Um papo com Caetano sobre créditos e discos
Em 1972, sete anos antes de ser projetada com seu primeiro disco, uma então desconhecida Ângela Ro Ro entrou num estúdio de Londres e iniciou carreira fonográfica ao tocar gaita em Nostalgia, faixa de Transa, o LP que Caetano Veloso gravou naquele ano. Mas o nome de Ro Ro nunca apareceu nos créditos das sucessivas reedições do álbum e, na desleixada ficha técnica do LP original, constava erroneamente que ela tocava flauta. O erro está sendo, enfim, reparado com a reedição de Transa incluída em 67 - 74, a primeira das quatro caixas da série Quarenta Anos Caetanos, que festeja as quatro décadas do ingresso do artista baiano, em 1967, na companhia (atualmente...) denominada Universal Music.
"Naquela época, não saía nome de músico nos discos do Brasil", argumenta Caetano Veloso na entrevista coletiva que concedeu no início da noite de quinta-feira, 21 de dezembro, na sede carioca da gravadora Universal Music, para promover a nova coleção produzida por Charles Gavin. Caetano ditou a Gavin de memória a ficha técnica de Transa, cuja atual reedição em CD reproduz o formato triângular do encarte do LP de 1972 e dá o devido crédito a músicos como Jards Macalé (violão) e Tutty Moreno (bateria). Aliás, por conta de anteriores omissões dos créditos, perpetuadas na recente reedição feita para a caixa Todo Caetano (de 2002), Macalé comprou briga com o velho baiano ao reivindicar há anos - via imprensa - o crédito de produtor do cultuado disco londrino.
"Fiquei de mal com Jards Macalé porque ele ficou me agredindo na imprensa. Mas ele mesmo criou e descriou a briga pela imprensa", ressalta Caetano, contando que, ao encontrar recentemente com Macalé no aniversário da atriz Marieta Severo, selou a paz com o colega e o intimou a ver seu show Cê, apresentado esta semana no Rio de Janeiro em dois concorridos espetáculos no Circo Voador.
Créditos à parte, a conversa girou em torno de gravações inéditas que serão apresentadas nas quatro caixas (as próximas três serão lançadas ao longo de 2007). Uma das jóias encontradas no baú é um registro de A Rã, parceria de Caetano com João Donato. "Eu achei lindo. Eu sozinho tocando vioão no estúdio... Foi nos anos 70, um pouco depois da gravação da Gal", contextualiza Caetano, em referência ao fato de Gal Costa ter incluído A Rã em seu disco Cantar, de 1974. Outra gravação inédita que virá à tona é uma leitura de Caetano para Mamãe Natureza, o rock de Rita Lee. "É espetacular", garante Caetano, assumindo a habitual e já folclórica imodéstia. Diz ele, sincero: "Sou leonino. Não sou modesto. Mas não tenho avaliação muito positiva da minha produção, não. O meu desejo de melhorar sempre foi constante... e muito prático".
Mais discreto, Charles Gavin contou que a reprodução da capa do compacto duplo gravado ao vivo por Caetano com os Mutantes, em 1968, somente foi possível porque o argentino Rodolfo Martin, fã e colecionador da obra do baiano, enviou a imagem da Flórida (EUA). A tal capa pode ser vista no encarte do CD-bônus Cinema Olympia - Caetano Raro e Inédito, que inicia a justa revirada no baú com dois fonogramas inéditos: a música-título, de 1969, e uma gravação de Hino do Esporte Clube Bahia, feita em 1968 com Gilberto Gil ao violão. O titã também revelou que foi encontrada a gravação integral do show feito por Caetano com Maria Bethânia em 1978 - editada no LP por falta de espaço. Mas, se viabilizada, a reedição do álbum com a bem-vinda inclusão das sobras será feita fora da coleção Quarenta Anos Caetanos. Talvez já em 2008...
Sobre a longa e ininterrupta permanência na gravadora Universal Music, fato raro no momento em que quase todos os medalhões da MPB partiram para o mercado independente, Caetano credita sua fidelidade fonográfica a uma acomodação na área empresarial. "Eu não tenho muita motivação para tomar decisões nessa área profissional. Não tive nenhuma motivação para sair da gravadora - exceto uma vez por causa de um dirigente - e nem pretendo criar uma empresa", argumenta, com aparente vitalidade para mais 40 anos de músicas e polêmicas, a julgar por seu recente álbum Cê...
"Naquela época, não saía nome de músico nos discos do Brasil", argumenta Caetano Veloso na entrevista coletiva que concedeu no início da noite de quinta-feira, 21 de dezembro, na sede carioca da gravadora Universal Music, para promover a nova coleção produzida por Charles Gavin. Caetano ditou a Gavin de memória a ficha técnica de Transa, cuja atual reedição em CD reproduz o formato triângular do encarte do LP de 1972 e dá o devido crédito a músicos como Jards Macalé (violão) e Tutty Moreno (bateria). Aliás, por conta de anteriores omissões dos créditos, perpetuadas na recente reedição feita para a caixa Todo Caetano (de 2002), Macalé comprou briga com o velho baiano ao reivindicar há anos - via imprensa - o crédito de produtor do cultuado disco londrino.
