19 de setembro de 2008

'Álbum Musical 2' de Francis roça a beleza do 1

Resenha de CD
Título: Álbum Musical 2
Artista: Francis Hime nas vozes de Adriana Calcanhotto,
Bibi Ferreira, Ed Motta, Joyce, Ivete Sangalo, Lenine,
Luiz Melodia, Mart'nália, Mônica Salmaso, Moska, Olivia
Byington, Renato Braz, Simone, Teresa Cristina e Zeca
Pagodinho
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Em 1997, Francis Hime editou caprichado songbook de sua obra, Álbum Musical, que reapresentava suas melhores músicas nas vozes das estrelas mais reluzentes da MPB como Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia, entre outros. Parecia difícil igualar o êxito artístico daquele disco. Mas o Álbum Musical 2 - ora editado pela gravadora Biscoito Fino - roça a beleza do primeiro volume, ainda que a seleção do repertório não seja tão irresistível. São 15 faixas em que arranjos (naturalmente a cargo do próprio Francis Hime) e interpretações valorizam o fino cancioneiro do compositor, um dos maiores melodistas da música brasileira. Um dos momentos mais felizes é a leitura de Pau Brasil (1982) na voz espontânea de Mart'nália. A cantora deita e rola nos versos deste tema que tritura elementos de salsa, rumba e valsa numa melodia deliciosa. O trompete de Jesse Sadoc pontua o arranjo irreverente. Também descontraído, como se estivesse em casa ou na quadra do Cacique de Ramos, Zeca Pagodinho defende Amor Barato (1981) de um jeito que o samba de Francis e Chico Buarque parece de sua própria autoria...

Ainda uma estranha no ninho da MPB, Ivete Sangalo se mostra talhada para encarar o tom forrozeiro da Quadrilha (1976) na mesma estrada nordestina em que Lenine puxa com desenvoltura Um Carro de Boi Dourado (1984), única parceria de Francis com Gilberto Gil. Protocolar, Adriana Calcanhotto canta Saudade de Amar (1965) enquanto Simone - com o elegante registro suave adotado nos últimos anos - celebra os encantos da ilha de Cuba em Maravilha (1977), tema de Francis com Chico que não atinge a excelência das outras parcerias da dupla de compositores. Da mesma forma que Coração do Brasil (1985), samba revivido por Joyce, não se encontra entre as melhores contribuições de Francis ao gênero. Ainda no quintal nobre do samba, Teresa Cristina refaz Promessas, Promessas (1984), parceria de Hime com Abel Silva, e Luiz Melodia confirma seu suingue majestoso em O Rei de Ramos (1979) enquanto Olivia Byington revive O Tempo da Flor (1967) - tema da lavra de Francis com Vinicius de Moraes.

Em linha mais contida, Moska canta o choro Lindalva (1977), Ed Motta realça o requinte de À Meia-Luz (1973) - somente com o piano de Francis - e Mônica Salmaso reedita o primor de seu canto em Mariposa (1982), acalanto letrado com grande sensibilidade por Olivia Hime, que o lançou em seu álbum Segredo do meu Coração. Já Renato Braz se delicia com o Grão de Milho (1980), uma das canções mais bonitas do repertório de Francis. Grão de Milho merecia uma regravação e Braz mostra - mais uma vez - que figura no primeiro time de cantores brasileiros. Sua interpretação está entre as melhores do CD ao lado das gravações de Mart'nália e de Zeca Pagodinho. Contudo, com maior ou menor êxito, todos os cantores exercem com alegria o seu ofício de intérpretes. E é por isso que todos se encontram e saúdam uns aos outros ao fim de Viajante das Almas, o texto de Fernanda Montenegro, organizado por Herbert Richers Junior, musicado por Francis Hime e cantado pela atriz Bibi Ferreira neste envolvente Álbum Musical 2. Dez!!

11 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em 1997, Francis Hime editou caprichado songbook de sua obra, Álbum Musical, que reapresentava suas melhores músicas nas vozes das estrelas mais reluzentes da MPB como Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia, entre outros. Parecia difícil igualar o êxito artístico daquele disco. Mas o Álbum Musical 2 - ora editado pela gravadora Biscoito Fino - roça a beleza do primeiro volume, ainda que a seleção do repertório não seja tão irresistível. São 15 faixas em que arranjos (naturalmente a cargo do próprio Francis Hime) e interpretações valorizam o fino cancioneiro do compositor, um dos maiores melodistas da música brasileira. Um dos momentos mais felizes é a leitura de Pau Brasil (1982) na voz espontânea de Mart'nália. A cantora deita e rola nos versos deste tema que tritura elementos de salsa, rumba e valsa numa melodia deliciosa. O trompete de Jesse Sadoc pontua o arranjo irreverente. Também descontraído, como se estivesse em casa ou na quadra do Cacique de Ramos, Zeca Pagodinho defende Amor Barato (1981) de um jeito que o samba de Francis e Chico Buarque parece de sua própria autoria...

Ainda uma estranha no ninho da MPB, Ivete Sangalo se mostra talhada para encarar o tom forrozeiro da Quadrilha (1976) na mesma estrada nordestina em que Lenine puxa com desenvoltura Um Carro de Boi Dourado (1984), única parceria de Francis com Gilberto Gil. Protocolar, Adriana Calcanhotto canta Saudade de Amar (1965) enquanto Simone - com o elegante registro suave adotado nos últimos anos - celebra os encantos da ilha de Cuba em Maravilha (1977), tema de Francis com Chico que não atinge a excelência das outras parcerias da dupla de compositores. Da mesma forma que Coração do Brasil (1985), samba revivido por Joyce, não se encontra entre as melhores contribuições de Francis ao gênero. Ainda no quintal nobre do samba, Teresa Cristina refaz Promessas, Promessas (1984), parceria de Hime com Abel Silva, e Luiz Melodia confirma seu suingue majestoso em O Rei de Ramos (1979) enquanto Olivia Byington revive O Tempo da Flor (1967) - tema da lavra de Francis com Vinicius de Moraes.

