15 de maio de 2008

Caetano seduz e polemiza com experimentação

Resenha de show
Título: Obra em Progresso
Artista: Caetano Veloso
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 14 de maio de 2008
Cotação: * * *

De certa forma, o título do show que Caetano Veloso estreou na noite de ontem, 14 de maio de 2008, já isenta o artista de responsabilidade pelo acabamento final do que vai ser apresentado na casa carioca Vivo Rio durante mais cinco quartas-feiras de maio e junho (a próxima apresentação está agendada para 28 de maio). Obra em Progresso é um show em gestação e o embrião, em tese, vai originar o próximo álbum do compositor. Isso explica a ausência de cenário e a iluminação meramente funcional. Toda a luz foi jogada sobre as experimentações de músicas, timbres e arranjos. E o fato é que Caetano Veloso soube seduzir (e até polemizar) com espetáculo de contorno inacabado.
A gênese do som reside na banda Cê, formada por Pedro Sá (guitarra), Marcelo Calado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo). A sonoridade indie do trio deu à luz em 2006 o CD , um dos títulos mais festejados e superestimados da discografia de Caetano Veloso. O show reedita a timbragem do álbum sem alterações substanciais. E, como atestam inéditas como Perdeu (samba torto de tom sombrio) e A Cor Amarela (o tema de maior vivacidade rítmica dentre a safra nova), o que importa mais neste momento de Caetano é o adorno das canções do que as músicas. Tarado ni Você, por exemplo, é das mais pobres da obra grandiosa do autor.
Obra em Progresso deixa entrever a possível existência de um disco centrado em sambas de base rítmica estruturada a partir do toque da guitarra de Pedro Sá. Em arranjo primoroso, Desde que o Samba É Samba exemplifica essa tendência. A propósito, a célula rítmica do samba está presente no arranjo de Pé da Roseira, um dos números mais bem-acabados do show. A música de Gilberto Gil foi lançada pelo autor em disco tropicalista numa gravação urdida com o toque genial dos Mutantes. Como Caetano assume em cena, ele e Pedro Sá (per)seguem o arranjo do registro original.
Após Pé da Roseira, a entrada em cena dos baianos Eduardo Josino e Josino Eduardo - os percussionistas gêmeos que tocaram com Caetano no álbum Noites do Norte (2000) - encorpa a banda e dá o tom de músicas como a inédita Por Quem, sustentada pelo cantor num falsete que atesta forma vocal invejável para seus 65 anos. Na seqüência, O Leãozinho arranca - já nos primeiros acordes - aplausos entusiásticos da parte da platéia que ansiava por hits que, a rigor, foram escassos. A inclusão da música de 1977 foi um mimo para o jogador Ronaldo Nazário, fã do tema composto por Caetano com inspiração na beleza de Dadi. O afago ao esportista seria completado com a lembrança da bela e poética Três Travestis - pretexto para o discurso em defesa do atleta envolvido em escândalo com travestis. Senso de oportunidade à parte, a canção é mesmo bonita e merecia sair do esquecimento.
Com seu habitual faro para criar e ser notícia, Caetano tirou também do baú um samba machista lançado por Noel Rosa em 1937 na voz de Araci de Almeida. O Maior Castigo que Eu te Dou entrou no roteiro - no já habitual bloco de voz e violão feito pelo intérprete em seus shows - como uma provocação às feministas que lutaram na Justiça para ganhar indenização da empresa Furacão 2000 por conta da propagação dos versos de Um Tapinha Não Dói, funk que Caetano já citou no show Noites do Norte após cantar Dom de Iludir. A indignação tem razão de ser...
Da safra de novidades, Sem Cais é parceria com o guitarrista Pedro Sá. Base de Guantánamo incorpora alfinetadas políticas nos Estados Unidos em discurso quase falado. São músicas que vão crescer na medida em que a obra inédita continuar em progresso.

31 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Por falta de conteúdo musical, Caetano cria factóides. Músico mesmo é o Gil.

15 de maio de 2008 às 16:03  
Anonymous Anônimo said...

Mauro você só esqueceu da canção " Minha Flor meu Bebê" de Dé - Cazuza que Caetano cantou e tocou ontem. Bela canção do nosso poeta.

15 de maio de 2008 às 16:17  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, faltou dizer que a introdução de 'Não me arrependo', presente no roteiro deste show e no último disco de estúdio do baiano, cita o começo de 'Walk on the wild side', que Lou Reed escreveu inspirado nas travestis de Nova Iorque.

