Música de João permanece grande como o mito
Resenha de show
Título: Itaúbrasil - João Gilberto
Artista: João Gilberto
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ)
Data: 24 de agosto de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Foto: Factoria Comunicação / Beti Niemeyer
Aos 77 anos, João Gilberto mostrou na volta aos palcos do Rio de Janeiro - a cidade na qual apresentou sua bossa sempre nova em 1958 - que sua música permanece tão grande quanto o mito alimentado (por ele mesmo) em torno de sua figura excêntrica. A voz já não conserva o viço de antes - se comparada com a última apresentação carioca do cantor, realizada em 1994 no desativado Teatro do Hotel Nacional - e toda a revolução estética já foi feita há 50 anos. Mas João é sempre surpreendente, único a cada show. E sua apresentação histórica no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na noite de domingo, 24 de agosto de 2008, apenas confirmou o caráter fenomenal de seu canto e do toque de seu violão. E o curioso é que o gênio de João aparece sobretudo nas músicas que ele toca há 50 anos. Samba do Avião, Wave, Desafinado e Chega de Saudade - único número em que, já no bis, a platéia se atreveu a cantar com João, para surpreendente deleite do artista - foram os grandes momentos da noite. As músicas mais velhas em sua voz foram justamente as que soaram mais novas, remodeladas por um intérprete que pôs seu nome na galeria mais nobre da música brasileira justamente por mexer e remexer com maestria na obra alheia e no próprio canto. A bossa ainda é nova...
A abertura silenciosa com três sambas de Dorival Caymmi (1914 - 2008) - Você Já Foi à Bahia?, Doralice e Rosa Morena - foi a maneira de o velho sempre novo baiano expressar com seu canto a reverência que tem ao colega conterrâneo que, de certa forma, antecipou as conquistas harmônicas da bossa. João consegue a proeza de soar atemporal mesmo apegado a seu passado musical. Com exceção de Lígia, entoada sem a pronúncia do nome da musa inspiradora da canção de Tom Jobim (1927 - 1994) e Chico Buarque, as demais músicas do roteiro foram lançadas entre os anos 30 e 60. Um roteiro que celebrou as belezas cariocas - e a inclusão de três peças da Sinfonia do Rio de Janeiro (Abertura, Hino ao Sol e O Mar) já diz tudo por si só - e o samba. É do baú do samba, cuja batida João conseguiu sintetizar magistralmente nas cordas de seu violão ao criar sua própria batida diferente, que João tira pérolas como Não Vou pra Casa, parceria de Antonio Almeida e Roberto Riberti, lançada em 1941 e regravada pelo mestre em 2000 no álbum João Voz e Violão. João canta macio - e cada vez mais sussurrado - mas é o vozeirão antenado de Orlando Silva (1915 - 1978), e não o de Mário Reis (1907 - 1981), que ele celebra quando canta músicas como Preconceito, samba de Wilson Batista (1913 - 1968) com Marino Pinto (1916 - 1965). Enfim, nada de novo. Mas, ao mesmo tempo, tudo soou novo. "Gênio!", gritou um espectador depois da reveladora releitura de Retrato em Branco e Preto. João Gilberto é mesmo um gênio. Que virou mito também por fatores extra-musicais. Mas o que conta - e o show atestou isso - é que a música ainda é grande como o mito.
Título: Itaúbrasil - João Gilberto
Artista: João Gilberto
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ)
Data: 24 de agosto de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Foto: Factoria Comunicação / Beti Niemeyer
Aos 77 anos, João Gilberto mostrou na volta aos palcos do Rio de Janeiro - a cidade na qual apresentou sua bossa sempre nova em 1958 - que sua música permanece tão grande quanto o mito alimentado (por ele mesmo) em torno de sua figura excêntrica. A voz já não conserva o viço de antes - se comparada com a última apresentação carioca do cantor, realizada em 1994 no desativado Teatro do Hotel Nacional - e toda a revolução estética já foi feita há 50 anos. Mas João é sempre surpreendente, único a cada show. E sua apresentação histórica no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na noite de domingo, 24 de agosto de 2008, apenas confirmou o caráter fenomenal de seu canto e do toque de seu violão. E o curioso é que o gênio de João aparece sobretudo nas músicas que ele toca há 50 anos. Samba do Avião, Wave, Desafinado e Chega de Saudade - único número em que, já no bis, a platéia se atreveu a cantar com João, para surpreendente deleite do artista - foram os grandes momentos da noite. As músicas mais velhas em sua voz foram justamente as que soaram mais novas, remodeladas por um intérprete que pôs seu nome na galeria mais nobre da música brasileira justamente por mexer e remexer com maestria na obra alheia e no próprio canto. A bossa ainda é nova...
