18 de dezembro de 2006

Retrô 2006 - Mart'nália em Berlim, Rio e Bahia

Em 2006, Mart'nália reafirmou com Menino do Rio, editado em fevereiro, o talento evidenciado em 2002 com o lançamento de Pé do meu Samba. O quinto disco da filha de Martinho da Vila marcou sua estréia no selo Quitanda, dirigido por Maria Bethânia em parceria com a Biscoito Fino. Não por acaso, Mart'nália pisou com Menino do Rio no terreiro baiano da Abelha Rainha sem tirar os pés do samba carioca. Mas, no meio do caminho, houve estratégica parada em Berlim, Alemanha, onde a artista gravou em 16 de junho show feito na Casa das Culturas do Mundo, durante a Copa da Cultura. A gravação pode ser vista no kit de CD e DVD Mart'nália em Berlim ao Vivo, lançado esta semana pelo selo Quitanda. Nos extras, há encontros da cantora com Chico Buarque (nos sambas Sem Compromisso e Deixe a Menina) e Luiz Melodia (em registro de estúdio de Estácio, Holly Estácio, um hit de 1972).

Menino do Rio fecha 2006 como um dos melhores CDs do ano. No encarte, Mart'nália agradeceu a Bethânia por ter enxergado "com outros olhos" sua espiritualidade - evidente na releitura suave de Nas Águas de Amaralina (1997), samba baianíssimo de Martinho da Vila e Nelson Rufino. O fato de o maestro de Bethânia, Jaime Alem, ter assinado os arranjos de 14 das 15 faixas trouxe a cantora para o universo musical da colega baiana, que leu poema de Vinicius de Moraes (Cartão Postal) numa bossa, São Sebastião.

Cheio de bossa, Menino do Rio apresentou uma ambiência cool, urdida com violão e suaves percussões. Fina e delicada atmosfera permeou o ótimo repertório, inclusive um samba abusado de Ana Carolina (Cabide) e uma balada antiga de Guilherme Arantes (Só Deus É quem Sabe, de 1980, em registro etéreo). O resultado foi tão sedutor quanto o de Pé do meu Samba (2002), o anterior disco de estúdio de Mart'nália, produzido por Celso Fonseca com direção de Caetano Veloso, presente em Menino do Rio com a recriação em voz & violão (e eventual cuíca) da faixa-título, de sua autoria. De 1980, Menino do Rio apareceu unido a Estácio, Holly Estácio - a pérola negra de Luiz Melodia que Bethânia teve a honra de lançar no LP Drama (1972) e que a filha de Martinho da Vila rebobinou com o Negro Gato em setembro de 2006 para os extras do DVD Mart'nália em Berlim ao Vivo. Sutilezas de Bethânia.

Mart'nália transitou ainda pela novíssima bossa de fraseado soul (em Pára Comigo, faixa excepcionalmente arranjada pelo baixista Arthur Maia), por pop acústico (em Soneto do teu Corpo, parceria de Moska e Leoni) e por levadas eventualmente funkeadas, mas deixou claro logo na abertura de Menino do Rio que sua praia é a do samba. "O samba corre em minhas veias / O samba é a minha escola", avisou em Pra Mart'nália, samba feito para ela por Jorge Agrião e Fred Camacho, gravado com várias citações de sucessos de Martinho da Vila. O mais carioca dos ritmos brasileiros deu o tom também de Boto meu Povo na Rua (de Arlindo Cruz, Acyr Marques e Ronaldinho) e de Sem Perdão a Vida É Triste Solidão, parceria mais poética da lavra de Zélia Duncan e Ana Costa com a própria Mart'nália (as três moças estão compondo regularmente).

O Rio encontrou a Bahia em Casa da Minha Comadre, delicioso samba de roda, de Roque Ferreira e do mesmo Jorge Agrião de Pra Mart'nália. Da seara autoral de Mart'nália, o destaque foi Pretinhosidade, colaboração com seu fiel escudeiro Mombaça. O mosaico de referências negras costurou ainda parceria afro com Moska (Essa Mania, versão de música africana), samba raro de Monsueto (Casa 1 da Vila, em arranjo eficientemente econômico que valorizou os versos "Eu sinto sede, eu sinto fome / Mas mulher de amigo meu pra mim é homem", de outro - ousado - significado na voz feminina de Mart'nália) e partido de alta estirpe, A Origem da Felicidade, que agregou o calor da bateria da escola de samba Unidos de Vila Isabel e fechou o álbum com alta espiritualidade. Mart'nália foi até à Bahia sagrada de Bethânia e parou em Berlim, mas continuou com os pés na Vila de Noel (e de seu pai Martinho).

13 Comments:

Anonymous Anônimo said...

é um pouco demais dizer que menino do rio é um dos melhores cds do ano, não?

18 de dezembro de 2006 às 16:21  
Anonymous Anônimo said...

deixa a garota se divertir um tiquinho...

18 de dezembro de 2006 às 16:47  
Anonymous Anônimo said...

Achei um dos melhores, isso ai Mauro.... Muito superior aos discos insossos da Marisa Monte e da Mariana Aydar

18 de dezembro de 2006 às 22:22  
Anonymous Anônimo said...

