10 de abril de 2008

Teresa acha tom da alegria e faz Canecão feliz

Resenha de show
Título: Delicada
Artista: Teresa Cristina
Local: Canecão (RJ)
Data: 9 de abril de 2008
Cotação: * * * * 

"Hoje não chegava nunca", confidenciou Teresa Cristina, ainda nervosa, à platéia do show que marcou sua volta aos palcos cariocas fora do circuito boemio da Lapa, bairro do Centro do Rio onde Teresa costuma se apresentar regularmente com o Grupo Semente. Hoje era quarta-feira, 9 de abril de 2008, data da reestréia da cantora no palco nobre do Canecão. À medida que o show Delicada avançou, Teresa foi se acalmando e até perdendo a timidez característica. "Posso fazer mais uma?", pediu ao público, já no bis. "É o meu momento! Tenho que aproveitar", justificou em cena. Nem era preciso pedir ou se justificar. Àquela altura, a cantora já tinha achado o tom da alegria e fez o Canecão feliz com seus sambas e partidos de alto quilate. E também ela estava feliz...
"Cantar é vestir-se com a voz que se tem", sentenciou Teresa ao abrir o show com Cantar, jóia de seu quarto CD, Delicada, pilar do roteiro - sobretudo no bloco inicial, em que a artista apresenta, em seqüência, os sambas autorais Delicada (parceria com Zé Renato) e Fim de Romance, parceria com o saudoso portelense Argemiro Patrocínio. E o fato é que, ao cantar, Teresa já se mostra mais solta e descontraída, vestindo-se com uma voz de timbre agradável que serve muito bem aos seus sambas - alguns compostos com inspiração na Umbanda, religião nacional marcada pelo sincretismo de crenças afro-brasileiras. São os casos de Acalanto e, sobretudo, de Candeeiro. Nesse contexto, a releitura de Nem Ouro Nem Prata - sucesso do autor Rui Maurity nos anos 70 - é um achado que valorizou o show e o CD Delicada.
Surpresa do roteiro, Sete Cantigas para Voar, de Vital Farias, se impõe como o momento de maior lirismo. "Hoje já consigo olhar para mim e ver uma cantora", festejou Teresa depois de exaltar o companheirismo e a crença dos músicos do Grupo Semente em seu canto. Foi a deixa para que ela saísse do palco e deixasse brotar sozinho o som do Semente, que tocou João Teimoso, maxixe instrumental de João Calado. Com a voz de Pedro Miranda, o grupo ainda apresentou Quebranto e O Samba É meu Dom, a obra-prima de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro que é como um manifesto de princípio e de amor ao samba. Que soou sincero na voz de Miranda e emocionou o receptivo público.
De volta à cena, Teresa apresentou os colegas de grupo e cantou A Paz do Coração, partido alto de Candeia. Na seqüência, ela entoou Gema, o tema de Caetano Veloso que, na voz da artista, brilha mais no palco do que no disco. Ainda na seara alheia, a intérprete recordou de forma graciosa Pé do Lageiro (João do Vale, José Cândido e Paulo Bangu) e Carrinho de Linha, saudando Fafá de Belém, intérprete original deste tema de Walter Queiroz, um hit de 1980 cujos nós rítmicos Teresa já sabe desatar com desenvoltura.
Com Seu Jorge, convidado especial do show e velho conhecido de Teresa, houve duetos espirituosos e gingados em sambas como Me Deixa em Paz (que ambos gravaram para o ainda inédito CD Flores do Clube da Esquina, em que cantoras recriam músicas do álbum Clube da Esquina, de 1972) e Sem Compromisso. Já sem Jorge, Teresa sacou um Paulinho da Viola pouco conhecido (A Gente Esquece, regravado por ela no CD Delicada) e, com o Semente na beira do palco, tentou reviver o clima heróico das primeiras apresentações com o grupo, feita há dez anos. "A gente dividia o mesmo retorno", lembrou. Este breve set, com Meu Mundo É Hoje (Eu Sou Assim) e Calo de Estimação, teve íntimo valor afetivo e preparou o clima para o gran finale portelense, que culminou com Foi um Rio que Passou em Minha Vida, com o público já de pé, cantando os versos deste samba irresistível de Paulinho da Viola, cuja obra sustentou o primeiro disco de Teresa.
No bis, Teresa Cristina reeditou o pot-pourri que encerra o CD Delicada - com Fechei a Porta, Rosa Maria e Jura - e chamou Seu Jorge de volta ao palco. De improviso, Jorge quis cantar o samba Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho) e Teresa teve que se encontrar no tom da música. Mas tudo já era festa. Que terminou com Embala Eu e o samba de roda Marinheiro Só. Escorada na cozinha segura do Grupo Semente, Teresa Cristina já era senhora da cena a essa altura do show e reinava feliz e descontraída, mostrando grande evolução cênica neste belo show.