Vamos pensar juntos: o Caetano é tão fascinado em chamar atenção que é bem capaz que tenha composto 'Três travestis' na década de 70 já prevendo um polêmico episódio envolvendo um jogador de futebol trinta anos depois, que seria brilhantemente comentado por sua canção e pela citação cult da música de Reed.

Concordemos... é um cara de talento mediano, com alguns dotes premonitórios e a esperteza de saber se manter na mídia. Faz sentido.

E é curioso ver músicos do naipe de Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado serem promovidos à categoria sonoridade indie, mesmo rótulo que deve servir pra Kassin, Domenico, Wado, Curumin, e tanta gente bacana fazendo música por aí. É que 'MPB' virou um gênero por si só, né, que não pode sair muito do que Tom, Edu, Chico e Milton fizeram (com maestria, diga-se de passagem). Só que se alguém tenta mexer no mofo, ainda mais se for baluarte, soa como profanação.

Vou passar a dizer que gosto de música indie. É tolo, mas fazer o quê? Volta e meia o povo me pergunta com maldade onde está a novidade.

15 de maio de 2008 às 16:27  
Anonymous Anônimo said...

Aguardo ansiosamente o show com Gal Costa. Sou fã dos 2.

15 de maio de 2008 às 16:47  
Anonymous Anônimo said...

O Caetano está para Madonna assim como...
A sua carreira, festejada algo acima do necessário, é pontuada por alguns bons "gols" de inspiração única (Oração ao tempo, O Ciúme, etc.).
Mas a genialidade de Caetano está na sua inteligência manipuladora (será que isso pode ter bom sentido? Mas é no bom sentido).
Ainda é melhor isso do que muito do que se propaga como música e faz sucesso.
Infelizmente a memória da MPB está centrada na MPB mais divulgada, que é a daquele tempo. A MPB de hoje está restrita a rótulos como Indie ou alternativo, essas coisas que afastam o público da possibilidade de opção.

15 de maio de 2008 às 17:42  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, é no mínimo irresponsável rotular "O Maior Castigo Que eu te Dou" do Noel de "machista". O samba é absolutamente genial, como 95% da obra do Noel (o resto é só espetacular), com uma letra meio refratária a este tipo de colocação fácil.

No mais, foi composto no início da década de 1930, e é um pouco complicado usar um termo que não era corrente na época. Do presente, com os valores correntes, é fácil julgar o passado.

Sua colocação me lembra as besteiras do Jorge Mautner, que uma época chamava o Noel de anti-semita.

15 de maio de 2008 às 18:56  
Anonymous Anônimo said...

Ai, Maurinho de Deus!!! Ate hoje nao sei se eu gosto desta sonoridade destes meninos...gosto muito da ideia das possibilidades mas o resultado...enfim, nao tenho como acrescentar nada pois to tao longe e nao vou poder ver essa obra em construcao..rsrsrsr...mas so queria mesmo citar que "Pe da roseira" do Gil tambem foi brilhantemente interpretada por Bethania no disco "Recital da Boite Barroco"....uma joia!!!
Abracao e obrigado...seu BLOG eh o maximo!!!
Ja eh um MUST see todo dia!!!

16 de maio de 2008 às 03:01  
Anonymous Anônimo said...

Caetano não é grande músico.Canta bem,compõe belas e poéticas canções.Seria interessante que convidasse para tal projeto,um Edu Lobo,um Dori Caymmi ou mesmo um Hermerto Paschoal(hahaha!) certamente seus músicos iriam delirar e faria um grande bem ao Caetano e a esse projeto.Mas isso seria mesmo impossível!

16 de maio de 2008 às 07:40  
Anonymous Anônimo said...

Caetano veloso é ótimo compositor, excelente cantor, bom músico e muito intelegiente. Mas é também, sempre foi, muito oportunista - para o bem e para o mal.
Sempre acusaram Gilberto Gil, que é ótimo compositor, ótimo cantor e excelente músico de reacionário e direitista.
No entanto, para quem quer ver, é Caetano que tem revelado essa sua face nos últimos tempos. Vide sua assinatura no manisfesto dos 113 contra as cotas de negros.
É um grande artista, dos maiores da nossa música popular brasileira, mas quanto ao cidadão: que decepção!

