Filme revolve emoções de noite musical de 1967
Resenha de Documentário
Título: Uma Noite em 67
Direção: Renato Terra e Ricardo Calil
Em cartaz no É Tudo Verdade 2010
- 15º Festival Internacional de Documentários
Cotação: * * * *
Sessões:
08 de abril de 2010, 21h - Espaço Unibanco de Cinema (SP)
09 de abril de 2010, 21h - Espaço Unibanco de Cinema (SP)
10 de abril de 2010, 15h - Espaço Unibanco de Cinema (SP)
15 de abril de 2010, 19h - Unibanco Artplex (RJ)
Na noite de 21 de outubro de 1967, o Teatro Paramount, em São Paulo (SP), foi palco de disputa emblemática na história da música brasileira. Naquela noite, aconteceu a final do III Festival da Música Popular Brasileira, produzido e exibido pela TV Record. Defenderam músicas nessa mítica final nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Elis Regina (1945 - 1982), Gilberto Gil, Nana Caymmi, Roberto Carlos e Sérgio Ricardo. Time que - com exceções de Elis e Roberto - entraram em campo para cantar músicas de sua própria autoria. Os ânimos, nos bastidores e na platéia, estavam exaltados. Até porque o que estava em jogo não eram somente as primeiras colocações, mas as ideias musicais então inovadoras que Caetano e Gil defendiam, espalhando a semente tropicalista que iria germinar com força naquele ano e em 1968. De um lado, o bloco mais conservador, refratário à inclusão da guitarra elétrica na MPB. De outro, a turma mais antenada - a facção jovem - que absorvia as novidades estéticas da cultura pop (leia-se Beatles) de forma antropofágica. Cenário de disputas ideológicas, a final do III Festival da Música Popular Brasileira é revivida no documentário Uma Noite em 67, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil. Ainda sem data marcada para entrar em circuito convencional nos cinemas brasileiros, o filme vai poder ser visto em três sessões da 15º edição do festival de documentários É Tudo Verdade, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP) de 8 a 18 de abril de 2010. A abertura do festival acontece nesta quinta-feira, 8 de abril, em São Paulo (SP), justamente com sessão (para convidados) de Uma Noite em 67.
A partir de entrevistas inéditas com os principais compositores envolvidos na disputa musical e ideológica, os diretores revolvem emoções, medos e inovações que deram caráter histórico àquela noite de 1967. Até o arisco Roberto Carlos - que defendeu samba bem tradicional, Maria, Carnaval e Cinzas (Luiz Carlos Paraná), embora estivesse associado à turma jovem por conta do som das tardes dominicais que ecoava no Brasil desde 1965 - fala no filme, contando que não pôde escolher a música que ia cantar, pois já recebeu a incubência de interpretar o samba que, afinal, lhe daria a 5ª colocação na intensa final do III Festival de Música Popular.
Todos os depoimentos são corroborados por imagens da noite, colhidas nos arquivos da TV Record. Além de mostrar entrevistas feitas com os artistas pelos jornalistas que cobriam o evento, o filme rebobina as apresentações das músicas que ficaram nos cinco primeiros lugares. E mostra também a lendária defesa de Beto Bom de Bola, quando o autor e intérprete da música, Sérgio Ricardo, perde a paciência com as vaias do público e arremessa seu violão contra a participativa plateia, num gesto intempestivo que renderia manchetes, custaria a desclassificação do artista e contribuiria para alimentar o mito da noite. "Não me arrependo", garante Sérgio Ricardo, lembrando que a plateia dos festivais se comportava como uma personagem, já previamente imbuída de vaiar ou aplaudir os artistas. "Era um espetáculo", admite Paulo Machado de Carvalho, diretor da TV Record na época do festival.
Dentro do espetáculo armado naquela noite de 1967, coube ao diretor e ao público delimitar bem os papéis de quem era jovem e de quem era conservador. Em depoimento para o filme, Chico Buarque - que subiu ao palco com o grupo MPB-4 para cantar sua politizada Roda Viva, um ano depois de ter seduzido o Brasil com a simplicidade de A Banda - recorda que se sentiu "sozinho", como representante de música e atitude conservadoras. A solidão de Chico é confirmada por Caetano Veloso, em depoimento que legitima o do colega-rival da noite. Caetano admite que o uso da guitarra elétrica no arranjo de Alegria, Alegria - a música que defendeu com o conjunto argentino Beat Boys - era também uma atitude política. Posição, diga-se, perfeitamente cabível dentro do contexto efervescente daquele ano. Não por acaso, no único momento em que se distancia da final do festival, o filme mostra imagem (rara) da inacreditável passeata contra a guitarra elétrica que aconteceu em 17 de julho de 1967 - três meses antes da noite retratada no documentário - e que agregou nomes como Elis Regina e Gilberto Gil. Sereno, Gil conta no filme que foi à passeata apenas por apoio ideológico a Elis e que não se identificava com o protesto (o que era verdade, pois o cantor logo depois recrutou Os Mutantes para defender com ele no festival a cinematográfica Domingo no Parque). Elis - vale lembrar - sentia seu reinado ameaçado pela explosão da Jovem Guarda. E não estava sozinha, pois, embora o filme não toque na questão ao entrevistar Roberto Carlos, quase toda a MPB fechou os ouvidos quando o então Rei da juventude mandou tudo para o inferno em 1965. Exceto Caetano...
