro número - Cá Tu, Cá Eu - prejudicou a dicção da cantora e impediu que o público fruisse todo o interessante jogo de palavras armado pelos autores Jarbas Bittencourt, André Simões e Karina de Faria neste tema que já sinaliza a fina ironia de um repertório pavimentado à margem do mercado. Entre músicas nada óbvias de compositores Itamar Assumpção (Tua Boca, em que Márcia combina atmosfera roqueira com o tom lânguido apropriado para os versos sensuais), Jorge Mautner (Rainha do Egito, veículo para a expressão do gestual forte da intérprete) e Sérgio Sampaio (Em Nome de Deus), Márcia Castro embaralha sutis tons de jazz, rock e blues num roteiro que prioriza ritmos brasileiros sem ranços nacionalistas. O delicioso samba Barraqueira (Manuela Rodrigues) exprime com perfeição o caráter provocante que molda o canto de Márcia Castro. A propósito, a cantora já marca posição na faixa mais badalada do disco Pecadinho, Queda, cuja letra direta expõe a tensão que balança a estrutura de namoros convencionais de duas mulheres às voltas com desejos ocultos. E ela saboreia os versos...
Com seu canto cheio de suingue e sua firme postura cênica, Márcia Castro entra no campo da sensualidade em números como Futebol para Principiantes - samba de Kleber Albuquerque - e Você Gosta, outra música de Tom Zé, fã declarado de sua conterrânea. E ganha o jogo quando subverte o sentido original de "Você não gosta de mim, mas sua filha gosta", o emblemático verso de Jorge Maravilha, recado cifrado de Chico Buarque (então na pele de Julinho da Adelaide) ao durão Emilio Garrastazu Médici, então instaurado à força na presidência do Brasil. Em roteiro composto essencialmente por músicas desconhecidas, Jorge Maravilha marca a presença bissexta do que se convencionou chamar de sucesso. A música reside na memória afetiva do público que acompanhava a MPB na década de 70. Assim como Coração Selvagem, tema passional da fase mais inspirada de Belchior. É quando Márcia faz pulsar sua veia bluesy em interpretação que renova a música, com citação de Sua Estupidez (Roberto e Erasmo Carlos) e o toque do trompete de Sidimar Vieira - trunfo da banda.
O que impressiona ainda no show de Márcia Castro é a capacidade de combinar tons e universos musicais díspares sem perda da unidade. Se a cantora deixa baixar sua Janis Joplin ao reviver em arranjo heavy o alucinado Crazy Pop Rock, do conterrâneo Gilberto Gil, ela também experimenta clima cool em Lágrimas Negras (outra de Jorge Mautner) e na introdução do samba Barulho (Roque Ferreira), embalado no disco com mais molho e com o luxuoso auxílio vocal de Zélia Duncan. Enfim, o show Pecadinho é - como o disco que lhe dá nome - provocante, indie, abusado. Mais do que voz (e a dela é boa sem ser exatamente excepcional), Márcia Castro tem atitude, tempero raro na aguada moqueca da cena atual. Pecado é ignorar o canto da nova baiana...
pecado é constatar que o Mauro só tem ouvidos pra cantoras ignorandoque tem muita coisa boarolando
Hum.....demorou, mas Mauro conheceu Márcia Castro.
Eu já imaginava que ia gostar esse tanto! hehe
A moça é excelente!
É a melhor dessa geração da virada pros 2010. Aqui em São Paulo só se fala nela...
MÁRCIA CASTRO É EXTRAORDINÁRIA... TEM PERSONALIDADE E É BEM DIFERENTE DA LINHA MARISA MONTE E ANA CAROLINA QUE IMPERA POR AÍ...
ELA GRAVOU TAMBÉM UMA FAIXA INCRÍVEL NUM DISCO RECÉM-LANÇADO PELA SONY EM HOMENAGEM A CARTOLA... A MÚSICA CHAMA-SE "CATEDRAL DO INFERNO".
MÁRCIA MERECE ATENÇÃO E RESPEITO !!!
