BR6 irmana Jobim e Gershwins com vivacidade
Resenha de CD
Título: Gershwin & Jobim
Here to Stay - A Capella
Artista: BR6
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2
Título: Gershwin & Jobim
Here to Stay - A Capella
Artista: BR6
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2
Descendente de uma nobre linhagem de grupos vocais brasileiros como Os Cariocas e MPB-4, o BR6 dá passo adiante neste excelente segundo disco em que realça a irmandade das obras do brasileiro Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) e da dupla americana de compositores formada pelos irmãos George Gershwin (1898 - 1937) & Ira Gershwin (1896 - 1983). Here to Stay impressiona pelos arranjos vocais cheio de frescor e pela capacidade dos integrantes do sexteto de simular sons de instrumentos musicais com a boca. Como faz Marcelo Caldi, por exemplo, ao imitar o fraseado de um trompete em Fascinating Rhythm, uma das faixas de vocais mais vibrantes. Tem que ouvir!!
Lançado em julho de 2007 nos Estados Unidos e Canadá pelo selo norte-americano NuVision, o segundo álbum do BR6 chega quase um ano depois ao mercado brasileiro via Biscoito Fino, gravadora que lançou em 2005 o primeiro CD do sexteto. A edição nacional de Here to Stay ganha faixa-bônus, Chovendo na Roseira. Por ter sido feito em português, o registro destoa do restante do repertório - gravado em inglês, embora Water to Drink até incorpore os versos originais da letra brasileira de Água de Beber.
O álbum se impõe e seduz já na faixa de abertura, que mixa Waters of March com Rhapsody in Blue. Sempre inusitado, os arranjos vocais já conferem ao álbum um caráter tão diferenciado que nem era preciso tentar transpor algumas músicas de seu universo original. Não funciona bem, por exemplo, a idéia de cantar Someone to Watch over me com o espírito do choro. Em contrapartida, as guitarras de tom roqueiro inseridas em The Girl from Ipanema dão sabor especial ao clássico já tão batido de Tom e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). As tais guitarras foram bem simuladas pelos vocais de Crismarie Hackenberg e de Deco Fiori. A propósito, não há sequer um instrumento de verdade no álbum.
Se a junção das músicas de Jobim com as dos Gershwins chega a ser óbvia (e não é à toa que o clarinetista Paulo Moura desenvolveu a mesma idéia em seu CD Pra Lá e Pra Cá, a ser editado ainda neste mês de maio pela Biscoito Fino), a abordagem do BR6 nada tem de previsível. Não dá para dizer que eles modernizaram os 14 grandes temas reunidos no álbum. Afinal, tanto com Jobim como Gershwins construíram obra pautada por modernidade atemporal. Mas há, sim, um frescor neste disco que vai encantar tanto fãs de grupos vocais como admiradores destes compositores, irmãos em sua genialidade. Tanto que eles ficaram.
4 Comments:
deviam ter cantado Jobim com as letras brasileiras, as americanas são ruins
Joel,
Esse disco foi feito de encomenda para o mercado americano. Por isso, não fazia sentido cantar as músicas em português...
O mais fantástico é a sensação de assistir a um show do BR6. É uma experiência indescritível. Todos são, além de excelentes cantores, excelentes músicos e arranjadores.
Que bom que esse disco já está disponível no Brasil, país tão rico em grupos vocais maravilhosos: BR6, Garganta Profunda, Arranco de Varsóvia, Equale, e outros, além dos clássicos MPB4, Quarteto em Cy e Os Cariocas.
abração,
Denilson
Mário Adnet também fez dois discos com a tabelinha Tom-Gershwin. Tudo a ver. São talvez os melhores compositores de cada país, as canções de ambos tocam no mundo inteiro e os dois têm um pé na música clássica, embora Gershwin tenha exercido esse lado com mais consistência (a ópera Porgy and Bess, os 3 Prelúdios para piano, o Concerto em Fá, Um Americano em Paris, a propria Rapsódia em Blue e a transcrição de umas tantas canções para piano solo).
Mas se você for pensar, 'Modinha', 'Canta Mais' e 'Estrada Branca' tb podem ser vistas como canções de câmara, nénão?. Se Gershwin teve Ravel como mentor, o Tom teve Debussy e Villa-Lobos. E claro, as influências do jazz e do samba foram proeminentes em cada caso.
Se me permitem um adendo, gostaria de mencionar Nadia Boulanger, a grande professora francesa de composição, que teve alunos como Gershwin, Piazzolla, Quincy Jones, Burt Bacharach, Leonard Bernstein e os nossos Almeida Prado e Egberto Gismonti, entre nomes brilhantes da música clássica e popular. É um nome pouco falado no Brasil, embora seja uma das pessoas mais influentes da música no século XX.
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