A patrulha era grande. A ponto de Gil ter tido um ataque de pânico horas antes de defender Domingo no Parque. Prostrado na cama do hotel Danúbio, o cantor precisou ser reanimado com um banho dado pelo diretor da Record. No fim, os jovens Gil e Caetano se consagraram em segundo e em quarto lugar, respectivamente. O conservador Chico ficou em terceiro. E a vitória coube a Edu Lobo com sua Ponteio, defendida pelo autor com Marília Medalha. Lobo também enfatiza a divisão ideológica que havia na MPB em 1967 e lembra em seu depoimento a pressão do público em cima dos artistas em que ele - o público - apostava. Inclusive dinheiro. "A gente era um cavalo", conceitua Lobo, que, para fugir do assédio provocado pela vitória de Ponteio, partiu para a França para fazer longa temporada num cassino com Nara Leão (1942 - 1989), que, embora não seja vista no filme, também participou da noite ao defender A Estrada e o Violeiro em dueto com o autor da música, Sidney Miller (1945 - 1980). Enfim, a MPB nunca mais foi a mesma depois daquela noite de 1967. O Tropicalismo ganhou terreno e implodiu (pré)conceitos, Chico Buarque se impôs como (grande e politizado) compositor, Edu Lobo seguiu fiel às (suas) tradições e Roberto Carlos aderiu ao soul antes de ser entronizado Rei do público adulto nos anos 70. Mas tudo poderia ter sido diferente se não fosse aquela mítica noite de 21 de outubro de 1967 que, entre vaias e aplausos, consolidou revoluções estéticas e provocou um debate revivido pelo (ótimo) filme de Renato Terra e Ricardo Calil.
Título: Uma Noite em 67
Direção: Renato Terra e Ricardo Calil
Em cartaz no É Tudo Verdade 2010
- 15º Festival Internacional de Documentários
Cotação: * * * *
Sessões:
08 de abril de 2010, 21h - Espaço Unibanco de Cinema (SP)
09 de abril de 2010, 21h - Espaço Unibanco de Cinema (SP)
10 de abril de 2010, 15h - Espaço Unibanco de Cinema (SP)
15 de abril de 2010, 19h - Unibanco Artplex (RJ)
Na noite de 21 de outubro de 1967, o Teatro Paramount, em São Paulo (SP), foi palco de disputa emblemática na história da música brasileira. Naquela noite, aconteceu a final do III Festival da Música Popular Brasileira, produzido e exibido pela TV Record. Defenderam músicas nessa mítica final nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Elis Regina (1945 - 1982), Gilberto Gil, Nana Caymmi, Roberto Carlos e Sérgio Ricardo. Time que - com exceções de Elis e Roberto - entraram em campo para cantar músicas de sua própria autoria. Os ânimos, nos bastidores e na platéia, estavam exaltados. Até porque o que estava em jogo não eram somente as primeiras colocações, mas as ideias musicais então inovadoras que Caetano e Gil defendiam, espalhando a semente tropicalista que iria germinar com força naquele ano e em 1968. De um lado, o bloco mais conservador, refratário à inclusão da guitarra elétrica na MPB. De outro, a turma mais antenada - a facção jovem - que absorvia as novidades estéticas da cultura pop (leia-se Beatles) de forma antropofágica. Cenário de disputas ideológicas, a final do III Festival da Música Popular Brasileira é revivida no documentário Uma Noite em 67, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil. Ainda sem data marcada para entrar em circuito convencional nos cinemas brasileiros, o filme vai poder ser visto em três sessões da 15º edição do festival de documentários É Tudo Verdade, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP) de 8 a 18 de abril de 2010. A abertura do festival acontece nesta quinta-feira, 8 de abril, em São Paulo (SP), justamente com sessão (para convidados) de Uma Noite em 67.
