28 de outubro de 2008

Alaíde realça luzes e sombras da obra de Milton

Resenha de CD
Título: Alaíde Costa
Canta Milton
- Amor Amigo
Artista: Alaíde Costa
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *

"O tempo para Alaíde não passa", espanta-se Milton Nascimento, em frase estampada no encarte deste CD que a cantora, em boa forma vocal para seus 73 anos, dedica ao cancioneiro do amigo que a acolheu no Clube da Esquina, em 1972. Alaíde foi a única presença feminina admitida no célebre álbum duplo que estabeleceu os cânones musicais do movimento mineiro. Em 1988, a voz divina de Milton voltaria a encontrar a de Alaíde em Bela, Bela, faixa de um dos melhores álbuns da artista, Amiga de Verdade. Vinte anos depois, o reencontro se dá pleno neste songbook que realça luzes e sombras da obra de um compositor que conseguiu se iluminar na escuridão imposta pelo regime militar. A seleção do repertório, a propósito, foca nos anos 60 e 70 - período áureo da música de Milton. Com justa exceção aberta para River Phoenix (Carta a um Jovem Ator), belo tema confessional embebido em lirismo e lançado pelo autor em 1988 no disco Miltons. Aberto e fechado com citações de duas músicas pouco badaladas na obra do cantor (Bodas e Amor Amigo, respectivamente), o álbum cresce quando aposta em arranjos minimalistas. O criado pela própria Alaíde para Travessia - urdido somente com o violoncelo tocado e eventualmente percutido por Jonas Moncaio - é o melhor e consegue dar nova nuance à música mais batida do cancioneiro de Milton. O mesmo cello de Moncaio cita as linhas clássicas do arranjo de Cais, emendada com Um Gosto de Sol. Também na linha menos é mais, a voz de Alaíde revive os devaneios épicos de E a Gente Sonhando - o tema mais obscuro do repertório - emoldurada apenas pelos acordes do acordeom de Iuri Savagnini. Na faixa, a cantora mostra um vigor vocal que soa diluído em alguns registros - como o de Milagre dos Peixes, por exemplo. Já o violão de Ronaldo Rayol, mesmo sem renovar Morro Velho, se mostra acompanhante apropriado na incursão de Alaíde por esta grande música de cunho social da fase inicial de Milton que já anunciava em 1967 a revolução particular feita por sua obra na música brasileira: as harmonias ricas que se embrenhavam pelas matas das Geraes em tom absolutamente inovador. Mesmo construída sob os duros rigores de um contexto político específico, o cancioneiro de Milton Nascimento continua forte, atemporal e moderno. E Alaíde enriquece sua discografia ao celebrar a obra e a amizade Milton Nascimento neste sincero CD idealizado pelo produtor Thiago Marques Luiz. Até porque Alaíde Costa sempre foi, desde 1972, uma das vozes femininas do cantor.

24 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

"O tempo para Alaíde não passa", espanta-se Milton Nascimento, em frase estampada no encarte deste CD que a cantora, em boa forma vocal para seus 73 anos, dedica ao cancioneiro do amigo que a acolheu no Clube da Esquina, em 1972. Alaíde foi a única presença feminina admitida no célebre álbum duplo que estabeleceu os cânones musicais do movimento mineiro. Em 1988, a voz divina de Milton voltaria a encontrar a de Alaíde em Bela, Bela, faixa de um dos melhores álbuns da artista, Amiga de Verdade. Vinte anos depois, o reencontro se dá pleno neste songbook que realça luzes e sombras da obra de um compositor que conseguiu se iluminar na escuridão imposta pelo regime militar. A seleção do repertório, a propósito, foca nos anos 60 e 70 - período áureo da música de Milton. Com justa exceção aberta para River Phoenix (Carta a um Jovem Autor), tema confessional embebido em lirismo e lançado pelo autor em 1998 no álbum Miltons. Aberto e fechado com citações de duas músicas pouco badaladas na obra do cantor (Bodas e Amor Amigo, respectivamente), o álbum cresce quando aposta em arranjos minimalistas. O criado pela própria Alaíde para Travessia - urdido somente com o violoncelo tocado e eventualmente percutido por Jonas Moncaio - é o melhor e consegue dar nova nuance à música mais batida do cancioneiro de Milton. O mesmo cello de Moncaio cita as linhas clássicas do arranjo de Cais, emendada com Um Gosto de Sol. Também na linha menos é mais, a voz de Alaíde revive os devaneios épicos de E a Gente Sonhando - o tema mais obscuro do repertório - emoldurada apenas pelos acordes do acordeom de Iuri Savagnini. Na faixa, a cantora mostra um vigor vocal que se dilui em alguns registros - como o de Milagre dos Peixes, por exemplo. Já o violão de Ronaldo Rayol, mesmo sem renovar Morro Velho, se mostra acompanhante apropriado na incursão de Alaíde por esta grande música de cunho social da fase inicial de Milton que já anunciava em 1967 a revolução particular feita por sua obra na música brasileira: as harmonias ricas que se embrenhavam pelas matas das Geraes em tom absolutamente inovador. Mesmo construída sob os rigores de um contexto político específico, o cancioneiro de Milton Nascimento continua forte, atemporal e moderno. E Alaíde enriquece sua discografia ao celebrar a obra e a amizade Milton Nascimento neste sincero CD idealizado pelo produtor Thiago Marques Luiz. Até porque Alaíde Costa sempre foi, desde 1972, uma das vozes femininas do cantor.

