Camerística, Virgínia extrapola fronteira baiana
Resenha de CD
Título: Recomeço
Artista: Virgínia
Rodrigues
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2
Em seu primeiro álbum, Sol Negro (1997), gravado com direção artística de Caetano Veloso, Virgínia Rodrigues cantou um leque de compositores que abria de Synval Silva (Adeus Batucada) até Djavan (Nobreza), passando por Ary Barroso (Terra Seca) e pelo próprio Caetano (Sol Negro). Contudo, por trás do aparente ecletismo daquele repertório, o disco apresentava Virgínia ao mercado fonográfico sob adequado filtro afro-baiano, muito coerente com a trajetória artística da intérprete, projetada no Bando de Teatro Olodum, no qual brilhou especialmente em 1994 ao cantar a capella o tema sacro Verônica ao fim da peça Bai Bai Pelô. Tal caráter afro-baiano seria realçado nos dois trabalhos seguintes da cantora, Nós (2000) - voltado para o samba-reggae dos blocos afros de Salvador (BA) - e Mares Profundos (2003), dedicado aos afro-sambas de Baden Powell (1937 - 2000) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Em Recomeço, CD que a gravadora Biscoito Fino lança esta semana, Virgínia Rodrigues extrapola a fronteira afro-baiana, gravando majestosamente temas como Alma (Sueli Costa e Abel Silva, 1982), Canção de Amor (Elano de Paula e Chocolate, 1950) e Todo Sentimento (Cristóvão Bastos e Chico Buarque, 1987). Dez!
Com título que remete ao fato de o CD delimitar nova fase na carreira fonográfica da intérprete, Recomeço mostra que, em qualquer eixo estético ou geográfico, Virgínia Rodrigues é uma das grandes cantoras do Brasil. Urdido com vocalises e agudos penetrantes, seu registro de Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) faz frente às magistrais gravações de Milton Nascimento, Cida Moreira e Mônica Salmaso. Com sua voz de mezzo-soprano, de timbre operístico, Virgínia valoriza o repertório como um sol negro a iluminar nuances camerísticas de temas como Por Toda Minha Vida (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) e Estrada Branca (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1958). Recomeço, a propósito, é um disco de voz e piano. O piano de Cristóvão Bastos, autor dos arranjos e acompanhante solitário da cantora nesse passeio virtuoso por uma música brasileira mais tradicionalista. A ponto de fechar com uma linda valsa que marcou o repertório de Francisco Alves (1898 - 1952), a onírica Boa Noite, Amor (José Maria de Abreu e Francisco Mattoso, 1936). Fecho de ouro, aliás...
Duas faixas, em especial, sobressaem em Recomeço por realçar a textura sacra do canto de Virgínia Rodrigues, o que já levou um crítico do jornal The New York Times a classificar de celestial a voz da cantora. Esse tom sacro de raiz africana se manifesta de forma intensa em Triste Baía da Guanabara (Noveli e Cacaso, 1980) - faixa incrementada com sons de água - e em Porto de Araújo (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1988). Com auxílio de percussão minimalista, Virgínia mergulha nos mares profundos da música de Guinga e Pinheiro - lançada por Miúcha num de seus melhores discos - com seu canto que mais parece uma forma de oração. Canto que ela suaviza ao entoar o acalanto A Noite do meu Bem (Dolores Duran, 1959). Enfim, um grande disco que, mesmo soando às vezes linear, pode - permitam os deuses - marcar fase de maior popularidade no Brasil para Virgínia Rodrigues, o sol negro.
Título: Recomeço
Artista: Virgínia
Rodrigues
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2
Em seu primeiro álbum, Sol Negro (1997), gravado com direção artística de Caetano Veloso, Virgínia Rodrigues cantou um leque de compositores que abria de Synval Silva (Adeus Batucada) até Djavan (Nobreza), passando por Ary Barroso (Terra Seca) e pelo próprio Caetano (Sol Negro). Contudo, por trás do aparente ecletismo daquele repertório, o disco apresentava Virgínia ao mercado fonográfico sob adequado filtro afro-baiano, muito coerente com a trajetória artística da intérprete, projetada no Bando de Teatro Olodum, no qual brilhou especialmente em 1994 ao cantar a capella o tema sacro Verônica ao fim da peça Bai Bai Pelô. Tal caráter afro-baiano seria realçado nos dois trabalhos seguintes da cantora, Nós (2000) - voltado para o samba-reggae dos blocos afros de Salvador (BA) - e Mares Profundos (2003), dedicado aos afro-sambas de Baden Powell (1937 - 2000) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Em Recomeço, CD que a gravadora Biscoito Fino lança esta semana, Virgínia Rodrigues extrapola a fronteira afro-baiana, gravando majestosamente temas como Alma (Sueli Costa e Abel Silva, 1982), Canção de Amor (Elano de Paula e Chocolate, 1950) e Todo Sentimento (Cristóvão Bastos e Chico Buarque, 1987). Dez!
