6 de agosto de 2010

Pato Fu é feliz ao brincar com músicas alheias

Resenha de CD
Título: Música de Brinquedo
Artista: Pato Fu
Gravadora: Rotomusic / Microservice
Cotação: * * * * 1/2

Ao gravar seu último CD, Daqui pro Futuro (2007), o Pato Fu recorreu eventualmente a sons de caixinhas de música e a pianos de brinquedo. Três anos depois, o futuro chegou pela música do passado. Décimo álbum do grupo mineiro, o primeiro gravado fora da esfera autoral, Música de Brinquedo foi todo urdido com instrumentos de brinquedo (ou miniaturas de instrumentos de adultos). O resultado é um disco fofo que devolve ao Pato Fu a aura lúdica com que o quinteto debutou no mercado fonográfico em Rotomusic de Liquidificapum (1993). A partir do álbum Televisão de Cachorro (1998), o Pato Fu foi ficando mais pop e mais sério - ainda que tenha mantido uma cota mínima de fofura em cada um de seus álbuns. Em Música de Brinquedo, CD pilotado por John Ulhoa, a tal aura lúdica rodeia e revigora a obra fonográfica do grupo. O Pato Fu brinca feliz com doze músicas alheias. E dois fatores foram fundamentais para que a felicidade se estendesse ao ouvinte de todas as idades. O primeiro é a absoluta fidelidade das regravações aos arranjos originais. O barato da brincadeira foi reproduzir com o arsenal infantil - que incluiu o tecladinho de uma calculadora, mimos eletrônicos e até elefante de brinquedo - as levadas com que músicas como Primavera (hit de Tim Maia 1970), Twiggy Twiggy (do grupo japonês Pizzicato Five) e Ska (com um kazoo assumindo a função do sax ouvido na gravação original dos Paralamas dos Sucesso, de 1984) foram gravadas em seus célebres registros originais. O segundo fator que deu ao disco salutar e verdadeiro ar infantil foi a convocação das crianças Nina Takai (filha de Fernanda Takai com John Ulhoa) e Matheus D'Alessandro para cantar a maioria das músicas. Com suas vozes desajeitadas e eventualmente até mesmo desafinadas, as crianças reforçam o tom informal do disco sem nunca perseguir aquela formalidade asséptica dos corais infantis. É uma graça ouvir Nina pregando a paz através dos versos falados de Todos Estão Surdos (1971), o hino humanista composto por Roberto Carlos e Erasmo Carlos com inspiração nos spirituals norte-americanos. A despreocupação do grupo com a assepsia técnica fez Música de Brinquedo soar mais gracioso e honesto. E, como o repertório foi geralmente bem sacado, a diversão é garantida. Brincando nas onze, o grupo consegue recriar com um piano de brinquedo a levada clássica de Ovelha Negra (1975), sendo que o solo de guitarra é feito por um glockenspiel de brinquedo. Já o som do interfone de Pelo Interfone (Ritchie, 1983) é tirado com alto-falante de brinquedo. Destaque do CD, Frevo Mulher (1979) tem a pegada da sanfona simulada por um drawdio (lápis que emite sons, no caso os de um theremin). Impossível não lembrar da gravação de Amelinha. Outro exemplo da habilidade do Pato no manuseio do arsenal infantil é Live and Let Die (1973), cuja pegada grandiosa do arranjo é transposta com brilho para o universo lúdico das crianças. Entre brincadeiras eletrônicas com Sonífera Ilha (Titãs, 1984) e abordagem menos charmosa de My Girl (The Temptations, 1964 - com a kalimba fazendo o riff original da guitarra), o Pato Fu devolve a Rock'n'Roll Lullaby (1972) a sua aura infantil, já que o sucesso de BJ Thomas - propagado no Brasil como tema romântico do casal protagonista da novela Selva de Pedra - já evocava, a rigor, o espírito de uma canção de ninar. Mas é Love me Tender (1956) - a balada popularizada por Elvis Presley (1935 - 1977) - que soa como acalanto ao fechar este álbum atípico na discografia do Pato Fu, mas, ao mesmo tempo, tão coerente com o espírito que já norteava a discografia da banda lá em 1993. Música de Brinquedo é como voltar a esse começo.