ELA PROMETE !
Isso sim é uma cantora NOVA !!!!!!!!!! Vale conferir !!!
Conheço e não vejo nada de excepcional. Para mim, é exatamente como o Mauro diz: mais atitude que voz. E eu, ao contrário do Mauro, não vejo nenhum mérito nisso. Para uma cantora, seria bem melhor ter mais voz que atitude. Aí sim seria um pecado ignorá-la.
Entre um e outro, eu prefiro mil vezes a atitude.
Ainda não conheço bem a moça, mas gostei do cabelo à lá Bob Dylan dos anos 60.
Jose Henrique
È UM PECADO, para quem gosta de BOA música brasileira sem rótulos, IGNORAR MARCIA DE CASTRO.
Não fui ao show , mas tenho o CD, que vc escuta de cabo a rabo se deleitando com cada música e quando acaba volta tudo de novo. Realmente como alguém ai falou, essa é uma NOVA CANTORA, e eu tbm prefiro ATITUDE, NUANCES.. á vozes potentes mas sem beleza e delicadeza.
Marcia é UM DELICIOSO PECADINHO!!!
P/ o Mauro: Ela não cantou á música do Zeca Baleiro, que está no CD?
Ví a Marcia no Programa Happy Hour - GNT e adorei, a canção QUEDA é legal e faz parte da trilha da novela Ciranda de Pedra.
NIVALDO
Assisti Márcia em SP e achei uma delícia. Já conhecia (e gostava muito) o CD, que considero um dos melhores de 2007. Criativo, original, hiper personalizado.
O único senão de sua performance cênica foi um certo abuso do tipo 'eu bebo sim, malandro', que quase descaracteriza algumas canções. Pouquíssimo diante de suas possibilidades.
Estou certa que ela ainda evoluirá muito em cena e terá uma carreira eloquente.
maria
Marcia Castro é ótima, e tem voz e atitude, na minha humilde opinião. No entanto, sucesso muitas vezes tem haver mais com atitude, estilo e carisma do que voz - vide Madonna, Vanessa da Matta, Roberta Sá e outras que com estilo, um tipo sexy, e um certo "que", mais do que voz, conquistam espaço bom e legitimo. Alias, Marcia tem atitude e tem mais voz do qualquer uma das supra citadas.
A Márcia é demais, ela tem atitude e concordo quando vc disse que foi um "...CD, Pecadinho, (mal) lançado pela gravadora paulista Eldorado.".
A guria pode "funcionar" bem no palco, mas quando leva-se em consideração a verve central do trabalho de uma musicista, que é a música... ela fica devendo. Aquelas guitarrinhas presentes no CD são insuportáveis. Chatérrimas. E os arranjos são uma afronta à inteligência do ouvinte. Bah... mas a guria promete. Que venha o segundo, sem pecados e sem guitarrinhas, impecável.
Anônimo das 7
O anônimo de 1:37 tocou no ponto. De certa forma concordo com ele: sucesso realmente tem mais a ver com atitude (se é que alguém consegue definir o que seja isso). E as Madonas e Vanessas estão mesmo aí para provar. No entanto, a arte musical tem mais a ver com qualidade vocal e interpretação. Aí entram coisas como afinação, extensão, suingue, dicção, dinâmica, respiração, timbre, originalidade, estilo. Pra quem domina isso (e não é fácil dominar), atitude é um detalhe. O problema é para quem não domina, e faz com que essa tal atitude passe a ganhar espaço. E aí se troca talento e qualidade vocal por atitude. E como hoje o mundo é da imagem, mais que do som, a mídia se derrete toda diante da tal da atitude. Por isso me assusta quando um crítico exalta uma artista que, segundo ele próprio, tem mais atitude que voz. Quanto mais purpurina melhor.
Gente, concordo com vários comentários daqui.
Tb assisti em sampa e tb achei um pouco 'araca demais' mas acho que tem jeito. Ela estava tímida e talvez tenha optado pelo over.