Com título que remete ao fato de o CD delimitar nova fase na carreira fonográfica da intérprete, Recomeço mostra que, em qualquer eixo estético ou geográfico, Virgínia Rodrigues é uma das grandes cantoras do Brasil. Urdido com vocalises e agudos penetrantes, seu registro de Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) faz frente às magistrais gravações de Milton Nascimento, Cida Moreira e Mônica Salmaso. Com sua voz de mezzo-soprano, de timbre operístico, Virgínia valoriza o repertório como um sol negro a iluminar nuances camerísticas de temas como Por Toda Minha Vida (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) e Estrada Branca (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1958). Recomeço, a propósito, é um disco de voz e piano. O piano de Cristóvão Bastos, autor dos arranjos e acompanhante solitário da cantora nesse passeio virtuoso por uma música brasileira mais tradicionalista. A ponto de fechar com uma linda valsa que marcou o repertório de Francisco Alves (1898 - 1952), a onírica Boa Noite, Amor (José Maria de Abreu e Francisco Mattoso, 1936). Fecho de ouro, aliás...
Duas faixas, em especial, sobressaem em Recomeço por realçar a textura sacra do canto de Virgínia Rodrigues, o que já levou um crítico do jornal The New York Times a classificar de celestial a voz da cantora. Esse tom sacro de raiz africana se manifesta de forma intensa em Triste Baía da Guanabara (Noveli e Cacaso, 1980) - faixa incrementada com sons de água - e em Porto de Araújo (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1988). Com auxílio de percussão minimalista, Virgínia mergulha nos mares profundos da música de Guinga e Pinheiro - lançada por Miúcha num de seus melhores discos - com seu canto que mais parece uma forma de oração. Canto que ela suaviza ao entoar o acalanto A Noite do meu Bem (Dolores Duran, 1959). Enfim, um grande disco que, mesmo soando às vezes linear, pode - permitam os deuses - marcar fase de maior popularidade no Brasil para Virgínia Rodrigues, o sol negro.
14 Comments:
Em seu primeiro álbum, Sol Negro (1997), gravado com direção artística de Caetano Veloso, Virgínia Rodrigues cantou um leque de compositores que abria de Synval Silva (Adeus Batucada) até Djavan (Nobreza), passando por Ary Barroso (Terra Seca) e pelo próprio Caetano (Sol Negro). Contudo, por trás do aparente ecletismo daquele repertório, o disco apresentava Virgínia ao mercado fonográfico sob adequado filtro afro-baiano, coerente com a trajetória artística da intérprete, projetada no Bando de Teatro Olodum, no qual brilhou especialmente em 1994 ao cantar a capella o tema sacro Verônica ao fim da peça Bai Bai Pelô. Tal caráter afro-baiano seria realçado nos dois trabalhos seguintes da cantora, Nós (2000) - voltado para o samba-reggae dos blocos afros de Salvador (BA) - e Mares Profundos (2003), dedicado aos afro-sambas de Baden Powell (1936 - 2000) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Em Recomeço, CD que a gravadora Biscoito Fino lança esta semana, Virgínia Rodrigues extrapola a fronteira afro-baiana, gravando majestosamente temas como Alma (Sueli Costa e Abel Silva, 1982), Canção de Amor (Elano de Paula e Chocolate, 1950) e Todo Sentimento (Cristóvão Bastos e Chico Buarque, 1987). Dez!
Com título que remete ao fato de o CD delimitar nova fase na carreira fonográfica da intérprete, Recomeço mostra que, em qualquer eixo estético ou geográfico, Virgínia Rodrigues é uma das grandes cantoras do Brasil. Urdido com vocalises e agudos penetrantes, seu registro de Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) faz frente às magistrais gravações de Milton Nascimento, Cida Moreira e Mônica Salmaso. Com sua voz de mezzo-soprano, de timbre operístico, Virgínia valoriza o repertório como um sol negro a iluminar nuances camerísticas de temas como Por Toda Minha Vida (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) e Estrada Branca (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1958). Recomeço, a propósito, é um disco de voz e piano. O piano de Cristóvão Bastos, autor dos arranjos e acompanhante solitário da cantora nesse passeio virtuoso por uma música brasileira mais tradicionalista. A ponto de fechar com uma linda valsa que marcou o repertório de Francisco Alves (1898 - 1952), a onírica Boa Noite, Amor (José Maria de Abreu e Francisco Mattoso, 1936). Fecho de ouro, aliás...