A abertura silenciosa com três sambas de Dorival Caymmi (1914 - 2008) - Você Já Foi à Bahia?, Doralice e Rosa Morena - foi a maneira de o velho sempre novo baiano expressar com seu canto a reverência que tem ao colega conterrâneo que, de certa forma, antecipou as conquistas harmônicas da bossa. João consegue a proeza de soar atemporal mesmo apegado a seu passado musical. Com exceção de Lígia, entoada sem a pronúncia do nome da musa inspiradora da canção de Tom Jobim (1927 - 1994) e Chico Buarque, as demais músicas do roteiro foram lançadas entre os anos 30 e 60. Um roteiro que celebrou as belezas cariocas - e a inclusão de três peças da Sinfonia do Rio de Janeiro (Abertura, Hino ao Sol e O Mar) já diz tudo por si só - e o samba. É do baú do samba, cuja batida João conseguiu sintetizar magistralmente nas cordas de seu violão ao criar sua própria batida diferente, que João tira pérolas como Não Vou pra Casa, parceria de Antonio Almeida e Roberto Riberti, lançada em 1941 e regravada pelo mestre em 2000 no álbum João Voz e Violão. João canta macio - e cada vez mais sussurrado - mas é o vozeirão antenado de Orlando Silva (1915 - 1978), e não o de Mário Reis (1907 - 1981), que ele celebra quando canta músicas como Preconceito, samba de Wilson Batista (1913 - 1968) com Marino Pinto (1916 - 1965). Enfim, nada de novo. Mas, ao mesmo tempo, tudo soou novo. "Gênio!", gritou um espectador depois da reveladora releitura de Retrato em Branco e Preto. João Gilberto é mesmo um gênio. Que virou mito também por fatores extra-musicais. Mas o que conta - e o show atestou isso - é que a música ainda é grande como o mito.
17 Comments:
Aos 77 anos, João Gilberto mostrou na volta aos palcos do Rio de Janeiro - a cidade na qual apresentou sua bossa sempre nova em 1958 - que sua música permanece tão grande quanto o mito alimentado (por ele mesmo) em torno de sua figura excêntrica. A voz já não conserva o viço de antes - se comparada com a última apresentação carioca do cantor, realizada em 1994 no desativado Teatro do Hotel Nacional - e toda a revolução estética já foi feita há 50 anos. Mas João é sempre surpreendente, único a cada show. E sua apresentação histórica no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na noite de domingo, 24 de agosto de 2008, apenas confirmou o caráter fenomenal de seu canto e do toque de seu violão. E o curioso é que o gênio de João aparece sobretudo nas músicas que ele toca há 50 anos. Samba do Avião, Wave, Desafinado e Chega de Saudade - único número em que, já no bis, a platéia se atreveu a cantar com João, para surpreendente deleite do artista - foram os grandes momentos da noite. As músicas mais velhas são as que soaram mais novas, remodeladas por um intérprete que pôs seu nome na galeria mais nobre da música brasileira justamente por (re)mexer com maestria na obra alheia.
A abertura silenciosa com três sambas de Dorival Caymmi (1914 - 2008) - Você Já Foi à Bahia?, Doralice e Rosa Morena - foi a maneira de o velho sempre novo baiano expressar com seu canto a reverência que tem ao colega conterrâneo que, de certa forma, antecipou as conquistas harmônicas da bossa. João consegue a proeza de soar atemporal mesmo apegado a seu passado musical. Com exceção de Lígia, entoada sem a pronúncia do nome da musa inspiradora da canção de Tom Jobim (1927 - 1994) e Chico Buarque, as demais músicas do roteiro foram lançadas entre os anos 30 e 60. Um roteiro que celebrou as belezas cariocas - e a inclusão de três peças da Sinfonia do Rio de Janeiro (Abertura, Hino ao Sol e O Mar) já diz tudo por si só - e o samba. É do baú do samba, cuja batida João conseguiu sintetizar magistralmente nas cordas de seu violão ao criar sua própria batida diferente, que João tira pérolas como Não Vou pra Casa, parceria de Antonio Almeida e Roberto Riberti, lançada em 1941 e regravada pelo mestre em 2000 no álbum João Voz e Violão. João canta macio - e cada vez mais sussurrado - mas é o vozeirão antenado de Orlando Silva (1915 - 1978), e não o de Mário Reis (1907 - 1981), que ele celebra quando canta músicas como Preconceito, samba de Wilson Batista (1913 - 1968) com Marino Pinto (1916 - 1965). Enfim, nada de novo. Mas, ao mesmo tempo, tudo soou novo. "Gênio!", gritou um espectador após a reveladora releitura de Retrato em Branco e Preto. João Gilberto é mesmo um gênio. Que virou mito por série de circunstâncias extra-musicais. Mas o que conta - vale repetir - é que a música continua grande como o mito.
correçãozinha Mauro...