7 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Ao gravar seu último CD, Daqui pro Futuro (2007), o Pato Fu recorreu eventualmente a sons de caixinhas de música e a pianos de brinquedo. Três anos depois, o futuro chegou pela música do passado. Décimo álbum do grupo mineiro, o primeiro gravado fora da esfera autoral, Música de Brinquedo foi todo urdido com instrumentos de brinquedo (ou miniaturas de instrumentos de adultos). O resultado é um disco fofo que devolve ao Pato Fu a aura lúdica com que o quinteto debutou no mercado fonográfico em Rotomusic de Liquidificapum (1993). A partir do álbum Televisão de Cachorro (1998), o Pato Fu foi ficando mais pop e mais sério - ainda que tenha mantido uma cota mínima de fofura em cada um de seus álbuns. Em Música de Brinquedo, CD pilotado por John Ulhoa, a aura lúdica volta a rodear a obra fonográfica do grupo. O Pato Fu brinca feliz com doze músicas alheias. E dois fatores foram fundamentais para que a felicidade se estendesse ao ouvinte de todas as idades. O primeiro é a absoluta fidelidade das regravações aos arranjos originais. O barato da brincadeira foi reproduzir com o arsenal infantil - que incluiu o tecladinho de uma calculadora, mimos eletrônicos e até elefante de brinquedo - as levadas com que músicas como Primavera (hit de Tim Maia 1970), Twiggy Twiggy (do grupo japonês Pizzicato Five) e Ska (com um kazoo assumindo a função do sax ouvido na gravação original dos Paralamas dos Sucesso, de 1984) foram gravadas em seus célebres registros originais. O segundo fator que deu ao disco um verdadeiro ar infantil foi a convocação das crianças Nina Takai (filha de Fernanda Takai com John Ulhoa) e Matheus D'Alessandro) para cantar a maioria das músicas. Com suas vozes desajeitadas e eventualmente até mesmo desafinadas, as crianças reforçam o tom informal do disco sem nunca perseguir aquela formalidade asséptica dos corais infantis. É uma graça ouvir Nina pregando a paz através dos versos falados de Todos Estão Surdos (1971), o hino humanista composto por Roberto Carlos e Erasmo Carlos com inspiração nos spirituals norte-americanos. A despreocupação do grupo com a assepsia técnica fez Música de Brinquedo soar mais gracioso. E, como o repertório foi geralmente bem sacado, a diversão é garantida. Brincando nas onze, o grupo consegue recriar com piano de brinquedo a levada clássica de Ovelha Negra (1975), sendo que o solo de guitarra é feito por um glockenspiel de brinquedo. Já o som do interfone de Pelo Interfone (Ritchie, 1983) é tirado com alto-falante de brinquedo. Destaque do CD, Frevo Mulher (1979) tem a pegada da sanfona simulada por um drawdio (lápis que emite sons, no caso os de um theremin). Impossível não lembrar da gravação de Zé Ramalho. Outro exemplo da habilidade do Pato no manuseio do arsenal infantil é Live and Let Die (1973), cuja pegada grandiosa do arranjo é transposta com brilho para o universo lúdico das crianças. Entre brincadeiras eletrônicas com Sonífera Ilha (Titãs, 1984) e abordagem menos charmosa de My Girl (The Temptations, 1964 - com a kalimba fazendo o riff original da guitarra), o Pato Fu devolve a Rock'n'Roll Lullaby (1972) a sua aura infantil, já que o sucesso de BJ Thomas - propagado no Brasil como tema romântico do casal protagonista da novela Selva de Pedra - já evocava, a rigor, o espírito de uma canção de ninar. Mas é Love me Tender (1956) - a balada popularizada por Elvis Presley (1935 - 1977) - que soa como acalanto ao fechar este álbum atípico na discografia do Pato Fu, mas, ao mesmo tempo, tão coerente com o espírito que já norteava a discografia da banda lá em 1993. Música de Brinquedo é como voltar a esse começo.

6 de agosto de 2010 às 20:21  
Anonymous Anônimo said...

Ouvi e adorei o som...As crianças realmente estão demais.Uma delícia. Mais um acerto do Pato Fu!

6 de agosto de 2010 às 20:54  
Anonymous Anônimo said...

Achei deselegante o Pato Fu regravar a música para a qual Fernanda Takai foi convidada a fazer dueto com Jerry Adriani em seu DVD ao vivo em 2008 e que saiu ano passado. Nem tem tanto tempo assim.

6 de agosto de 2010 às 23:14  
Anonymous Anônimo said...

O cd é uma delicia e a voz da Fernanda é um deleite de tão delicada. Espero que ela volte com algum trabalho solo tão bonito qto foi o da Nara.

7 de agosto de 2010 às 00:27  
Anonymous Anônimo said...

O Cd é um barato, adorei. Mas só uma correção: as crianças não são eventualmente desafinadas. São muito desafinadas em TODAS as vezes que abrem a boca, kkkk

Mas são umas gracinhas!

7 de agosto de 2010 às 09:36  
Anonymous Anônimo said...

O CD é muito bom. Tenho ouvido com os meus filhos (9 anos e 5 anos) e eles curtem muitíssimo. Música para todos os tempos, para todas as idades, com conservadorismo e inovações. Uma prova de que criança merece ser tratada com respeito e inteligência. Também de que os adultos de ontem continuam com crianças guardadas dentro de si. Disco redondinho, para ouvir várias vezes seguidas.

7 de agosto de 2010 às 16:49  
Anonymous Ale said...

Mais um motivo de pq Pato Fu é a melhor banda brasileira. Sempre se renovando sem fazer mágica.
São bons de mais!

9 de agosto de 2010 às 22:15  

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