Midani relata seu apogeu fonográfico com afeto
Resenha de livro
Título: Música, Ídolos
e Poder - Do Vinil
ao Download
Artista: André Midani
Editora: Nova Fronteira
Cotação: * * * 1/2
No fim dos anos 50, quando já trabalhava na gravadora Odeon, André Midani não entendia porque os discos cafonas do cantor Orlando Dias (1923 - 2001) eram os líderes das paradas de uma companhia que amargava as vendas pífias de cantores que gravavam uma música muito mais sofisticada - casos de Lúcio Alves (1927 - 1993) e Sylvia Telles (1935 - 1966). Até que Midani, um sírio que desembarcara no Brasil em 1955 fugindo de uma possível convocação para a Guerra da Argélia e de um destino que o estava induzindo ao ofício de confeiteiro, conversou com Dias e detectou, ao ouvir a história triste do cantor pernambucano, que havia um sentimento genuíno em suas gravações que gerava a empatia popular inexistente nos discos de Lúcio Alves ou Sylvia Telles. Naquele momento, Midani aprendeu uma das lições que iria nortear sua bem-sucedida trajetória na indústria fonográfica brasileira, contada por ele na primeira pessoa na autobiografia Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download, lançada pela editora Nova Fronteira com texto de apresentação escrito por Arnaldo Antunes, saudado por Midani no livro como o "maior poeta de sua geração" (o grupo Titãs chegaria ao disco via Midani).
Midani recorda sua trajetória folhetinesca com açúcar e com afeto. Ele não chega a mascarar os podres poderes que, não raro, regem a indústria fonográfica mundial. Ao contrário, o executivo relata no livro como os tecnocratas rebaixaram a Warner Music no mercado e lembra o equilíbrio delicado que fazia balançar sua relação com os frios comandantes holandeses da multinacional Philips (Phonogram) na primeira metade dos anos 70. Midani também expõe, no fim do livro, alguns mafiosos caminhos da pirataria de CDs que levaram às gravadoras a um estado de agonia no Brasil. Contudo, a narrativa - leve e fragmentada, dividida em 54 breves capítulos - é adocicada pelo carinho que Midani devota a seus ídolos. E esses ídolos - Erasmo Carlos, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor, entre outros -são retratados com altas doses de generosidade pelo executivo. E histórias com esses ícones sobram na biografia ímpar de Midani. Em sua gloriosa passagem pela filial brasileira da Phonogram, entre 1967 e 1975, ele fez Chico Buarque trocar a RGE pela Philips, amansou Elis Regina (1945 - 1982) - então decidida a sair da companhia - e garantiu a continuidade das carreiras fonográficas de Caetano Veloso e Gilberto Gil quando ambos amargavam exílio em Londres. Era um trabalho que se desenvolvia também fora dos escritórios, como no episódio em que, atendendo aos apelos de Dona Canô, Midani teve que ir à Bahia para acabar com briga bissexta de Caetano com Maria Bethânia, momentaneamente estremecidos por divergências na gravação do LP Drama, gravado pela cantora em 1972 com produção do irmão. Mais tarde, já na WEA, abriu as portas da companhia para grupos de rock indicados por seus produtores, como Kid Abelha e Titãs, para livrar a WEA da falência (iminente).
O livro termina com o relato da festa organizada em 2005 no Golden Room do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro (RJ), para comemorar os 50 anos do desembarque no Brasil deste amante do jazz que aprendeu a amar a música brasileira e a conviver com artistas que viraram colegas, ídolos e - em alguns casos - até amigos. Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download não cumpre tudo que seu título e subtítulo sugerem. Por ter sido testemunha ocular e privilegiada de fatos marcantes que desembocaram na Bossa Nova, na Tropicália e no boom do rock brasileiro dos anos 80, Midani tinha material para escrever livro mais contundente sobre as relações entre artistas e gravadoras - bem como sobre o poder que determinou a música gravada e ouvida no Brasil nos últimos 50 anos. Contudo, o executivo preferiu o relato afetuoso de sua longa permanência no olho do furacão. Sua autobiografia é quase sempre diplomática. Ainda assim, é livro interessante por sua improvável história de vida - como bem caracteriza o jornalista Zuenir Ventura em texto escrito para uma das orelhas do livro. É com algum açúcar e com muito afeto que Midani faz a viagem de volta na memória afetiva dos fatos que marcaram uma vida movida pelo prazer de trabalhar na engrenagem industrial que fabrica tanto música como ídolos...
