A Arte popular de Candeia pulsa forte no teatro
Resenha de Musical
Título: É Samba na Veia, É Candeia
Autoria: Eduardo Rieche
Direção: André Paes Leme
Local: Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil (RJ)
Cotação: * * * *
Em cartaz de quarta-feira a domingo, às 19h30m.
Até 30 de novembro de 2008
Um dos pilares do samba carioca, Antonio Candeia Filho (1935 - 1978) foi duro na queda. Homem de cabeça e pensamentos fortes, o autor de Pintura sem Arte volta e meia carregou nas tintas para defender seus ideais em favor da preservação das tradições do samba e da raça negra. Seu sangue quente voltou a pulsar em cena no Teatro III do Centro Cultural do Banco do Brasil, onde fica em cartaz até 30 de novembro de 2008 o gracioso musical É Samba na Veia, É Candeia, solitária homenagem ao compositor no 30º aniversário de sua morte. Bem distante do modelo de musical exportado pela Broadway, o espetáculo tem sua força justamente na brasilidade da encenação descontraída do diretor André Paes Leme. O público é ambientado no quintal da casa de Candeia - com direito a uma pinga servida na entrada pelos atores - e, como se estivesse no clima descontraído de um pagode, é convidado a entrar no mundo de Candeia. Na música e na alma de Homem de princípios sólidos que dizia o pensava, nadando contra correntes.
Mito da resistência cultural afro-brasileira, como é apresentado no programa da peça, Candeia é encarnado nos palcos pelo ator Jorge Maya, que convence tanto nas cenas em que é revelada a face mais arrogante do sambista - quando no exercício de seu ofício de policial civil - como nos momentos em que Candeia (quase) se deixa abater pela fatalidade de ter ficado preso a uma cadeira de rodas por conta de uma discussão no trânsito. A cena em que Candeia, entre lágrimas, amarga sua sina é pungente e confirma o talento de Maya, solista de temas como Preciso me Encontrar. Contudo, todo o elenco tem desempenho uniforme e parece estar em total sintonia com o universo da personagem enfocada no texto de Eduardo Rieche. É justo destacar a vivacidade de Édio Nunes, que se reveza nos papéis de Casquinha, Argemiro Patrocínio e Manoel, valorizando as cenas de maior comicidade. Assim como Érika Ferreira, que também extrai humor das cenas de Firmina, a vizinha atribulada de Leonilda (Patrícia Costa, à vontade num papel que oscila entre o cômico e o dramático), a mulher de Candeia, seu esteio na saúde e na doença.
Ao sair de cena em 16 de novembro de 1978, Candeia deixou cerca de 110 composições. Com partidos do alto quilate de Peixeiro Granfino e A Flor e o Samba, o roteiro do musical enfileira 27 músicas de Candeia - com a informalidade típica de uma roda de samba - e inclui o samba-enredo Legados de D. João VI, com o qual a Portela se sagrou vencedora do Carnaval de 1957. Apenas dois sambas não são da lavra do compositor. Um deles, O Sonho Não Acabou, o tributo prestado ao mestre pelo fiel discípulo Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), abre e pontua o espetáculo. O outro, Silêncio de Bamba (Wilson Moreira e Nei Lopes), ilustra o sentimento de tristeza que tomou conta da comunidade do samba quando Candeia morreu, às vésperas do lançamento de seu álbum Axé (uma das obras-primas do samba).
O elemento destoante do musical é o caráter panfletário que o texto assume em sua parte final. Dramaturgo estreante, Eduardo Rieche oferece consistente perfil de Candeia ao amarrar no texto os momentos mais significativos da trajetória do compositor, mas poderia ter apresentado alguns ideais do artista de forma diluída na narrativa, evitando o monológo em que Jorge Maya reproduz falas literais de Candeia, algumas extraídas do documentário Partido Alto, curta-metragem dirigido por Leon Hirszman (1937 - 1987). No início da narrativa, o autor também opõe sambistas e bossa-novistas com falas que soam até artificiais na boca de personagens populares, pois esboçam uma rivalidade que não chegou a se configurar de fato. Contudo, são pequenos detalhes de musical envolvente e necessário em que pulsa forte a Arte popular e imortal de Candeia, o negro de sangue quente e de idéias nobres.