16 de maio de 2008 às 09:52  
Anonymous Anônimo said...

Esse grupo que acompanha o caetano está estragando suas obras. Que pena. Parei de comprar caetano com o álbum CÊ. E olha que eu tinha todos.

Edu - abc

16 de maio de 2008 às 10:55  
Anonymous Anônimo said...

9:52, o reacionário também tem seu valor. Vide Nelson Rodrigues.

16 de maio de 2008 às 11:32  
Blogger Flávia C. said...

Fico me perguntando quão atravessados e deturpados são meus valores, pois considero "senso de oportunidade" uma qualidade e não um defeito.

16 de maio de 2008 às 11:42  
Anonymous Anônimo said...

"Por falta de conteúdo musical, Caetano cria factóides. Músico mesmo é o Gil."
Nossa tem uns 30 anos que repetem isso.
Concordo.
Mas, não acredito que usar isso pra desmerever Caetano seja muito musical.

16 de maio de 2008 às 12:15  
Anonymous Anônimo said...

caetano é um belo cidadão brasileiro.
as cotas para os negros é um tema bastante discutível, e apoiar ou se opor está longe de definir a ideologia do fulano. papinho mais antigo, careta e chato...
e como artista, caetano é dos mais expressivos que este país (abrigo de tanta mediocridade - vide acima) fez nascer.

16 de maio de 2008 às 12:18  
Anonymous Anônimo said...

Otto, é antigo, careta e chato porque talvez você não seja negro ou não tenha sensibilidade para a condição de desigualdade nesse país.

16 de maio de 2008 às 13:08  
Anonymous Anônimo said...

"Senso de oportunidade" é uma coisa,"oportunismo" é outra,cara Flávia.Tenho certeza que o Caetano nunca aprenderá isso.É muito mimado!

16 de maio de 2008 às 14:45  
Anonymous Anônimo said...

Não há dúvidas de que Caetano Veloso está acima da mediocridade. Mas ele não é o gênio que os/as tietes apregoam.

16 de maio de 2008 às 15:57  
Anonymous Anônimo said...

Mas este negocio de cotas nao eh em si SEPARATISTA???
Moro fora e nao tnheo aocmpanhado isso ai no Brasil, mas entao tem que se criar cotas para todas as outras ditas minorias...sera que nao existe uma maneira menos intrinsecamente racista de se garantir que todas pessoas qualificadas cheguem a universidade por proprios meritos que nao sejam a cor da pele!?! de antemao concordo com o post do Otto..eh bastante discutivel e Caetano tem o direito de ter opiniao..mesmo que amanha ele mude...

16 de maio de 2008 às 17:04  
Anonymous Anônimo said...

ANÔNIMO 9.52, ME POUPE!

CAETANO É GRANDE, BRO. JOVEM, CONTEMPORÂNEO, GENIAL.
TEU COMENTÁRIO SOBRE O'CIDADÃO' REVELA UM PRECONCEITO QUE JAMAIS OBSERVEI NA TRAJETÓRIA DO BAIANO.

JÁ QUE VC CURTE GIL, VAMOS A ELE: 'SE ORIENTE, RAPAZ'

16 de maio de 2008 às 17:55  
Anonymous Anônimo said...

Só mesmo um país como o nosso para não honrar Caetano da forma que merece.

É um gênio, um dos melhores compositores, um bom cantor e um bom músico.

Quanto ao seu senso de oportunidade, só mostra que também é um ótimo profissional.

Não se enganem: Todo artista quer oportunidade.

E no que diz respeito à sua cidadania, nado tenho a declarar, a não ser, que artistas, em quase sua totalidade, estão fora dos padrões convencionais de cidadania, uma vez que são formadores de opiniões e criadores de tendências, como isso, sem ruptura?

Parabéns Caetano, pela obra em progresso!

Glauber 97

16 de maio de 2008 às 22:25  
Anonymous Anônimo said...

Otto, saudações respeitosas!

16 de maio de 2008 às 23:23  
Anonymous Anônimo said...