O Mauro só babou em torno do album porque foi produzido pela Maria Bethânia . Quero a opinião do Diogo ou do Marcelo Barbosa sobre esse album que entendem de MPB & Samba sem puxar saco da baiana .

19 de dezembro de 2006 às 07:08  
Anonymous Anônimo said...

O album é bem interessante. Martnália soa autêntica. Sem uma grande voz mas com ginga e verdade, além de um bom repertório.

19 de dezembro de 2006 às 15:27  
Anonymous Anônimo said...

O CD é bom mas nada que fique entre os melhores do ano ...

19 de dezembro de 2006 às 16:18  
Anonymous Anônimo said...

É bem possível que a produção da Maria Bethania tenha ajudado, uma vez que o cd é realmente gostoso, personalizado, sem falsos compromissos.
sa m, quer vc queira ou não, a Maria Bethania é uma moça séria, competente, profissional e reverenciar seu trabalho é uma questão de bom senso e percepção de qualidade.
Qto ao crítico, não creio que tenha a parcialidade referida por vc, contudo, mesmo os críticos têm seu gosto pessoal. Ou não?!

19 de dezembro de 2006 às 17:11  
Anonymous Anônimo said...

Só agora pude entrar no blog. Estarei indo ao Rio na semana que vem e ficarei até o dia 01/01.

Quanto ao cd da Mart'nália, respeitando a opinião do Mauro, considero-o mediano. Confesso que este cd está mais voltado para o samba do que o projeto anterior: ao vivo.
Me incomoda profundamente quando a cantora foge das suas raízes, ou melhor do seu metiê. Mas ela se redimiu no novo trabalho gravando compositores que gosto e de raiz como Fred Camacho (parceiro de Arlindo Cruz e sua mulher Babi), o próprio Arlindo e o baianíssimo e maravilhoso Nélson Rufino. Prefiro a Mart'nália sambística do que na elitizada MPB.
Destacaria outros bons cd's de samba como o do Pedro Miranda (Semente, citado lá em cima pelo Mauro), Marcelinho Moreira que fez um primoroso cd de samba (pena que não é nenhum Roberto Ribeiro, mas não compromete, tem competência e fez um repertório digno de seus mestres) e na minha opinião o grande cd de samba do ano é do genial Luiz Carlos da Vila que fez um cd fantástico chamado Um cantar a vontade. No campo feminino é imbatível o Universo ao meu redor da Marisa Monte. MA-RA-VI-LHO-SO!
E olha que a minha Rainha não decepcionou com mais um cd ao vivo.
Abraços ao SA M e a todos do blog.

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

E que interpretação maravilhosa da Bethânia nos sambas: da Portela 81, Das maravilhas do Mar fez-se o resplendor de uma noite no cd Mar de Sophia e também no cd Pirata a música Água de Cachoeira da Inesquecível e Grande Jovelina Pérola Negra. Não era fã da Bethânia, mas com essas gravações me rendi a Abelha Rainha. Muito lindo, de emocionar.

19 de dezembro de 2006 às 20:38  
Anonymous Anônimo said...

Cadê minha opinião Mauro? Um abraço
Marcelo

19 de dezembro de 2006 às 22:10  
Anonymous Anônimo said...

Gosto da Martinália pq ela não engana ninguém, é aquilo mesmo. Voz comum, pretensão zero, cara lavada, um sambinha honesto, um gingadinho no truque, muita cerva e taí. É pegar ou largar.
A cara da zona norte do Rio.

19 de dezembro de 2006 às 22:48  
Anonymous Anônimo said...

O CD É CARA DA MARIA BETHÂNIA MESMO POIS ESTÁ RECHEADO DE REGRAVAÇÕES !

20 de dezembro de 2006 às 00:28  
Anonymous Anônimo said...

Primeiro quero dizer que o ano de 2006 foi memorável para o samba . Marisa Monte , D2 , Ivan Lins , Mariana Baltar e Mariana Aydar mandaram ver em seus trabalhos . Sem falar nos sambas do CD " Carioca " de Chico Buarque . Isso é muito bom .
Sobre esse album , devido ao post do Mauro na época do lançamento , fiquei curioso , pude ouvi-lo mas não o tenho ...
Gostei . Mas nada que o coloque entre os melhores do ano . Como foi citado por uma anonimo tem muitas regravações . Eu ando avido por novos sambas .
Curioso é que " Menino do rio " de Caetano nada tem a ver com samba e na voz de Martinália ficou interessante mas nada tão especial . Outro fato curioso é a participação indireta de Melodia .
Cantor maldito por ser do morro e não fazer samba . " Cabide " é abusado mas nada supreendente pois a cantora e a compositora são duas militantes da cena gay feminina .
Por fim , tem uma melhora no trabalho da filha de Martinho . Ela cresce !

20 de dezembro de 2006 às 07:41  
Anonymous Anônimo said...

Mariana Aydar é simples sofrível. Assim como a tal de Céu.

20 de dezembro de 2006 às 08:54  

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