'Portela, Passado de Glória' retorna ao catálogo
Lançado em 1970, com o aval e a produção de Paulinho da Viola, o primeiro álbum da Velha Guarda da Portela ganha justa reedição pela gravadora Biscoito Fino. Foi a partir da gravação deste disco que a Velha Guarda portelense se constituiu pela primeira vez como o grupo que até hoje (com diferentes formações ao longo do tempo) grava discos e faz shows. Foi também nesse antológico álbum que sambas clássicos como Quantas Lágrimas (Manacéa), Desengano (Aniceto) e Sofrimento de Quem Ama (Alberto Lonato) ganharam seus primeiros registros fonográficos. Editado originalmente pela extinta RGE, Portela Passado de Glória tinha sido lançado em CD pela mesma gravadora, em 1997, mas numa edição precária. A atual reedição é avalizada por Paulinho da Viola, que escreveu um texto novo sobre o disco, a exemplo do que fizera para a edição original. Eis o texto do artista:
"Na primeira edição deste disco, gravado em menos de uma semana em um estúdio de quatro canais, deixei de citar na contracapa, por descuido, a participação de três importantes músicos: o trombonista, arranjador e maestro Nelsinho (já falecido), nas faixas 8 e 12; o contrabaixista Sérgio Barroso, nas faixas 3, 8, 12 e 13; e Olímpio da Cuíca (também já falecido), que se juntou ao conjunto da Velha Guarda algum tempo depois do lançamento do LP, no segundo semestre de 1970. Os compositores Chico Santana e Alberto Lonato, além de intérpretes de suas músicas e integrantes do coro, também reforçaram o ritmo tocando pandeiro e reco-reco em um ou outro samba. Casquinha e Eliseu (Eliseu Felix, um excelente e conhecido ritmista) alternaram instrumentos durante as gravações e, como não havia tempo nem assistentes para registrar essas mudanças, não se pode afirmar com segurança quem tocou o quê em todas as faixas, exceto no caso da cuíca, tocada apenas pelo Olímpio. Naquela época, o grupo ainda não dispunha de músicos próprios e foi necessária a formação de uma base com alguns profissionais, sem a qual o trabalho não seria possível. Após o lançamento do disco, a Velha Guarda tratou de criar essa base convidando outros nomes, podendo então realizar, com grande sucesso, sua primeira apresentação, no auditório do antigo prédio da UNE, na praia do Flamengo. Tive a grata satisfação de acompanhar durante um longo tempo esses pioneiros, baluartes da minha querida Portela, em ocasiões como a do memorável show realizado no Teatro da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, durante as comemorações dos 50 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Com um precioso acervo de sambas, um ritmo inconfundível, inúmeros discos, livros, especiais de televisão, um belo documentário, vários shows fora do Brasil e perto de completar 40 anos, a Velha Guarda da Portela se mantém atuante, reunindo velhos e novos sambistas para nos encantar com suas estórias, ou mesmo “para a mocidade brincar”, como queria Chico Santana. Apesar das dificuldades técnicas, do reduzido número de pessoas na produção (no estúdio apenas eu e o técnico de som) e do pouco tempo disponível, creio que este registro tornou-se uma referência importante para aqueles que quiserem conhecer um pouco da cultura do samba, em especial a da Portela. Monarco, nosso grande mestre, no final de um dos seus mais belos sambas afirmou: “Se for falar da PORTELA, hoje eu não vou terminar”; e eu, lhe pedindo licença, acrescento: “de sua VELHA GUARDA também”. Rio, 31 de março de 2009. Paulinho da Viola.
