21 de setembro de 2008

Ao vivo, Ione costura (bem) as linhas do samba

Resenha de show
Título: Na Linha do Samba
Artista: Ione Papas (com participação de Roberto Mendes)
Local: Fieb Sesi Rio Vermelho (Salvador, Bahia)
Data: 20 de setembro de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz até domingo, 21 de setembro

Há 17 anos sem se apresentar oficialmente no seu Estado natal, a cantora baiana (radicada em São Paulo) Ione Papas voltou aos palcos de Salvador (BA) em minitemporada que se encerra neste domingo, 21 de setembro de 2008, com o show de lançamento de seu segundo ótimo CD, Na Linha do Samba (2007). Ao vivo, com banda que chega a agregar nove músicos em determinados números, a intérprete realça e amplia a bela impressão deixada pelo álbum. Com graça, Ione entrelaça diversas linhas do samba em roteiro bem costurado que mantém o espectador preso a uma atmosfera envolvente. Mesmo sem ter voz de extensão ou volume excepcionais, a artista oferece interpretações cheias de nuances para sambas como As Árvores (faixa-título de um disco de Oswaldo Pereira) e o menos inspirado Bondinho, em que Nando Távora esboça um postal de Santa Teresa, único bairro carioca ainda servido pelos bondes que transitavam pelas ruas na primeira metade do século passado. Tudo emoldurado pela leveza do toque elegante da bateria de Denilson Oliveira, da afiada banda.

Embora tribute ao fim do show um dos ícones do samba da Bahia, Batatinha (1924 - 1997), saudado com Foguete Particular, Ione prioriza compositores que trafegam pelas linhas marginais por falta de oportunidade num mercado fonográfico cada vez mais viciado. Casos de Péri (O Samba É Bom, com o toque do pandeiro da cantora) e de Doda Macedo, autora de Moleque É Tu (com intervenções dos teclados do maestro convidado Bira Marques) e de Infinita Beleza, majestoso samba de cadência baiana que fas jus ao nome. Nada soa óbvio no emaranhado do repertório de Ione, que se equilibra na vivaz linha rítmica de Vestido de Malha. O samba frenético de Tuzé de Abreu lhe cai tão bem que volta no bis.

Em linha mais foliã, Ione volta ao tocar pandeiro para apresentar outra jóia do roteiro, Pérolas do Carnaval, da lavra de Mário Leite, compositor do Samba da Vela, um dos quintais mais nobres de São Paulo. E por falar nos batuques paulistas, outro luminoso momento do roteiro é Sonho Colorido de um Pintor, samba-enredo defendido pela escola Camisa Verde e Branco no Carnaval de 1971. Na seqüência, extrapolando o repertório do CD Na Linha do Samba, Ione tira do baú um samba esquecido de Wilson Batista (1913 - 1968), Sabotagem no Morro, e depois - em diálogo travado somente entre sua voz e a cuíca percutida por Giba Conceição - faz um bloco que emenda O Ronco da Cuíca (João Bosco e Aldir Blanc) e Triste Cuíca, jóia do repertório de Noel Rosa (1910 - 1937), mote do primeiro álbum da cantora, Noel por Ione (2000) e de seu anterior show na Bahia (de 1991).

Após enveredar por um Nordeste de tom quase forrozeiro, em vigoroso tema de inspiração afro da lavra de Doda Macedo e Carlos Prazeres que destoa da linha do samba que costura o roteiro, Ione convoca o compositor Roberto Mendes, convidado da apresentação de sábado. Com seu violão e a voz tímida, Mendes apresenta medley que une Beira-Mar e Só se Vê na Bahia. No bis, um Noel Rosa de bissexta cadência baiana, Na Bahia (parceria com José Maria Abreu), arremata a graciosa costura de Ione Papas em show sedutor calcado em samba quase sempre alinhado.