A partir de entrevistas inéditas com os principais compositores envolvidos na disputa musical e ideológica, os diretores revolvem emoções, medos e inovações que deram caráter histórico àquela noite de 1967. Até o arisco Roberto Carlos - que defendeu samba bem tradicional, Maria, Carnaval e Cinzas (Luiz Carlos Paraná), embora estivesse associado à turma jovem por conta do som das tardes dominicais que ecoava no Brasil desde 1965 - fala no filme, contando que não pôde escolher a música que ia cantar, pois já recebeu a incubência de interpretar o samba que, afinal, lhe daria a 5ª colocação na intensa final do III Festival de Música Popular.
Todos os depoimentos são corroborados por imagens da noite, colhidas nos arquivos da TV Record. Além de mostrar entrevistas feitas com os artistas pelos jornalistas que cobriam o evento, o filme rebobina as apresentações das músicas que ficaram nos cinco primeiros lugares. E mostra também a lendária defesa de Beto Bom de Bola, quando o autor e intérprete da música, Sérgio Ricardo, perde a paciência com as vaias do público e arremessa seu violão contra a participativa plateia, num gesto intempestivo que renderia manchetes, custaria a desclassificação do artista e contribuiria para alimentar o mito da noite. "Não me arrependo", garante Sérgio Ricardo, lembrando que a plateia dos festivais se comportava como uma personagem, já previamente imbuída de vaiar ou aplaudir os artistas. "Era um espetáculo", admite Paulo Machado de Carvalho, diretor da TV Record na época do festival.
Dentro do espetáculo armado naquela noite de 1967, coube ao diretor e ao público delimitar bem os papéis de quem era jovem e de quem era conservador. Em depoimento para o filme, Chico Buarque - que subiu ao palco com o grupo MPB-4 para cantar sua politizada Roda Viva, um ano depois de ter seduzido o Brasil com a simplicidade de A Banda - recorda que se sentiu "sozinho", como representante de música e atitude conservadoras. A solidão de Chico é confirmada por Caetano Veloso, em depoimento que legitima o do colega-rival da noite. Caetano admite que o uso da guitarra elétrica no arranjo de Alegria, Alegria - a música que defendeu com o conjunto argentino Beat Boys - era também uma atitude política. Posição, diga-se, perfeitamente cabível dentro do contexto efervescente daquele ano. Não por acaso, no único momento em que se distancia da final do festival, o filme mostra imagem (rara) da inacreditável passeata contra a guitarra elétrica que aconteceu em 17 de julho de 1967 - três meses antes da noite retratada no documentário - e que agregou nomes como Elis Regina e Gilberto Gil. Sereno, Gil conta no filme que foi à passeata apenas por apoio ideológico a Elis e que não se identificava com o protesto (o que era verdade, pois o cantor logo depois recrutou Os Mutantes para defender com ele no festival a cinematográfica Domingo no Parque). Elis - vale lembrar - sentia seu reinado ameaçado pela explosão da Jovem Guarda. E não estava sozinha, pois, embora o filme não toque na questão ao entrevistar Roberto Carlos, quase toda a MPB fechou os ouvidos quando o então Rei da juventude mandou tudo para o inferno em 1965. Exceto Caetano...
A patrulha era grande. A ponto de Gil ter tido um ataque de pânico horas antes de defender Domingo no Parque. Prostrado na cama do hotel Danúbio, o cantor precisou ser reanimado com um banho dado pelo diretor da Record. No fim, os jovens Gil e Caetano se consagraram em segundo e em quarto lugar, respectivamente. O conservador Chico ficou em terceiro. E a vitória coube a Edu Lobo com sua Ponteio, defendida pelo autor com Marília Medalha. Lobo também enfatiza a divisão ideológica que havia na MPB em 1967 e lembra em seu depoimento a pressão do público em cima dos artistas em que ele - o público - apostava. Inclusive dinheiro. "A gente era um cavalo", conceitua Lobo, que, para fugir do assédio provocado pela vitória de Ponteio, partiu para a França para fazer longa temporada num cassino com Nara Leão (1942 - 1989), que, embora não seja vista no filme, também participou da noite ao defender A Estrada e o Violeiro em dueto com o autor da música, Sidney Miller (1945 - 1980). Enfim, a MPB nunca mais foi a mesma depois daquela noite de 1967. O Tropicalismo ganhou terreno e implodiu (pré)conceitos, Chico Buarque se impôs como (grande e politizado) compositor, Edu Lobo seguiu fiel às (suas) tradições e Roberto Carlos aderiu ao soul antes de ser entronizado Rei do público adulto nos anos 70. Mas tudo poderia ter sido diferente se não fosse aquela mítica noite de 21 de outubro de 1967 que, entre vaias e aplausos, consolidou revoluções estéticas e provocou um debate revivido pelo (ótimo) filme de Renato Terra e Ricardo Calil.