Tem presença e um certo carisma, embora seja uma cantora mediana. E os arranjos do CD são mesmo tolinhos, na maioria. Mas o repertório é incrível e ela não faz feio.
Gostei da moça. Ninguém nasce pronto.
Quando se elogia a atitude, não se está falando só de imagem.
Mas, o que se canta, como se canta, como se comporta...
Caetano Veloso sempre diz que a Sandy é afinada. E eu pergunto: E daí?
Nelson Cavaquinho tinha uma voz feia, mas o que cantava era tão lindo que eu pergunto de novo:
E daí que tinha voz feia? E daí que desafinava? E daí que não tinha boa dicção?
E daí que não respirava direito?
Música é basicamente EMOÇÃO, as favas o excesso de técnica.
Jose Henrique
gostei não...
Márcia é palco; nota 1.000. Disco não convenceu ainda.
José Henrique.
Nelson Cavaquinho é compositor, nunca se colocou como cantor. E era mesmo lindo quando cantava as próprias músicas. Assim como Tom Jobim, e tantos outros que cantaram para mostrar as suas composições. Nunca pretenderam ser cantores. Já quando se pretende, emoção só não basta, é preciso talento, e talento vocal. Senão qualquer boa atriz cheia de atitude seria uma magnífica cantora. A voz é a ferramenta dos cantores, não há como fugir disso. E não há porque contrapor técnica e emoção. Dificilmente alguém com sensibilidade não se emociona ouvindo Sarah Vaughan, não por sua técnica, mas pela forma como ela coloca a técnica apuradíssima a serviço da emoção. Diferente de Clementina, uma pedra bruta, completamente intuitiva, mas com uma voz maravilhosa e um suingue mortal. Em ambos os casos, ambas intérpretes diferentes e magníficas, o talento vocal é que é determinante. Para mim atitude continua uma coisa vaga, indefinida e que serve mais ao show-business que à música. Para mim não há porque se dar destaque a alguém que se pretenda cantor e que tenha mais atitude que voz.
José Carlos
José Carlos,
atitude é mesmo uma coisa vaga, tem que ter uma certa "vira latisse" para sacá-la.
Tem gente que vê atitude num Charlie Brown da vida. Já eu, enxergo-a num Bezerra da Silva.
É que eu não dou a mínima para cantores(as), presto muito mais atenção no que se diz do que em firulas vocais.
Gostei da sua resposta.
Um abraço
Jose Henrique
Faltou dizer que baixei, queimei e adorei o disco da moça.
Depois de um longo e tenebroso inverno, a Boa Terra volta a revelar coisas boas.
Jose Henrique
Marcia é sen-sa-cio-nal! Aliás, a Bahia continua mandando muito bem: Manuela Rodrigues, Cláudia Cunha - paraense-baiana (q são compositoras tb), Juliana Ribeiro .... eis um pedacinho da nova safra ...
Em tempo: o verso de Chico- Julinho corresponde ao período Geisel, e não Médici ... e o próprio já negou q fazia alusão ao governante de então.
Felizmente, a Bahia nao é só o império comercial do axé, que se impõe ao povo pela força daquilo que o dinheiro pode comprar, inclusive o sucesso. Afora isto, a Bahia tem cantoras ótimas, com estilos diversos, que vão se firmando na cena musical: vide, por exemplo, Virgínia Rodrigues e Mariela Santiago, que buscam um lugar ao sol. Márcia Castro aflora em meio a estas novidades como uma grande promessa. Seu trabalho é corajoso porque explora a veia menos comercial da MPB, tendente, porém, a um grau superlativo da arte popular. Continua assim, Márcia. Seu trabalho começa a ser reconhecido não só por esta coragem, senão também pela energia que dele emana através as suas interpretações. TATIANE
márcia castro
juliana ribeiro
manuela rodrigues
tais nader
claudia cunha
o brasil se curvará
e viva a boa terra!
e marcela bellas
essa realmente promete!!!
vi o site agora e esta um escandalo! vale a pena conferir
www.marcelabellas.com.br
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