12 de outubro de 2007

Livro demole mitos sobre obra musical do mago

Resenha de livro
Título: A Canção do Mago
- A Trajetória Musical de Paulo Coelho
Autor: Hérica Marmo
Editora: Futuro
Cotação: * * *

Na tarde de 19 de janeiro de 1982, Paulo Coelho estava em Viena, Áustria, onde escapou de ser soterrado por um bloco de gelo que desabara de uma marquise. Instantes depois, o letrista recebeu da mulher a notícia da morte de Elis Regina - cujo último sucesso, o bolero Me Deixas Louca, tinha os versos em português escritos por Paulo. Místico, o mago decidiu encerrar ali sua bela trajetória na música, iniciada dez anos antes, em 1972, ao receber ligação do então careta Raul Seixas, que se tornaria o seu parceiro mais reconhecido. Os passos dessa caminhada são reconstituídos pela jornalista Hérica Marmo no bom livro A Canção do Mago.

Escrita com objetividade jornalística, sem firulas, a narrativa de Marmo demole os mitos em torno da parceria de Paulo e Raul - mitológica por natureza e construída sob signos místicos. O livro mostra como, extrapolando sua função de letrista, Paulo também ajudou a criar o conceito dos melhores discos do Maluco Beleza, sobretudo o da seminal obra-prima Krig-ha, Bandolo! (1973). O mergulho nas drogas e as conseqüentes bad trips contribuiriam para diluir a criatividade da dupla - como evidenciou o fracasso do álbum Mata Virgem (1978) - e para provocar (sérias) crises como as vividas por Paulo em maio de 1974, quando, sofrendo de alucinações, ele admitiu para si mesmo que nunca acreditou nos ideais da Sociedade Alternativa que propagava ao lado de Raul e que largaria uma seita ligada ao mal. Dias depois, ao ser preso e barbaramente torturado por difundir os tais ideais da Sociedade Alternativa, ele prometeu a si mesmo que seus dias de loucura terminavam ali. E cumpriu sua palavra com rara determinação.

Saído do inferno das drogas, com tal determinação que Raul não teve ou não quis ter, Paulo se tornou atuante nos bastidores da indústria fonográfica. Contratado pela Phonogram (a companhia hoje incorporada à major Universal Music), ele ajudaria a criar o repertório e o marketing de artistas iniciantes como Fábio Jr. (que começou a cantar em português a partir de obscuro LP de 1976), Luiza Maria (cantora de postura pop que a gravadora tentou em vão emplacar no lugar de Rita Lee, que migrara para a Som Livre) e Sidney Magal. Documentar essa parte bem menos conhecida da trajetória musical do mago é um dos méritos do livro, cujo terno prefácio é de Roberto Menescal - o chefe de Paulo na Phonogram que acabou se tornando seu amigo. Depoimentos do próprio Paulo (colhidos pela autora em novembro de 2006 numa entrevista feita em Viena) abrem cada capítulo. A propósito, a edição da narrativa em cinco partes e 41 capítulos resulta às vezes confusa, sobretudo no início. Há capítulos que poderiam ser reunidos sem prejuízo da clareza da narrativa. Contudo, A Canção do Mago é livro bem-vindo que permite um maior entendimento da vida e da obra de um dos mais bem-sucedidos escritores brasileiros, cuja literatura esotérica tem as raízes fincadas em sua mítica produção musical.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

esse tipo de livro (que não li, mas me interessa) mostra que sempre existiu marketing nas gravadoras, mesmo quando a palavra não existia ou não era usada.

12 de outubro de 2007 às 11:53  
Anonymous Anônimo said...

"Soy rebelde" (sou rebelde) megaultrasuper hit de Lilian Knapp, tem letra de Paulinho. Trata-se de um clássico da mpb, e Lilian foi precursora das mulheres compositoras no Brasil. Sua letra é altamente poética, comovente e subversiva!

Eu sou rebelde porque o mundo quis assim
Porque nunca me trataram com amor...

12 de outubro de 2007 às 21:18  

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