Em linha mais contida, Moska canta o choro Lindalva (1977), Ed Motta realça o requinte de À Meia-Luz (1973) - somente com o piano de Francis - e Mônica Salmaso reedita o primor de seu canto em Mariposa (1982), canção letrada com grande sensibilidade por Olivia Hime, que a lançou em seu álbum Segredo do meu Coração. Já Renato Braz se delicia com o Grão de Milho (1980), uma das canções mais bonitas do repertório de Francis. Grão de Milho merecia uma regravação e Braz mostra - mais uma vez - que figura no primeiro time de cantores brasileiros. Sua interpretação está entre as melhores do CD ao lado das gravações de Mart'nália e de Zeca Pagodinho. Contudo, com maior ou menor êxito, todos os cantores exercem com alegria o seu ofício de intérpretes. E é por isso que todos se encontram e saúdam uns aos outros ao fim de Viajante das Almas, o texto de Fernanda Montenegro, organizado por Herbert Richers Junior, musicado por Francis Hime e cantado pela atriz Bibi Ferreira neste envolvente Álbum Musical 2. Dez!!

19 de setembro de 2008 às 00:08  
Anonymous Anônimo said...

Francis Hime tem bom gosto até para escolher convidados. Tanto no 1 quanto no 2. E ainda por cima traz os melhores sambistas. Beth no 1 e agora Zeca, Teresa e Mart'nália no 2. Cadê a Alcione? ha ha ha ha ha

19 de setembro de 2008 às 09:22  
Anonymous Anônimo said...

Engraçado como é o gosto. Eu achei as faixas da Salmaso e do Renato as piores. Canções chatas e com interpretações exageradas, Renato quase se esgoela pra cantar... Mart´nalia é a melhor surpresa do cd. Ivete mostra que é capaz de fazer muito mais do que ficar tirando o pé do chão!!

19 de setembro de 2008 às 10:37  
Anonymous Anônimo said...

Tudo ótimo nessa resenha de um trabalho do Francis - mais um artista relegado ao plano das regravações da própria obra por falat de espaço para execução de um trabalho inédito. Coisas de nosso caótico mercado.
Mas elogiar (de novo) o canto de Mat`nália... Ela tem boa vontade e sabe escolhe repertório, mas não sabe cantar.

19 de setembro de 2008 às 11:11  
Anonymous Anônimo said...

Algumas observações:

Ivete Sangalo - profissionalíssima em 'Quadrilha'. Uma certa tensão na voz, talvez por estar lendo a letra trava-língua e ter respeitado escrupulosamente a canção. Brava!

Zeca Pagodinho - aproveitou o fôlego curto para reinventar 'Amor Barato'.

Joyce - praticamente em casa em 'Coração do Brasil'.

Mônica Salmaso - tirou proveito das aliterações desse acalanto ('Mariposa'). Seu timbre que alterna fosco/brilhante é uma raridade.

Renato Braz - canta totalmente para fora em 'Grão de Milho'. Aproveita as vogais agudas sem medo de ser feliz. No estúdio sempre dá pra repetir.

Mart'nália - versão safadinha, totalmente em casa. Um dos bons momentos desse disco ótimo. Caprichou na dicção, hein Mart'nália? Baixou uma Elza Soares.

Lenine - não brilha, mas defende com galhardia esse carro de boi dourado que é a cara, o corpo e o espírito de Gilberto Gil (é o maior!)

19 de setembro de 2008 às 12:12  
Blogger Pedro Progresso said...

Renato Braz é o máximo mesmo.
Gosto muito dele.
To doido pra ouvir esse cd, depois comento.

19 de setembro de 2008 às 14:24  
Anonymous Anônimo said...

Esqueci ainda de Paulinho da Viola no 1!

19 de setembro de 2008 às 14:40  
Anonymous Anônimo said...

Raramente me agradam estas coletâneas. Acho uma mistureba. Na primeira só me ficou o registro magistral da (boa e velha) Bethânia para Pássara, antes de se embrenhar pelas matas e afundar nas águas dos últimos anos.
Neste segundo me deliciei com o suingue de Martnália. E só.

19 de setembro de 2008 às 17:58  
Anonymous Anônimo said...

Concordo ...me faz falta a Bethânia emblemática...nesse trabalho das veteranas Simone mantem o bom gosto dos anos 70 que vem dos últimos trabalhos e tenta salvar a fraca faixa maravilha que nem Elis conseguiu emocionar.

20 de setembro de 2008 às 10:34  
Anonymous Anônimo said...

Mariposa é um momento de belissimo lirismo da obra do Francis, vale registrar a sensível letrista que é Olivia Hime (que já havia feito boas gravações para a música), e agora, com o canto melodioso de Mônica Salmaso ganha um brilho ainda maior.

20 de setembro de 2008 às 10:50  
Anonymous Anônimo said...

Momento sublime: Olivia Byington cantando "O Tempo da Flor"! Uma voz singular e a marca inesquecível de Vinicius!

24 de setembro de 2008 às 08:07  

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