Duas faixas, em especial, sobressaem em Recomeço por realçar a textura sacra do canto de Virgínia Rodrigues, o que já levou um crítico do jornal The New York Times a classificar de celestial a voz da cantora. Esse tom sacro de raiz africana se manifesta de forma intensa em Triste Baía da Guanabara (Noveli e Cacaso, 1980) - faixa incrementada com sons de água - e em Porto de Araújo (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1988). Com auxílio de percussão minimalista, Virgínia mergulha nos mares profundos da música de Guinga e Pinheiro - lançada por Miúcha num de seus melhores discos - com seu canto que mais parece uma forma de oração. Canto que ela suaviza ao entoar o acalanto A Noite do meu Bem (Dolores Duran, 1959). Enfim, um grande disco que, mesmo soando às vezes linear, pode - permitam os deuses - marcar fase de maior popularidade no Brasil para Virgínia Rodrigues, o sol negro.
Só de SABER que Virgínia está com novo disco, já fico arrepiado. Imagina escutar...
Não espero que Virgínia fique mais popular, uma vez que, hoje, no Brasil, popularidade se tornou sinônimo de 1) vulgaridade ou 2) desprestígio (caso de artistas de qualidade com Vanessa da Mata, Marisa Monte, Daniela Mercury, Jorge Vercilo e Ana Carolina, que só por fazerem sucesso, caem nas más línguas das Matildes intelectualóides metids a inteligentes). Mas espero que nessa nova fase Virgínia se torne mais profíqua, uma vez que a BF tem o hábito de colocar muitos trabalhos de seus contratados no mercado, o que é muito bom.
Margareth Menezes fazendo escola ...
Capa também dez.
O repertório é magnífico, mas ainda acho a voz dela cansativa. Agora, Mauro, vc colocar a versão de BEATRIZ nas vozes da Cida Morteira e da Salmaso como magistrais é brincadeira. As versões de Zizi, Gal e até da Fátima Guedes saõ infinitamente superiores as dessas q vc citou!!!!
Espero que esse CD eu consiga escutar mais de uma vez.
O primeiro ea bacana, mas os outros 2, uma chatice de dar pena!
E quanto à gravação de Beatriz, fico com o original, apesar da gravação da Mônica Salmaso beirar à perfeição!
A da Gal é chata, e da Zizi teatral.
A versão da Zizi para "Beatriz" é ótima, e não tem nada de teatral. A da Cida Moreira tb é muito boa, especialmente na parte mais grave, onde alguns cantores e cantoras derrapam.
Eu adoro o primeiro disco da Virginia Rodrigues.
Os outros não me atraíram tanto, ao ouvir. Nem cheguei a adquirir.
Esse me parece que está sensacional. Adoro a voz dela. E assisti-la ao vivo é melhor ainda.
abração,
Denilson
Tb gostei do primeiro. Depois ficou 'exótico' demais.
Gostei deste repertório...vou conferir.
Beatriz com Ana Carolina ou Cida Moreira é uma atrocidade aos meus ouvidos... Milton e Zizi souberam interpretar na medida certa!! Sem falar nas versãoe de Gal e Elba q tb são corretas!!
Sinto-me como VR na capa de seu CD: com um sono.......!!!!!!!!!!!
É um belo CD, porém senti falta de músicas mais boliçosas, mais rítmicas. Mais BAIANAS, em suma, coisa que havia nos discos anteriores de Virgínia (e que eram os melhores momentos). Virgínia é uma cantora ímpar e absolutamente extraordinária, mas esse disco, só na base do piano e voz, acabou soando excessivamente solene. Faltou o lado Beyoncetta, a personagem sua no filme Ó Paí Ó, no disco de Virgínia.
Doug
Eu presenciei o show deste CD no teatro Castro Alves e fiquei impressionado como ela soou melhor ao vivo que no CD. Achei muito feliz o comentário do Mauro sobre as gravações "Porto de Araújo" e "Triste bahia de Guanabara ", são
minhas preferidas e as considero difícieis para cantar. Agora me sinto melhor ao ouvir falar bem de Virgínia por quem realmente entende, pois minha professora de canto a odeia rsrrs.
PARABENS PELO BLOG PRIMEIRAMENTE.
ESTAMOS DIVULGANDO O NOVO SUCESSO DO MOMENTO E ULTIMO DESEJO DE BETO CARRERO: "VIRGINIA DE MAURO, a LULLY" ASSISTAM no YOUTUBE sessão TRAPINHAS
ONDE ELA TEM APOIOS IMPORTANTES COMO O HUMORISTA JOSE VASCONCELOS, AUTOR DE NICK BAR.
CANARINHO DO SBT, MAURICIO DE SOUSA E O PRÓPRIO BETO CARRERO ANTES DE SUA SUBIDA AO ENCONTRO COM DEUS.
VALE A PENA A NOVIDADE PARA AS CRIANÇAS E JOVENS.
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