25 de setembro de 2008

Olho de Lince não foca toda inquietude de Waly

Resenha de show
Título: Olho de Lince - Tributo a Waly Salomão
Artista: Adriana Calcanhotto, Jards Macalé, Omar
Salomão (com a banda VulgoQinho&eosCara)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 24 de setembro de 2008
Cotação: * * *

Quem chegasse no fim do show Olho de Lince - idealizado dentro do projeto Grandes Encontros, do Teatro Rival, para reverenciar a figura de Waly Salomão (1944 - 2003) - e visse de cara a sedutora anarquia polifônica de Vapor Barato certamente ficaria bastante encantado com o espetáculo. Se a memória é uma ilha de edição, como dizia Waly em verso repetido no show por seu filho Omar Salomão, as retinas do espectador deveriam priorizar este número final, pois Adriana Calcanhotto, Jards Macalé, Omar Salomão e a banda carioca VulgoQinho&osCara conseguiram traduzir em Vapor Barato - e as partes soladas pela cantora nesta música associada a Gal Costa foram um brilho à parte - toda a inquietude poética/humana de Waly. Nem sempre, contudo, Olho de Lince conseguiu focar com nitidez toda a magnitude da obra do poeta e compositor baiano. Inclusive porque a presença de Omar em cena - recitando poemas e textos do pai entre as músicas e no meio delas - somente se justifica pelo fato de ele ser filho de Waly. A maneira quase mecânica como Omar Salomão recitou os versos não permitiu que a platéia sentisse (toda) a efervescência que caracterizava a obra poética do verborrágico Waly, figura talhada por excessos, inclusive os de linguagem. Sem falar que a licença poética do roteiro - ao apresentar Juízo Final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares) no excelente arranjo heavy (bem) executado pela banda VulgoQinho&osCara - soou totalmente fora de propósito...

Macalé abriu o show, com seu violão dissonante, indie como a banda VulgoQinho&osCara que logo foi ocupando a cena. Parceiro de Waly, Macalé conhece como ninguém os caminhos sinuosos de músicas como Mal Secreto - também associada a Gal Costa por ter sido incluída no roteiro do lendário show Fa-Tal Gal a Todo Vapor - e o reggae Negra Melodia. No entanto, o grande intérprete que aparece em discos como o recente Macao não deu as caras por completo no palco do Teatro Rival. O brilho maior foi de Calcanhotto, que fez o show crescer quando entrou em cena para apresentar músicas como Anjo Exterminado, A Fábrica do Poema, Teu Nome Mais Secreto (com Macalé ao violão, recriando o dueto gravado para o último álbum da cantora, Maré) e Remix Século XX. A artista gaúcha sempre teve afinidades poéticas e musicais com Waly, como provou ao apresentar a inédita Motivos Reais e Banais, musicada a partir do homônimo poema do livro Gigolô de Bibelô, mas nem a sua presença luminosa tirou a sensação de que Olho de Lince não ofereceu visão mais apurada da insana lucidez que pontuou vida e obra de Waly Salomão. Pena.

3 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Quem chegasse no fim do show Olho de Lince - idealizado dentro do projeto Grandes Encontros, do Teatro Rival, para reverenciar a figura de Waly Salomão (1944 - 2003) - e visse de cara a sedutora anarquia polifônica de Vapor Barato certamente ficaria bastante encantado com o espetáculo. Se a memória é uma ilha de edição, como dizia Waly em verso repetido no show por seu filho Omar Salomão, as retinas do espectador deveriam priorizar este número final, pois Adriana Calcanhotto, Jards Macalé, Omar Salomão e a banda carioca VulgoQinho&osCara conseguiram traduzir em Vapor Barato - e as partes soladas pela cantora nesta música associada a Gal Costa foram um brilho à parte - toda a inquietude poética de Waly. Nem sempre, entretanto, Olho de Lince conseguiu focar com nitidez toda a magnitude da obra do poeta e compositor baiano. Inclusive porque a presença de Omar em cena - recitando poemas e textos do pai entre as músicas e no meio delas - somente se justifica pelo fato de ele ser filho de Waly. A maneira quase mecânica como Omar Salomão recitou os versos não permitiu que a platéia sentisse (toda) a efervescência que caracterizava a obra poética do verborrágico Waly, figura talhada por excessos, inclusive os de linguagem. Sem falar que a licença poética do roteiro - ao apresentar Juízo Final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares) no excelente arranjo heavy (bem) executado pela banda VulgoQinho&osCara - soou totalmente fora de propósito...

Macalé abriu o show, com seu violão dissonante, indie como a banda VulgoQinho&osCara que logo foi ocupando a cena. Parceiro de Waly, Macalé conhece como ninguém os caminhos sinuosos de músicas como Mal Secreto - também associada a Gal Costa por ter sido incluída no roteiro do lendário show Fa-Tal Gal a Todo Vapor - e o reggae Negra Melodia. No entanto, o grande intérprete que aparece em discos como o recente Macao não deu as caras por completo no palco do Teatro Rival. O brilho maior foi de Calcanhotto, que fez o show crescer quando entrou em cena para apresentar músicas como Anjo Exterminado, A Fábrica do Poema, Teu Nome Mais Secreto (com Macalé ao violão, recriando o dueto gravado para o último álbum da cantora, Maré) e Remix Século XX. A artista gaúcha sempre teve afinidades poéticas e musicais com Waly, como provou ao apresentar a inédita Motivos Reais e Banais, musicada a partir do homônimo poema do livro Gigolô de Bibelô, mas nem a sua presença luminosa tirou a sensação de que Olho de Lince não ofereceu visão mais apurada da insana lucidez que pontuou vida e obra de Waly Salomão. Pena.

25 de setembro de 2008 às 18:13  
Anonymous Anônimo said...

Essa história, principalmente na música, de que os filhos de alguém sempre conseguem espaço, já começa a irritar! Imagino como deve ter sido o Omar recitando versos do pai, desconcertante...

Filhos,
vamos estudar, estudar muito... procurar o próprio caminho

26 de setembro de 2008 às 15:59  
Blogger Marco said...

Não vi o show da Adriana, mas a tarefa de interpretar Waly não é das mais fáceis.
Pessoal, não sei se vocês estão sabendo, mas o documentário sobre o Waly Salomão esréia nos cinemas dia 14 de novembro. Tive acesso a uma cabine aqui em SP nessa semana e me surprendeu muito. Na minha opnião ,trouxe a tona afguram de Waly muiot bem. Fica aí a dica: o filme se chama Pan-cinema Permanente

7 de novembro de 2008 às 16:13  

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