Todas as minorias têm direito à acessibilidade, e por isso as bem-sucedidas movimentações de mulheres, homosseuxuais etc. No entanto, com os negros há uma diferença gigantesca: durante séculos eles forams ESCRAVOS, e foi sim, caro anônimo e simpatizantes, por causa da cor da pele. Daí que o Brasil, que foi o último país a abolir a escravatura TEM SIM obrigação de reparar os absurdos que fez com os negros.
Eu nenhum momento disse que o Caetano Veloso era maus artista, muito pelo contrário, citei os elogios e gosto muito de sua obra. Mas sei separar as coisas. Um exemplo é Nelson Rodrigues, que era artista genial, mas reacionário.
Como todos vocês, emiti minha opinião sobre essa atiude do Caetano e tenho direito a manifestar o que penso.
Não é porque ele é um artista genial, que não pode ser um ser-humano medíocre.

17 de maio de 2008 às 09:54  
Anonymous Anônimo said...

Caetano ser-humano medíocre...é de morrer de rir.
Deixando de lado essa discussão new-hippy-ai-que-preguiça sobre cotas (caetano adoraria), só espero que este projeto desembarque em São Paulo. Aliás, acho a idéia a cara da cidade: moderna, arrojada, multifacetada. São Paulo e os irmãos Veloso têm tudo a ver. Não é a toa que os reverenciamos sempre que por aqui aportam (e o fazem com frequência cada vez maior).
Esse papo já tá qualquer coisa...

17 de maio de 2008 às 10:14  
Anonymous Anônimo said...

e a terceira caixa do Caetano abafaram o caso?ngm me responde buáaaaaaaaaaaaaaaaaa

17 de maio de 2008 às 11:42  
Anonymous Anônimo said...

Caetano-ser humano medíocre é piada mesmo. Essa figura humana, além de brilhante, é uma gracinha de pessoa.

Mas ok, os cães ladram e a caravana passa. É isso mesmo.

17 de maio de 2008 às 15:17  
Anonymous Anônimo said...

Anônimo de 10:14 e Fátima Jurema. Vocês não entenderam nada mesmo. Não estou dizendo que o Caetano é uma pessoa medíocre. Eu fiz uma construção de pensamento, seria melhor vocês lerem direito.
O que quis dizer é que por um artista ser genial, não quer dizer que ele, em foro intímo, seja tão grande quanto pessoa como é como artista.
Lá, no início, no meu primeiro post, deixei claro minha admiração pelo Caetano artista, mas registrei minha decepção com o cidadão que assinou o manifesto contra as cotas.
Se eu digo decepção, fica claro que é porque o tenho em alta conta, não?
Mas tudo bem. Quis registrar uma decepção sobre um assunto sério entre fãs.
E aqui não vai nenhum demérito sobre isso não, pois eu também sou fã de muita gente. Só que aprendi a separar o artista do cidadão.

18 de maio de 2008 às 09:37  
Anonymous Anônimo said...

Grande Caetano, o poeta da ousadia. Não é para qualquer um, muitos preferem a, digamos, repetitiva normalidade musical. Mas não se esqueçam que "de perto ninguém é normal". Dá-lhe Caetano, estamos vendo a gestação e aguardando a sua próxima aventura musical!

18 de maio de 2008 às 22:17  
Anonymous Anônimo said...

Caetano apenas tem seu posicionamento sobre as cotas.É um direito dele e isso deve ser respeitado.Há um lado positivo na sua discordância.Mas musicalmente teria todos os predicados para ir muito além,devido ao seu talento e sensibilidades previegiados.Mas infelizmente se apega a súditos,puxa-sacos,panelas de forma extrema.Daí falar de "aventura musical"...Pode até ser,mas no meu ponto de vista,aventura muito limitada musicalmente e bem atrelada á propagação midiática.

19 de maio de 2008 às 09:04  
Anonymous Anônimo said...

Sim anonimo das 9:04...caetano pra mim esta tao vendidinho a midia que eu cansei dele...acho tudo uma mascara..ainda bem que ele ainda tem um alto conceito pra mim como poetacmpositor e cantor...mas ultimamente achoq ue tudo que ele faz sai da mesa da assessoria de imprensa, da cabeca da paulinha lavigne. tudo pra ficar na crista da onda ..o medo de passar o bastao...

20 de maio de 2008 às 17:39  
Blogger rubensb said...

mauro, a canção "tarado" q ele cantou no show, não é a mesma do disco q ele fez ao lado de jorge mautner?

21 de maio de 2008 às 18:54  
Blogger Poemas e Mensagens. said...

Meros idiotas, vão se meter logo com Caetano Veloso, procurem decifrar algo menos complexo como a cabeça do Lula..

6 de junho de 2008 às 09:59  

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