Título: É Samba na Veia, É Candeia
Autoria: Eduardo Rieche
Direção: André Paes Leme
Local: Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil (RJ)
Cotação: * * * *
Em cartaz de quarta-feira a domingo, às 19h30m.
Até 30 de novembro de 2008
Um dos pilares do samba carioca, Antonio Candeia Filho (1935 - 1978) foi duro na queda. Homem de cabeça e pensamentos fortes, o autor de Pintura sem Arte volta e meia carregou nas tintas para defender seus ideais em favor da preservação das tradições do samba e da raça negra. Seu sangue quente voltou a pulsar em cena no Teatro III do Centro Cultural do Banco do Brasil, onde fica em cartaz até 30 de novembro de 2008 o gracioso musical É Samba na Veia, É Candeia, solitária homenagem ao compositor no 30º aniversário de sua morte. Bem distante do modelo de musical exportado pela Broadway, o espetáculo tem sua força justamente na brasilidade da encenação descontraída do diretor André Paes Leme. O público é ambientado no quintal da casa de Candeia - com direito a uma pinga servida na entrada pelos atores - e, como se estivesse no clima descontraído de um pagode, é convidado a entrar no mundo de Candeia. Na música e na alma de Homem de princípios sólidos que dizia o pensava, nadando contra correntes.
Mito da resistência cultural afro-brasileira, como é apresentado no programa da peça, Candeia é encarnado nos palcos pelo ator Jorge Maya, que convence tanto nas cenas em que é revelada a face mais arrogante do sambista - quando no exercício de seu ofício de policial civil - como nos momentos em que Candeia (quase) se deixa abater pela fatalidade de ter ficado preso a uma cadeira de rodas por conta de uma discussão no trânsito. A cena em que Candeia, entre lágrimas, amarga sua sina é pungente e confirma o talento de Maya, solista de temas como Preciso me Encontrar. Contudo, todo o elenco tem desempenho uniforme e parece estar em total sintonia com o universo da personagem enfocada no texto de Eduardo Rieche. É justo destacar a vivacidade de Édio Nunes, que se reveza nos papéis de Casquinha, Argemiro Patrocínio e Manoel, valorizando as cenas de maior comicidade. Assim como Érika Ferreira, que também extrai humor das cenas de Firmina, a vizinha atribulada de Leonilda (Patrícia Costa, à vontade num papel que oscila entre o cômico e o dramático), a mulher de Candeia, seu esteio na saúde e na doença.
Ao sair de cena em 16 de novembro de 1978, Candeia deixou cerca de 110 composições. Com partidos do alto quilate de Peixeiro Granfino e A Flor e o Samba, o roteiro do musical enfileira 27 músicas de Candeia - com a informalidade típica de uma roda de samba - e inclui o samba-enredo Legados de D. João VI, com o qual a Portela se sagrou vencedora do Carnaval de 1957. Apenas dois sambas não são da lavra do compositor. Um deles, O Sonho Não Acabou, o tributo prestado ao mestre pelo fiel discípulo Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), abre e pontua o espetáculo. O outro, Silêncio de Bamba (Wilson Moreira e Nei Lopes), ilustra o sentimento de tristeza que tomou conta da comunidade do samba quando Candeia morreu, às vésperas do lançamento de seu álbum Axé (uma das obras-primas do samba).
O elemento destoante do musical é o caráter panfletário que o texto assume em sua parte final. Dramaturgo estreante, Eduardo Rieche oferece consistente perfil de Candeia ao amarrar no texto os momentos mais significativos da trajetória do compositor, mas poderia ter apresentado alguns ideais do artista de forma diluída na narrativa, evitando o monológo em que Jorge Maya reproduz falas literais de Candeia, algumas extraídas do documentário Partido Alto, curta-metragem dirigido por Leon Hirszman (1937 - 1987). No início da narrativa, o autor também opõe sambistas e bossa-novistas com falas que soam até artificiais na boca de personagens populares, pois esboçam uma rivalidade que não chegou a se configurar de fato. Contudo, são pequenos detalhes de musical envolvente e necessário em que pulsa forte a Arte popular e imortal de Candeia, o negro de sangue quente e de idéias nobres.