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Lançado em 1970, com o aval e a produção de Paulinho da Viola, o primeiro álbum da Velha Guarda da Portela ganha justa reedição pela gravadora Biscoito Fino. Foi a partir da gravação deste disco que a Velha Guarda portelense se constituiu pela primeira vez como o grupo que até hoje (com diferentes formações ao longo do tempo) grava discos e faz shows. Foi também nesse antológico álbum que sambas clássicos como Quantas Lágrimas (Manacéa), Desengano (Aniceto) e Sofrimento de Quem Ama (Alberto Lonato) ganharam seus primeiros registros fonográficos. Editado originalmente pela extinta RGE, Portela Passado de Glória tinha sido lançado em CD pela mesma gravadora, em 1997, mas numa edição precária. A atual reedição é avalizada por Paulinho da Viola, que escreveu um texto novo sobre o disco, a exemplo do que fizera para a edição original. Eis o texto do artista:
"Na primeira edição deste disco, gravado em menos de uma semana em um estúdio de quatro canais, deixei de citar na contracapa, por descuido, a participação de três importantes músicos: o trombonista, arranjador e maestro Nelsinho (já falecido), nas faixas 8 e 12; o contrabaixista Sérgio Barroso, nas faixas 3, 8, 12 e 13; e Olímpio da Cuíca (também já falecido), que se juntou ao conjunto da Velha Guarda algum tempo depois do lançamento do LP, no segundo semestre de 1970. Os compositores Chico Santana e Alberto Lonato, além de intérpretes de suas músicas e integrantes do coro, também reforçaram o ritmo tocando pandeiro e reco-reco em um ou outro samba. Casquinha e Eliseu (Eliseu Felix, um excelente e conhecido ritmista) alternaram instrumentos durante as gravações e, como não havia tempo nem assistentes para registrar essas mudanças, não se pode afirmar com segurança quem tocou o quê em todas as faixas, exceto no caso da cuíca, tocada apenas pelo Olímpio. Naquela época, o grupo ainda não dispunha de músicos próprios e foi necessária a formação de uma base com alguns profissionais, sem a qual o trabalho não seria possível. Após o lançamento do disco, a Velha Guarda tratou de criar essa base convidando outros nomes, podendo então realizar, com grande sucesso, sua primeira apresentação, no auditório do antigo prédio da UNE, na praia do Flamengo. Tive a grata satisfação de acompanhar durante um longo tempo esses pioneiros, baluartes da minha querida Portela, em ocasiões como a do memorável show realizado no Teatro da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, durante as comemorações dos 50 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Com um precioso acervo de sambas, um ritmo inconfundível, inúmeros discos, livros, especiais de televisão, um belo documentário, vários shows fora do Brasil e perto de completar 40 anos, a Velha Guarda da Portela se mantém atuante, reunindo velhos e novos sambistas para nos encantar com suas estórias, ou mesmo “para a mocidade brincar”, como queria Chico Santana. Apesar das dificuldades técnicas, do reduzido número de pessoas na produção (no estúdio apenas eu e o técnico de som) e do pouco tempo disponível, creio que este registro tornou-se uma referência importante para aqueles que quiserem conhecer um pouco da cultura do samba, em especial a da Portela. Monarco, nosso grande mestre, no final de um dos seus mais belos sambas afirmou: “Se for falar da PORTELA, hoje eu não vou terminar”; e eu, lhe pedindo licença, acrescento: “de sua VELHA GUARDA também”. Rio, 31 de março de 2009. Paulinho da Viola.
Oi Mauro! Duas ótimas e inquietantes notícias no mesmo dia! Primeiro, o CD que o Ney vai lançar, com as músicas do tal show que ele fez. Quando você escreveu aqui sobre o espetáculo, fiquei louco de curiosidade, ansiedade etc. A notícia não poderia ser melhor: um disco de estúdio!
Agora vem essa da Velha Guarda! Minha dúvida é se conseguiram melhorar o dom do disco. Porque tenho a versão antiga, em CD, que você comenta, e a qualidade do áudio é realmente terrível. Será que deu para resolver isso?
E obrigado por visitar meu blog! Continuo postando diariamente!
http://mpbrunoblog.blogspot.com
Abração!
Bruno
A Biscoito definitivamente é o porto seguro da boa música brasileira da atualidade. Obrigado a Kati, Olivia e toda a equipe.
Maravilha!
Muita gente critica a BF, mas esta atitude de relançar uma jóia musical da VG da Portela é realmente louvável. --- Que venham outras jóias assim!
Tenho o vinil e o CD e também estou curioso em saber se o som foi "remasterizado". Tomara!
Tom Bom
São Paulo/SP, Brasil
rosemberg
essa gravadora, faz realmente jus ao nome, parabens.
e salve a velha guarda da portela.
Alô Biscoito Fino!
Por favor, vocês poderiam colocar novamente em catálogo o maravilhoso álbum da Velha Guarda da Portela chamado Doce Recordação de 1986, esse sim raro em cd.
Esse disco é tão fantástico que tem o Hino da Velha Guarda da Portela composto pelo grande Chico Santana, grande autor que em vida teve sua primeira música off-discos da Velha Guarda gravadas pela Rainha do Samba: Beth Carvalho.
Seu Chico Santana estouraria em todo país com Saco de Feijão. Abs,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
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