24 de dezembro de 2008

Biquini retorna aos anos 80 sem apuro de 2001

Resenha de CD / DVD
Título: 80 Vol 02
- Ao Vivo Circo Voador
Artista: Biquini Cavadão
Gravadora: Som Livre
Cotação: * *

Em 2001, ao lançar o CD 80, o Biquini Cavadão abordou o repertório de bandas de sua geração, projetadas na década de ouro do pop nacional. Havia um apuro nessa abordagem e na própria seleção do repertório - com mais lados B das bandas do que propriamente hits - que impediu que o disco caísse na vala comum dos projetos de covers. Sete anos depois, o grupo carioca faz nova incursão pelo repertório dos anos 80, mas, em vez de voltar ao estúdio, gravou ao vivo CD e DVD em show no Circo Voador (RJ), casa emblemática para a geração pop da época. Desta vez, no entanto, o cuidado pareceu ter sido menor. Não tanto na parte visual - o diretor Roberto de Oliveira captou boas imagens que traduzem o tom caloroso da apresentação gravada em 20 de setembro de 2008 - mas, sobretudo, na seleção do repertório e dos convidados. Talvez porque a preocupação com o resultado comercial tenha sido (bem) maior. Parece ter havido a intenção de incluir hits mais óbvios e populares como Inútil (Ultraje a Rigor, 1985), A Fórmula do Amor (Leo Jaime, 1986) e O Astronauta de Mármore (Nenhum de Nós, 1989) sem que tais sucessos ganhem um toque realmente especial do Biquini. Sim, há o bandolim tocado por Carlos Coelho que adorna a quilométrica Infinita Highway (Engenheiros do Hawaii, 1987). Há também o competente solo de guitarra de Hudson (da dupla sertaneja Edson & Hudson) em Revoluções por Minuto (RPM, 1985). Justiça seja feita: os arranjos, como um todo, pairam acima do nível populista do som das festas Ploc's 80. Basta conferir a pegada nervosa de Marvin (Titãs, 1983). Contudo, nenhuma das 20 músicas (14 no CD editado simultaneamente) ganha um brilho realmente especial - como o registro de Juvenília, para citar somente um exemplo do CD de estúdio 80. Para piorar, os cantores que duetam com o vocalista Bruno Gouveia - cheio de energia e garra - fazem suas intervenções via telão. A participação de Tico Santa Cruz em Índios (Legião Urbana, 1986) até se justifica pelo caráter politizado do vocalista do grupo Detonautas. Mas qual o propósito de convidar Claudia Leitte, estranha no ninho do rock, para um dueto virtual na balada Romance Ideal (Os Paralamas do Sucesso, 1984)? A cantora de axé nem tantos recursos vocais que legitime a incursão por território alheio. Da mesma forma, um dos hinos do saudoso Ira!, Envelheço na Cidade (1986), não merecia ser associado a Egypcio, vocalista de uma banda dos anos 90/2000, Tihuana, nada identificada com a ideologia do pop dos 80. E, a propósito, o que credencia Sexta-Feira (Biquini Cavadão, 1998) para figurar em repertório centrado em década anterior? Enfim, fica a impressão de que o grupo foi menos rígido na concepção dessa segunda abordagem dos 80. É pena, pois, a julgar por seu último bom CD de inéditas, Só Quem Sonha Acordado Vê o Sol Nascer (2007), o Biquini Cavadão tem fôlego e inspiração suficientes para evitar olhares burocráticos para o passado alheio.

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em 2001, ao lançar o CD 80, o Biquini Cavadão abordou o repertório de bandas de sua geração, projetadas na década de ouro do pop nacional. Havia um apuro nessa abordagem e na própria seleção do repertório - com mais lados B das bandas do que propriamente hits - que impediu que o disco caísse na vala comum dos projetos de covers. Sete anos depois, o grupo carioca faz nova incursão pelo repertório dos anos 80, mas, em vez de voltar ao estúdio, gravou ao vivo CD e DVD em show no Circo Voador (RJ), casa emblemática para a geração pop da época. Desta vez, no entanto, o cuidado pareceu ter sido menor. Não tanto na parte visual - o diretor Roberto de Oliveira captou boas imagens que traduzem o tom caloroso da apresentação gravada em 20 de setembro de 2008 - mas, sobretudo, na seleção do repertório e dos convidados. Talvez porque a preocupação com o resultado comercial tenha sido (bem) maior. Parece ter havido a intenção de incluir hits mais óbvios e populares como Inútil (Ultraje a Rigor, 1985), A Fórmula do Amor (Leo Jaime, 1986) e O Astronauta de Mármore (Nenhum de Nós, 1989) sem que tais sucessos ganhem um toque realmente especial do Biquini. Sim, há o bandolim tocado por Carlos Coelho que adorna a quilométrica Infinita Highway (Engenheiros do Hawaii, 1987). Há também o competente solo de guitarra de Hudson (da dupla sertaneja Edson & Hudson) em Revoluções por Minuto (RPM, 1985). Justiça seja feita: os arranjos, como um todo, pairam acima do nível populista do som das festas Ploc's 80. Basta conferir a pegada nervosa de Marvin (Titãs, 1983). Contudo, nenhuma das 20 músicas (14 no CD editado simultaneamente) ganha um brilho realmente especial - como o registro de Juvenília, para citar somente um exemplo do CD de estúdio 80. Para piorar, os cantores que duetam com o vocalista Bruno Gouveia - cheio de energia e garra - fazem suas intervenções via telão. A participação de Tico Santa Cruz em Índios (Legião Urbana, 1986) até se justifica pelo caráter politizado do vocalista do grupo Detonautas. Mas qual o propósito de convidar Claudia Leitte, estranha no ninho do rock, para um dueto virtual na balada Romance Ideal (Os Paralamas do Sucesso, 1984)? A cantora de axé nem tantos recursos vocais que legitime a incursão por território alheio. Da mesma forma, um dos hinos do saudoso Ira!, Envelheço na Cidade (1986), não merecia ser associado a Egypcio, vocalista de uma banda dos anos 90/2000, Tihuana, nada identificada com a ideologia do pop dos 80. E, a propósito, o que credencia Sexta-Feira (Biquini Cavadão, 1998) para figurar em repertório centrado em década anterior? Enfim, fica a impressão de que o grupo foi menos rígido na concepção dessa segunda abordagem dos 80. É pena, pois, a julgar por seu último bom CD de inéditas, Só Quem Sonha Acordado Vê o Sol Nascer (2007), o Biquini Cavadão tem fôlego e inspiração suficientes para evitar olhares burocráticos para o passado alheio.

24 de dezembro de 2008 às 11:25  
Anonymous Anônimo said...

Estive na gravação, que foi muito animada, mesmo concordando que o repertório foi manjado e os arranjos pouquíssimo inspirados.

Shows do Biquíni são ótimos, mas in loco.

25 de dezembro de 2008 às 14:30  
Anonymous Anônimo said...

o vocalista Bruno Gouveia - cheio de energia e garra - (2)

enquanto isso, temos aí Samuel Rosa, do Skank ...

27 de dezembro de 2008 às 14:28  
Anonymous Anônimo said...

A verdade é que graças a versão de " Sobradinho " - hit de Sá & Guarabyra no fim dos anos 70 - que o Bruno & Cia fizeram no projeto " UM BARZINHO, UM VIOLÃO - AO VIVO " de 2001 é que eu virei fã deles. Do Biquini Cavadão e de Sá & Guarabyra ...

27 de dezembro de 2008 às 14:33  

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