Título: Música, Ídolos
e Poder - Do Vinil
ao Download
Artista: André Midani
Editora: Nova Fronteira
Cotação: * * * 1/2
No fim dos anos 50, quando já trabalhava na gravadora Odeon, André Midani não entendia porque os discos cafonas do cantor Orlando Dias (1923 - 2001) eram os líderes das paradas de uma companhia que amargava as vendas pífias de cantores que gravavam uma música muito mais sofisticada - casos de Lúcio Alves (1927 - 1993) e Sylvia Telles (1935 - 1966). Até que Midani, um sírio que desembarcara no Brasil em 1955 fugindo de uma possível convocação para a Guerra da Argélia e de um destino que o estava induzindo ao ofício de confeiteiro, conversou com Dias e detectou, ao ouvir a história triste do cantor pernambucano, que havia um sentimento genuíno em suas gravações que gerava a empatia popular inexistente nos discos de Lúcio Alves ou Sylvia Telles. Naquele momento, Midani aprendeu uma das lições que iria nortear sua bem-sucedida trajetória na indústria fonográfica brasileira, contada por ele na primeira pessoa na autobiografia Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download, lançada pela editora Nova Fronteira com texto de apresentação escrito por Arnaldo Antunes, saudado por Midani no livro como o "maior poeta de sua geração" (o grupo Titãs chegaria ao disco via Midani).
Midani recorda sua trajetória folhetinesca com açúcar e com afeto. Ele não chega a mascarar os podres poderes que, não raro, regem a indústria fonográfica mundial. Ao contrário, o executivo relata no livro como os tecnocratas rebaixaram a Warner Music no mercado e lembra o equilíbrio delicado que fazia balançar sua relação com os frios comandantes holandeses da multinacional Philips (Phonogram) na primeira metade dos anos 70. Midani também expõe, no fim do livro, alguns mafiosos caminhos da pirataria de CDs que levaram às gravadoras a um estado de agonia no Brasil. Contudo, a narrativa - leve e fragmentada, dividida em 54 breves capítulos - é adocicada pelo carinho que Midani devota a seus ídolos. E esses ídolos - Erasmo Carlos, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor, entre outros -são retratados com altas doses de generosidade pelo executivo. E histórias com esses ícones sobram na biografia ímpar de Midani. Em sua gloriosa passagem pela filial brasileira da Phonogram, entre 1967 e 1975, ele fez Chico Buarque trocar a RGE pela Philips, amansou Elis Regina (1945 - 1982) - então decidida a sair da companhia - e garantiu a continuidade das carreiras fonográficas de Caetano Veloso e Gilberto Gil quando ambos amargavam exílio em Londres. Era um trabalho que se desenvolvia também fora dos escritórios, como no episódio em que, atendendo aos apelos de Dona Canô, Midani teve que ir à Bahia para acabar com briga bissexta de Caetano com Maria Bethânia, momentaneamente estremecidos por divergências na gravação do LP Drama, gravado pela cantora em 1972 com produção do irmão. Mais tarde, já na WEA, abriu as portas da companhia para grupos de rock indicados por seus produtores, como Kid Abelha e Titãs, para livrar a WEA da falência (iminente).
O livro termina com o relato da festa organizada em 2005 no Golden Room do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro (RJ), para comemorar os 50 anos do desembarque no Brasil deste amante do jazz que aprendeu a amar a música brasileira e a conviver com artistas que viraram colegas, ídolos e - em alguns casos - até amigos. Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download não cumpre tudo que seu título e subtítulo sugerem. Por ter sido testemunha ocular e privilegiada de fatos marcantes que desembocaram na Bossa Nova, na Tropicália e no boom do rock brasileiro dos anos 80, Midani tinha material para escrever livro mais contundente sobre as relações entre artistas e gravadoras - bem como sobre o poder que determinou a música gravada e ouvida no Brasil nos últimos 50 anos. Contudo, o executivo preferiu o relato afetuoso de sua longa permanência no olho do furacão. Sua autobiografia é quase sempre diplomática. Ainda assim, é livro interessante por sua improvável história de vida - como bem caracteriza o jornalista Zuenir Ventura em texto escrito para uma das orelhas do livro. É com algum açúcar e com muito afeto que Midani faz a viagem de volta na memória afetiva dos fatos que marcaram uma vida movida pelo prazer de trabalhar na engrenagem industrial que fabrica tanto música como ídolos...
4 Comments:
No fim dos anos 50, quando já trabalhava na gravadora Odeon, André Midani não entendia porque os discos cafonas do cantor Orlando Dias (1923 - 2001) eram os líderes das paradas de uma companhia que amargava as vendas pífias de cantores que gravavam uma música muito mais sofisticada - casos de Lúcio Alves (1927 - 1993) e Sylvia Telles (1935 - 1966). Até que Midani, um sírio que desembarcara no Brasil em 1955 fugindo de uma provável convocação para a Guerra da Argélia e de um destino que estava induzindo ao ofício de confeiteiro, conversou com Dias e detectou, ao ouvir a história triste do cantor pernambucano, que havia um sentimento genuíno em suas gravações que gerava a empatia popular inexistente nos discos de Lúcio Alves ou Sylvia Telles. Naquele momento, Midani aprendeu uma das lições que iria nortear sua bem-sucedida trajetória na indústria fonográfica brasileira, contada por ele na primeira pessoa na autobiografia Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download, lançada pela editora Nova Fronteira com texto de apresentação escrito por Arnaldo Antunes, saudado por Midani no livro como o "maior poeta de sua geração" (o grupo Titãs chegaria ao disco via Midani).