11 Comments:

Blogger geraldo pimentel said...

Parabéns pela resenha, Mauro.

Só uma correção: Teresa Cristina já se apresentou no palco do Canecão em um show solo. Foi no final de 2005, no lançamento do CD/DVD "O Mundo É Meu Lugar - Ao Vivo"

Abraços,

Geraldo Pimentel

10 de abril de 2008 às 04:33  
Anonymous Anônimo said...

Que bom!

10 de abril de 2008 às 11:20  
Blogger Ju Oliveira said...

Vi esse show no último fim de semana em são paulo e é simplesmente maravilhoso. Fiquei muito impressionada com a beleza e a alegria (verdadeiras, não artificiais) do canções, dos arranjos, da voz de Teresa. Tenho e gosto muito de todos os seus discos mas nunca tinha visto um show. Aqui ela ainda cantou uma música nova inédita de sua autoria, ainda sem nome, que eu achei muito linda. Cantou também Aquerela Brasileira (acho que do Silas de Oliveira, né?) e Novo Amor, do Chico. Estou pensando nesse show até hoje, foi sensacional!

10 de abril de 2008 às 12:04  
Anonymous Anônimo said...

Um verdadeiro engodo essa mulher...

10 de abril de 2008 às 17:51  
Anonymous Anônimo said...

Gostei muito, muito do CD "Delicada".

Me lembrou os discos da Beth Carvalho do final dos anos 70.

Parabéns!

11 de abril de 2008 às 12:48  
Anonymous Anônimo said...

Um verdadeiro engodo esse 5:51...

11 de abril de 2008 às 13:49  
Anonymous Anônimo said...

Lembra de mim Mauro: Te interpelei no Canecão e lhe intimei: " A crítica vai ser boa ".

Pois é, realamente a críticva foi ótima, está perfeita, só gostaraia de acrescentar o quanto Teresa melhorou no palco e principalmente no " visual ", até que enfim Teresa achou o tom ideal pro seu cabelo e tbm pro seu figurino- dizem que é a amizade com a Rita Ribeiro que está causando boas mudanças em Teresa, principalmente depois do show : " As três meninas do Brasil", que tbm contou com Jussara Silveira.

11 de abril de 2008 às 20:23  
Anonymous Anônimo said...

teresa cristina é muito simpatica e tem canções razoaveis. mas como cantora é mediocre.

11 de abril de 2008 às 22:52  
Anonymous Anônimo said...

Disse Noel: "Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!". Este "engodo" tem o aval de Paulinho da Viola, Marisa Monte, Cristina Buarque, Dona Ivone Lara, etc. É pouco ou quer mais? Será que estes que citei são tolos o suficiente para se deixar enganar por um "engodo"?

11 de abril de 2008 às 23:11  
Anonymous Anônimo said...

Isso chama-se recalque dizer que Teresa é um engodo. Teresa fez o melhor cd de samba de 2007! Cantar é uma belíssima música, uma verdadeira porrada!
Só não gostei desse visual Meu Guri, por favor Teresa, volte com o visual anterior, ficava mais bonita, mais jovem. Abs,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

12 de abril de 2008 às 11:57  
Anonymous Anônimo said...

Demosrei bastante a gostar de Teresa Cristina, que achava uma farsa, como um bom número de lapianos. Mas com o tempo fui entendo seu canto, sua pesquisa musical e sua verdade, hoje ela me emociona. E como já havia dito neste blog, cantar é um clássico, espero que alguém tenha a sensibilidade de gravar essa pérola com a velha guarda da Portela. A Marrom, quem sabe.

12 de abril de 2008 às 15:55  

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