28 de outubro de 2008 às 09:38  
Anonymous Anônimo said...

O disco do ano ; não páro de ouvir !

28 de outubro de 2008 às 11:39  
Anonymous Anônimo said...

Alaide, Alaide, Alaide,vc está cada vez melhor,no disco e no palco.

28 de outubro de 2008 às 11:55  
Anonymous Anônimo said...

O disco "Miltons" é de 1988 - e não 1998.

28 de outubro de 2008 às 12:37  
Anonymous Anônimo said...

Nossa, Alaíde cantando TRAVESSIA com arranjo de voz e cello deve ser demais...

28 de outubro de 2008 às 13:54  
Anonymous Anônimo said...

Alaíde, Zezé Motta, Nana Caymi e Elis são as cantoras do Milton. Acho a Alaíde uma das coisas mais interessantes da Música Brsaileira, acho o CD tudo que o tempo me deixou fantástico, o que veio em seguida também e agora este! Me impressiona uma cantora com 73 anos com tanta energia, coragem e talento, enquanto outras cantoras mais jovens continuam desperdiçando a voz e patinando no vazio.

28 de outubro de 2008 às 14:12  
Anonymous Anônimo said...

Bodas tem uma bela gravação de Ney M em seu primeiro LP solo (não ia sair em CD?). Mas a melhor intérprete de MN ainda é Vanusa. Travessia é com ela. Linda.

28 de outubro de 2008 às 14:14  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, um errinho: na verdade, é "Carta a um jovem ator", não "autor".

Sobre o lançamento, Alaíde vai se mostrando cada vez mais classuda. Ótimo.

Felipe dos Santos Souza

28 de outubro de 2008 às 15:32  
Anonymous Anônimo said...

No LP Amigos Novos e Antigos Vanusa canta belamente Outubro, do Milton. Bem lembrado. Nos shows arrasava com Maria Maria.
Alaíde deve ter feito um disco elegante, dentro de suas possibilidades (excelente ouvido musical para uma voz - e emissão - um tanto deficiente). Mas com bossa.

28 de outubro de 2008 às 16:38  
Anonymous Anônimo said...

Alaidíssima não me surpreende,só faz endossar aquilo que ela sempre foi:UMA CANTORA ÚNICA.

28 de outubro de 2008 às 16:50  
Anonymous Anônimo said...

Não, não Travessia é com a Elis, não a primeira fim anos 60 nem a segunda em 74 mas a de 1977 no Cd Elis Vive ao vivo.Ali não tem pra ninguém!
Viva Alaide!

28 de outubro de 2008 às 19:33  
Blogger Fabio said...

Estive recentemente numa apresentação de Alaíde e Fátima Guedes e fiquei espantadíssimo com a performance excepcional de Alaíde, em canções difíceis e de ótimo gosto.
Esse cd produzido por Thiago Marques Luiz só confirma a excelência do trabalho de ambos. Viva!

28 de outubro de 2008 às 19:58  
Anonymous Anônimo said...

Tb amo a gravação de Elis de 77 para Travessia. As da Vanusa tb tem muita emoção e técnica. No show 25 anos, com direção do Possi, Bethânia canta o refrão desta música com muita verdade. Estou curioso para ouvir agora com Alaíde.

28 de outubro de 2008 às 20:34  
Anonymous Anônimo said...