"Fiquei de mal com Jards Macalé porque ele ficou me agredindo na imprensa. Mas ele mesmo criou e descriou a briga pela imprensa", ressalta Caetano, contando que, ao encontrar recentemente com Macalé no aniversário da atriz Marieta Severo, selou a paz com o colega e o intimou a ver seu show Cê, apresentado esta semana no Rio de Janeiro em dois concorridos espetáculos no Circo Voador.
Créditos à parte, a conversa girou em torno de gravações inéditas que serão apresentadas nas quatro caixas (as próximas três serão lançadas ao longo de 2007). Uma das jóias encontradas no baú é um registro de A Rã, parceria de Caetano com João Donato. "Eu achei lindo. Eu sozinho tocando vioão no estúdio... Foi nos anos 70, um pouco depois da gravação da Gal", contextualiza Caetano, em referência ao fato de Gal Costa ter incluído A Rã em seu disco Cantar, de 1974. Outra gravação inédita que virá à tona é uma leitura de Caetano para Mamãe Natureza, o rock de Rita Lee. "É espetacular", garante Caetano, assumindo a habitual e já folclórica imodéstia. Diz ele, sincero: "Sou leonino. Não sou modesto. Mas não tenho avaliação muito positiva da minha produção, não. O meu desejo de melhorar sempre foi constante... e muito prático".
Mais discreto, Charles Gavin contou que a reprodução da capa do compacto duplo gravado ao vivo por Caetano com os Mutantes, em 1968, somente foi possível porque o argentino Rodolfo Martin, fã e colecionador da obra do baiano, enviou a imagem da Flórida (EUA). A tal capa pode ser vista no encarte do CD-bônus Cinema Olympia - Caetano Raro e Inédito, que inicia a justa revirada no baú com dois fonogramas inéditos: a música-título, de 1969, e uma gravação de Hino do Esporte Clube Bahia, feita em 1968 com Gilberto Gil ao violão. O titã também revelou que foi encontrada a gravação integral do show feito por Caetano com Maria Bethânia em 1978 - editada no LP por falta de espaço. Mas, se viabilizada, a reedição do álbum com a bem-vinda inclusão das sobras será feita fora da coleção Quarenta Anos Caetanos. Talvez já em 2008...
Sobre a longa e ininterrupta permanência na gravadora Universal Music, fato raro no momento em que quase todos os medalhões da MPB partiram para o mercado independente, Caetano credita sua fidelidade fonográfica a uma acomodação na área empresarial. "Eu não tenho muita motivação para tomar decisões nessa área profissional. Não tive nenhuma motivação para sair da gravadora - exceto uma vez por causa de um dirigente - e nem pretendo criar uma empresa", argumenta, com aparente vitalidade para mais 40 anos de músicas e polêmicas, a julgar por seu recente álbum Cê...
21 Comments:
o que tem naquele show com Bethânia que não entrou no disco?
Mauro,
o conceito "com a habitual e já folclórica imodéstia", referindo-se a quem se refere... é muito divertido!
bom natal.
pedro k.
Rock-n-brasil.com
Gosto de parte da obra de Caetano Veloso. Não levaria para casa uma caixa com a 'opera omnia'. As coletâneas são suficientes para mim.
Muitas músicas não entraram no LP, basta comparar com o programa do show, que eu tenho guardado. Seria muito legal a Universal disponibilizar esse show, que inclusive já vi em cópia pirata. Depois as multinacionais reclamam de pirataria...
Universal, urgente!
Queremos o show do Caetano e Bethânia integral em CD!
As buscas devem continuar, falta achar e lançar Rosa dos Ventos, Drama, A Cena Muda, Pássaro da Manhã, enfim todos os geniais shows da Bethânia que não foram lançados integralmente por causa do formato LP. E o Chico e Bethânia? Ainda tem muito trabalho para o titã! E imagem, não tem nada, seria tão bom imagem de Rosa dos Ventos, Chico e Bethânia!
Capa triangular, sem circunflexo! Ou não!?
Caetano é Rei. Roberto Carlos que nada...
Para Afonso Said : No site ofocial de Maria Bethânia, na página de shows, vc pode encontrar o roteiro completo do show Caetano e Bethânia ao vivo, de 1978. www.mariabethania.com.br
Abração do Edu ( abc ) e Feliz Natal para todos !
Mauro, mais uma vez parabéns pelo fantástico e democrático blog. Um orgulho para nós músicos e apreciadores do gênero.
Ola Mauro, bom dia
Eu tenho o LP " Transa" e numa folha avulsa que acompanha o disco, com letras das músicas e ficha técnica, aparece sim, Angela Ro-Ro tocando flauta em " Nostalgia". É a primeira edição desse trabalho. Ro-Ro está lá sim, gloriosa.
