13 de outubro de 2007

Boca Livre chega ao DVD preso ao passado...

Resenha de CD / DVD
Título: Boca Livre e ao Vivo
Artista: Boca Livre
Gravadora: MP,B
/ Universal Music
Cotação: * * *

(Quase) 30 anos depois de mostrar, de forma pioneira, a viabilidade comercial do mercado fonográfico independente, o grupo Boca Livre chega ao DVD preso ao passado. Ao seu passado e ao passado da música brasileira de sua geração. É claro que, por se tratar do primeiro DVD do ótimo quarteto vocal, Boca Livre e ao Vivo teria que reunir sucessos como Quem Tem a Viola, Bicicleta (turbinada com o exímio baixo de Marcelo Mariano) e Mistérios. Sem falar na emblemática Toada (Na Direção do Dia), cantada com adesão das vozes do MPB-4, em encontro pautado pelo afeto. Até aí tudo certo... A questão é que, exceto por um ou outro número, como o samba Eu no Futuro (de Lula Queiroga e Lulu Oliveira) e o cover de Al Otro Lado del Río (a música que deu um Oscar ao uruguaio Jorge Drexler), os vocais do Boca Livre parecem cristalizados, como se o grupo ainda estivesse na virada dos anos 70 para os 80. É claro que os arranjos dos hits foram renovados. É claro também que as vozes do quarteto soam harmoniosas como antes. Mas falta no DVD uma centelha de real novidade. Falta a capacidade de arriscar leituras para músicas de compositores mais contemporâneos - caso de Arnaldo Antunes, para citar somente um exemplo. Seja como for, o roteiro do show gravado em 3 de fevereiro de 2007 no Auditório Ibirapuera, em São Paulo (SP), reforça a identidade vocal e estética do grupo, que reitera especial predileção por temas bucólicos como Correnteza, Fazenda e Caxangá. Muitos são da lavra profícua de compositores mineiros. É o caso de Cruzada. A parceria de Tavinho Moura com Márcio Borges conta com a adesão da voz refinada de Renato Braz. Da mesma maneira, Fred Martins entoa Diana e o tímido Rodrigo Maranhão engrossa o coro de Feito Mistério. Dona de belo timbre destoante do time masculino, Roberta Sá marca boa presença em Desenredo, mostrando segurança ao interpretar os versos densos criados por Paulo César Pinheiro para a música de Dori Caymmi. Entre um registro protocolar de Panis et Circensis (reverente aos vocais originais desta parceria de Caetano Veloso e Gilbero Gil) e leitura para tema de contorno jazzístico (First Circle, parceria de Pat Metheny e Lyle Mays), o Boca Livre se junta à Caravana com respeito ao arranjo vocal original do tema de Geraldo Azevedo e Alceu Valença. A propósito, imagens antigas de shows divididos pelo Boca Livre com Geraldo e com o MPB-4, em 1981, constituem o maior atrativo do making of - em que os cantores recontam um pouco da história do quarteto vocal, entre elogiosas frases feitas ditas pelos convidados. Enfim, é o primeiro DVD e, como tal, este apresenta o usual tom retrospectivo de gravações do gênero. Mas seria salutar que o Boca se livrasse das amarras do passado - o seu e também o da MPB - para não ser engolido pela poeira do tempo.

11 Comments:

Anonymous Anônimo said...

se é o primeiro dvd dos caras, eles tem mais é que cantar todos os sucessos, ora

13 de outubro de 2007 às 08:53  
Blogger Jorge Reis said...

Mauro, o Renato Braz não participou da gravação do DVD ?

13 de outubro de 2007 às 19:18  
Anonymous Anônimo said...

Jorge, o Mauro cita o Renato Braz. Leia o texto com atenção.

14 de outubro de 2007 às 10:23  
Anonymous Anônimo said...

O Boca Livre não tem repertório extenso, durou muito pouco (acho que só 3 discos). Toda vez que se juntam o repertório é o mesmo. Porque o DVD seria diferente?
Acho que só quem vai assistir ao Boca Livre ainda, são os fãs muito fiéis.

15 de outubro de 2007 às 09:55  
Anonymous Anônimo said...

O único convidado que me pareceu bem foi Renato Braz, os outros me soaram deslocados.

15 de outubro de 2007 às 20:40  
Blogger Alan Romero said...

O Boca Livre vai completar 30 anos de carreira no ano que vem e não tinha nenhum registro em DVD. Nada mais natural que, no primeiro, revisitasse os seus sucessos. Se não fosse assim seria uma decepção para os fãs. Difícil deve ter sido fazer a seleção do que entrar ou não. Espero que nos próximos DVDs o Boca continue nessa linha, porque senti falta de muita coisa boa!

Agora, ao contrário do Mauro, eu até me surpreendi com a quantidade de novidades no repertório!

1) De cara a primeira faixa: o belo arranjo vocal para "O Trenzinho do Caipira" vinha sendo cantado pelo Boca nos shows, mas só agora foi gravado.

2) Já a terceira faixa, "Caravana", é novidade no repertório do Boca, e foi arranjada especialmente para entrar neste show e no DVD.

3) Da quinta faixa "Al Otro Lado del Río" não há o que falar. A canção que deu um Oscar a Jorge Drexler está tinindo de nova.