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Na noite de 21 de outubro de 1967, o Teatro Paramount, em São Paulo (SP), foi palco de disputa emblemática na história da música brasileira. Naquela noite, aconteceu a final do III Festival da Música Popular Brasileira, produzido e exibido pela TV Record. Defenderam músicas nessa mítica final nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Elis Regina (1945 - 1982), Gilberto Gil, Nana Caymmi, Roberto Carlos e Sérgio Ricardo. Time que - com exceções de Elis e Roberto - entraram em campo para cantar músicas de sua própria autoria. Os ânimos, nos bastidores e na platéia, estavam exaltados. Até porque o que estava em jogo não eram somente as primeiras colocações, mas as ideias musicais então inovadoras que Caetano e Gil defendiam, espalhando a semente tropicalista que iria germinar com força naquele ano e em 1968. De um lado, o bloco mais conservador, refratário à inclusão da guitarra elétrica na MPB. De outro, a turma mais antenada - a facção jovem - que absorvia as novidades estéticas da cultura pop (leia-se Beatles) de forma antropofágica. Cenário de disputas ideológicas, a final do III Festival da Música Popular Brasileira é revivida no documentário Uma Noite em 67, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil. Ainda sem data marcada para entrar em circuito convencional nos cinemas brasileiros, o filme vai poder ser visto em três sessões da 15º edição do festival de documentários É Tudo Verdade, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP) de 8 a 18 de abril de 2010. A abertura do festival acontece nesta quinta-feira, 8 de abril, em São Paulo (SP), justamente com sessão (para convidados) de Uma Noite em 67.
A partir de entrevistas inéditas com os principais compositores envolvidos na disputa musical e ideológica, os diretores revolvem emoções, medos e inovações que deram caráter histórico àquela noite de 1967. Até o arisco Roberto Carlos - que defendeu samba bem tradicional, Maria, Carnaval e Cinzas (Luiz Carlos Paraná), embora estivesse associado à turma jovem por conta do som das tardes dominicais que ecoava no Brasil desde 1965 - fala no filme, contando que não pôde escolher a música que ia cantar, pois já recebeu a incubência de interpretar o samba que, afinal, lhe daria a 5ª colocação na intensa final do III Festival de Música Popular.
Todos os depoimentos são corroborados por imagens da noite, colhidas nos arquivos da TV Record. Além de mostrar entrevistas feitas com os artistas pelos jornalistas que cobriam o evento, o filme rebobina as apresentações das músicas que ficaram nos primeiros lugares. E mostra também a lendária defesa de Beto Bom de Bola, quando o autor e intérprete da música, Sérgio Ricardo, perde a paciência com as vaias do público e arremessa seu violão contra a participativa plateia, num gesto intempestivo que renderia manchetes, custaria a desclassificação do artista e contribuiria para alimentar o mito da noite. "Não me arrependo", garante Sérgio Ricardo, lembrando que a plateia dos festivais se comportava como uma personagem, já previamente imbuída de vaiar ou aplaudir os artistas. "Era um espetáculo", admite Paulo Machado de Carvalho, diretor da TV Record na época do festival.
Dentro do espetáculo armado naquela noite de 1967, coube ao diretor e ao público delimitar bem os papéis de quem era jovem e de quem era conservador. Em depoimento para o filme, Chico Buarque - que subiu ao palco com o grupo MPB-4 para cantar sua politizada Roda Viva, um ano depois de ter seduzido o Brasil com a simplicidade de A Banda - recorda que se sentiu "sozinho", como representante de música e atitude conservadoras. A solidão de Chico é confirmada por Caetano Veloso, em depoimento que legitima o do colega-rival da noite. Caetano admite que o uso da guitarra elétrica no arranjo de Alegria, Alegria - a música que defendeu com o conjunto argentino Beat Boys - era também uma atitude política. Posição, diga-se, perfeitamente cabível dentro do contexto efervescente daquele ano. Não por acaso, no único momento em que se distancia da final do festival, o filme mostra imagem (rara) da inacreditável passeata contra a guitarra elétrica que aconteceu em 17 de julho de 1967 - três meses antes da noite retratada no documentário - e que agregou nomes como Elis Regina e Gilberto Gil. Sereno, Gil conta no filme que foi à passeata apenas por apoio ideológico a Elis e que não se identificava com o protesto (o que era verdade, pois o cantor logo depois recrutou Os Mutantes para defender com ele no festival a cinematográfica Domingo no Parque). Elis - vale lembrar - sentia seu reinado ameaçado pela explosão da Jovem Guarda. E não estava sozinha, pois, embora o filme não toque na questão ao entrevistar Roberto Carlos, quase toda a MPB fechou os ouvidos quando o então Rei da juventude mandou tudo para o inferno em 1965. Exceto Caetano...