Feliz Natal para voce e para todos os seus
Eulalia
morenoe@terra.com.br
Eulália, grato pela informação, correta. Caetano pelo visto se esqueceu desta folha em branco, pois na entrevista falou que não saiu os créditos. De qualquer forma, Ro Ro toca gaita, e não flauta.
caetano é o rei dos animais.
Oi Mauro, me perdoe, mais uma vez. Ro-Ro toca flauta, assim aparece na ficha técnica, estou com ela aqui em mãos. LP Transa. Abraço
Eulalia
Na verdade, não foi Caetano, sabemos, foi Macalé que implicou.mas a história como Macalé contou parecia ter sido na época lá por 73 que ele brigou com Caetano. Mas pelo que Cae disse parece que não, que foi somente quando ele contou em entrevistas a história do desentendimento(isso dois ou tres anos atrás.De qualquer forma, não importa! mas eu vou continuar escrevend aqui, Mauro, sobre os dois primeiros discos do Jards Macalé esperando que surja algum efeito de ressonância.Pois é algo impossível de entender. O Charles Gavin que todos respeitamos, pois o trabalho é realmente maravilhoso, além de ser também um titã(legal dizer isso!)ainda não fez nada pra relamçar esses dois discos.Que passas? Discos monumentos da música brasileira.
2.Outro Monumento esquecido, impossível entender,o disco do Ney Matogrosso , O primeiro,absoluto solo,grandes músicos, repertorio maravilhoso, Ney no auge,sem contar a performance dele na época, aquelas fotos. Nada! Nada!
Como disse vou continuar escrevendo aqui,(se você me permitir é claro!) pra reenvindicar esses lançamentos.Pergunta para o Mauro: você não escreveu alguns meses atrás que lançariam os discos do Ronnie Von(os primeiros) saíram?
Mauro, Um super Natal e um ano novo maravilhoso prá você.
Humberto
CAETANO FERA. UM CARA GENIAL.
Ola Mauro, não tem nada a agradecer. De fato, na ficha técnica aparece RoRo como tocando flauta.Acredito em voce pela sua seriedade profissional comprovada ao longo da sua vida. Feliz Natale Fei 2007.
Abraço
Eulalia
Eulália, de fato na ficha técnica consta que ela toca flauta, mas, de fato, o instrumento é gaita - como pode ser ouvida na faixa Nostalgia.
Humberto, os relançamentos da obra do Ronnie está previstos para o primeiro semestre de 2007, via Universal.
Feliz Natal a todos os comentaristas e leitores deste blog!
Caetano sempre show. Com gaita ou com flauta.
Feliz Natal, galera. Tomara que haja muita liberdade para todos, pois como diz vovó: um boi solto se lambe todo!!!
Surpreso com Rorô . Tocando gaita pra Caetano ...
MAURO FERREIRA
PARABÉNS PELO BLOGG.
Gostaria de pedir que use sua influência para que nas próximas caixas do Caetano, sejam incluídas as gravaçoes do Festival de Montreux, Trilha da minissérie TENDA DOS MILAGRES, gravaçoes de compactos que nao apareceram ainda, como MASSA REAL, e participaçoes do caetano, como por exemplo no compacto do Bolão, que participava da "OUTRA BANDA DA TERRA".
Abraços!
Geraldo
Mauro,
É verdade que a Zizi Possi toca pandeiro no LP "Transa"?
Nos USA quando os produtores e diretores fazem um filme,disco,
peça teatral,ballet,livro etc.. êles pensam numa equipe,num "time" e não
sómente no personagem principal..
No Brasil sempre foi o contrário,principalmente na industria de
discos onde 75% dos discos não tem créditos dos arranjadores,
músicos,engenheiros de som etc..ou seja "Quem fêz os arranjos;
quem tocou neste disco!
Os músicos alem de não receber os direitos conexos vêem esta tendência
a se perpetuar nas gravadoras,sites e blogs nacionais.
Grande parcela de culpa é dos produtores musicais,que na realidade são
executivos das gravadoras e estes estão mais ligados as vendas de disco
do que na qualidade dos mesmos e o que estas mercadorias representam
para a música brasileira.Outra parcela de culpa são os cantores(sic)
ou intérpretes que nunca moveram um dedo em prol daqueles que participaram
na construção de um disco.Outra parcela é a dos próprios músicos que nunca
conseguiram organizar-se como classe e reinvidicar seus direitos.
Resta aos amantes da música brasileira reivindicar os direitos por uma música
de qualidade, não sómente de "entretenimento".
Se vcs gostam e querem realmente contribuir para o resgate e preservação
história da música brasileira comecem por favor a exigir na Web créditos nos LP.
abraço a todos
Carlos Roberto Rocha(arranjador,compositor e guitarrista)
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