4) A oitava faixa "Quando Ela Fala" é, de fato, uma canção absolutamente inédita. A insólita parceria de Carlos Lyra e Machado de Assis só por isso merecia uma menção por parte do Mauro, por mínima que fosse.

5) A faixa onze "Todo Mundo Quer um Bem", belíssima parceria de Zé Renato e Fausto Nilo, só não é totalmente inédita porque entrou no DVD do Zé Renato, que saiu primeiro, há poucos meses.

6) E a faixa treze - "Eu no Futuro" - só não é inédita para os poucos felizardos que possuem o raríssimo CD do Lula Queiroga "Aboiando a Vaca Mecânica". Aliás, este autor é ou não é "contemporâneo"? Só não entendi o Mauro ter visto ali um samba, aos meus ouvidos aquele ritmo está mais para maracatu.

Ora, seis faixas novas num total de 14 é quase a metade! Para mim o equilíbrio está perfeito. Merece nota o cuidado de alterná-las no alinhamento do show, garantindo momentos de surpresa enquanto se aprecia os clássicos do grupo.

O que a gente quer mais? Viva o Boca!

27 de outubro de 2007 às 16:48  
Blogger Ylan Marcel said...

O dito "Anônimo" aí acima, falou um punhado de m....
3 discos, só? Pois eu tenho mais de 10... Ora, pois.... Essa turma das micaretas do século XXI merece o que escuta, mesmo!

13 de maio de 2008 às 04:06  
Anonymous Anônimo said...

Tive a felicidade de assistir ao show ontem em Ouro Preto, no Festival de Inverno. Com a lua cheia e um frio de rachar, fiquei inebriada com a qualidade das interpretações, sem qualquer desgaste pelo tempo, muito pelo contrário. E olha que os escuto há mais de 20 anos. As novidades foram gratas, Caravana e Eu no futuro o máximo. É claro, espero mais por aí, quem sabe um cd do nível do Dançando pelas sombras, por exemplo..

21 de julho de 2008 às 23:55  
Blogger Alaôr Gonçalves said...

Boca Livre - a música vocal no Brasil, em minha opinião, tem duas eras: antes e depois do Boca Livre. Sem querer desmerecer outros grupos fantásticos que marcaram suas épocas como MPB4, Quarteto em Cy, 14 Bis, Roupa Nova, Demônios da Garoa, Trio Ternura, Trio Esperança, o Boca Livre "revolucionou". É um quarteto altamente técnico que tem como base a simplicidade em arranjos instrumentais na leitura horizontal, porém de alta complexidade fazendo-se uma análise vertical das harmonias e contrapontos. Suas vozes são perfeitas, embora cada um tem seu timbre característico, quando reunidas, especialmente em uníssono, são vozes que se completam e fazem um "casamento" perfeito. David Tygel com sua viola é impressionante. Uma viola que "sabe onde e quando aparecer", muito melódica e bem arranjada.
Zé Renato com o violão base, muito bem elaborado, com acordes "puxados" dando características inigualáveis em cada canção. E sua voz, limpa, de agudos impostados, quase lírico! Lourenço Baeta, que voz trabalhada, percussão, flauta e violão muito bem executados. Maurício Maestro, nunca, eu digo, nunca pude apreciar um contrabaixo com tais características, não só faz harmonia e marcação, como também tem evoluções, notas de passagem, bordaduras, etc., de uma maneira que só o Maestro pode fazer e criar. Os arranjos vocais são de rara beleza, tecnicamente nunca ouvi nada igual.

Discordo quando o Mauro afirma que "falta uma centelha de real novidade". Ora, nós, fãs nunca tivemos um DVD do Boca Livre, então queremos seus sucessos nesse lançamento, não queremos novidades.

Discordo também do comentário "Falta a capacidade de arriscar leituras para músicas de compositores mais contemporâneos". Poxa Mauro, fazer arranjos vocais é muito complicado, é muito complexo, por isso são muitos os cantores e compositores e poucos os que "arriscam" essa técnica. Arranjos de vozes contrapostas em terceiras ou sextas, deixe isso para os sertanejos. O Boca Livre se "arrisca" em algo muito mais complexo, mais elaborado, mais refinado. Acho que a busca de compositores "mais contemporâneos", não traria GRANDES MUDANÇAS, aliás, melhor dizendo, o Boca Livre nunca deveria mudar seu estilo, o que já é bom, deve permanecer bom. O Boca Livre é o MÁXIMO. Sou fã número 1. Parabéns, Boca Livre.

14 de novembro de 2008 às 13:12  
Anonymous Anônimo said...

Caro Mauro Ferreira,
Me permita discordar completamente do seu ponto de vista. Acho o Boca Livre atual por ainda se manter nos anos 70 e 80 de forma pura, límpida e isto é o bom, sem as más influências da atual geração e cá pra nós, sua comparação com Arnaldo Antunes foi péssima, nem entendi o porquê da comparação já que Arnaldo está perdido na MPB.

7 de maio de 2010 às 20:45  
Blogger Cachorro Esperto said...

Concordo com o leitor Alaôr.
O Sr. Mauro deve ser apenas colecionador de discos. De Música parece que não entende muita coisa. Ele deve estar querendo novidade na música do Villas Boas, do Wagner e vai por aí.
Será que ele tem o Fundamental em música popular. Ou s´[o entende de MPP, Música Pra Pular, dosbaianos?

30 de setembro de 2010 às 19:49  

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