A patrulha era grande. A ponto de Gil ter tido um ataque de pânico horas antes de defender Domingo no Parque. Prostrado na cama do hotel Danúbio, o cantor precisou ser reanimado com um banho dado pelo diretor da Record. No fim, os jovens Gil e Caetano se consagraram em segundo e em quarto lugar, respectivamente. O conservador Chico ficou em terceiro. E a vitória coube a Edu Lobo com sua Ponteio, defendida pelo autor com Marília Medalha. Lobo também enfatiza a divisão ideológica que havia na MPB em 1967 e lembra em seu depoimento a pressão do público em cima dos artistas em que ele - o público - apostava. Inclusive dinheiro. "A gente era um cavalo", conceitua Lobo, que, para fugir do assédio provocado pela vitória de Ponteio, partiu para a França para fazer longa temporada num cassino com Nara Leão (1942 - 1989), que, embora não seja vista no filme, também participou da noite ao defender A Estrada e o Violeiro em dueto com o autor da música, Sidney Miller (1945 - 1980). Enfim, a MPB nunca mais foi a mesma depois daquela noite de 1967. O Tropicalismo ganhou terreno e implodiu (pré)conceitos, Chico Buarque se impôs como (grande e politizado) compositor, Edu Lobo seguiu fiel às (suas) tradições e Roberto Carlos aderiu ao soul antes de ser entronizado Rei do público adulto nos anos 70. Mas tudo poderia ter sido diferente se não fosse aquela mítica noite de 21 de outubro de 1967 que, entre vaias e aplausos, consolidou revoluções estéticas e provocou um debate revivido pelo (ótimo) filme de Renato Terra e Ricardo Calil.
Não sei se o filme abriu espaço para o comentário daqueles que foram platéia naquela época. Sempre tive curiosidade de saber um pouco mais daquela atmosfera a partir desse filtro. De qualquer forma, é imperdível.
Fabio de Sampa.
Elis-> Dori-> O Cantador-> Prêmio de Melhor Intérprete
Caro Mauro... imagine hoje em dia um Festival promovido pela Record; só ia dar música gospel.
Bons tempos aqueles... E parabéns pelo texto.
"apenas por apoio ideológico a Elis"?Não entendi,Mauro!Gil precisa urgentemente escrever sua "Verdade Tropical".Caetano fica posando de politicamente correto porque a gente ficou conhecendo bem apenas a versão dele sobre aqueles anos e principalmentre do Tropicalismo.Acho que Gil ja tinha uns trabalhos e compromissos profissionais com a Elis ao contrário de Caetano.Vejo mais inocência e patriotismo em reação a um momento político ditatorial e pesado e de óbvia participação ostensiva dos governantes da maior nação capitalistado mundo,do que qualquer intenção de Elis e seus companheiros ao receio de alguma perca de poder no ambiente musical da época.Acreditavam que estarmos fortes com nossa cultura era uma forma de contestar o imperialismo.Essa coisa de atribuição a um caráter "fascista" pelo Caetano em referência aquela marcha de seus colegas é muito pesada.Tão pesada como achar que ele do alto de sua capacidade explicita de artista genial que é,sofra de profundo sentimento de insegurança e complexo de inferioridade em relação a aqueles artistas que condenou,na verdade todos músicos natos,virtuosos e geniais.Coisa que o próprio Caetano nunca se considerou.Abraços,obrigado pelo belo texto e as possibilidade de reflexão sobre o tema.
Nao vi esse documentario ainda, mas vi alguns clipes no You Tube e achei curioso ao ver a cara dos jurados qdo a Elis iniciou "O Cantador": um olha para o outro com cara de pasmados, provavelmente ao ouvir tamanha voz!
Historico o lancamento desse filme.
o documentário é uma delícia !ah...quantas saudades!!!eram noites incríveis na tv,ainda em p/b,mas os festivais nos faziam mais felizes do que os novelões de hoje revi pessoas ,como chico de assis e outras que frequentavam a casa de praia em rio das ostras do amigo a.reis.
acho que deveriam fazer mais docs do outros festivais o acervo é muito rico e as novas gerações precisam conhecer a criatividade dos anos sessenta parabens !!!!!!
Algumas pessoas negam que havia rivalidade entre a jovem guarda(leia-se Roberto carlos)e a MPB,é claro que havia.belo texto.
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