3 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Há 17 anos sem se apresentar oficialmente no seu Estado natal, a cantora baiana (radicada em São Paulo) Ione Papas voltou aos palcos de Salvador (BA) em minitemporada que se encerra neste domingo, 21 de setembro de 2008, com o show de lançamento de seu segundo ótimo CD, Na Linha do Samba (2007). Ao vivo, com banda que chega a agregar nove músicos em determinados números, a intérprete realça e amplia a bela impressão deixada pelo álbum. Com graça, Ione entrelaça diversas linhas do samba em roteiro bem costurado que mantém o espectador preso a uma atmosfera envolvente. Mesmo sem ter voz de extensão ou volume excepcionais, a artista oferece interpretações cheias de nuances para sambas como As Árvores (faixa-título de um disco de Oswaldo Pereira) e o menos inspirado Bondinho, em que Nando Távora esboça um postal de Santa Teresa, único bairro carioca ainda servido pelos bondes que transitavam pelas ruas na primeira metade do século passado. Tudo emoldurado pela leveza do toque elegante da bateria de Denilson Oliveira, da afiada banda.

Embora tribute ao fim do show um dos ícones do samba da Bahia, Batatinha (1924 - 1997), saudado com Foguete Particular, Ione prioriza compositores que trafegam pelas linhas marginais por falta de oportunidade num mercado fonográfico cada vez mais viciado. Casos de Péri (O Samba É Bom, com o toque do pandeiro da cantora) e de Doda Macedo, autora de Moleque É Tu (com intervenções dos teclados do maestro convidado Bira Marques) e de Infinita Beleza, majestoso samba de cadência baiana que fas jus ao nome. Nada soa óbvio no emaranhado do repertório de Ione, que se equilibra na vivaz linha rítmica de Vestido de Malha. O samba frenético de Tuzé de Abreu lhe cai tão bem que volta no bis.

Em linha mais foliã, Ione volta ao tocar pandeiro para apresentar outra jóia do roteiro, Pérolas do Carnaval, da lavra de Mário Leite, compositor do Samba da Vela, um dos quintais mais nobres de São Paulo. E por falar nos batuques paulistas, outro luminoso momento do roteiro é Sonho Colorido de um Pintor, samba-enredo defendido pela escola Camisa Verde e Branco no Carnaval de 1971. Na seqüência, extrapolando o repertório do CD Na Linha do Samba, Ione tira do baú um samba esquecido de Wilson Batista (1913 - 1968), Sabotagem no Morro, e - num diálogo travado somente entre sua voz e a cuíca percutida por Giba Conceição - Ione faz um bloco que inclui O Ronco da Cuíca (João Bosco e Aldir Blanc) e Triste Cuíca, jóia do repertório de Noel Rosa (1910 - 1937), mote do primeiro álbum da cantora, Noel por Ione (2000) e de seu anterior show na Bahia (de 1991).

Após enveredar por um Nordeste de tom quase forrozeiro, em vigoroso tema de inspiração afro da lavra de Doda Macedo e Carlos Prazeres que destoa da linha do samba que costura o roteiro, Ione convoca o compositor Roberto Mendes, convidado da apresentação de sábado. Com seu violão e a voz tímida, Mendes apresenta medley que une Beira-Mar e Só se Vê na Bahia. No bis, um Noel Rosa de bissexta cadência baiana, Na Bahia (parceria com José Maria Abreu), arremata a graciosa costura de Ione Papas em show sedutor calcado em samba quase sempre alinhado.

21 de setembro de 2008 às 10:59  
Blogger Ju Oliveira said...

vi esse ótimo show num Sesc Pompéia meio vazio... roteiro muito inteligente e bem executado. grata surpresa que me fez comprar o cd. é mais um caso de artista que merecia mais reconhecimento.

21 de setembro de 2008 às 11:45  
Anonymous Anônimo said...

Também vi o show de lançamento do CD no Sesc Pompéia. Ione é uma sambista nata, como poucas e bem diferente da nova leva de "sambistas fashion".

3 de outubro de 2008 às 10:22  

Postar um comentário

<< Home