Sul minimiza mortes de Neguinho e Verequete
A pouca repercussão na imprensa musical de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) das mortes recentes de Neguinho do Samba (1955 - 2009) e Verequete (1916 - 2009) - ocorridas em 31 de outubro e 3 de novembro, respectivamente - é claro indício de que a mídia das ditas capitais culturais do Brasil ainda minimiza talentos de outras regiões do país que não se rendem a elas. Se a atividade do pareanse Augusto Gomes Rodrigues, o Verequete, na difusão da música de seu Estado (em especial, do carimbó) sempre esteve de fato restrita ao Norte do Brasil, a atuação do baiano Antonio Luis Alves de Souza, o Neguinho do Samba, extrapolou as fronteiras brasileiras. Percussionista que ajudou a fundar o seminal bloco afro-baiano Olodum, Neguinho é reverenciado como o principal criador da batida do samba-reggae, base de toda a axé music. Batida que seduziu astros internacionais como Paul Simon - que em 1990 recorreu ao baticum afro-baiano para gravar o álbum Rhythm of the Saints - e Michael Jackson (1958 - 2009), que em 1996 usou os tambores do Olodum na filmagem do clipe da música They Don't Care About us. Se hoje cantoras como Daniela Mercury encantam a Europa com a batida do samba-reggae, muito desse sucesso se deve ao talento pioneiro de Neguinho do Samba. Da mesma forma que, em menor escala, a música e os artistas do Norte devem muito a Verequete, fundador em outubro de 1971 do Conjunto de Carimbó Uirapuru do Verequete, ainda em atividade. O silêncio (quase) total das mídias carioca e paulista sobre as mortes de Neguinho e Verequete mostra o quanto a imprensa cultural ainda precisa olhar com mais imparcialidade para sons e talentos brasileiros que nascem, crescem e morrem longe demais das capitais sem pedir a benção às ditas capitais culturais. Triste!!
7 Comments:
A pouca repercussão na imprensa musical de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) das mortes recentes de Neguinho do Samba (1955 - 2009) e Verequete (1916 - 2009) - ocorridas em 30 de outubro e 3 de novembro, respectivamente - é claro indício de que a mídia das ditas capitais culturais do Brasil ainda minimiza talentos de outras regiões do país que não se rendem a elas. Se a atividade do pareanse Augusto Gomes Rodrigues, o Verequete, na difusão da música de seu Estado (em especial, do carimbó) sempre esteve de fato restrita ao Norte do Brasil, a atuação do baiano Antonio Luis Alves de Souza, o Neguinho do Samba, extrapolou as fronteiras brasileiras. Percussionista que ajudou a fundar o seminal bloco afro-baiano Olodum, Neguinho é reverenciado como o principal criador da batida do samba-reggae, base de toda a axé music. Batida que seduziu astros internacionais como Paul Simon - que em 1990 recorreu ao baticum afro-baiano para gravar o álbum Rhythm of the Saints - e Michael Jackson (1958 - 2009), que em 1996 usou os tambores do Olodum na filmagem do clipe da música They Don't Care About us. Se hoje cantoras como Daniela Mercury encantam a Europa com a batida do samba-reggae, muito desse sucesso se deve ao talento pioneiro de Neguinho do Samba. Da mesma forma que, em menor escala, a música e os artistas do Norte devem muito a Verequete, fundador em outubro de 1971 do Conjunto de Carimbó Uirapuru do Verequete, ainda em atividade. O silêncio (quase) total das mídias carioca e paulista sobre as mortes de Neguinho e Verequete mostra o quanto a imprensa cultural ainda precisa olhar com mais imparcialidade para sons e talentos brasileiros que nascem, crescem e morrem longe demais das capitais sem pedir a benção às ditas capitais culturais. Triste!!
Porquê isso? É uma admissão? Um mea culpa por nunca ter falado deles também?
Desculpe Mauro, mas eu não os conhecia e a mim não fizeram falta alguma.
O desprezo que tem a mídia concentrada no eixo Rio-São Paulo para com o que os demais estados produzem em termos musicais é um dos principais motivos para que trabalhos importantes e interessantíssimos sejam condenados de antemão ao ostracismo e ao desconhecimento. Nossa diversidade, que é a nossa maior riqueza, fica restrita àquilo que passa pelo estreito crivo de meia dúzia de jornalistas culturais da grande mídia carioca e paulista. E a cultura que deveria soar polifônica, soa em um paupérrimo uníssono. É claro que nem tudo que se produz fora do eixo Rio-São Paulo é bom, mas também nem tudo que é bom é produzido no eixo Rio-São Paulo. Isso é uma distorção que precisa ser mudada, sob pena de se massacrar não só a memória dos que já se foram, mas também as carreiras de tantos que estão bem vivos, e produzindo.
Realmente lamentável o silêncio sobre - não apenas a morte, mas muitas vezes sobre a própria vida, de grandes artistas desse Brasil-sertâo, que cantam suas dores e suas festas longe dos ditos principais centros culturais. Lembremos que no excelente e mal divulgado - O canto das Águas (2002) - Fafá de Belém cantou pout-pourris de carimbó em homenagem a Mestre Verequete e Pinduca. Reconhecimento mais do que justo, de uma intéprete da chamada MPB, em vida, para os dois.
Caetano reclamou disso na Folha. Eu li.
Belo texto, Mauro.
Triste é ver que cantores micareteiros enchem as burras de dinheiro e o grande gênio Nenguinho do Samba morreu pobre, sendo ajudado por Daniela Mercury pra poder colocar a Didá pra desfilar no carnvala de Salvador, que nada seria sem seu ritimo. Lamentável é ainda ver que leitores do seu blog pouco se importem.
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