4 de novembro de 2008

Bio festeja ginga do canto de Germano Mathias

Resenha de Livro
Título: SambExplícito
As Vidas Desvairadas
de Germano Mathias
Autor: Caio Silveira
Ramos
Editora: A Girafa
Cotação: * * * 1/2

A história oficial da música brasileira não destina lugar de honra para Germano Mathias, sambista paulista que ganhou projeção nos anos 50 e 60 com seu canto sincopado e malandro. Daí a importância da edição de sua biografia, assinada por Caio Silveira Ramos. SambExplícito é trabalho de fôlego que joga luz sobre um artista esquecido por públicos e gravadoras. Com embasado trabalho de pesquisa, Ramos - compositor e advogado, não necessariamente nessa ordem - reconstitui os passos de Mathias com texto cheio de ginga e gírias que subverte o formato tradicional das biografias. Fiel ao estilo do samba sincopado, o autor criou narrativa cheio de quebras no ritmo não linear. Às vezes, essas síncopes são absolutamente necessárias - como no capítulo que historia a vida de Caco Velho (1919 - 1991), compositor gaúcho cuja biografia musical se entrelaça com a de Mathias e ajuda a entender o universo deste intérprete singular, parceiro de Sereno (compositor também merecedor de uma síncope necessária) no sucesso Guarde a Sandália Dela, lançado nos anos 50. Em outras vezes, os apartes acabam atrasando o ritmo da história. Seja como for, a contribuição de SambExplícito para a bibliografia musical brasileira é inestimável, pois, no que diz respeito às informações objetivas, o livro parece totalmente confiável. Sem falar que o biógrafo historia a discografia de Mathias com senso crítico. Da mesma forma que exalta LPs como Em Continência ao Samba (RGE, 1958) - plataforma perfeita para o artista exibir seu canto sincopado - o autor espezinha álbuns equivocados da fase crespuscular de Mathias, caso de O Catedrático do Samba (CID, 1973), disco no qual a gravadora CID tentou inserir o intérprete no estilo do sambão-jóia que começava a dar sinais de vida no mercado fonográfico por conta da aparição de Benito Di Paula. Contudo, equívoco por equívoco, o autor mostra que nada foi pior do que a Antologia do Samba-Choro, o LP que Gilberto Gil dividiu com Mathias em 1978 no encerramento de seu contrato com a gravadora Philips. No caso, o equívoco começa já no título, pois Mathias nunca cantou samba-choro. Sem falar que, a rigor, apenas Gil gravou para o LP. A parte de Mathias foi montada com fonogramas de um disco de 10 polegadas lançado em 1957 com o título de Germano Mathias, o Sambista Diferente. Enfim, entre síncopes necessárias e desnecessárias, Caio Silveira Ramos cumpre com louvor o objetivo de iluminar a obra de cantor que merece receber as flores em (desvairada) vida.

3 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

A história oficial da música brasileira não destina lugar de honra para Germano Mathias, sambista paulista que ganhou projeção nos anos 50 e 60 com seu canto sincopado e malandro. Daí a importância da edição de sua biografia, assinada por Caio Silveira Ramos. SambExplícito é trabalho de fôlego que joga luz sobre um artista esquecido por públicos e gravadoras. Com embasado trabalho de pesquisa, Ramos - compositor e advogado, não necessariamente nessa ordem - reconstitui os passos de Mathias com texto cheio de ginga e gírias que subverte o formato tradicional das biografias. Fiel ao estilo do samba sincopado, o autor criou narrativa cheio de quebras no ritmo não linear. Às vezes, essas síncopes são absolutamente necessárias - como no capítulo que historia a vida de Caco Velho (1919 - 1991), compositor gaúcho cuja biografia musical se entrelaça com a de Mathias e ajuda a entender o universo deste intérprete singular, parceiro de Sereno (compositor também merecedor de uma síncope necessária) no sucesso Guarde a Sandália Dela, lançado nos anos 50. Em outras vezes, os apartes acabam atrasando o ritmo da história. Seja como for, a contribuição de SambExplícito para a bibliografia musical brasileira é inestimável, pois, no que diz respeito às informações objetivas, o livro parece totalmente confiável. Sem falar que o biógrafo historia a discografia de Mathias com senso crítico. Da mesma forma que exalta LPs como Em Continência ao Samba (RGE, 1958) - plataforma perfeita para o artista exibir seu canto sincopado - o autor espezinha álbuns equivocados da fase crespuscular de Mathias, caso de O Catedrático do Samba (CID, 1973), disco no qual a gravadora CID tentou inserir o intérprete no estilo do sambão-jóia que começava a dar sinais de vida no mercado fonográfico por conta da aparição de Benito Di Paula. Contudo, equívoco por equívoco, o autor mostra que nada foi pior do que a Antologia do Samba-Choro, o LP que Gilberto Gil dividiu com Mathias em 1978 no encerramento de seu contrato com a gravadora Philips. No caso, o equívoco começa já no título, pois Mathias nunca cantou samba-choro. Sem falar que, a rigor, apenas Gil gravou para o LP. A parte de Mathias foi montada com fonogramas de um disco de 10 polegadas lançado em 1957 com o título de Germano Mathias, o Sambista Diferente. Enfim, entre síncopes necessárias e desnecessárias, Caio Silveira Ramos cumpre com louvor o objetivo de iluminar a obra de cantor que merece receber as flores em (desvairada) vida.

4 de novembro de 2008 às 18:32  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, um errinho: é "espezinha", não "espizinha".

Fora isso, concordo contigo. Germano é uma parte do samba paulista que ainda não recebeu a justiça merecida.

Felipe dos Santos Souza

4 de novembro de 2008 às 18:33  
Anonymous Anônimo said...

Germano Mathias canta muito bem. Sincopado é com ele mesmo.
E é bom de show,canta,dança,faz instrumento musical com a boca,além de ser muito engraçado.
Mas quantos brasileiros sabem quem é Germano Mathias?

4 de novembro de 2008 às 23:19  

Postar um comentário

<< Home