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Um dos pilares do samba carioca, Antonio Candeia Filho (1935 - 1978) foi duro na queda. Homem de cabeça e pensamentos fortes, o autor de Pintura sem Arte volta e meia carregou nas tintas para defender seus ideais em favor da preservação das tradições do samba e da raça negra. Seu sangue quente voltou a pulsar em cena no Teatro III do Centro Cultural do Banco do Brasil, onde fica em cartaz até 30 de novembro de 2008 o gracioso musical É Samba na Veia, É Candeia, solitária homenagem ao compositor no 30º aniversário de sua morte. Bem distante do modelo de musical exportado pela Broadway, o espetáculo tem sua força justamente na brasilidade da encenação descontraída do diretor André Paes Leme. O público é ambientado no quintal da casa de Candeia - com direito a uma pinga servida na entrada pelos atores - e, como se estivesse no clima descontraído de um pagode, é convidado a entrar no mundo de Candeia. Na música e na alma de Homem de princípios sólidos que dizia o pensava, nadando contra correntes.
Mito da resistência cultural afro-brasileira, como é apresentado no programa da peça, Candeia é encarnado nos palcos pelo ator Jorge Maya, que convence tanto nas cenas em que é revelada a face mais arrogante do sambista - quando no exercício de seu ofício de policial civil - como nos momentos em que Candeia (quase) se deixa abater pela fatalidade de ter ficado preso a uma cadeira de rodas por conta de uma discussão no trânsito. A cena em que Candeia, entre lágrimas, amarga sua sina é pungente e confirma o talento de Maya, solista de temas como Preciso me Encontrar. Contudo, todo o elenco tem desempenho uniforme e parece estar em total sintonia com o universo da personagem enfocada no texto de Eduardo Rieche. É justo destacar a vivacidade de Édio Nunes, que se reveza nos papéis de Casquinha, Argemiro Patrocínio e Manoel, valorizando as cenas de maior comicidade. Assim como Érika Ferreira, que também extrai humor das cenas de Firmina, a vizinha atribulada de Leonilda (Patrícia Costa, à vontade num papel que oscila entre o cômico e o dramático), a mulher de Candeia, seu esteio na saúde e na doença.
Ao sair de cena em 16 de novembro de 1978, Candeia deixou cerca de 110 composições. Com partidos do alto quilate de Peixeiro Granfino e A Flor e o Samba, o roteiro do musical enfileira 27 músicas de Candeia - com a informalidade típica de uma roda de samba - e inclui o samba-enredo Legados de D. João VI, com o qual a Portela se sagrou vencedora do Carnaval de 1957. Apenas dois sambas não são da lavra do compositor. Um deles, O Sonho Não Acabou, o tributo prestado ao mestre pelo fiel discípulo Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), abre e pontua o espetáculo. O outro, Silêncio de Bamba (Wilson Moreira e Nei Lopes), ilustra o sentimento de tristeza que tomou conta da comunidade do samba quando Candeia morreu, às vésperas do lançamento de seu álbum Axé (uma das obras-primas do samba).
O elemento destoante do musical é o caráter panfletário que o texto assume em sua parte final. Dramaturgo estreante, Eduardo Rieche oferece consistente perfil de Candeia ao amarrar no texto os momentos mais significativos da trajetória do compositor, mas poderia ter apresentado alguns ideais do artista de forma diluída na narrativa, evitando o monológo em que Jorge Maya reproduz falas literais de Candeia, algumas extraídas do documentário Partido Alto, curta-metragem dirigido por Leon Hirszman (1937 - 1987). No início da narrativa, o autor também opõe sambistas e bossa-novistas com falas que soam até artificiais na boca de personagens populares, pois esboçam uma rivalidade que não chegou a se configurar de fato. Contudo, são pequenos detalhes de musical envolvente e necessário em que pulsa forte a Arte popular e imortal de Candeia, o negro de sangue quente e de idéias nobres.
Seria importantissimo que este espetaculo rodasse o pais,pois Candeia além de ser um mestre do samba,sabia muito da cultura negra,e isto é bom difundir.
Concordo plenamente!
Esse espetáculo merece ser visto por tds!
Abç
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