11 de abril de 2008

Leila pede nova benção à bossa com Menescal

Resenha de show
Título: Agarradinhos
Artista: Leila Pinheiro e Roberto Menescal
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 10 de abril de 2008
Cotação: * * * 1/2

Impossível ver Leila Pinheiro abrir Agarradinhos - o show que a cantora divide com Roberto Menescal e que está em cartaz no Teatro Rival até sábado, 12 de abril - com ensolarada interpretação de Rio, um dos clássicos da parceria de Menescal com Ronaldo Bôscoli (1928 - 1994), e não pensar em Benção Bossa Nova, o disco de 1989 que entrelaçou a trajetória de Leila com o cancioneiro carioca projetado a partir daquele dourado ano de 1958. Agarradinhos, o show, tem como mote os homônimos CD e DVD gravados por Leila e Menescal em clima íntimo. Mas, em essência, é como se Leila estivesse pedindo nova benção à velha bossa. E é justamente o apego aos standards do movimento que levanta o show e disfarça o caráter irregular do repertório mais recente registrado no CD e DVD Agarradinhos.
Se o DVD apresenta apenas Leila e Menescal na intimidade de uma sala de estar transformada em estúdio, o show agrega trio de baixo, bateria e teclados. O trio arma a cama para que, amparada na guitarra de Menescal, a cantora deite e role em melodias como a de Vagamente, lançada por Wanda Sá, aliás, presente na platéia que lotou o Rival na estréia do show. Leila e Menescal reproduzem vários medleys temáticos do disco Benção Bossa Nova. Um deles - o que une Ah, Se Eu Pudesse, O Barquinho, Você e Nós e o Mar - é recorrente na discografia da dupla e aparece também no CD e DVD Agarradinhos, lançados ao apagar das luzes de 2007. Recorrente também parece ser a cumplicidade entre os artistas, o que rende papos, piadas e gozações na descontraída cena. Como se o palco fosse a sala de Leila - cenário ideal da gravação do DVD.
Dentre as novidades, O Céu nos Protege - parceria de Leila com Menescal - evidencia na letra (da cantora e bissexta compositora) a tentativa de evocar o clima sal, céu, sol, Sul que rege a bossa, carioquíssima por natureza. Bôscoli era mestre no estilo, mas sabia também fazer versos de um romantismo universal. A Volta, outra de suas parcerias com Menescal, é número que realça a técnica apurada que uniformiza o canto de Leila. Mas mestre mesmo era Tom Jobim (1907 - 1994), devidamente homenageado nos versos de Luz da Natureza, outra parceria de Leila com Menescal. Quando a dupla lança mão das músicas de Tom (O Amor em Paz, Corcovado, Ela É Carioca), o show adquire atmosfera de encantamento. O público faz coro espontâneo com Leila numa interação que seria reeditada um pouco depois quando, na companhia de Carlos Lyra, convidado da estréia, Leila entoa maravilhas contemporâneas como Primavera, Saudade Fez um Samba, Lobo Bobo, Se É Tarde me Perdoa e Você e Eu. É luxo só!
É justo reconhecer que Leila e Menescal não se agarram somente aos clássicos da bossa. Como no DVD, a dupla incursiona no show - num bloco mais íntimo, sem a banda - por temas de Fátima Guedes (Tanto que Aprendi de Amor) e Joyce (Revendo Amigos e E Era Copacabana, parceria rara da compositora com Lyra). Completando o time de convidados da estréia (em cada apresentação, Leila e Menescal recebem convidados diferentes), Fernanda Takai reafirmou sua intimidade com a bossa ao cantar Insensatez - que regravou em seu CD solo Onde Brilhem os Olhos seus com o auxílio luxuosamente emblemático da guitarra de Menescal - e Diz que Fui por Aí (em versão menos baladeira e mais próxima do samba idealizado por Zé Ketti). No todo, o show Agarradinhos supera o DVD que o inspirou. Leila Pinheiro brilha mais quando se pauta pela diversidade, mas, no ano em que se festeja o cinqüentenário da bossa, a cantora tem todo o direito de pedir nova benção ao som do qual já se apropriou com talento.

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

A Leila arrasa sempre! Sou fã incondicional. Mauro, esse show tem previsão de sair em cd ou dvd?

Conrado/BH

11 de abril de 2008 às 00:01  
Anonymous Anônimo said...

Leila é uma cantora fora de série! E pelo que li aqui, tenho certeza que o show está lindo. Tanto na Bossa Nova quanto em outros estilos, Leila é excepcional.

11 de abril de 2008 às 10:27  
Anonymous Anônimo said...

Leila Pinheiro é uma grande cantora. Deve ser mais um show de bom gosto.

11 de abril de 2008 às 10:30  
Anonymous Anônimo said...

Conrado, preste atenção no texto: "Agarradinhos, o show, tem como mote os homônimos CD e DVD gravados por Leila e Menescal em clima íntimo".
Aí está a resposta para tua pergunta.

11 de abril de 2008 às 10:41  
Anonymous Anônimo said...

Leila Pinheiro sempre ótima. Gosto de Era Copabana (Joyce/Lyra). É uma das faixas mais bonitas do último disco do Emilio Santiago.

11 de abril de 2008 às 10:59  
Blogger Flávia C. said...

Fico feliz quando leio resenhas como esta e aquela do show da Teresa Cristina. Não apenas pela qualidade do texto, mas porque é bom saber que essas pessoas estão bem com suas carreiras, crescendo, aprendendo, sabendo trabalhar os instrumentos (não apenas musicais) que têm... e que, trabalhando com alegria, estão nos oferecendo o que de melhor há na música brasileira.

Mesmo não tendo muito acesso a essas apresentações, fico feliz por elas estarem acontecendo, e por serem encontros felizes.

Sinto uma grande tristeza quando vejo gente boa fazendo trabalhos ruins, aquém de sua capacidade.

11 de abril de 2008 às 11:03  
Anonymous Anônimo said...

É muito bonito ver como Leila conduziu sua carreira, com tantos acertos e pouquíssimos erros. Acho o segundo disco de bossa nova superior ao "Benção Bossa Nova", Catavento e Girassol é um clássico, e na ponta da língua e nos horizontes do mundo são extremamentes interessantes.

12 de abril de 2008 às 15:48  
Blogger Unknown said...

Leila é simplesmente o MAXIMO!!!!!!!!!!
Sou fã número 1.

15 de abril de 2008 às 00:54  
Blogger J Baptista said...

A parceria com o Menescal deu de novo um produto realmente incrível. Parabéns aos brasileiros, pois aquí também no Mexico adoramos à Leila e admiramos ao mestre Menescal.
O céu e o público os protege. Lweila e Roberto: Muito obrigado em nome dos mexicanos.

5 de junho de 2008 às 15:53  

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