Lígia é somente de Tom Jobim (música e letra). não é uma parceria com o Chico.
beijo e valeu pela resenha.
Sei que pode parecer absurdo para muita gente, mas até hoje não consegui entender o motivo de tanta adoração, especialmente da crítica, por João Gilberto. Não que eu não goste dele, mas para mim é apenas mais um cantor.
Tenho muito mais admiração por aqueles que se declaram grandes influenciados por ele, como Caetano Veloso, por exemplo, que é para mim muito mais genial que João Gilberto.
Nossa, o Joãozinho tem 77 aninhos?
Você acha esses concertos do João têm sido gravados?
Espero que sim.
Lindas as fotos!
Lindo João!
Mauro, me pergunto o que fez com que você não desse 5 estrelas ( ***** ) pra esse show. Eu nunca assisti um show do João Gilberto mas sempre leio que o repertório não muda muito ...
Claro que não há muito que fazer reparos mas faz tempo que ele não põe MENINO DO RIO e MANIA DE VOCÊ no repertório.
Em 06 de Junho de 2008 você criou um tópico com o seguinte título " 'Rei' sai da inércia e canta Jobim com Caetano ".
"Para o chato não tem perdão"
Cazuza
Jose Henrique
O título exato do tópico é " Música de João permanece na mesma, assim como o mito "
É simplesmente um gênio!
Um pouco leviano dizer que João virou mito por razões extra-musicais. Essas "razões" só cabem em colunas de fofocas. Ele virou mito, no mundo, por cause de sua música, que é a mais perfeita que se produz por aqui.
Verdade Diogo, o rei saiu da inércia e nós ? quando ouviremos João Gilberto cantando ' Chão de Giz ', ' Você Abusou ', ' Pecado Capital' e ' Como é grande o meu amor por você ' ??
Theatro Municipal do Rio de Janeiro ? Scorpions se apresentará no HSBC Arena ( aquela mesma onde Bob Dylan viu vários lugares vazios ...) !
Medo do João Gilberto criticar a acústica ou de não lotar também - tal qual Bob Dylan ??
Um mito criado pelas Elites, FATO!
Música de genio é a que atinge a todos, como é da Do roberto Carlos, como é a de inúmeros cantores pelo mundo.
João Gilberto é um chato que virou "mito" pela mão de alguns, assim como ronaldinho nunca foi mito no fitebol, JG também não o é na música.
Poderia citar dezenas de genios das música, que atingiram desde as elites até as classes mais baixas do mundo.
Gênio que só tem reconehcimento por uma camada social?
Isso não é gênio!Desista disso!
as gravadoras acham que vendem discos quando na verdade vendem (ou deveriam vender) música (parte da raiz do problema da pirataria está aí).
joão gilberto é um cantor que faz e vende músicas, num tempo de fazer e vender discos.
roberto carlos é um cantor que faz discos (ou eu devia dizer um mesmo disco) há anos.
quem é o gênio?
aliás roberto no começo de carreira bem que tentou ser joão gilberto, que eu saiba, joão nunca tentou ser roberto.
Acho esse insenso na figura desse cara um exagero. (???????????)
Já não mostra o vigor que um BB KIng com muito mais anos ainda tem ...
Esse papo de elite é tão elitista... uma tecla meio Carlinho Lyra, meio Tinhorão, e completamente esvaziada, tanto teorica quanto politicamente.
João é gênio em qualquer lugar, na opinião de qualquer pessoa que entenda de música. Inclusive na opinião do citado Roberto Carlos, por exemplo.
pros que não entendem de onde vem a admiração por João: vem simplesmente do fato que cada vez que ele canta uma canção, revela algo novo sobre ela. algo que você nunca tinha percebido que existia naquela canção, não importa quantas vezes já a tenha ouvido. É só. trata-se da pura admiração por um músico unicamente por causa de sua música. isso é eterno. o resto é balela.
Postar um comentário
<< Home