Midani recorda sua trajetória folhetinesca com açúcar e com afeto. Ele não chega a mascarar os podres poderes que, não raro, regem a indústria fonográfica mundial. Ao contrário, o executivo relata no livro como os tecnocratas rebaixaram a Warner Music no mercado e lembra o equilíbrio delicado que fazia balançar sua relação com os frios comandantes holandeses da multinacional Philips (Phonogram) na primeira metade dos anos 70. Midani também expõe, no fim do livro, alguns mafiosos caminhos da pirataria de CDs que levaram às gravadoras a um estado de agonia no Brasil. Contudo, a narrativa - leve e fragmentada, dividida em 54 breves capítulos - é adocicada pelo carinho que Midani devota a seus ídolos. E esses ídolos - Erasmo Carlos, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor, entre outros -são retratados com altas doses de generosidade pelo executivo. E histórias com esses ícones sobram na biografia ímpar de Midani. Em sua gloriosa passagem pela filial brasileira da Phonogram, entre 1967 e 1975, ele fez Chico Buarque trocar a RGE pela Philips, amansou Elis Regina (1945 - 1982) - então decidida a sair da companhia - e garantiu a continuidade das carreiras fonográficas de Caetano Veloso e Gilberto Gil quando ambos amargavam exílio em Londres. Era um trabalho que se desenvolvia também fora dos escritórios, como no episódio em que, atendendo aos apelos de Dona Canô, Midani teve que ir à Bahia para acabar com briga bissexta de Caetano com Maria Bethânia, momentaneamente estremecidos por divergências na gravação do LP Drama, gravado pela cantora em 1972 com produção do irmão. Mais tarde, já na WEA, abriu as portas da companhia para grupos de rock indicados por seus produtores, como Kid Abelha e Titãs, para livrar a WEA da falência (iminente).
O livro termina com o relato da festa organizada em 2005 no Golden Room do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro (RJ), para comemorar os 50 anos do desembarque no Brasil deste amante do jazz que aprendeu a amar a música brasileira e a conviver com artistas que viraram colegas, ídolos e - em alguns casos - até amigos. Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download não cumpre tudo que seu título e subtítulo sugerem. Por ter sido testemunha ocular e privilegiada de fatos marcantes que desembocaram na Bossa Nova, na Tropicália e no boom do rock brasileiro dos anos 80, Midani tinha material para escrever livro mais contundente sobre as relações entre artistas e gravadoras - bem como sobre o poder que determinou a música gravada e ouvida no Brasil nos últimos 50 anos. Contudo, o executivo preferiu o relato afetuoso de sua longa permanência no olho do furacão. Sua autobiografia é quase sempre diplomática. Ainda assim, é livro interessante por sua improvável história de vida - como bem caracteriza o jornalista Zuenir Ventura em texto escrito para uma das orelhas do livro. É com algum açúcar e com muito afeto que Midani faz a viagem de volta na memória afetiva dos fatos que marcaram uma vida movida pelo prazer de trabalhar na engrenagem industrial que fabrica tanto música como ídolos...
Ainda bem que Midani diz, no início do livro, que quem espera revelações bombásticas sobre os ídolos com quem ele trabalhou, bem como reflexões sobre a indústria do disco, irá se decepcionar.
Porque, aí, todos prestarão atenção no forte do livro: a história dele, apenas. Que, por si só, já dá o que interessar.
Mesmo que estórias bacaníssimas tenham ficado de fora, como a da vinda do Camisa de Vênus para a WEA.
Num show no Rio, Marcelo Nova, além dos petardos sonoros, tratou de fazer longo discurso desancando o estilo praieiro carioca, o culto ao corpo e tudo o mais. Após o show, no camarim, Midani chega, com cara de poucos amigos, e fala: "Boa noite, Marcelo. Prazer, meu nome é André Midani, sou presidente da WEA e tenho duas coisas para lhe falar". Marcelo, olhando a cara do sírio, pensa: "Esse cara vai descer a mão em mim."
Midani diz: "A primeira é que isso não foi um show, foi um insulto. A segunda é que eu quero levar esse insulto para a minha gravadora." Marcelo fica interessado - lisonjeado, até - mas mantém a verve sarcástica: "Mas pra quê você quer um insulto? Não é melhor contratar um fabricante de hits?"
E o capo da WEA dá o tiro fatal: "Gravei a primeira ruptura da música brasileira, que foi João Gilberto. Gravei a segunda, que foi Caetano e Gil. E vou gravar a terceira, que é o Camisa." E lá se foi o quinteto para a WEA.
Felipe dos Santos Souza
Gosto muito do Marceleza e sua verve, mas o Camisa não foi ruptura de nada.
Eles se arvoram de terem dito o primeiro palavrão numa música aqui no Brasil, mas isso é uma bobagem.
Jose Henrique
Dizer palavrão numa música não signigica nada mesmo. O Camisa de Vênus tem o grande mérito, esse sim, de sempre ter mantido o humor na linha de frente, de nunca ter se levado a sério demais, algo que nenhuma outra banda de rock brasileiro conseguiu de verdade, nem mesmo o Ultraje.
Postar um comentário
<< Home