Minha gente, pq vcs têm este péssimo hábito de ficar comparando artistas, leituras e etc? O que mais importa num artista é personalidade e cada um tem que cantar o que sente sem a pretensão de ser melhor que ninguém, apenas ter cara própria. Ouvi o disco de Alaide e o sentimento que ele acrescenta à obra incrível do Milton tem uma cara que só ela tem. Uma estilista da canção , como bem disse Herminio Bello de Carvalho em 95, no cd em duo com J Carlos Assis Brasil. Não adoro tudo, mas é um dos meus discos preferidos desta Diva, a nossa Billie Holiday.

28 de outubro de 2008 às 21:34  
Anonymous Anônimo said...

Alaíde está para Milton assim como:
Elis para Tom
Gal para Caetano
Bethânia para Gonzaguinha

Coisa fina !

28 de outubro de 2008 às 21:37  
Anonymous Anônimo said...

Não sabia que a Betha tinha cantado travessia.Alias, Bethania farà show em Paris em Fevereiro do ano que vem, numa super sala de concertos.Uma maravilha!

29 de outubro de 2008 às 06:57  
Anonymous Anônimo said...

Não estou conseguindo achar o cd nas lojas, êta ansiedade.

29 de outubro de 2008 às 11:11  
Anonymous Anônimo said...

De projetos assim que a música brasileira precisa. Dar vez a Alaíde Costa é uma atitude nobre. Parabéns Mauro, parabéns Thiago e parabéns Milton.

29 de outubro de 2008 às 12:58  
Anonymous Anônimo said...

alguem saberia me dizer onde está a gravação de traavessia com a vanusa? adoraria ouvir. merci.

29 de outubro de 2008 às 14:54  
Anonymous Anônimo said...

Não é comparar, releia os textos.Eu prefiro a gravação da Elis, um outro da vanusa e assim por diante. Como na vida as pessoas tem predileções diferentes assim acontece na mùsica.
Aqui pelos comentàrios ficou claro que todos temos a maior admiração e respeito pela Alaìde.Não poderia ser diferente.Mas ampliar a conversa faz bem.

29 de outubro de 2008 às 17:44  
Anonymous Anônimo said...

Travessia é uma música bela e conhecida por todos.Uma senhora de 73 anos a cantar.Eu de 31 anos a tocar com ela.Cheguei no estúdio e primeiro ela gravou a voz.Depois eu fui criando um arranjo que nada estava escrito apenas fui tocando,e como é belo o que sai natural e perfeito pois eu ouço,me calo,e faço soar respeitando essa voz que poderia ser minha vó.Vovó Alaíde Costa!praser de ver meu nome ali escrito por um critico de renome como o Mauro Ferreira.Parabéns a todos nós!

9 de novembro de 2008 às 04:49  
Anonymous Anônimo said...

Sou o Jonas Moncaio e obrigado por ter feito parte de uma música do miltom cantada pela alaíde costa.Só um detalhe:o arranjo é unico e exclusivo meu.Pois foi feito sentindo e naum estava escrito nada.Pensei e criei em cima da voz dela cantando.Parabéns por todos.Obrigado mauro ferreira por mencionar o valor do violoncelo.

9 de novembro de 2008 às 05:01  
Anonymous Anônimo said...

De fato, com diz Milton Nscimento no encarte do CD, "o tempo não passa para Alaíde." A Alaíde de sempre, com seu refinado repertório , cantando com a emoção que sempre imprimiu no seu canto, aliado a sua já conhecida técnica.
Um belo disco, de uma grande cantora , acertando em cheio na escolha do repertório. Mais um grande encontro da Alaíde com Milton Nascimento. Parabéns à todos envolvidos nesse projeto!

12 de novembro de 2008 às 23:18  
Anonymous Anônimo said...

Ô perda de tempo...

Independente da qualidade de quem quer que o interprete, Milton não é Chico, Caetano ou Gil.
Além de participar do "Clube dos Grandes Compositores das Esquinas deste País" é também UM BAITA INTÉRPRETE.
Suas músicas já dizem tudo em sua voz.
Até porque, caso não saibam ou não lembrem, a bela "Beatriz" de Edu Lobo e Chico Buarque" teve sua gravação definitiva na voz dele; é só para mostrar o grande cantor que TAMBÉM é... é iluminado.

15 de novembro de 2008 às 20:54  

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